Covid, 2 anos depois: 5 coisas que descobrimos desde o início da pandemia:
Algumas empresas farmacêuticas decidiram apostarum tipo relativamente novotecnologia, que ainda não havia sido aplicadauma vacina aprovada para uso humano - o mRNA.
A aposta deu certo. Usando mRNA, não só a Pfizer/BioNTech (e depois a Moderna) conseguiu desenvolver uma vacina para covid-19 mais rápido do que qualquer outra empresa como também abriu a porta para uma sérienovos tratamentos usando tecnologia semelhante.
O processo funciona pegando um pequeno pedaçocódigo genético, chamado mRNA, e revestindo-ogordura. Esse material pode então ser absorvido pelas células, que o usam como um conjuntoinstruções para produzir novo material.
Nas vacinas contra o coronavírus, o mRNA instrui nossas células a criar uma pequena parte do vírus da covid. O sistema imunológico do corpo então aprende a reconhecer o vírus e fica pronto para atacá-lo se seu corpo foi infectado.
Mas o mRNA tem potencial para ser usadomuitas outras maneiras. Alémpoder ser usado para criar novas vacinas para doenças como HIV, gripe e zika, ele pode ser usado para treinar o sistema imunológico do corpo para atacar as células cancerígenas, para criar as proteínas que faltam nas célulaspessoas com fibrose cística ou para ensinar o sistemadefesa do corpopessoas com esclerose múltipla a pararatacar o sistema nervoso.
A pesquisa sobre tratamentosmRNA vem acontecendo há décadas, mas as vacinas contra a covid-19 são a primeira vezque foi comprovado que a tecnologia funciona na prática. Esse sucesso pode impulsionar pesquisas com potencialmudar a vidamilhõespessoas.
2. A covid-19 se espalha pelo ar com muito mais facilidade do que pensávamos inicialmente
Cercaquatro meses após o início da pandemia, a Organização Mundial da Saúde ainda não aconselhava as pessoas a usarem máscaras. "Não recomendamos o usomáscaras, a menos que você esteja doente", disse Maria Van Kerkhove, líder técnica do combate à covid-19 na organização.
Mas as evidências científicas que surgiram desde então mudaram essa visão. Hoje, assim como durante a maior parte da pandemia, a OMS afirma que as pessoas devem "tornar o usomáscara uma parte normalestar pertooutras pessoas".
Pesquisadores descobriram que o vírus da covid-19 é transmitido não apenas por grandes gotassaliva ou muco que ficam no ar por um curto período depois que alguém tosse ou espirra.
O vírus também pode se espalhar por meioaerossóis - partículas muito menores que podem permanecer no ar por muito mais tempo.
Hoje sabemos que a transmissãocovid-19 se dá principalmente por via aérea. A transmissãoSars-CoV-2 após tocarsuperfícies é agora considerada relativamente mínima.
"Em março [de 2020], as pessoas me perguntavam quanto tempo elas precisavam passar limpando as compras. Todo mundo estava hipervigilante e hiperparanóico", diz Paula Cannon, professoraMicrobiologia e Imunologia Molecular da EscolaMedicina da Universidade do Sul da Califórnia.
"Desde então, aprendemos que o vírus transportado pelo arespaços internos mal ventilados é a causa provável da maioria das transmissões e a razão pela qual bares e ambientes fechados são tão arriscados", explica.
O vírus é emitido por pessoas sem máscara enquanto falam, cantam ou simplesmente respiram e permanece no ar se o ambiente não for ventilado.
Lavar as mãos e limpar as superfícies ainda são bons hábitos, mas agora há muito mais ênfase no uso da máscara e na ventilação.
3. O trabalhocasa veio para ficar
Milhõespessoastodo o mundo começaram a trabalharcasavezir aos escritórios e outros locaistrabalho durante a pandemia.
A pandemia mostrou que esse tipotrabalho não reduz a produtividade e fez muitas empresas abandonarem a resistência que tinhamadotá-lo.
O Twitter anuncioumaio2020 que seus funcionários poderiam trabalharcasatempo integral mesmo após o fim da pandemia, desde quefunção lhes permita fazer esse trabalho.
"Os últimos meses provaram que podemos fazer esse trabalho", disse a empresa.
O Facebook fez um anúncio semelhante no início do ano, mas não são apenas os gigantes da tecnologia que pretendem fazer a mudança.
Uma pesquisa realizada com 1.200 empresas pela Enterprise Technology Research mostrou que a porcentagemtrabalhadorestodo o mundo que estão trabalhando permanentementecasa deve dobrar2021.
Em uma pesquisa global com mais200 mil pessoas190 países, a Boston Consulting descobriu que 89% das pessoas esperavam poder trabalharcasa pelo menos algumas vezes na semana após o fim da pandemia. É um aumento considerávelrelação ao índice antes da pandemia: apenas 31% das pessoas tinham esse desejo.
Mas para muitas pessoas, geralmente com empregos menos seguros e com menor remuneração, as oportunidadestrabalho flexível podem ser mais limitadas. Isso poderia aumentar ainda mais as desigualdades na sociedade.
4. A pandemia atingiu mais as pessoassituaçãovulnerabilidade social
A pandemiacovid-19 nos lembrou que uma crise pode piorar a enorme desigualdade social que já existe no mundo.
No Reino Unido, um estudo realizado por pesquisadores do UK Biobank descobriu que na parte mais pobre do país 11,4% das pessoas contraíram covid, enquanto nas áreas mais privilegiadas a taxa foi mais baixa (7,8%).
A equipe também descobriu que pessoasminorias étnicas foram afetadasforma desproporcional, algo que também aconteceu nos Estados Unidos.
Em Nova York, dados2020 mostraram que hispânicos e negros foram 34% e 28% das mortescovid, respectivamente, embora componham 29% e 22% da população.
Uma pesquisa na Califórnia mostrou que pacientes negros não-hispânicos tinham 2,7 vezes mais chanceshospitalização,comparação com pacientes brancos não-hispânicos.
Em muitos países não existem dados precisos sobre os efeitos da covid, mas globalmente uma das maiores disparidades está nas taxasvacinação. Em paísesrenda alta e média, cerca70% das pessoas estão totalmente vacinadas,acordo com os dados do Our World in Data. Isso cai para apenas 4% nos paísesbaixa renda. Mesmopaísesrenda média baixa, a taxa ainda éapenas 32%.
À medida que as autoridades médicas distribuem dosesreforço e que a variante omicron se espalha pelo mundo, as consequências da lenta implantaçãovacinaspaíses menos desenvolvidos podem se tornar ainda mais mortais.
5. Não temos certezacomo, ou se, a pandemiacovid-19 vai terminar
Em muitas doenças, como a varíola, é possível atingir a imunidaderebanho da população através da vacinação massiva da população - ou seja, o númeropessoas imunizadas é tão alto que o vírus não consegue circular.
Para outras doenças, como a gripe, isso é mais difícilalcançar devido a constantes mutações dos vírus ou a diminuição da resposta do sistema imunológico com o tempo.
No caso da covid-19, o desenvolvimento da pandemia mostra cada vez mais que podemos estar diante do segundo caso. A diminuição da resposta do sistema imunológico com o tempo, inclusive, é o motivo pelo qual muitos países (incluindo o Brasil) estão implementando programasreforço das vacinas.
De acordo com Shabir A Madhi, professor da UniversidadeWitwatersrand, na África do Sul, a resposta imunológica após a infecção ou vacinação contra covid-19 dura aproximadamenteseis a nove meses.
Embora as vacinas sejam eficazes na proteção contra consequências mais graves da covid, mesmo as melhores não parecem impedir as pessoastransmitir o vírus a outras pessoas.
"Com as vacinas que temos, mesmo que reduzam a transmissão, o conceitoimunidaderebanho não faz sentido", diz Salvador Peiró, do institutopesquisa FISABIOValência, na Espanha.
E o Sars-CoV-2 tem sofrido rápidas mutações que geram novas variantes - algumas mais transmissíveis e podem ser mais resistentes ao efeito das vacinas.
As variantes também mostram que teremos que "conviver" com o vírus conforme ele evolui, atualizando vacinas regularmente para adaptá-las. Nesse cenário, os países com alto índicevacinação voltarão a ter uma vida mais ou menos dentro da normalidade, sabendo que embora algumas pessoas devam ficar doentes, os sistemassaúde não ficarão sobrecarregados.
Enquanto isso, um pequeno númeroterritórios com baixos níveiscovid, como a Nova Zelândia e Hong Kong, enfrentam um dilema. Sem nenhum sinalque a covid foi erradicadatodo o mundo, eles terão que continuar com quarentena estrita e restriçõesviagem ou enfrentar o diaque vão relaxar as medidaspermitir a entradamais covid.
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