Eleições 2022: por que Lula lidera entre católicos e Bolsonaro entre evangélicos?:twitter pixbet

Crédito, ABR/AFP

Legenda da foto, Pesquisas mostram que eleitores católicos vêm preferindo Lula e evangélicos apoiam Bolsonaro

Tamanho do bolo

A atenção dada pelas principais campanhas presidenciais ao fator religião não é nova na política brasileira e parece ter razões numéricas. Dadostwitter pixbet2020 do Datafolha mostram que católicos representam 50% da população brasileira, enquanto evangélicos (em suas diversas denominações) somariam 31%. Juntos, totalizam 81% da população do país.

A importância do eleitorado religioso passou a ganhar ainda mais destaque após as eleiçõestwitter pixbet2018, quando o presidente Jair Bolsonaro se elegeu com um forte apoio do eleitorado evangélico.

Uma pesquisa do Datafolha às vésperas do segundo turno indicou que 59% dos eleitores evangélicos disseram que votariamtwitter pixbetBolsonaro contra 26% no então candidato do PT Fernando Haddad. A mesma pesquisa mostrou que 44% dos católicos votariamtwitter pixbetBolsonaro contra 43%twitter pixbetHaddad. Bolsonaro venceu as eleições com 55,13% dos votos contra 44,87% do petista.

Não à toa, tanto as campanhastwitter pixbetLula quantotwitter pixbetBolsonaro vêm apostando na conquista do eleitorado religioso para se manterem competitivas. Na semana passada, por exemplo, Lula se reuniu com lideranças evangélicas no Riotwitter pixbetJaneiro. Em seu discurso, ele fez questãotwitter pixbetse apresentar como alguém ligado a Deus. "Eu não teria chegado aonde cheguei se não fosse a mãotwitter pixbetDeus dirigindo os meus passos", disse.

Bolsonaro não ficou atrás. Na segunda-feira (12/9), ele participoutwitter pixbetuma entrevista com um grupotwitter pixbetinfluenciadores digitais evangélicos. Em seu discurso no ato organizado no dia 7twitter pixbetsetembro, ele também se apresentou como alguém temente a Deus.

"Hoje vocês têm um presidente que acreditatwitter pixbetDeus", disse.

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, Bolsonaro e a primeira-dama participaram do desfiletwitter pixbetcomemoração ao 7twitter pixbetSetembro

Diferenças entre voto católico e evangélico

Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que para entender o que tem levado católicos a preferir Lula e evangélicos a preferir Bolsonaro é preciso compreender que a definição do voto tende a acontecertwitter pixbetforma diferente nesses dois segmentos.

Um dos principais fatores que explica essa diferença é o fatotwitter pixbetque evangélicos, na média, vão mais aos seus templos do que os católicos vão à igreja,twitter pixbetacordo com os especialistas. Pesquisa do Datafolha divulgadatwitter pixbetjunho deste ano mostra que 53% dos evangélicos afirmam ir aos seus templos maistwitter pixbetuma vez por semana. Entre católicos, esse número étwitter pixbet17%.

O resultado, segundo eles, é que, para o católico médio, a definição do seu voto seria menos influenciada portwitter pixbetvivência religiosa que no caso do eleitor evangélico.

"Os católicos vão menos à Igreja e vão estabelecer uma relação mais distante com as suas lideranças. Ele não vai votar a partirtwitter pixbetuma conversa,twitter pixbetum diálogo com o companheirotwitter pixbetigreja como o evangélico faz", explicou a professoratwitter pixbetSociologia da Universidadetwitter pixbetBrasília (UnB) e pesquisadora do Institutotwitter pixbetEstudos da Religião (ISER), Jaqueline Moraes Teixeira.

"Para os evangélicos, a rede da igreja é a principal. Então, para eles, é importante que esse voto, que essa decisão passetwitter pixbetalguma maneira por essa rede", afirmou a pesquisadora.

A cientista política e pesquisadora do ISER Carô Evangelista afirma que essa diferença nas intençõestwitter pixbetvoto entre católicos e evangélicos é um fenômeno observadotwitter pixbetoutros países latino-americanos há alguns anos. Ela aponta um outro fator que ajuda a explicar a diferença no engajamento político entre os eleitorados evangélico e católico: o ativismo político das lideranças religiosas evangélicas.

Segundo ela, nos últimos anos, pastores e pastoras com grande númerotwitter pixbetfiéis passaram a militar politicamente, inclusive lançando candidaturas e apoiando, oficialmente, determinados candidatos.

Por outro lado, a Igreja Católica, nas últimas décadas, tem se mostrado mais comedidatwitter pixbetendossar candidatos e tem regras que restringem o lançamentotwitter pixbetcandidaturastwitter pixbetseus sacerdotes.

"As pesquisas têm mostrado uma maior participaçãotwitter pixbetrepresentantes do sistema político dentrotwitter pixbetespaços religiosos no universo evangélico. Isso tem influência sobre esse eleitorado. Nos espaços evangélicos tem muito mais presença da política do que nos espaços católicos", disse a pesquisadora.

Outra diferença apontada pelas especialistas é a diferença no padrão sócio-econômico entre católicos e evangélicos.

Segundo Jaqueline Teixeira, apesartwitter pixbethaver um grande contingentetwitter pixbetfiéistwitter pixbetbaixa renda entre os católicos, no segmento evangélico as pessoas pobres, especialmente mulheres, são a maioria. Essa "desassistência", segundo ela, aumenta a vinculação dos fieis às redes comunitáriastwitter pixbettorno da igreja, aumentando assim, a eventual influência dela sobre o voto.

"(Eleitor católico) é uma população que tem um pouquinho maistwitter pixbetacesso a determinadas coisas como equipamentos públicos e urbanos e que não tem a mesma relação comunitária com a Igreja que a população evangélica tem", explica.

Crédito, Ricardo Stuckert/Divulgação

Legenda da foto, Lula e o Papa Francisco se encontraram no Vaticanotwitter pixbet2020, após o ex-presidente ter saído da prisão

Católicostwitter pixbetum lado

Os especialistas apontam, também, que o papeltwitter pixbetdeterminados temas e históricos é importante para explicar o que tem levado católicos a preferirem Lula e evangélicos a preferirem Bolsonaro.

O sociólogo e pesquisador do ISER Clemir Fernandes, que é pastor, aponta três motivos que ajudam a explicar por que os católicos demonstram maior intençãotwitter pixbetvototwitter pixbetLula.

O primeiro é a constante identificaçãotwitter pixbetBolsonaro com o universo evangélico. Apesartwitter pixbetser católico, o presidente acena frequentemente ao eleitorado protestante.

Um dos símbolos mais marcantes desse processotwitter pixbetidentificação foi esse eleitorado foi o seu batismo nas águas do rio Jordão,twitter pixbetIsrael. Para Clemir, quanto mais Bolsonaro se aproxima dos evangélicos, mais resistência ele tem entre católicos.

"Essa aproximação dele (Bolsonaro) com a gramática e a liturgia evangélica causam um certo mal-estar e um distanciamento do católico-médio, que é a identidade religiosa brasileira mais forte", afirmou.

O segundo motivo,twitter pixbetacordo com ele, é a ligação históricatwitter pixbetparte da Igreja Católica com movimentos sociaistwitter pixbetesquerda no Brasil.

Essa conexão ficou mais intensa a partir dos últimos anos da ditadura militar influenciada pela chamada Teologia da Libertação, uma corrente filosófica dentro do catolicismo associada à esquerda.

Foi nesse período que se deu a formação das comunidades eclesiaistwitter pixbetbase, que tiveram forte influência na criaçãotwitter pixbetmovimentos sociais e do PT.

"Esse braço da Igreja Católica baseado na Teologia da Libertação formou muitos padres e bispos e ainda têm influência na Igreja Católica. Há uma identidade católica que tem a ver também com a formação do próprio PT", explicou Clemir.

"Exceto pelo tema do aborto, isso (a pautatwitter pixbetcostumes) não tem o peso que tem para os evangélicos. Por isso que eles podem votartwitter pixbetLula mesmo quando ele diz alguma coisa que possa aproximar a defesa dessas pautas", disse o pesquisador.

O terceiro fator, segundo ele, é o fatotwitter pixbetque o católico-médio daria um peso menor, na comparação com o evangélico, à chamada agendatwitter pixbetcostumes, termo normalmente usado para representar questões como os direitos da comunidade LGBTQIA+ e descriminalização das drogas.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Em 2018, quase 70% dos evangélicos votaramtwitter pixbetBolsonaro e foram cruciais para a eleição dele. Agora, pesquisastwitter pixbetopinião mostram que parte das mulheres evangélicas está migrando votos para Lula

Evangélicostwitter pixbetoutro

Já entre os evangélicos, a preferência por Bolsonaro pode ser explicada, segundo os especialistas, a partir da identificação desse segmento com pautas defendidas pelo presidente como o anticomunismo, a defesa da pautatwitter pixbetcostumes e da liberdade religiosa.

Nas últimas semanas, lideranças do PT se mobilizaram para desmentir um boatotwitter pixbetque o partido iria fechar templos evangélicos caso vencesse as eleições.

Ao jornal Folhatwitter pixbetS. Paulo, o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PL-SP), que é aliadotwitter pixbetBolsonaro, admitiu que disseminou o boato.

"A ideiatwitter pixbetque os evangélicos estão sendo perseguidos é muito forte nesse segmento. No Brasil, durante muitos anos, eles não puderem enterrar seus mortos. Há uma memória coletiva que vem sendo ativada", explica a coordenadora do Laboratóriotwitter pixbetEstudostwitter pixbetPolítica, Arte e Religião na UFF (Universidade Federal Fluminense), Christina Vital.

"A liberdade religiosa e a garantiatwitter pixbetque as igrejas evangélicas não vão ser perseguidas é algo muito importante para esse eleitorado, especialmente para as mulheres", disse Jaqueline Teixeira, do ISER.

Clemir Fernandes aponta que a associação das igrejas evangélicas, principalmente pentecostais e neopentecostais, ao chamado "anticomunismo" também ajuda a explicar a preferênciatwitter pixbetparte desse eleitorado por Bolsonaro. O presidente frequentemente defende a ditadura militar no Brasil como uma reação a uma suposta tentativatwitter pixbetimplantar o comunismo no Brasil.

"Essa ideia do anticomunismo ficou muito popular nos anos 1950, nos Estados Unidos, e foi importada para o Brasil. Hoje, muitas lideranças evangélicas fazem uso dessa pauta com fins eleitorais", disse Fernandes.

O pesquisador diz ainda a defesa feita por Bolsonaro da chamada pautatwitter pixbetcostumes aproxima esse eleitorado do presidente.

Crédito, MAURO PIMENTEL/AFP via Getty Images

Legenda da foto, Bolsonaro participatwitter pixbetevento com o pastor Silas Malafaia, da Igreja Assembleiatwitter pixbetDeus

"Uma parte importante desse apoio é resultado das pautas morais que Bolsonaro adota. Lula não trata disso por esse viés. Pelo contrário, o governo Lula deu espaço para o reconhecimentotwitter pixbetidentidade étnica,twitter pixbetnegritude etwitter pixbetdireitos LGBT e isso gerou uma reação virulenta nas igrejas evangélicas", afirmou Fernandes.

Alinhamento não é automático

Apesar das diferenças apontadas pelas pesquisas entre as preferênciastwitter pixbetcatólicos e evangélicos, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil alertam que a definição do voto não se dá somente com base na religião.

"A dinâmica do voto é muito variável e engloba muitos fatores. Quando a gente vai analisar a escolha do voto, a gente precisa sempre combinar a variável religiosa com outros fatores como classe social e escolaridade, por exemplo", afirmou Christina Vital.

"Essa escolha não se dátwitter pixbetforma cega e automática. Apesartwitter pixbethaver um peso importante do papel da religião, essa definição é partetwitter pixbetum processo reflexivo", disse Jaqueline Teixeira.

"Tanto é assim que hoje, na comparação com 2018, vemos um engajamento menortwitter pixbetevangélicostwitter pixbettornotwitter pixbetBolsonaro e maiortwitter pixbetcatólicostwitter pixbettorno do candidato do PT", afirmou a pesquisadora.

- Este texto foi publicadotwitter pixbethttp://vesser.net/brasil-62896472

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