‘A família achava que ele teria segurança no Brasil’: a morte do jovem congolês que causa comoção e revolta:lucksport

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Moïse pertencia à etnia Hema e chegou ao Brasillucksport2011 fugindolucksportconflitoslucksportseu país

"Espancar um rapaz dessa forma não é coisalucksportser humano, essas pessoas não são seres humanos. Não sei se essas pessoas têm coração, se têm filhos, irmãos ou se sentem dor", desabafa um parente, que pediu para não ter a identidade divulgada por medolucksportrepresália.

"A gente chegou aqui e os brasileiros sempre foram pessoas boas. Mas, hoje, não sei mais", disse a mãe do rapaz, Ivana Lay,lucksportrelato ao jornal "O Globo" publicado nesta terça-feira (01/2).

A DelegacialucksportHomicídios da Capital (DHC) apura o caso sob sigilo. Em breve comunicado à BBC News Brasil, informou que analisou câmeraslucksportsegurança instaladas no locallucksportque o rapaz foi agredido e disse que está ouvindo testemunhas.

Na terça-feira, três homens foram presos. De acordo com o G1, eles devem responder por homicídio duplamente qualificado, impossibilidadelucksportdefesa e meio cruel.

Em entrevista ao programa SBT Rio, um dos presos afirmou que os agressores não queriam tirar a vidalucksportninguém e declarou que o rapaz não foi espancado por ser "negro oulucksportoutro país". O suspeito argumentou que agiram para defender um homem que Moïse supostamente teria tentado agredir.

A defesa da família do congolês afirma que os suspeitos devem adotar uma versão na qual dizem que agiramlucksportlegítima defesa para tentar reduzir uma possível condenação.

A reportagem não conseguiu contato com as defesas dos suspeitos do crime até a atualização deste texto.

A busca por segurança

A famílialucksportMoïse pertence à etnia Hema. O conflito étnico com o povo Lendu já causou mortes violentas, desnutrição e outras inúmeras dificuldades para o Congo, o maior país da África subsaariana.

Conforme parentes do rapaz, o pai dele tinha envolvimento com a política do país e se preocupava com a segurança da família. Em razão disso, decidiu que os filhos precisavam sair do Congo.

Moïse e os irmãos conseguiram statuslucksportrefugiados no Brasil. Quando chegaram por aqui, logo foram acolhidos pela comunidade congolesa e foram recebidos por familiares que haviam chegado anteriormente.

Os garotos foram matriculadoslucksportescolas públicas, começaram a aprender o idioma e logo se adaptaram à vidalucksportsolo brasileiro.

"Aqui, a gente tem muita solidariedade como congolês quando alguém chega e não conhece nada. A gente busca alguma forma para abrigar, acompanha a pessoa e ajudar na documentação até a pessoa conseguir fazer as coisas sozinha e trabalhar", diz o congolês Placide Ikuba, que chegou ao paíslucksportperíodo próximo aolucksportMoïse e conhecia o rapaz.

Segundo o parentelucksportMoïse que conversou com a BBC News Brasil, sob a condiçãolucksportanonimato, a violência no Brasil sempre assustou, mas parecia algo distante.

"A gente já tinha visto crimes na televisão e muita barbaridade, mas a gente não acreditava que fosse acontecer algo assim na nossa família", desabafa o familiar.

Em 2014, a mãe do jovem congolês, Ivana Lay, também chegou ao Brasil. Ela e os quatro filhos acreditavamlucksportum futuro melhor por aqui.

A morte do jovem

Crédito, Google

Legenda da foto, Quiosque onde Moïse foi morto; segundo relatos, estabelecimento continuou funcionando normalmente depois

Na comunidadelucksportcongoleses, Moïse era considerado um jovem muito querido.

"Ele era um moleque que estava sempre com a gente, era muito cativo e muito querido na comunidade. Ele era um moleque muito legal, que gostavalucksportestar sempre com os amigos", diz Nsuka Kaluba, ex-presidente da comunidadelucksportcongoleses no RiolucksportJaneiro.

O jovem fazia vários serviços informais para sobreviver, um deles era no quiosque. Segundo a mãe dele, o rapaz já havia trabalhado na barraca anteriormente e conhecia todos no local.

"Ele era trabalhador e muito honesto. Ganhava pouco, mas era dele. No final, chegava com parte do dinheiro e me dava para ajudar a pagar o aluguel. E reclamava, dizendo que ganhava menos que os colegas", disse elalucksportentrevista ao Globo.

No dia do crime, segundo familiares, Moïse falou para um amigo que iria pegar o dinheiro atrasado no quiosque.

De acordo com parentes do rapaz, ele passou a ser agredido logo que cobrou pelo serviço prestadolucksportdias anteriores.

Um vídeo que mostra a agressão ao jovem foi divulgado pela imprensa nesta terça-feira. No registro é possível ver que a situação começou por volta das 22h25, quando um homem pega um pedaçolucksportpau e Moïse pega uma cadeira. Pouco depois, outros dois homens chegam, jogam o rapaz no chão e ele começa a receber diversos tiposlucksportagressão.

Na filmagem é possível ver o jovem levando socos, chutes e até golpes com pedaçoslucksportpau. Cercalucksport10 minutos depois, os agressores amarram as mãos e os pés do rapaz com um fio. Em determinado momento, quando o rapaz está caído no chão, tentam reanimá-lo.

Segundo parentes do rapaz, ele só foi socorrido pelo ServiçolucksportAtendimento MóvellucksportUrgência (Samu) cercalucksport40 minutos depois, quando já estava morto.

A Polícia Militar informou,lucksportnota à BBC News Brasil, que não foi acionada para atender o casolucksportagressão contra o jovem. Segundo a entidade, uma equipe passava pelo local quando avistou uma viatura do Samu e foi verificar. No local, o serviço médico já havia atestado a morte dele.

"Ele saiulucksportuma disputalucksportetnias e violência que não têm limites, e ninguém esperava que isso fosse acontecer no Brasil, que recebeu a famílialucksportbraços abertos", diz o advogado Álvaro Quintão, presidente da ComissãolucksportDireitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no RiolucksportJaneiro (OAB-RJ).

Quintão, junto com a OAB-RJ, tem representado a família e apoiado nas questões jurídicas do caso.

"O que fizeram foi uma barbaridade. Espancaramlucksportforma covarde até a morte", diz. "A gente vê no vídeo que não há nenhuma proporcionalidade na agressão, que mesmo depoislucksportdesacordado ele continuou apanhando. Não há nada que possa caracterizar legítima defesa ali", declara.

O advogado ressalta que os envolvidos podem ter a pena aumentada se for comprovado que o crime teve característica racista e xenofóbica.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Parentes e amigoslucksportMoïse Kabamgabe fizeram protesto na Barra da Tijuca pedindo Justiça

Segundo Quintão, não havia necessariamente, a princípio, relação entre o espancamento do rapaz e xenofobia ou racismo.

"Mas após o início das agressões, o fatolucksportele ser negro e não ser brasileiro, ser africano, fez com que as pessoas ignorassem aquele espancamento", declara.

"Havia pessoas assistindo aquilo e o quiosque continuou funcionando normalmente depois que ele morreu, como se nada tivesse acontecido. Aí temos a doselucksportracismo estrutural. Era apenas mais um corpo negro morto, uma situação banalizada pela sociedade", acrescenta.

Dias após o crime, a comunidade congolesa no Brasil lamentou a morte do jovem por meiolucksportuma nota e disse que o caso não manifesta somente "o racismo estrutural na sociedade brasileira, mas claramente demonstra a xenofobia dentro das suas formas contra o estrangeiro".

No sábado (29/1), familiares e amigos protestaram contra a morte do jovemlucksportfrente ao quiosque. Eles cobraram que os responsáveis pelo crime sejam punidos. Nas redes sociais, milhareslucksportpessoas passaram a compartilhar a imagemlucksportMoïse pedindo que o caso não seja esquecido.

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