Como aumento da temperatura pode matar peixes e causar fome na Amazônia:apostas com o crush

Homem limpando um peixe

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Legenda da foto, Pescados representam 90% da proteína consumida pela população que vive na Amazônia

Val está participando da Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP27), que aconteceapostas com o crushSharm El-Sheikh, no Egito.

Numa reunião da sociedade civil com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, realizadaapostas com o crush17apostas com o crushnovembro, ele foi um dos seis escolhidos para falar e apresentou as demandas do setorapostas com o crushciência, pesquisa e desenvolvimento.

Um dos pedidos do biólogo foi que o novo governo crie políticas públicas para "trazer os meninos para casa" — uma alusão aos cientistas brasileiros que fizeram toda a formação no país, mas que foram trabalhar no exteriorapostas com o crushbuscaapostas com o crushmelhores condiçõesapostas com o crushvida.

Numa entrevista à BBC News Brasil, Val contou um pouco sobre suas pesquisas, falou da importânciaapostas com o crushconhecer os saberes tradicionais amazônicos e apontou o caminho para incentivar a pesquisa no país.

A boca volátil do tambaqui

Val nasceuapostas com o crushCampinas, no interior paulista, estudou bioquímica e depois cursou biologia. Foi a paixão pela pesca — seu passatempo favorito nos finaisapostas com o crushsemana durante a infância e a adolescência — que o levou a estudar esses animais.

Em 1978, ele foi para a Amazônia pela primeira vez e, no ano seguinte, resolveu fixar residência na região.

"Quando cheguei lá e vi aquela quantidadeapostas com o crushpeixes no mercado, entendi que ali era o meu lugar", lembra.

Pesquisador do Instituto Nacionalapostas com o crushPesquisas da Amazônia (Inpa), Val explica queapostas com o crushlinhaapostas com o crushpesquisa busca entender como os organismos aquáticos, como peixes, anfíbios, répteis e mosquitos, se adaptam às mudanças ambientais.

Ele aponta que a oscilação do nível das águas nos rios e reservatórios naturais coloca os peixesapostas com o crushcontato com a floresta por um tempo prolongado no período das cheias.

Tambaqui

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Legenda da foto, Entender a boca do tambaqui pode levar à melhor compreensão sobre os mecanismosapostas com o crushcicatrização da pele, avalia cientista

Na contramão, durante o períodoapostas com o crusháguas baixas, esses animais ficamapostas com o crushlocais mais isolados.

"A Amazônia tem maisapostas com o crush3 mil espéciesapostas com o crushpeixes, mas vamos pegar como exemplo o tambaqui", diz.

"Na fase adulta, ele se alimentaapostas com o crushfrutas, e temos estudos mostrando que é possível encontrar até 140 variedades diferentes desses alimentos no sistema digestivo deles", calcula.

"No período das secas, o peixe perdeapostas com o crushparte essa conexão com o resto do meio ambiente."

O professor conta outro atributo curioso do tambaqui: nos momentos do anoapostas com o crushque a espécie fica exposta a uma baixa disponibilidadeapostas com o crushoxigênio na água, ela expande significativamente os lábios.

"Com isso, esse peixe vai para a superfície do rio e coleta aquela camada superficialapostas com o crushágua que, pelo contato com o ar, é mais ricaapostas com o crushoxigênio", explica.

Quando o oxigênio volta aos níveis superiores nos rios, os lábios do animal regridem.

"Entender esse mecanismo nos ajuda a compreender, por exemplo, como acontece a proliferaçãoapostas com o crushcélulas. E isso poderá ajudar no futuro a cicatrizar mais rapidamente os ferimentos na pele", antevê.

Muitas mudançasapostas com o crushpouco tempo

Embora várias dessas espécies aquáticas tenham aprendido a se adaptar a ambientes extremos ao longoapostas com o crushcentenasapostas com o crushmilharesapostas com o crushanos, elas nunca foram submetidas a uma situação tão complicada, acredita Val.

Por trás disso, está a ação humana na destruição dos rios que correm pela região.

"É possível observar um conjuntoapostas com o crushoutras modificações produzidas pelo homemapostas com o crushforma rápida e imediata, como a poluiçãoapostas com o crushtudo que é tipo, com medicamentos, agrotóxicos, nanopartículasapostas com o crushplástico, petróleo…", lista.

"Tudo isso nos preocupa muito, porque as alterações causadas pelo homem são rápidas demais, e não dá tempoapostas com o crushas espécies aquáticas se adaptarem", diz.

A distribuiçãoapostas com o crushuma fina camadaapostas com o crushpetróleo na superfície da água, por exemplo, impede que os tambaquis acessem o oxigênio que os mantêm vivos.

"Estamos concluindo vários estudos que detectaram a presençaapostas com o crushmicroplásticos nos peixes, inclusive com uma transferência direta desse material da mãe para os filhos", informa.

"Uma proteína nos ovos dos peixes se liga às moléculasapostas com o crushplástico, então a larva já inicia a vida com esse poluente no corpo."

Alémapostas com o crushrepresentar um risco à biodiversidade da Amazônia, a extinçãoapostas com o crushespécies é um perigo à segurança alimentar do povo que vive ali.

"Vale lembrar que 90% da proteína consumida pela população local tem origem nos peixes. Trata-seapostas com o crushuma fonte alimentar extremamente importante para a região", chama a atenção.

Val alerta que, apesar do clima local, os peixes amazônicos são extremamente vulneráveis à variaçãoapostas com o crushtemperatura.

"Muitos deles já vivem no seu limite térmico superior, e qualquer variação futura pode levar ao desaparecimentoapostas com o crushvárias espécies", diz.

O biólogo Adalberto Luis Val

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, O biólogo Adalberto Luis Val foi um dos representantes da sociedade civil a apresentar demandas a Lula na COP27

O biólogo entende que a urgência da situação exige que os cientistas façam pesquisas genéticas para detectar quais são as espécies mais adaptadas às altas temperaturas, para que elas sejam criadasapostas com o crushfazendas e possam suprir a demanda num futuro próximo.

"Um aumentoapostas com o crushtemperatura na ordemapostas com o crush1 °C ou 1,5 °C já é suficiente para testemunharmos o desaparecimentoapostas com o crushmuitas espécies da Amazônia, principalmente daquelas que vivem nos pequenos igarapés dentro da floresta", alerta.

Jaraqui velho não sobe o rio

Durante a reunião com Lula, Val também destacou a importânciaapostas com o crush"aliar os saberes tradicionais com a ciência contemporânea".

Para ilustrar a relação entre esses dois universos, ele se recordaapostas com o crushuma história que viveu.

"Existe um peixe na Amazônia chamado jaraqui que é extremamente popular e muito consumido pela população", descreve.

Sabe-se que essa espécie viveapostas com o crushcardumes e desce do Alto Rio Negro até o encontro das águas com o Solimões, onde aconteceapostas com o crushreprodução.

"Na prática, as fêmeas depositam os óvulos na água e os machos liberam o esperma para fecundar. À medida que os novos peixes se desenvolvem, eles nadamapostas com o crushvolta para a cabeceira do Rio Negro, e sabem exatamente como ir até lá", ensina.

O biólogo conta que durante um período coletou alguns jaraquis para tirar amostrasapostas com o crushsangue, que seriam depois analisadas no laboratório.

"Nessas pesquisas, eu sempre encontrava três ou quatro animais que destoavam do resto do grupo e tinham parâmetros sanguíneos completamente diferentes", diz.

Mas ele não fazia ideia do motivo. Até que um dia estava fazendo trabalhoapostas com o crushcampo, no meio da floresta, quando o barco que o grupo utilizava quebrou.

"Decidimos então dormir ali mesmo e fizemos uma fogueira para assar um peixe", lembra.

"Nisso, veio um caboclo que morava ali perto conversar com a gente. O resto do grupo foi dormir, mas fiquei batendo papo com ele."

Foi aí que o pesquisador comentou do mistério que o intrigava — e descobriu a resposta prontamente.

"Ele olhou pra mim e disse: 'Mas professor, isso é muito simples. Acontece que os peixes sobem e descem o rio várias vezes ao longo da vida. Mas, quando eles ficam mais velhos, não aguentam fazer isso. Eles permanecem então aqui na mata inundada dos igapós. Só que, ao ver o cardume saindo, eles pensam que estão recuperados e se misturam aos peixes mais novos'."

"Eu não tinha pensado nisso e fui verificar. Aí notei que, dito e feito, esses três ou quatro peixes diferentes que eu encontrava no meio do grupo eram justamente os mais velhos."

"Eu tenho um monteapostas com o crushhistórias desse tipo, que mostram como a ciência precisa do apoio dos indígenas e das comunidades locais para entender todas as coisas que existem na Amazônia", aponta.

"Para mim, não há contraste entre o conhecimento tradicional e a ciência contemporânea. Uma se vale da outra", conclui.

Jaraqui

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Legenda da foto, O jaraqui é um dos peixes mais consumidos na Amazônia

O resgate dos 'meninos'

Por fim, Val enumerou alguns caminhos possíveis para desenvolver a ciência no Brasil — e mais especificamente na Amazônia.

"Da totalidade do orçamento nacional para a ciência e a tecnologia, apenas 2% são investidos na Amazônia", calcula.

"E não será possível avançar a conservação ambiental e a redução dos impactos climáticos se a gente não contar com a ciência na região. Não adianta o mundo estudar a Amazônia, porque as informações não serão acessíveis para o caboclo que está no interior e não conseguirá ler o artigo científico publicado numa revista internacional", critica.

O biólogo aponta que, nos últimos quatro anos, houve uma "degradação muito significativa das instituiçõesapostas com o crushpesquisa no Brasil, sendo que na Amazônia a coisa foi ainda pior".

"O Inpa (Instituto Nacionalapostas com o crushPesquisas Ambiental da Amazônia) mesmo tem cercaapostas com o crush140 pesquisadores, sendo que metade deles já estáapostas com o crushidadeapostas com o crushaposentadoria, mas continuam a trabalhar por faltaapostas com o crushgente."

Val acredita que o primeiro grande desafio do próximo governo é "viabilizar oportunidades para que os meninos e as meninas fiquem no Brasil".

Ele explica que os termos "meninos" ou "meninas" são maneiras carinhosasapostas com o crushse referir aos mais jovens na região amazônica.

"As pessoas têm o direitoapostas com o crushmorar no exterior, mas não porque não há condiçõesapostas com o crushfazer pesquisa no país", lamenta.

"Nós gastamos uma fortuna para formar esses profissionais e, quando eles chegam aos 28 anos, recebem propostas melhores para trabalhar fora."

Ele cita o exemploapostas com o crushum aluno que era eletricistaapostas com o crushSão Paulo e foi ao Ipam para fazer mestrado e doutorado.

Durante o trabalho, o jovem cientista desenvolveu um mecanismoapostas com o crushinteligência artificial que ajuda a saber se peixes ornamentais estão saudáveis — e foi contratado por uma empresa no Reino Unido.

Val também acredita que ao menos 2% do PIB do país deveria ser investidoapostas com o crushciência e tecnologia.

"Precisamos utilizar nossos recursos para criar estruturas capazesapostas com o crushdesenvolver novas tecnologias", aponta.

"Por último, precisamos transformar a informação que temos produzidoapostas com o crushtecnologias sustentáveis, que possam ser socializadas com a população."

"E o foco dessa inclusão social precisa acontecer principalmente nas regiões periféricas, como a Amazônia, o Nordeste, o Pantanal e o Centro-Oeste", sugere.

Ele cita como exemplo o fatoapostas com o crushnenhum peixe amazônico ser exportada para o exterior a partirapostas com o crushuma produção sustentável.

"Há algumas décadas, o então governador do Estado do Amazonas deu dez casaisapostas com o crushtambaquiapostas com o crushpresente para uma delegação chinesa", lembra.

"Logo depois, o presidente chinês determinou que um timeapostas com o crushpesquisadores fosse enviado ao Brasil, onde os cientistas aprenderam mais sobre a espécie e coletaram informações da literatura."

"E, há alguns anos, a China começou a exportar a carneapostas com o crushtambaqui", finaliza.

- Este texto foi publicado originalmenteapostas com o crushhttp://vesser.net/brasil-63670566