'É como matar um cão': o dilema do abateaposta ganha resto do jogojegues no Nordeste para produçãoaposta ganha resto do jogoremédio na China:aposta ganha resto do jogo

Crédito, Felix Lima

Legenda da foto, O jumento brasileiro entrou na miraaposta ganha resto do jogoempresários chineses para a produçãoaposta ganha resto do jogoremédio sem comprovação científica

Estima-se que o produto movimente bilhõesaposta ganha resto do jogodólares por ano. Uma peçaaposta ganha resto do jogocouro, por exemplo, pode ser vendida na China por até U$ 4 mil (cercaaposta ganha resto do jogoR$ 22,6 mil) — uma caixaaposta ganha resto do jogoejiao sai por R$ 750. No Brasil, os valores do comércio são bem menores — jumentos são negociados por R$ 20 no sertão, e depois repassados aos chineses.

Legenda do vídeo, O trágico destino dos jumentos do Nordeste, abatidos para fazer remédio na China

A alta demanda e lucratividade fizeram com que empresários chineses mirassem o Brasil, país com uma população abundanteaposta ganha resto do jogojegues —aposta ganha resto do jogo2013, havia 900 mil deles, a maior parte no Nordeste, segundo o IBGE. Hoje,aposta ganha resto do jogoacordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) há por voltaaposta ganha resto do jogo400 mil. Entre 2010 e 2014, o Brasil abateu 1 mil jumentos — já entre 2015 e 2019, foram 91,6 mil.

Mas esse número hoje é maior. Apenasaposta ganha resto do jogoAmargosa, são 4,8 mil animais por mês — 57,6 mil por ano. Há outros dois frigoríficos com permissão para a atividade nas cidadeaposta ganha resto do jogoSimões Filho e Itapetinga, também na Bahia.

Nos últimos meses, a reportagem da BBC News Brasil se debruçou sobre o comércio e abateaposta ganha resto do jogojumentos e como esse mercado vem afetando parte do Nordeste. Embora tenha sido permitida recentemente, a exportação para a produção do ejiao tem sido apontada por especialistas, autoridades e defensores da causa animal como um mercado extrativista.

Para fabricar o produto, os animais são recolhidos da caatiga eaposta ganha resto do jogozonas ruraisaposta ganha resto do jogogrande volume, sem que exista uma cadeiaaposta ganha resto do jogoprodução que renove o rebanho, como ocorre com o gado. Ou seja, eles são abatidosaposta ganha resto do jogouma velocidade maior do que a capacidadeaposta ganha resto do jogoreprodução, o que acendeu um alertaaposta ganha resto do jogoque a populaçãoaposta ganha resto do jogojegues pode ser eliminada nos próximos ano no Nordeste.

Além disso, o setor cresceuaposta ganha resto do jogoconsonância com o aumento da fome e da pobrezaaposta ganha resto do jogouma região historicamente já castigada por esses problemas. Mas também cresceuaposta ganha resto do jogomeio a denúnciasaposta ganha resto do jogomaus-tratos, contaminaçãoaposta ganha resto do jogoanimais por mormo, uma doença mortal, trabalho análogo à escravidão e abandonoaposta ganha resto do jogojegues à morte por inanição.

Dependência econômica

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Legenda da foto, Em Amargosa funciona o frigorífico com maior númeroaposta ganha resto do jogoabatesaposta ganha resto do jogojumentos no Brasil

A cidadeaposta ganha resto do jogoAmargosa,aposta ganha resto do jogo40 mil habitantes e conhecida poraposta ganha resto do jogomovimentada festaaposta ganha resto do jogoSão João, é o ponto final do jumento nordestino antesaposta ganha resto do jogoele ser abatido e exportado para virar remédio na China. Ela ficaaposta ganha resto do jogouma região conhecida como Vale do Jiquiriçá, um dos lugares mais bonitos do Brasil, com formações rochosasaposta ganha resto do jogo80 metrosaposta ganha resto do jogoaltura espalhadas pelo cenárioaposta ganha resto do jogocaatinga.

Desde 2017, o município é o local onde mais se abate jegues no país.

Segundo o prefeito, Júlio Pinheiro (PT), o setor é o terceiro maior empregadoraposta ganha resto do jogoAmargosa, atrás só da própria prefeitura eaposta ganha resto do jogouma fábricaaposta ganha resto do jogosapatos. Para ele, o recente mercado é fundamental para a economia do município, gerando empregos, renda e impostos.

"O frigorífico têm ajudado na geraçãoaposta ganha resto do jogorenda eaposta ganha resto do jogoempregos diretos, ainda mais num momento tão complicado da economia do país, sobretudo com a pandemia. O frigorífico tem sido a sustentaçãoaposta ganha resto do jogocentenasaposta ganha resto do jogofamílias aqui na cidade", diz Pinheiro,aposta ganha resto do jogoseu gabinete.

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Legenda da foto, Prefeitoaposta ganha resto do jogoAmargosa, Júlio Pinheiro afirma que setor hoje é fundamental para economia da cidade

Essa importância econômica foi o principal argumento da cidade ao entrar na Justiça para tentar liberar o abate, que havia sido suspenso após denúnciasaposta ganha resto do jogomaus-tratos,aposta ganha resto do jogo2018. Mas não apenas Amargosa procurou a Justiça. O governo estadual, do petista Rui Costa, e o federal,aposta ganha resto do jogoJair Bolsonaro (PL), fizeram o mesmo.

Quem decidiu o caso foi Kassio Nunes Marques, hoje ministro do STF e à época, desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Ele não entrou no mérito da ação civil-pública, que ainda corre na Justiça e pede a proibição dos abates. Em decisãoaposta ganha resto do jogopouco maisaposta ganha resto do jogoduas páginas, Nunes Marques concordou que a liminar da Justiça baiana que suspendeu o setor prejudicava a economia da Bahia.

"[A atividade] é legal e está amparada por normativos legais editados pelos órgãos competentes e a interrupção abrupta da referida atividade industrial é passívelaposta ganha resto do jogocausar não só as empresas criadas e dedicadas às atividades danos irreparáveis ouaposta ganha resto do jogodifícil reparação, como aos municípios que hospedam os referidos abatedouros, como o próprio Estado da Bahia", escreveu, liberando novamente o setor.

Em Amargosa, o prefeito Júlio Pinheiro considerou a decisão justa, mas diz não conhecer bem os empresários responsáveis pelo abatedouro que funciona na cidade. "É um grupo chinês. Eles vieram aqui (na prefeitura) uma vez, mas não são pessoas conhecidas na cidade", diz.

O CNPJ do Frinordeste aponta um quadro societário com dois chineses, Ran Yang e Zhen Yongwei, ambos residentes no exterior, e o brasileiro Alex Franco Bastos. Funcionários da empresa, ouvidos sob condiçãoaposta ganha resto do jogoanonimato, relatam que raramente os proprietários chineses visitam o espaço, e que, no dia a dia, a atividade é comandada por Bastos.

A reportagem tentou entrevistá-lo diversas vezes, indo ao frigorífico, ligando e enviando mensagens pelo WhatsApp, mas nunca obteve retorno. Também enviou mensagem para Zhen Yongwei, mas ele não respondeu.

Já a JBS, que arrendou o espaço para o trioaposta ganha resto do jogoempresários há três anos, afirmou que "toda a operação da planta mencionada está sob responsabilidade da empresa" que arrendou a planta.

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Legenda da foto, A planta industrial do Frinordeste pertence à JBS, mas foi arrendada pordois empresários chineses e um brasileiro

'É como matar um cachorro'

Três vezes por semana, cercaaposta ganha resto do jogo400 jumentos chegam ao Frinordesteaposta ganha resto do jogocaminhões fechados — 50 por veículo. Funcionários relatam que, diante do calor,aposta ganha resto do jogoviagensaposta ganha resto do jogoaté 500 km e da condição física debilitada, animais chegam a desembarcar na empresa machucados ou até mortos.

Com pouca variação, a maioria dos 150 trabalhadores ganha por voltaaposta ganha resto do jogoR$ 1.300 por mês. Eles vivemaposta ganha resto do jogocomunidades pobres perto do frigorífico, locais onde o fornecimentoaposta ganha resto do jogoágua só é feito três vezes por semana e onde ainda é possível ver um ou outro jumentos tralhandoaposta ganha resto do jogotarefas agrícolas.

Embora dependam do serviço para sobreviveraposta ganha resto do jogoum momentoaposta ganha resto do jogoalta do desemprego eaposta ganha resto do jogouma cidade sem muitas alternativas, os funcionários dizem ter dificuldadeaposta ganha resto do jogolidar com a morteaposta ganha resto do jogomassaaposta ganha resto do jogoum animal que faz parteaposta ganha resto do jogoseu cotidiano — desejam que o frigorífico mude o modeloaposta ganha resto do jogonegócios para o abateaposta ganha resto do jogobovinos.

"Para mim é como matar um cachorro, um bichoaposta ganha resto do jogoestimação. A gente cresce montando jegue, e agora tem que ver jegue morrendo sem parar. É muito jegue, amigo. Muito mesmo, tem semana que são 1,2 mil. Ninguém aguenta mais ver essa situação", diz João (nome fictício), que trabalha no frigorífico e depende do salário para sustentar a família. Ele passou meses desempregado e, sem opção, aceitou um emprego. "Trabalho por que preciso, não por concordar. Mas, se fechar, como ficam as famílias aqui?", diz.

Outro funcionário, José, também diz ter dificuldadeaposta ganha resto do jogoassistir todos os dias a tantos abates. "A gente nem sabe direito porque estão fazendo isso, o que vão fazer com eles... Muitos chegam aqui machucados, morrendo. É um animal que a gente vê desde pequeno, faz parte da nossa vida. É complicado participar disso, mas a precisão exige. Tenho filhos para criar, a situação está bem difícil", afirma.

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Legenda da foto, Antes do abate, animais ficam armazenadosaposta ganha resto do jogoáreasaposta ganha resto do jogocaatinga na Chapada Diamantina

Pobreza e abate

O caminho do jumento até Amargosa é longo.

Os animais são recolhidosaposta ganha resto do jogovários pontos do Nordeste, como nos arredores da cidadeaposta ganha resto do jogoPaulo Afonso, no norte da Bahia, a 534 km do frigorífico. Eles são pegos ou comercializados por agricultores pobres que trabalham no setor para fugir da fome, sob a supervisãoaposta ganha resto do jogofazendeiros.

Um desses núcleos tinha um sertanejoaposta ganha resto do jogosituaçãoaposta ganha resto do jogofome como personagem. Em abril, ele foi abordado pela Polícia Militar depoisaposta ganha resto do jogouma denúncia anônima apontar furtoaposta ganha resto do jogojeguesaposta ganha resto do jogoPaulo Afonso, alémaposta ganha resto do jogosupostos maus-tratos.

Com ele foram encontrados 13 animais, embora ele tenha negado os furtos. Segundo o Boletimaposta ganha resto do jogoOcorrência, os jegues estavamaposta ganha resto do jogo"claro estadoaposta ganha resto do jogomaus-tratos", machucados, e sem água e comida por pelo menos três dias. Mas os jumentos não eram do sertanejo.

No BO, ele narra que recebia R$ 20 por animal recolhido, o único sustento da família. "Com esse dinheiro é que estava vivendo, utilizando-o para comprar leite para os meninos, fraldas e comida para a casa", narra o documento. Diz ainda que era a segunda vez que ele caçava e vendia jumentos, mas que não tinha dinheiro para alimentá-los. "Narra que os pegou apenas para colocar o que comer para o filhos."

Crédito, Felix Lima

Quem comprava os jegues do sertanejo era um policial civil e fazendeiro chamado Antônio Fernando Filho,aposta ganha resto do jogo59 anos, morador da cidadeaposta ganha resto do jogoRodelas, também no norte da Bahia.

No BO, ele afirmou que tinha maisaposta ganha resto do jogo100 emaposta ganha resto do jogofazenda e que os repassava aos chineses — também argumentou que alimentava os animais e seguia todas as regras sanitárias.

Em entrevista à BBC News Brasil por telefone, Filho diz que trabalhou na área por dois anos, mas parou depois do caso narrado acima. Ele ainda tem 30 animais emaposta ganha resto do jogofazenda, mas diz que o local foi arrendado por outra pessoa, que recolhe jegues no interior do Piauí e do Maranhão. "Estão todos comendo feno e bebendo água do rio", afirma.

O fazendeiro afirma que recebia uma comissão dos frigoríficosaposta ganha resto do jogoaté R$ 50 por animal coletado — era um complemento paraaposta ganha resto do jogorenda como policial civilaposta ganha resto do jogoRodelas. "A gente pegava no mato, na estrada,aposta ganha resto do jogoqualquer lugar. Quando juntava uns 50, colocava num caminhão e enviava pro frigoríficoaposta ganha resto do jogoAmargosa, Simões Filho e Itapetinga (locaisaposta ganha resto do jogooutros abatedouro licenciados)."

Mas, nos últimos meses, o comércio na regiãoaposta ganha resto do jogoPaulo Afonso diminuiu muito, diz. "Tem muito jumento ainda, mas eu parei também porque tem muita concorrência hoje, todo mundo atrásaposta ganha resto do jogojumento pra vender pros chineses. Aqui quase não tem mais animal, caiu 80%. Mas o povo precisa, está muito necessitado."

Morte e maus-tratos

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Dezenasaposta ganha resto do jogoanimais foram encontradosaposta ganha resto do jogosituaçãoaposta ganha resto do jogomaus-tratosaposta ganha resto do jogoItatimaposta ganha resto do jogojulho deste ano

Depoisaposta ganha resto do jogorecolhidos, os animais percorrem maisaposta ganha resto do jogo530 kmaposta ganha resto do jogocaminhão até a Chapada Diamantina, onde são armazenadosaposta ganha resto do jogofazendas arrendadas nas cidadesaposta ganha resto do jogoIaçu, Milagres e Itatim, a cercaaposta ganha resto do jogo40 km do destino finalaposta ganha resto do jogoAmargosa.

No dia 18aposta ganha resto do jogonovembro, a reportagem encontrou cercaaposta ganha resto do jogo20 jeguesaposta ganha resto do jogouma áreaaposta ganha resto do jogocaatinga, às margensaposta ganha resto do jogouma rodovia praticamente deserta que liga as três cidades. Eles estavam sozinhos, pastando, algumas fêmeas grávidas e um filhote — um dia depois, desapareceram do local. Havia vegetação e água porque tinha chovido dias antes, mas nem sempre é assim.

Em 9aposta ganha resto do jogojulho deste ano, por exemplo, a Polícia Militar da Bahia recebeu uma denúncia: centenasaposta ganha resto do jogojumentos que seriam abatidos no Frinordeste estavam morrendoaposta ganha resto do jogofome e sede na fazenda Boa Esperança,aposta ganha resto do jogoItatim. Quem os encontrou foi o tenente Benjamin Pereira e Silva, comandante do pelotão da PM na cidade.

"Infelizmente a situação era pior do que imaginávamos. Eram uns 200 animais, que tinham vindo da cidadeaposta ganha resto do jogoRodelas. Eles estavam bem debilitados, machucados, muitas fêmeas prenhas, muitas abortando. Não tinha mais capim nem água, nenhuma comida para eles. Era uma área totalmente árida. Encontramos muitos animais mortos, com urubusaposta ganha resto do jogocima. Não havia nenhum tipoaposta ganha resto do jogoapoioaposta ganha resto do jogoequipe veterinária. Levamos o gerente para a delegacia e ele foi autuado por maus-tratos", relata o tenente.

"No dia seguinte, voltamos à fazenda e não havia mais nenhum animal. Todos foram levados para outro lugar", diz o policial.

Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Em 2019, centenasaposta ganha resto do jogojegues foram encontradosaposta ganha resto do jogosituação parecida nas cidadesaposta ganha resto do jogoCanudos e Itapetinga, também no interior da Bahia. Nestes casos, os animais seriam destinados a outros abatedouros, não oaposta ganha resto do jogoAmargosa.

Em Canudos, estima-se que 200 dos cercaaposta ganha resto do jogo1 mil jumentos encontrados morreramaposta ganha resto do jogoinanição. Os outros estavam bastante debilitados. No local, foram encontrados dois imigrantes chineses, responsáveis por cuidar do rebanho.

"Eram dois jovens que não recebiam salário para trabalhar ali. Não falavam português, tivemos que usar o Google Tradutor", conta Patrícia Tatemoto, PHDaposta ganha resto do jogobiologia e pesquisadora da ONG britânica The Donkey Sanctuary, que atua na defesa do jumento contra o mercadoaposta ganha resto do jogoejiao. "Quando os encontramos, eles não tinham comida na fazenda, estavam com fome, não tinha nem banheiro. O laudo da polícia apontou que eles estavamaposta ganha resto do jogotrabalho análogo à escravidão."

Os dois imigrante ainda foram autuados por maus-tratos, mas nunca mais foram vistos na regiãoaposta ganha resto do jogoCanudos.

Crédito, Patrícia Tatemoto

Legenda da foto, Dois imigrantes chineses foram encontradosaposta ganha resto do jogofazenda com centenasaposta ganha resto do jogojumentosaposta ganha resto do jogoestadoaposta ganha resto do jogomaus-tratosaposta ganha resto do jogo2019

Mormo

Outro problema envolvendo o comércioaposta ganha resto do jogojumentos é uma doença chamada mormo, zoonose contagiosa que afeta equídeos e asininos e pode ser transmitida ao ser humano — o índiceaposta ganha resto do jogomortalidade é alto, segundo pesquisadores. Ela é transmitida por contatoaposta ganha resto do jogogotículas contaminadas com olhos, pele, mucosas e aparelho respiratório.

Em 2019, a Agênciaaposta ganha resto do jogoDefesa Agropecuária da Bahia (Adab) decidiu examinar o sangueaposta ganha resto do jogo694 jumentos que foram apreendidosaposta ganha resto do jogoCanudos. Dez deles estavam infectados com Mormo e precisaram ser sacrificados — outros 14 tinham anemia infecciosa equina, doença causada por um vírus.

"O contágio pela bactéria do mormo ocorre pelo contatoaposta ganha resto do jogoanimais infectados com os indivíduos, como fazendeiros e veterinários", explicou Eusébio Lino Filho, médico-residenteaposta ganha resto do jogoinfectologia no Hospital das Clínicas da Faculdadeaposta ganha resto do jogoMedicina da USP,aposta ganha resto do jogouma audiência pública sobre o assunto na Assembleia Legislativa da Bahia.

Não havia relatosaposta ganha resto do jogomormo no Brasil até 2020, quando uma criançaaposta ganha resto do jogo11 anos, da periferiaaposta ganha resto do jogoAracaju, apresentou sintomas da doença, como dor no tórax e faltaaposta ganha resto do jogoar — ela tinha contato constante com cavalos.

"No raio-X foi constatado um aumento no tamanho do coração incomum para a idade. Mesmo medicado, o paciente evoluiu mal. A pressão caiu, ele tinha vários nódulos no pulmão e abcessos pelo corpo", relata o médico, que participou do tratamento do paciente. Diagnosticada com mormo e tratada por 21 dias no hospital, a criança depois melhorou e recebeu alta.

Mesmo com casosaposta ganha resto do jogoinfecçãoaposta ganha resto do jogojumentos, a Adab decidiu retirar a obrigatoriedade do exameaposta ganha resto do jogomormoaposta ganha resto do jogojumentos que são abatidos nos três frigoríficos.

A agência diz que a decisão seguiu orientação do Ministério da Agricultura: "Do pontoaposta ganha resto do jogovistaaposta ganha resto do jogosaúde animal, visando o controle e erradicação da doença no país, não há ganhosaposta ganha resto do jogovigilânciaaposta ganha resto do jogose realizar examesaposta ganha resto do jogomormoaposta ganha resto do jogoanimais destinados ao abate". Também informou que os estabelecimentos funcionam sob SIF (Serviçoaposta ganha resto do jogoInspeção Federal). No Frinordeste, fiscais do ministério checam "condiçõesaposta ganha resto do jogotransporte e saúde visual" dos animais, diz a pasta.

Porém, o Ministério Público e médicos veterinários pensamaposta ganha resto do jogooutra forma. Para eles, a atividade está colocando a saúde dos trabalhadoresaposta ganha resto do jogorisco, alémaposta ganha resto do jogocriar um possível problema sanitário que não existia no país.

"A exportação criou um risco sanitário, inclusive para o agronegócio. Esse animais são recolhidosaposta ganha resto do jogovários lugares, e depois transportados pelo Nordeste sem que a gente conheça a procedência. Os empresários que negociam os jumentos não têm ideia do risco que estão criando. É uma bomba-relógio", explica Chiara Oliveira, professoraaposta ganha resto do jogoMedicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e uma das pesquisadoras que acolheramaposta ganha resto do jogouma fazenda todos os jegues apreendidosaposta ganha resto do jogoCanudos — dos maisaposta ganha resto do jogo690 inicias, cercaaposta ganha resto do jogo150 sobreviveram.

Em nota técnica do ano passado, o Conselho Regionalaposta ganha resto do jogoMedicina Veterinária da Bahia (CRMV-BA) afirmou que atualmente o mormo é uma "doença endêmica" no rebanhoaposta ganha resto do jogoequinos e jumentos no Estado. E que trabalhadores que manipulam os animais,aposta ganha resto do jogoespecial osaposta ganha resto do jogofrigoríficos, "correm sérios riscosaposta ganha resto do jogocontaminação por via respiratória e mucosas (pelos olhos, por exemplo)".

O promotor Julimar Barreto Ferreira, titular da Promotoria Regional Ambiental do Recôncavo Sul, abriu um inquérito para investigar o caso e outras denúnciasaposta ganha resto do jogoirregularidades. "Não podemos criar e manter um mercado que coloca a espécie e os trabalhadoresaposta ganha resto do jogogrande risco. É isso que está acontecendo hoje na Bahia", diz, por telefone.

'Símbolo para o cristão'

Crédito, Felix Lima

O CRMV-BA acredita que, sem uma cadeia produtiva, o ritmo dos abates e a demanda chinesa pelo ejiao podem praticamente dizimar a populaçãoaposta ganha resto do jogojumentos no Nordesteaposta ganha resto do jogopoucos anos, diagnóstico compartilhado por entidades como o Fórum Nacionalaposta ganha resto do jogoProteção e Defesa Animal, a Frente Nacionalaposta ganha resto do jogoDefesa dos Jumentos e a The Donkey Sanctuary.

Esse cenário foi registrado na própria China, segundo um estudo dos pesquisadores Richard Bennett e Simone Pfuderer, da Universidadeaposta ganha resto do jogoReading, no Reino Unido.

Em 2000, o país tinha por voltaaposta ganha resto do jogo9 milhõesaposta ganha resto do jogocabeças —aposta ganha resto do jogo2016, o número caiu para 2 milhões. Em 2000, a produção anualaposta ganha resto do jogoeijiao eraaposta ganha resto do jogo1,2 tonelada — jáaposta ganha resto do jogo2016, foram 5 toneladas. Estima-se que o país preciseaposta ganha resto do jogo5 milhõesaposta ganha resto do jogopelesaposta ganha resto do jogojumento por ano, mas, desde 2017, o estoque interno não é mais capazaposta ganha resto do jogosuprir a demanda.

A soluçãoaposta ganha resto do jogoparte do empresariado chinês foi buscar animaisaposta ganha resto do jogooutros países, como o Quirguistão, que perdeu 57%aposta ganha resto do jogoseu rebanhoaposta ganha resto do jogojumentos desde 2017, segundo estudo da ONG The Donkey Sanctuary. Países como Mali, Gana e Etiópia recentemente proibiram o abate, embora ele ainda ocorra clandestinamente.

No Brasil, um estudo da USP aponta que criar um jumento para o abate custariaaposta ganha resto do jogomédia R$ 4 mil — a gestaçãoaposta ganha resto do jogoum filhote leva 13 meses. Por outro lado, um estudo da ONG britânica estima que,aposta ganha resto do jogotodos os animais recolhidos no meio ambiente, 20% morrem antesaposta ganha resto do jogochegar aos frigoríficos.

Nas últimas décadas, a espécie perdeu a importância na agricultura sertaneja depoisaposta ganha resto do jogoser trocada por motocicletas. Livresaposta ganha resto do jogoestradas e na caatinga, os jegues se reproduziram sem política pública voltada para o controle ou questões sanitárias. Vagando por rodovias, eles também se envolveramaposta ganha resto do jogograves acidentesaposta ganha resto do jogocarro.

No início da década passada, o poder público tentou fomentar o consumoaposta ganha resto do jogocarneaposta ganha resto do jogojumento, como ocorreaposta ganha resto do jogoalguns países, mas o projeto não decolou por uma questão cultural: a população se recusa a comeraposta ganha resto do jogocarne.

Para Gislane Brandão, advogada e coordenadora da Frente Nacionalaposta ganha resto do jogoDefesa dos Jumentos, o cenário no Nordeste escancara "uma grande omissão do poder público". "Onde estão as barreiras sanitárias, a regulação do transporte, a cadeia produtiva? Os jumentos estão sofrendo, morrendo, sumindo. E as autoridades estão se omitindo sobre a situação", diz.

Por meio da Adab, o governo da Bahia afirma que não éaposta ganha resto do jogoresponsabilidade da agência criar uma cadeia produtiva e que uma recente portaria dita que "fêmeasaposta ganha resto do jogoterço final da gestação não serão consideradas aptas ao abate", uma medida que, para agência, ajuda a renovação do rebanho. Na mesma norma, diz a Adab, "fica estabelecido que animais abaixoaposta ganha resto do jogo90 kg também não podem ser encaminhados para abate."

Já o Ministério da Agricultura alega que é responsável pela fiscalização sanitária dos frigoríficos, mas que não está entre suas competências o "controle sobre o númeroaposta ganha resto do jogoanimais existentes ou criados, nem sobre riscosaposta ganha resto do jogoextinção". Informou, ainda, que a fiscalizaçãoaposta ganha resto do jogoórgãos ligados a pasta "garante que os animais chegam (ao abatedouro) com saúde e sem sinaisaposta ganha resto do jogomaus-tratos durante o transporte."

Em Amargosa, o prefeito Júlio Pinheiro conta que o grupo chinês prometeu criar uma cadeia produtiva do animal, alémaposta ganha resto do jogo"trazer novas espécies para a região", o que ainda não aconteceu. Ele não acredita que o jumento possa ser dizimado. "Essa avaliação é um equívoco. A última estimativa do IBGE falaaposta ganha resto do jogoquase 1 milhãoaposta ganha resto do jogoanimais, boa parte solta na caatinga e nas rodovias, colocandoaposta ganha resto do jogorisco a vida das pessoas, sem assistência zootécnica e veterinária que dê um bem-estar aos animais. A gente acredita que isso não vai acontecer com uma produção com abate controlado, com inspeção e normas", diz.

Em uma praça da cidade, o professor Joelson Alcântara, ativista da causa animalaposta ganha resto do jogoAmargosa, pensa diferente. Para ele, além da importância histórica para o sertanejo, o jumento também é um símbolo religioso para o cristão.

"Na Bíblia, Jesus monta um jumento quando ele entraaposta ganha resto do jogoJerusalém. É um animal tão importante que participou da vidaaposta ganha resto do jogoJesus Cristo, e está sendo exterminado por uma questão financeira. Não tem explicação", diz.

Na música Apologia ao Jumento (1976), Luiz Gonzaga também cita Jesus quando canta que o jegue "é sagrado": "E na fuga para o Egito/ Quando o julgo anunciou/ O jeguin foi o transporte que levou nosso Senhor".

E continua: "O jumento é nosso irmão, quer queira quer não/ O jumento sempre foi o maior desenvolvimentista do sertão/ Ajudou o homem na lida diária/ ajudou o homem/ ajudou o Brasil a se desenvolver".

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