Eleições 2022: o que mudou na cabeça do eleitor brasileiro desde 2018:mail vbet

Crédito, Agência Brasil

Há quatro anos, eleitores entrevistados por institutosmail vbetpesquisa respondiam que a corrupção era o maior problema do Brasil. Naquele momento, os partidos políticos tradicionais estavam fragilizados pelo impacto da Lava Jato, mega operação que revelou grandes desviosmail vbetrecursos na Petrobras durante o governo da petista Dilma Rousseff (2011-2016).

Segundo Antônio Lavareda, presidente do conselho científico do Institutomail vbetPesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), aquela foi, no jargão da ciência política, uma "eleição crítica", ou seja, fora da curva, o que abriu espaço para um candidato radical, Jair Bolsonaro, romper a antiga polarização entre PT e PSDB.

"Havia crise econômica, polarização ideológica e um fato super importante: a Lava Jato. A operação decidiu o mood (o humor) daquela eleição. Abriu as portas para a chegada do outsider. Isso ocorreu na vitóriamail vbetJair Bolsonaro, mas também na eleição do Congresso,mail vbetque o PSL (partido até então nanico pelo qual Bolsonaro se elegeu) fez uma enorme bancada", lembra Lavareda.

Quatro anos depois, as pesquisas mostram o retorno do "voto econômico".

Problemas relacionados ao bem-estar financeiro, como inflação, miséria e desemprego, voltaram ao topo das preocupações do eleitor. É um cenário que tem dificultado a tentativamail vbetreeleiçãomail vbetBolsonaro (hoje no PL) e impulsionado a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reconhecido por ter alcançado bons resultados econômicos no seu governo.

Crédito, Felix Lima

Legenda da foto, Aumento da inflação e da miséria faz eleitor se preocupar mais com a economia na horamail vbetvotar

Não à toa, Bolsonaro tem adotado uma sériemail vbetmedidas para tentar minimizar a dificuldade econômica da população, como baixar impostos e elevar benefícios sociais. A primeira medida já permitiu reduzir o preço da gasolina. Já Auxílio Brasil maior (de R$ 400 para R$ 600), a ampliação do vale gás para famílias pobres e o novo auxíliomail vbetR$ 1 mil para caminhoneiros autônomos devem começar a ser pagosmail vbetagosto.

O que dizem os números?

Pesquisa do Ipespe realizadamail vbetmaio deste ano perguntou aos entrevistados qual tema consideravam mais importante para ser tratado pelo próximo presidente no início do governo. Inflação ficou no topo com 26%mail vbetmenções. Somando todos os temas econômicos (alémmail vbetinflação, desemprego, fome/miséria e salário), essa área aparece como maior preocupaçãomail vbet49% dos eleitores ouvidos.

Já corrupção e violência aparecem como o sexto e sétimo temas principais para o eleitor, com 6% e 3%mail vbetmenções, respectivamente, ficando atrás tambémmail vbeteducação (24%) e saúde (15%).

O resultado é bem diferente do coletado pelo Ipespemail vbetmaiomail vbet2018, quando esses quatro temas juntos (inflação, desemprego, fome/miséria e salário) eram apontados como o principal problema a ser solucionado pelo próximo presidente por apenas 18% dos entrevistados. Naquela eleição, a pesquisa mostrou corrupção no topo das preocupações (28%), seguidamail vbetsaúde (22%), educação (16%) e violência (13%). Apenasmail vbetquinto lugar, vinha o desemprego (11%), como questão econômica mais citada.

Um exemplo que ilustra bem o impacto dessa mudança, nota a professora Daniela Campello, é a transformação do voto evangélico. Em 2018, esse segmento optoumail vbetpeso por Bolsonaro. Pesquisa do Instituto Datafolha da véspera do segundo turno mostrou que 59% dos evangélicos pretendiam votar no então candidato do PSL, contra apenas 26%mail vbetFernando Haddad, o candidato do PT.

Já neste ano, a pesquisa Datafolha mais recente, do finalmail vbetjunho, mostra um cenário mais apertado, com Bolsonaro marcando 40%mail vbetintençãomail vbetvoto entre os evangélicos, e Lula com 35%.

"Há um certo consensomail vbetque os evangélicos votarammail vbetpesomail vbetBolsonaromail vbet2018 por toda uma agendamail vbetcostumes. Acho que muitos votaram contra Haddad também porque vinhammail vbetuma crise econômica do período da Dilma (Rousseff). É muito difícil diferenciar se as pessoas estavam votando contra o PT da Dilma ou a favor da agendamail vbetcostumes", analisa Campello.

"Hoje, Bolsonaro não tem a mesma vantagem no voto evangélico. A gente percebe que, mesmo aqueles que compartilham do discurso do Bolsonaro não vão votar nele porque precisam se alimentar, precisam ter emprego, precisam conseguir comprar, e não estão conseguindo", acrescenta.

"Crise alimentou indignação com Lava Jato"

Voltando à análise mais macro do votomail vbet2018, a professora da FGV considera que a questão econômica não estava completamente ausente da decisão do eleitor naquele ano. Namail vbetavaliação, foi a fraqueza da economia que criou as condições para que as revelações da Lava Jato gerassem tanta revolta na população.

Campello compara o cenáriomail vbet2018 com a eleiçãomail vbet2006, quando outro escândalomail vbetcorrupção, o do Mensalão (acusaçãomail vbetcompramail vbetvotos no Congresso pelo governo Lula), era um tema importante da campanha eleitoral, mas não impediu a reeleição do petista.

Naquele ano, o Produto Interno Bruto (PIB, somamail vbetbens e serviços) cresceu 4%, e o bom desempenho da economia se refletia na boa avaliação do governo.

"Em 2006, falava-se muito sobre Mensalão, mas essa conversa não colou na cabeça do eleitor e ele votou novamente no Lula. Há pesquisas na ciência política que mostram que escândalosmail vbetcorrupção ou outros escândalosmail vbetgoverno tendem a ter um efeito mais forte na cabeça do eleitormail vbetsituaçãomail vbetcrise", explica a professora.

Crédito, Fernando Frazão/Agência Brasil

Legenda da foto, Operação Lava Jato colocou corrupção no foco do eleitormail vbet2018

Jámail vbet2018 o PIB brasileiro crescia num ritmo lento pelo segundo ano seguido, após forte retração no final do governo Dilma Rousseff (PT) — a economia encolheu maismail vbet3%mail vbet2015 e 2016.

"Havia crise econômica, as pessoas estavam extremamente insatisfeitas, e aí vem o escândalomail vbetcorrupção. Isso fica na cabeça do eleitor e ele responde corrupção (como maior problema do país). Mas eu acho que o panomail vbetfundo dessa frustração com a corrupção também era o fatomail vbetque havia uma crise econômica muito forte", analisa a professora.

De 2018 para cá, a Lava Jato sofreu forte desgaste depois que a sériemail vbetreportagens Vaza Jato, do site Intercept Brasil, revelou possíveis abusos da operação. Após isso, uma sériemail vbetcondenações acabaram revertidas nos tribunais superiores, inclusive condenações contra Lula, o que permitiu que o petista recuperasse seus direitos políticos.

Se por um lado o discurso anticorrupção acabou enfraquecido,mail vbetoutro a crise econômica se agravou após a pandemiamail vbetcovid-19, provocando forte aumento da miséria e fome no país. Segundo a Rede Brasileiramail vbetPesquisamail vbetSoberania e Segurança Alimentar e Nutricional, há 33,1 milhõesmail vbetbrasileiros passando fome, 14 milhões a mais do quemail vbet2020.

"Em geral, economia tente a ser o grande temamail vbetqualquer eleição, porque a economia é o bem estar das pessoas, é o emprego, a capacidademail vbetcomprar. Mesmo que outros fatores afetem a economia, como a pandemia, o eleitor sempre associa o resultado econômico à imagem do presidente", afirma Campello.

"A eleiçãomail vbet2018 também foi diferente porque o presidente (Michel Temer) não tentou a reeleição e candidato do seu governo (Henrique Meirelles) era muito desconhecido. Eu acho que 2022 é uma eleição tradicional: tem uma crise econômica e tem um governo que vai responder pelos resultados do que fez nos últimos quatro anos. Se houvesse um período muito bom economicamente, seria uma resposta positiva a Bolsonaro", ressalta.

Lula é visto como mais preparado na economia

O cenário apontado pela pesquisa Ipespe é confirmado por outras pesquisas. No levantamento eleitoral da Quaestmail vbetjulho deste ano, economia é apontada como principal problema do país por 44% dos eleitores, bem acima dos outros temas. Em segundo lugar está "questões sociais" (17%), seguidomail vbetsaúde/pandemia (12%), corrupção (9%) e violência (4%).

A pesquisa não foi realizadamail vbet2018, mas é possível perceber o aumento da preocupação com a economia analisando outros levantamentos da Quaest no último ano. Em julhomail vbet2021, por exemplo, a questão econômica era o principal problema para 28% dos entrevistados, perdendo para saúde/pandemia (41%). Naquele momento, o país ainda passava por um período mais severomail vbetmortes causadas pelo coronavírus.

Outra pesquisa Quaest,mail vbetoutubro, ajuda a entender porque Lula tem sido beneficiado pelo aumento da preocupação com a economia. Na ocasião, 44% dos entrevistados apontaram o petista como o mais apto para controlar a economia, contra 18%mail vbetBolsonaro.

Lula também foi apontado como o melhor candidato para tratarmail vbetoutros temas, como saúde e pandemia (37%) e combate à corrupção (28), mas é nos desafios econômicos — justamente a área percebida como mais problemática — que ele registra o maior índicemail vbetconfiança do eleitor.

Esse tipomail vbetpercepção pode limitar o impacto das ações recentes adotadas por Bolsonaro para amenizar os problemas econômicos. Além disso, analistas políticos têm apontado o riscomail vbetessas medidas, implementadas a poucos meses do pleito, serem vistas como eleitoreiras.

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Para a cientista política Mariana Borges, pesquisadora da Universidademail vbetOxford, na Inglaterra, o fato dos novos benefícios sociais criados pelo governo terem previsãomail vbetdurar apenas até dezembro também deve dificultar a atraçãomail vbetvotos para o presidente. Namail vbetavaliação, esse prazo curto pode levar o eleitor a associar a medida a uma tentativamail vbet"compramail vbetvoto".

"Ao contrário do que tradicionalmente se pressupõe, eleitoresmail vbetbaixa renda percebem muito negativamente a compramail vbetvoto, exatamente porque tomam como certo que candidatos que compram voto abandonam os eleitores após as eleições", disse Borges emmail vbetconta no Twitter.

"Com o aumento com hora marcada pra morrer, Bolsonaro está assim, sem querer, colandomail vbetimagem com os chamados 'políticosmail vbetcopamail vbetmundo', os que 'só ajudammail vbetquatromail vbetquatro anos' (durante as eleições). Dificilmente, portanto, vai conseguir ser visto como pais dos pobres com essa aumento com hora marcada pra acabar...", escreveu ainda na rede social.

- Texto originalmente publicadomail vbethttp://vesser.net/brasil-62270734

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