Caso Moïse: os fatores que levam a tantos casossites casinolinchamento no Brasil:sites casino

Moïse faz sinalsites casinojoinha com a mão

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Moïse pertencia à etnia Hema e chegou ao Brasilsites casino2011 fugindosites casinoconflitossites casinoseu país

O sociólogo afirma que continua "monitorando, diariamente, essas ocorrências no Brasil. Hoje, há no país ao menos um linchamento ou tentativa por dia. No geral, dois ou três".

"Mas o número pode ser maior", diz.

"Isso tem ocorridosites casinovários países na América Latina, África e Ásia. Mesmo nos Estados Unidos, ainda quesites casinoescala muito pequena, ressurgiram os casos. Praticamentesites casinotodas essas áreas os linchamentos decorreram com frequência da violaçãosites casinovalores e costumes da tradição, morais ou religiosos", afirma Souza Martins.

"No Brasil não tem sido diferente. Crenças populares tradicionais podem ser mais acentuadas como fatorsites casinouns países, comosites casinoMoçambique. Aqui temos tido casos do tipo, como foi o da donasites casinocasasites casinoGuarujá, suspeitasites casinoraptar crianças para magia negra. O que era completamente falso."

Em 2014, a donasites casinocasa Fabiane Mariasites casinoJesus,sites casino33 anos, foi alvosites casinoum boatosites casinouma página do Facebook dizendo que a donasites casinocasa sequestrava crianças para utilizá-lassites casinorituaissites casinomagia negrasites casinoGuarujá, litoral paulista. A história era falsa e Fabiane, inocente. A família dela processa a rede socialsites casinouma ação por danos morais.

Em seu livro, o sociólogo analisa seis décadassites casinocasos. Em seu levantamento, 2.579 pessoas foram vítimassites casinolinchamento ou tentativa. Desse total, 1.150 (44,6%) foram salvas,sites casinomaissites casino90% das vezes pela polícia. Outras 1.221 (47,3%) foramsites casinofato alcançadas fisicamente nas agressões - feridas ou mortas -sites casinoataques brutais.

Imagem do Google Street View mostra quiosquesites casinofrente a praia

Crédito, Google

Legenda da foto, Quiosque onde Moïse foi morto; segundo relatos, estabelecimento continuou funcionando normalmente depois

Participaçãosites casinomulheres e crianças

Ele afirma que "o fator da morte [no linchamento] é o conjunto dos atos violentos, mesmo daqueles que do linchamento participam ao açular [incitar] os mais diretamente envolvidos no ato. Não é raro que dos linchamentos participem mulheres e até crianças. Com base no direito brasileiro é praticamente impossível impor uma sentença e executá-lasites casinocasos assim".

Em um processo ocorrido no oestesites casinoSanta Catarina, um juiz resolveu dar andamento à ação penal e levou os acusados a julgamento. "Como é o júri que julga, dos 23 identificados e acusados, todos foram absolvidos, menos um, o mais pobre, condenado a 7 anossites casinoprisão", relata o sociólogo.

Sobre o componente racial nesse tiposites casinoviolência, ele aponta que há mais crueldade quando um negro é alvosites casinouma tentativasites casinolinchamento.

"Nos casos que estudei, não é necessariamente a cor da pele ou a raça a motivação inicial para linchar. Nos primeiros minutos da violência, esse é o quadro. No decorrer do ato, se a vítima for negra, da metadesites casinodiantesites casinosua duração, o índicesites casinocrueldade tende a aumentarsites casinocomparação com o caso idênticosites casinouma pessoa branca", diz.

"No casosites casinoMoïse, uma gravação mostra que um dos linchadores volta ao corpo inerte e desfecha nela várias pauladas adicionais."

O númerosites casinoparticipantes nos linchamentos sugere também que essa prática tem aprovação disseminada não só na participação direta, mas também na omissão dos que sabemsites casinosua ocorrência ou testemunham.

"É verdade que os linchamentos são interrompidos porque alguma testemunha alerta a polícia. Ou seja, se numericamente há muitos aprovadoressites casinolinchamentos, estruturalmente há também,sites casinomuitas das situações, pessoas que agem para que as instituições sejam mobilizadas e deem aos casos o enquadramento e o tratamento que a lei prevê."

Para Ariadne Natal, pesquisadora do Peace Research Institute Frankfurt, "esse tiposites casinoevento indica uma desumanização enorme, um descaso com a vida humana que é colocada como descartávelsites casinomaneira muito evidente".

Pessoas na rua segurando cartazes

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Parentes e amigossites casinoMoïse Kabamgabe fizeram protesto na Barra da Tijuca pedindo Justiça

"Os linchamentos apontam quem são as pessoas descartáveis na nossa sociedade e justamente por eles acontecerem às vistassites casinotodo mundo, por ter participaçõessites casinopessoas que não são previamente organizadas, existe um acordo tácito sobre quem são as pessoas matáveis."

A dificuldade sobre a dimensão

Souza Martins afirma que no decorrersites casinodécadassites casinoanálise sobre linchamentos os locais com mais casos têm mudado. Na época da publicaçãosites casinoseu livro (2015), os três primeiros eram São Paulo, Bahia e Rio. Mas já havia indícios dos deslocamentos das ocorrências para o centro-norte do país e a região Norte.

"Hoje, o maior número ocorresites casinoManaus, mas tem sido significativo no Riosites casinoJaneiro. O deslocamento das predominâncias não quer dizer que os linchamentos tenham deixadosites casinoocorrer onde ocorriam majoritariamente".

Em julhosites casino2019 o jornal A Crítica,sites casinoManaus, registrava o crescimento desse tiposites casinoviolência na capital amazonense e citava que o caso mais recente erasites casinoum adolescentesites casino16 anos assassinado a pauladas suspeitosites casinoassaltar um ônibus na zona norte da cidade.

O jornal O Globo fez um levantamento que apontou 12 linchamentos sósites casinopraias do Riosites casinoum períodosites casinotrês semanassites casinojaneiro deste ano.

"Infelizmente a gente não tem estatísticas oficiais desse tiposites casinocaso, eles podem ser registrados dependendo do desfecho como um homicídio, como uma lesão corporal, como tentativasites casinohomicídio, então a gente depende principalmente das pesquisas e as pesquisas usam como fonte a imprensa. Então dependesites casinolevantamentos que são bastante custosos e demandam muito tempo" diz Natal, que analisou 500 casossites casinolinchamento na região metropolitanasites casinoSão Paulo entre 1980 e 2009.

Souza Martins diz que "seria impossível fazer a pesquisa com base numa amostrasites casinoregistros policiais, pois raramente há menção a linchamentos. Alguns jornais não definem linchamentos como homicídios ou tentativassites casinohomicídio. Examino cada caso das notícias recebidas, faço uma análise das características do evento e verifico se posso defini-lo ou não, sociologicamente, como linchamento. Fiz um estudo específico da qualidade do noticiário."

Novos contextos

Sociólogo Josésites casinoSouza Martins

Crédito, Marcos Santos - USP Imagens

Legenda da foto, Hoje, há no país ao menos um linchamento ou tentativa por dia. No geral, dois ou três", diz o sociólogo Josésites casinoSouza Martins, que estuda há 30 anos esse tiposites casinoviolência no país e é autor do livro Linchamentos - A Justiça Popular no Brasil

Para Souza Martins, o casosites casinoMoïse mostra um contextosites casinotrabalho para o linchamento do trabalhador congolês. "A debilitação da relação laboralsites casinodecorrência da reforma trabalhista torna mais difícil a defesa dos direitos dos que estão à margem das formas propriamente legais e contratuaissites casinotrabalho".

Jacqueline Sinhoretto, professorasites casinoSociologia da Universidade Federalsites casinoSão Carlos (UFSCar) e integrante do Fórum Brasileirosites casinoSegurança Pública , diz que "o panosites casinofundo no caso do Moïse é uma violência que aparece num contextosites casinotrabalho precário que envolve tanto ele quanto seus assassinos".

Ela diz que é preciso questionar se o vínculosites casinoalguns quiosques no Rio com seus empregados envolve segurança privada.

"De dia eles [os suspeitos da morte] trabalham como garçons, como intermediáriossites casinouma troca comercial esites casinonoite permanecem no local como seguranças, à noite. Uma situação que me parece muito próximasites casinotrabalho análogo ao escravo ou no mínimosites casinoum trabalhosites casinocondições ilegais. Ou o tiposites casinotrabalho que a gente chamariasites casinotrabalho indecente,sites casinouma exploração excessiva do trabalho".

A socióloga afirma que falta responder algumas perguntas: "Eles têm cobertura para fazer essa segurança por expedientes violentos? Alguém está dando cobertura ou instruções para eles agiremsites casinoforma violenta? Quer dizer, há algo além da precariedade do vínculo: que trabalho é esse?".

Ariadne Natal cita a faltasites casinouma política nacionalsites casinosegurança pública: "A gente mal engatinhou na construçãosites casinouma, são políticas que não tem continuidade entre um governo e outro, são planos que são feitos e que não são levados a cabo".

Ela diz que "a gente tem uma carênciasites casinodirecionamento, para que serve essa determinada instituição, como ela vai ser empregada. Não basta só a existência dessas instituições".

"É quase como se deixassem para ser resolvido pelos próprios cidadãos."

Línea

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