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Morre Pelé: o jogo que deu ao craque o títuloapi apostas esportivas'rei'api apostas esportivascrônicaapi apostas esportivasNelson Rodrigues:api apostas esportivas
Dos quatro gols que Pelé meteu no goleiro Pompeia, um deles chamou a atenção do cronista. Aqueleapi apostas esportivasque o craque, antesapi apostas esportivasencaçapar a bola, dribla o primeiro, entorta o segundo e corta o terceiro zagueiro. "Até que chegou um momentoapi apostas esportivasque não havia mais ninguém para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra: a defesa estava indefesa", gracejou o jornalista.
Na crônica, Nelson confessa ter tomado um susto ao descobrir a idadeapi apostas esportivasPelé: 17 anos! "É um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme da Brigitte Bardot, seria barrado", escreveu na coluna "Meu personagem do ano",api apostas esportivasjaneiroapi apostas esportivas1959. "Mas, reparem: é um gênio indubitável! Pelé podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los com íntima efusão: 'Como vai, colega?'".
Para descrever o que viu naquela noiteapi apostas esportivasquarta-feira, Nelson abusou dos adjetivos: "grande", "perfeito", "fabuloso", "imbatível", "incomparável'... Ao seu lado na arquibancada, um torcedor americano também não economizou palavras: "Vá jogar bem assim no diabo que o carregue!".
Três meses depois da publicação da profética crônica, a primeira a chamar Peléapi apostas esportivasrei, o craque e a seleção brasileiraapi apostas esportivasfutebol foram coroados campeões do mundo na Copa do Mundo da Suécia.
Em 1975, quando o craque já vestia a camisa do Cosmos, Nelson declarou: "Perguntem a qualquer zebraapi apostas esportivasJardim Zoológico: 'Qual é o maior jogador do mundo?'. Todas as zebras dirão, numa cálida unanimidade: 'Pelé'". E concluiu: "Do esquimó ao chinês, do russo ao alemão, do patagônio ao egípcio, todos acham que Pelé realmente é o grande craque do presente, do passado e do futuro".
Súditos literários
Nelson Rodrigues não foi o único a tecer elogios ao talentoapi apostas esportivasPelé. Ao longo das décadas, outros autores,api apostas esportivasdiferentes estilos e gerações, escreveram contos, poemas e até romances, prestando homenagem ao "jogador mais completo que já existiu", como diria Ruy Castro.
Do poeta mineiro Carlos Drummondapi apostas esportivasAndrade (1902-1987) — "O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé" —, autorapi apostas esportivasQuando É Diaapi apostas esportivasFutebol (2014), ao cronista gaúcho Luís Fernando Veríssimo — "Pelé era bom até amarrando a chuteira" —,api apostas esportivasTime dos sonhos - Paixão, Poesia e Futebol (2010).
Todo craque das letras tem seu lance favorito. O do escritor mineiro Mário Prata, autorapi apostas esportivasParis, 98! (2005), sobre a Copa do Mundo da França, é "totalmente desconhecido". Pelé devia ter 12 anos e jogava no Baquinho, o time infantilapi apostas esportivasBauru, clube do interiorapi apostas esportivasSão Paulo onde o garoto deu seus primeiros dribles.
Em um jogo, relata Prata, Pelé recebeu a bolaapi apostas esportivascostas para o gol adversário e, sem olhar para trás, deuapi apostas esportivascalcanhar nela. Conclusão? A bola foi no ângulo. No intervalo, o técnico deu uma bronca daquelas no moleque: "Ó, meu, você não precisava ter feito aquilo. A chanceapi apostas esportivaserrar era grande. Tinha espaço para virar e chutarapi apostas esportivasfrente". Pelé respondeu: "O senhor tem razão. Eu não estava vendo o gol deles. Mas estava vendo o nosso", reproduz Prata.
O lance predileto do escritor paulista Ignácioapi apostas esportivasLoyola Brandão, autorapi apostas esportivasÉ Gol, incluído na antologia 22 Contistasapi apostas esportivasCampo (2006), foi o gol que Pelé marcou no Estádio do Juventus,api apostas esportivasSão Paulo, no dia 2api apostas esportivasagostoapi apostas esportivas1959. O jogo terminouapi apostas esportivasgoleada: 4 a 0 para o Santos. "Nunca vi um gol tão narrado, descrito, comentado, discutido, aplaudido, idolatrado, mitificado. Não vi aquele gol. Mas todos viram. O estádio tem capacidade para 4.000 torcedores. Porém, naquela tarde, devem ter estado ali cercaapi apostas esportivas200 mil. Mais do que o Maracanã,api apostas esportivas1950", ironiza.
O escritor amazonense Milton Hatoum também cita um gol comoapi apostas esportivasjogada magistral do rei do futebol. "Pelé fez dezenasapi apostas esportivasgols incríveis. Um dos mais belos foi o que fez contra a Suécia", elege, voltando no tempo até a Copaapi apostas esportivas1958. Ele próprio narra a jogada: um jogador faz um longo cruzamento para a área. Pelé domina a bola, dá um chapéu num zagueiro e, sem deixar a bola tocar no gramado, chuta no canto direito do goleiro. "Um gol histórico", define. "Infelizmente, o Brasil não celebra seus verdadeiros mitos e heróis".
Já o jornalista paulista Juca Kfouri, autorapi apostas esportivasdiversos livros sobre futebol, como Meninos Eu Vi... (2003), entre outros, escolhe não um gol, como Prata, Loyola ou Hatoum, mas uma tentativaapi apostas esportivasgol. O chute do meio-campo contra a Tchecoslováquia, na Copaapi apostas esportivas1970. "Embora tenha virado o gol que só ele não fez, depoisapi apostas esportivaster sido por anos o gol que Pelé não fez, o fato é que ninguém tinha tentado antes", explica.
O escritor mineiro Luiz Ruffato, que organizou Entre as Quatro Linhas (2013), antologiaapi apostas esportivascontos sobre o futebol, também é escalado para apontar seu lance predileto do atleta do século. "Pode ser meio óbvio, mas o lance mais bonito foi o primeiro gol na final da Copa do Mundoapi apostas esportivas1970, contra a Itália". Tostão bate o lateral para Rivelino que, num único toque, coloca a bola na cabeçaapi apostas esportivasPelé. Gol!
"Recordo os gritosapi apostas esportivasfelicidade das pessoas do meu bairro, gente pobre que trabalhava nas fábricasapi apostas esportivastecido, e que, naquele momento, sentiam-se reis como Pelé. Eu era menino, tinha nove anos, mas, até hoje, me emociono quando me lembro dessa partida...", confessa.
De artista a criador
Para quatro escritores, o lance mais bonitoapi apostas esportivastodos os tempos do melhor jogadorapi apostas esportivasfutebol da história não foi um gol, mas um drible. O clássico dribleapi apostas esportivascorpo no goleiro do Uruguai, Ladislao Mazurkiewicz (1945-2013), na semifinal da Copaapi apostas esportivas1970, no México. "Um drible poucas vezes visto", observa o escritor carioca Carlos Eduardo Novaes, autor da crônica O Rei da Superstição, da antologia Onzeapi apostas esportivasCampo e um Bancoapi apostas esportivasPrimeira (1998). "Visãoapi apostas esportivasjogo e raciocínio rápidoapi apostas esportivasquem sabe o que fazerapi apostas esportivascampo".
Antesapi apostas esportivasescolher seu lance favorito, o escritor catarinense Cristovão Tezza faz questãoapi apostas esportivasrevê-lo "pela milésima vez". "É um lance 'conceitual'", diz. "Tão bonito que a ausênciaapi apostas esportivasgol passou a ser irrelevante", afirma o autorapi apostas esportivasUma Questão Moral, conto incluído na coletânea Entre as Quatro Linhas,api apostas esportivasLuiz Ruffato.
Autorapi apostas esportivasOs Cabeçasapi apostas esportivasBagre Também Merecem o Paraíso (2001), entre outros livros sobre futebol, o escritor e roteirista santista José Roberto Torero também vota no drible sem bolaapi apostas esportivasPeléapi apostas esportivasMazurkiewicz. "Foi um drible totalmente novo, que nunca tinha sido visto antes. Naquele instante, Pelé deixouapi apostas esportivasser um artista para se tornar um criador. Fez uma obra-prima, mas uma obra-prima mesmo, algo que nunca havia sido feito antes", justifica seu voto.
O escritor e jornalista mineiro Sérgio Rodrigues gosta tanto do lance que dedicou a ele não uma crônica ou um conto, mas um romance, O Drible (2013). No livro, os nove segundos da jogada são descritosapi apostas esportivasseis páginas. "Além da espantosa capacidadeapi apostas esportivasfabulação futebolística, da criação instantâneaapi apostas esportivasum evento inédito que altera as próprias coordenadasapi apostas esportivastempo e espaço do jogo, o que eu vejo nesse lance é uma permanência garantida justamente porapi apostas esportivasinconclusão. Se tivesse resultadoapi apostas esportivasgol, seria lindo, mas tranquilizador. Como a bola não entrou, vai queimar nossos olhos para sempre", garante.
- Este texto foi publicadoapi apostas esportivashttp://vesser.net/brasil-63880477
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