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Como aumento da temperatura pode matar peixes e causar fome na Amazônia:blackjack na bet365
Val está participando da Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP27), que aconteceblackjack na bet365Sharm El-Sheikh, no Egito.
Numa reunião da sociedade civil com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, realizadablackjack na bet36517blackjack na bet365novembro, ele foi um dos seis escolhidos para falar e apresentou as demandas do setorblackjack na bet365ciência, pesquisa e desenvolvimento.
Um dos pedidos do biólogo foi que o novo governo crie políticas públicas para "trazer os meninos para casa" — uma alusão aos cientistas brasileiros que fizeram toda a formação no país, mas que foram trabalhar no exteriorblackjack na bet365buscablackjack na bet365melhores condiçõesblackjack na bet365vida.
Numa entrevista à BBC News Brasil, Val contou um pouco sobre suas pesquisas, falou da importânciablackjack na bet365conhecer os saberes tradicionais amazônicos e apontou o caminho para incentivar a pesquisa no país.
A boca volátil do tambaqui
Val nasceublackjack na bet365Campinas, no interior paulista, estudou bioquímica e depois cursou biologia. Foi a paixão pela pesca — seu passatempo favorito nos finaisblackjack na bet365semana durante a infância e a adolescência — que o levou a estudar esses animais.
Em 1978, ele foi para a Amazônia pela primeira vez e, no ano seguinte, resolveu fixar residência na região.
"Quando cheguei lá e vi aquela quantidadeblackjack na bet365peixes no mercado, entendi que ali era o meu lugar", lembra.
Pesquisador do Instituto Nacionalblackjack na bet365Pesquisas da Amazônia (Inpa), Val explica queblackjack na bet365linhablackjack na bet365pesquisa busca entender como os organismos aquáticos, como peixes, anfíbios, répteis e mosquitos, se adaptam às mudanças ambientais.
Ele aponta que a oscilação do nível das águas nos rios e reservatórios naturais coloca os peixesblackjack na bet365contato com a floresta por um tempo prolongado no período das cheias.
Na contramão, durante o períodoblackjack na bet365águas baixas, esses animais ficamblackjack na bet365locais mais isolados.
"A Amazônia tem maisblackjack na bet3653 mil espéciesblackjack na bet365peixes, mas vamos pegar como exemplo o tambaqui", diz.
"Na fase adulta, ele se alimentablackjack na bet365frutas, e temos estudos mostrando que é possível encontrar até 140 variedades diferentes desses alimentos no sistema digestivo deles", calcula.
"No período das secas, o peixe perdeblackjack na bet365parte essa conexão com o resto do meio ambiente."
O professor conta outro atributo curioso do tambaqui: nos momentos do anoblackjack na bet365que a espécie fica exposta a uma baixa disponibilidadeblackjack na bet365oxigênio na água, ela expande significativamente os lábios.
"Com isso, esse peixe vai para a superfície do rio e coleta aquela camada superficialblackjack na bet365água que, pelo contato com o ar, é mais ricablackjack na bet365oxigênio", explica.
Quando o oxigênio volta aos níveis superiores nos rios, os lábios do animal regridem.
"Entender esse mecanismo nos ajuda a compreender, por exemplo, como acontece a proliferaçãoblackjack na bet365células. E isso poderá ajudar no futuro a cicatrizar mais rapidamente os ferimentos na pele", antevê.
Muitas mudançasblackjack na bet365pouco tempo
Embora várias dessas espécies aquáticas tenham aprendido a se adaptar a ambientes extremos ao longoblackjack na bet365centenasblackjack na bet365milharesblackjack na bet365anos, elas nunca foram submetidas a uma situação tão complicada, acredita Val.
Por trás disso, está a ação humana na destruição dos rios que correm pela região.
"É possível observar um conjuntoblackjack na bet365outras modificações produzidas pelo homemblackjack na bet365forma rápida e imediata, como a poluiçãoblackjack na bet365tudo que é tipo, com medicamentos, agrotóxicos, nanopartículasblackjack na bet365plástico, petróleo…", lista.
"Tudo isso nos preocupa muito, porque as alterações causadas pelo homem são rápidas demais, e não dá tempoblackjack na bet365as espécies aquáticas se adaptarem", diz.
A distribuiçãoblackjack na bet365uma fina camadablackjack na bet365petróleo na superfície da água, por exemplo, impede que os tambaquis acessem o oxigênio que os mantêm vivos.
"Estamos concluindo vários estudos que detectaram a presençablackjack na bet365microplásticos nos peixes, inclusive com uma transferência direta desse material da mãe para os filhos", informa.
"Uma proteína nos ovos dos peixes se liga às moléculasblackjack na bet365plástico, então a larva já inicia a vida com esse poluente no corpo."
Alémblackjack na bet365representar um risco à biodiversidade da Amazônia, a extinçãoblackjack na bet365espécies é um perigo à segurança alimentar do povo que vive ali.
"Vale lembrar que 90% da proteína consumida pela população local tem origem nos peixes. Trata-seblackjack na bet365uma fonte alimentar extremamente importante para a região", chama a atenção.
Val alerta que, apesar do clima local, os peixes amazônicos são extremamente vulneráveis à variaçãoblackjack na bet365temperatura.
"Muitos deles já vivem no seu limite térmico superior, e qualquer variação futura pode levar ao desaparecimentoblackjack na bet365várias espécies", diz.
O biólogo entende que a urgência da situação exige que os cientistas façam pesquisas genéticas para detectar quais são as espécies mais adaptadas às altas temperaturas, para que elas sejam criadasblackjack na bet365fazendas e possam suprir a demanda num futuro próximo.
"Um aumentoblackjack na bet365temperatura na ordemblackjack na bet3651 °C ou 1,5 °C já é suficiente para testemunharmos o desaparecimentoblackjack na bet365muitas espécies da Amazônia, principalmente daquelas que vivem nos pequenos igarapés dentro da floresta", alerta.
Jaraqui velho não sobe o rio
Durante a reunião com Lula, Val também destacou a importânciablackjack na bet365"aliar os saberes tradicionais com a ciência contemporânea".
Para ilustrar a relação entre esses dois universos, ele se recordablackjack na bet365uma história que viveu.
"Existe um peixe na Amazônia chamado jaraqui que é extremamente popular e muito consumido pela população", descreve.
Sabe-se que essa espécie viveblackjack na bet365cardumes e desce do Alto Rio Negro até o encontro das águas com o Solimões, onde aconteceblackjack na bet365reprodução.
"Na prática, as fêmeas depositam os óvulos na água e os machos liberam o esperma para fecundar. À medida que os novos peixes se desenvolvem, eles nadamblackjack na bet365volta para a cabeceira do Rio Negro, e sabem exatamente como ir até lá", ensina.
O biólogo conta que durante um período coletou alguns jaraquis para tirar amostrasblackjack na bet365sangue, que seriam depois analisadas no laboratório.
"Nessas pesquisas, eu sempre encontrava três ou quatro animais que destoavam do resto do grupo e tinham parâmetros sanguíneos completamente diferentes", diz.
Mas ele não fazia ideia do motivo. Até que um dia estava fazendo trabalhoblackjack na bet365campo, no meio da floresta, quando o barco que o grupo utilizava quebrou.
"Decidimos então dormir ali mesmo e fizemos uma fogueira para assar um peixe", lembra.
"Nisso, veio um caboclo que morava ali perto conversar com a gente. O resto do grupo foi dormir, mas fiquei batendo papo com ele."
Foi aí que o pesquisador comentou do mistério que o intrigava — e descobriu a resposta prontamente.
"Ele olhou pra mim e disse: 'Mas professor, isso é muito simples. Acontece que os peixes sobem e descem o rio várias vezes ao longo da vida. Mas, quando eles ficam mais velhos, não aguentam fazer isso. Eles permanecem então aqui na mata inundada dos igapós. Só que, ao ver o cardume saindo, eles pensam que estão recuperados e se misturam aos peixes mais novos'."
"Eu não tinha pensado nisso e fui verificar. Aí notei que, dito e feito, esses três ou quatro peixes diferentes que eu encontrava no meio do grupo eram justamente os mais velhos."
"Eu tenho um monteblackjack na bet365histórias desse tipo, que mostram como a ciência precisa do apoio dos indígenas e das comunidades locais para entender todas as coisas que existem na Amazônia", aponta.
"Para mim, não há contraste entre o conhecimento tradicional e a ciência contemporânea. Uma se vale da outra", conclui.
O resgate dos 'meninos'
Por fim, Val enumerou alguns caminhos possíveis para desenvolver a ciência no Brasil — e mais especificamente na Amazônia.
"Da totalidade do orçamento nacional para a ciência e a tecnologia, apenas 2% são investidos na Amazônia", calcula.
"E não será possível avançar a conservação ambiental e a redução dos impactos climáticos se a gente não contar com a ciência na região. Não adianta o mundo estudar a Amazônia, porque as informações não serão acessíveis para o caboclo que está no interior e não conseguirá ler o artigo científico publicado numa revista internacional", critica.
O biólogo aponta que, nos últimos quatro anos, houve uma "degradação muito significativa das instituiçõesblackjack na bet365pesquisa no Brasil, sendo que na Amazônia a coisa foi ainda pior".
"O Inpa (Instituto Nacionalblackjack na bet365Pesquisas Ambiental da Amazônia) mesmo tem cercablackjack na bet365140 pesquisadores, sendo que metade deles já estáblackjack na bet365idadeblackjack na bet365aposentadoria, mas continuam a trabalhar por faltablackjack na bet365gente."
Val acredita que o primeiro grande desafio do próximo governo é "viabilizar oportunidades para que os meninos e as meninas fiquem no Brasil".
Ele explica que os termos "meninos" ou "meninas" são maneiras carinhosasblackjack na bet365se referir aos mais jovens na região amazônica.
"As pessoas têm o direitoblackjack na bet365morar no exterior, mas não porque não há condiçõesblackjack na bet365fazer pesquisa no país", lamenta.
"Nós gastamos uma fortuna para formar esses profissionais e, quando eles chegam aos 28 anos, recebem propostas melhores para trabalhar fora."
Ele cita o exemploblackjack na bet365um aluno que era eletricistablackjack na bet365São Paulo e foi ao Ipam para fazer mestrado e doutorado.
Durante o trabalho, o jovem cientista desenvolveu um mecanismoblackjack na bet365inteligência artificial que ajuda a saber se peixes ornamentais estão saudáveis — e foi contratado por uma empresa no Reino Unido.
Val também acredita que ao menos 2% do PIB do país deveria ser investidoblackjack na bet365ciência e tecnologia.
"Precisamos utilizar nossos recursos para criar estruturas capazesblackjack na bet365desenvolver novas tecnologias", aponta.
"Por último, precisamos transformar a informação que temos produzidoblackjack na bet365tecnologias sustentáveis, que possam ser socializadas com a população."
"E o foco dessa inclusão social precisa acontecer principalmente nas regiões periféricas, como a Amazônia, o Nordeste, o Pantanal e o Centro-Oeste", sugere.
Ele cita como exemplo o fatoblackjack na bet365nenhum peixe amazônico ser exportada para o exterior a partirblackjack na bet365uma produção sustentável.
"Há algumas décadas, o então governador do Estado do Amazonas deu dez casaisblackjack na bet365tambaquiblackjack na bet365presente para uma delegação chinesa", lembra.
"Logo depois, o presidente chinês determinou que um timeblackjack na bet365pesquisadores fosse enviado ao Brasil, onde os cientistas aprenderam mais sobre a espécie e coletaram informações da literatura."
"E, há alguns anos, a China começou a exportar a carneblackjack na bet365tambaqui", finaliza.
- Este texto foi publicado originalmenteblackjack na bet365http://vesser.net/brasil-63670566
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