Não são só as crianças: baixa vacinaçãoadultos também preocupa:

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Legenda da foto, Para especialistas, baixas taxasvacinaçãográvidas contra gripe e tétano são particularmente graves

Em média, aproximadamente 73% dos brasileiros na faixa etária1 a 4 anosidade estão vacinados contra o sarampo; entre 5 e 24 anos, a cobertura é considerada total (estimada99-100%). A partir daí, os números começam a cair: 83%cobertura vacinal25 a 29 anos; 72%30 a 49 anos; 49%50 a 59 anos; e apenas 20% entre aqueles com mais60 anos.

Esses números foram calculados pela BBC News Brasil a partirdados estaduais enviados pelo Ministério da Saúde.

"A vacinação da população adulta e mesmo adolescente sempre foi muito mediana", acrescenta, referindo-se não apenas à imunização contra o sarampo, mas a todas as vacinas que os adultos devem tomar, seja com doses iniciais oureforço.

A vacina contra o sarampo é só uma dos vários imunizantes disponíveis para maioresidade — o site da Sociedade BrasileiraImunizações, a SBIm, traz cartilhas com informações sobre todas as vacinas que devem ser tomadasdiferentes fases da vida, do nascimento à terceira idade.

Muitas delas foram incluídas no PNIdécadas recentes, portanto, as gerações mais velhas não tiveram, quando crianças, acesso às imunizações existentes hoje ou ao númerodoses recomendadas atualmente.

Apesarparecer consenso que a cobertura vacinalmaioresidade é bem mais baixa que entre as crianças, são escassos os dados sobre os percentuaisadultos e idosos que estãodia com todas as doses e vacinas recomendadas e as flutuações ano a ano.

Na plataforma Datasus, do Ministério da Saúde, é possível ver por exemplo que a cobertura vacinalcrianças contra diversas doenças, como tuberculose e poliomielite, vem diminuindo consideravelmente nos anos mais recentes — para alguns imunizantes, a queda começou perto2016, e para outros, entre 2018 e 2019.

Já para adultos, praticamente não há dados na plataforma. Existem apenas números da cobertura vacinal dos imunizantes dT (contra difteria e tétano) e dTpa (difteria, tétano e coqueluche) entre gestantes — que, no Brasil, são na maioria adultas. Em 2020, 86% das crianças nascidas vivas no país tinham mães com mais20 anosidade,acordo com dados do ministério.

A cobertura vacinalgrávidas com dosesdT e dTpa, que já era baixa, caiu fortemente nos últimos anos. Em 2018 a 2019, a cobertura foi45%, diminuiu para 22,9%2020 e para 18,9%2021. Em outubro2022, a cobertura estava12,8%.

Para a pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm, esses baixo números são decepcionantes, uma vez que o controle da vacinação deve fazer parte do pré-natal.

"A maioria das nossas gestantes passa pelos programassaúde da família, já que a maioria é atendida na rede pública, e nãoconsultórios particulares. Como assim elas não estão recebendo essa orientação (para atualizar a carteiravacinação)?", indaga a médica.

"A gente sabe que 100% das mortes por coqueluche acontecemmenoresum ano, a grande maioria nos primeiros seis mesesvida. Por isso, a gente vacina a gestante", aponta, referindo-se a uma das doenças prevenidas com a dTpa. "A gente eliminou o tétano neonatal graças a vacinar gestante. O bebê pegava tétano no parto."

Carla Domingues, ex-coordenadora do PNI, lembra que as vacinas recomendadas para gestantes — não apenas as dT e dTpa — protegem a própria saúde dessas mulheres.

"A gestante tem uma imunossupressão natural da gravidez, ela fica realmente com o sistema imunológico comprometido. Ela tem o riscoadoecer,ter complicações e chegar a óbito. A gestante deveria ser uma ação prioritária do Sistema ÚnicoSaúde (SUS), até porque ela faz o pré-natal. Não tem justificativa uma uma mulher que faz o pré-natal não ter acadernetavacinaçãodia", diz a epidemiologista.

"Na minha opinião, a baixa vacinaçãogestantes deve ser a prioridade nesse momento."

Outro sinalqueda recente na vacinaçãogestantes eoutros grupos maioresidade vem da imunização contra o vírus da influenza. A campanha nacionalvacinação contra a gripe para 2022 já é considerada encerrada, segundo o Ministério da Saúde. Vários grupos prioritários ficaram abaixo da meta90%cobertura vacinal.

Dados ainda parciais para este ano mostram que 56% das grávidas foram vacinadas contra a gripe — contra 78%2021. As puérperas, aquelas que estão no pós-parto e também são um grupo prioritário nesta imunização, têm um percentual ainda menor: 52,6%. Em 2021, o percentual neste grupo foi85,1%.

Os idosos, grupo que costuma ser um dos mais assíduos na vacinação da gripe e que,2020, teve 100%cobertura, teve adesão aquém do esperado2021 (70,9%) e 2022 (69,8%).

"A vacinaçãogripe variaacordo com a percepçãorisco pela população. Em 2020, quando começou a pandemia, a cobertura foi muito grande, porque todo mundo estava assustado com a covid e buscando se proteger da gripe também. Em 2021, ninguém mais estava preocupado com a gripe. A cobertura foi baixíssima, assim como esse ano", explica Ballalai.

Em segundo plano

Carla Domingues reconhece que, durante a pandemiacoronavírus, os serviçossaúde ficaram sobrecarregados com a nova doença, e a vacinação contra outras enfermidades ficousegundo plano, tanto para o sistemasaúde e seus profissionais, quanto para a própria população.

"Isso aconteceu não só no Brasil, masvários países do mundo. Com a pandemia, as pessoas ficaram com receioir ao serviçosaúde, acabaram não entendendo que a vacinação também era uma atividade essencial. Mas ao mesmo tempo, não houve uma mobilização do SUS. Não se escutoumomento algum que a vacinação era uma atividade essencial que não deveria parar", aponta.

As especialistas entrevistadas afirmam que a vacinaçãoadultos sempre foi menos prioritária nas ações e divulgações do governo, o que para elas deve mudar, com mais investimentos para chegar a essa população.

Há também um fator cultural: elas apontam que falta informação e acompanhamento da vacinação dos maioresidade por parte dos profissionaissaúde e pela própria população.

Por exemplo, é comum que adultos não guardem com cuidado suas carteirasvacinação, perdendo controlequais imunizantes tomaram e quais estão faltando. Na dúvida, quando não se sabe se uma pessoa tomou ou não uma vacina, a orientação nos postossaúde costuma ser aplicar o imunizante.

"O adulto também deve ter acarteiravacinaçãodia. O pai tem uma preocupação enormevacinar o seu filho, mas ele chega no postosaúde e muitas vezes se recusa a tomar vacina. Acredito que seja realmente desconhecimento da importância da vacinação não só da criança, mas principalmente do adulto", diz Domingues.

Legenda da foto, Renan Bidutti considera a imunizaçãoadultos importante, mas confessa que não vêcarteiravacinação há cerca10 anos

O cozinheiro Renan Bidutti,28 anos, afirma que considera a vacinaçãocrianças e adultos igualmente importantes, se os "estudos científicos" e as autoridades assim indicarem.

Ele moraSão Paulo (SP) e estava levando o filho1 anoidade para se vacinar contra meningiteum postosaúde quando foi abordado pela reportagem.

Apesarconcordar que os adultos também devem estar atentos à imunização, ele confessa que não sabia que a vacina dTpa deve ser reforçada a cada dez anos.

"Não imaginava que a gente tinha que tomar o reforço, porque minha carteirinha está na casaum parente distante tem uns dez anos", diz. "Mas tem que tomar, colocardia sim."

Já o cabelereiro Daniel Araujo,39 anos, que aguardava a cunhada e o filho delafrente a um postosaúde, afirmou que é "um pouco antivacina" e não atualiza a carteiravacinação desde a infância — com exceção da vacinagripe eduas doses do imunizante contra a covid-19, o qual ele disse ter tomado apenas para conseguir viajar e circularlocais que exigem comprovantevacinação.

Araujo, moradorGuarulhos (SP) e naturalParnaíba (PI), diz que teve efeitos colaterais ao ser vacinado contra gripe há alguns meses e por isso pretende não tomar mais doses no futuro.

Legenda da foto, O cabelereiro Daniel Araujo não está com doses e reforçosdia, mas não demonstra muita preocupação com isso

Perguntado se é vacinado com todas as dosesrecomendadas contra o sarampo, Araujo riu. "Eu acho que peguei sarampo há dois meses. Eu vou fazer alguns exames e vou ver se o médico acha que tem necessidadetomar", diz.

O cabelereiro também considera que "as crianças têm que ser mais protegidas com vacinas, porque têm o sistema mais frágil" do que os adultos — o que a médica Isabella Ballalai refuta, explicando que as vacinas têm a função justamentefornecer imunidade contra doenças que as pessoas não têm normalmente, independente da idade.

"As crianças vivem o primeiro anovida às custas dos anticorpos maternos, mas esses anticorpos maternos vão acabando. Por isso que a maioria das vacinas do calendário são aplicadascrianças, porque elas precisam da vacina para produzir logo seus anticorpos", explica.

Sobre os efeitos adversos, ela explica que eles são raros — e há muitas etapastestes clínicos anteriores para garantir isso — e são superados pelos benefícios da imunização, coletivamente e individualmente, já que o mais frequente é que um eventual acometimento pela doença cause muito mais dano do que os efeitos adversos.

"Mas qualquer vacina pode causar efeito adverso. Aliás, qualquer medicamento pode causar efeito adverso", lembra a médica.

Carla Domingues acrescenta que ter tomado vacinas do calendário básico na infância dá a "falsa sensaçãoproteção" a muitas pessoas, mas é fundamental tomar doses adicionais quando isso for recomendado.

"O reforço é tão importante quanto o esquema primário. A maioria dessas vacinas que exigem reforço é porque você vai perdendo a imunidade ao longo do tempo. Então, aquele esquema primário que você fez lá no início com uma, duas, três doses, quando há necessidade do reforço é justamente porque, com o passar do tempo, aquelas doses não te protegem mais, você está suscetível à doença."

Legenda da foto, Muitas vacinas foram incluídas no PNIdécadas recentes, então as gerações mais velhas não tiveram acesso quando crianças

Ballalai exemplifica a importânciaalgumas vacinas às quais os adultos têm direito, seja por não terem sido vacinados anteriormente, como contra a hepatite B; seja como reforço, caso da dTpa.

"A vacina da hepatite B está disponível para qualquer pessoa, sem limiteidade, inclusive os maiores60 anos. É uma doença que pode ficar crônica. E tardiamente, às vezes 15 ou 20 anos depois, ela pode se manifestar com câncer ou uma cirrose hepática."

"Todo mundo que pensa no tétano pensa no prego enferrujado, mas a bactéria está nas fezes do cavalo, na terra. Tem um risco enorme (no contato com objetos e áreas contaminadas)."

Em nota à reportagem, o Ministério da Saúde afirmou que realizou2022, para adultos, campanhasvacinação contra a covid-19, hepatites, sarampo e influenza e que todos os esforços foram empenhados para o alcance da cobertura vacinal.

Aindaacordo com a pasta, as mudanças ao longo dos anos nos tiposvacinas ofertadas e no númerodoses recomendadas são frutos"avanços na imunização da população brasileira", com o oferecimentoum "maior númeroimunizantes".

"O programa vem empreendendo esforços no sentidointroduzir novas tecnologias e vacinas com intuitoproteger a população, alémreduzir o númeroinjeções e visitas a salasvacinação. Além disso, busca com essa introdução associarum mesmo imunobiológico componentes que protejam contra maisuma doençauma mesma administração, a exemplo da vacina monovalente contra o sarampo, que2003 foi substituída pela vacina tríplice viral (sarampo, rubéola, caxumba)", afirmou o ministério.

- Texto originalmente publicadohttp://vesser.net/brasil-63381556