Agronegócio banca palestras que espalham mitoslot mangoque aquecimento global pelo homem é fraude:slot mango

As Comissõesslot mangoRelações Exteriores e Defesa Nacional (CRE)slot mangoMeio Ambiente (CMA) realizam audiência pública conjunta para tratar sobre questões relacionadas às mudanças climáticas e ao aquecimento global. Foto tiradaslot mango28slot mangomaioslot mango2019

Crédito, Geraldo Magela/Agência Senado

Legenda da foto, Luiz Carlos Molion, professor aposentado da Universidade Federalslot mangoAlagoas, disseslot mangoumaslot mangosuas palestras que aquecimento global "é uma farsa"

Mas, na contramão do que diz a ciência, associações do agronegócio —slot mangofazendeirosslot mangosoja, passando por cafeicultores, sindicatos rurais, faculdades ligadas a agronomia e até uma empresaslot mangofertilizantes — estão bancando palestras dos chamados "negacionistas climáticos", pessoas que não acreditam que existam mudanças climáticas causadas pelo homem e que apresentam esse fato como uma fraude. As apresentações são direcionadas a outros fazendeiros, produtores rurais ou estudantesslot mangoagronomia.

A reportagem contou ao menos 20 palestras do tipo nesses ambientes nos últimos três anos feitas por Felicio e por outro professor. A citada no início desta reportagem aconteceuslot mango2019, e fez parteslot mangoum circuito universitárioslot mangoum totalslot mango11 palestras com o nome "Aquecimento global, mito ou realidade?"slot mangonove faculdades e dois sindicatos no Mato Grosso. Todas elas foram bancadas pela Aprosoja Mato Grosso, a associaçãoslot mangoprodutoresslot mangosoja e milho do Estado, maior produtorslot mangosoja do Brasil.

Ao mesmo temposlot mangoque negam o aquecimento global antropogênico, as palestras pagas e vistas por ruralistas os absolvemslot mangoreconhecer seu papel nas mudanças climáticas. Elas seriam,slot mangoacordo com o conteúdo contrário ao consenso científico apresentado pelos professores, somente frutoslot mangovariações naturais, sem interferência alguma do homem.

Ao contrário desse setor "negacionista" do agronegócio, o presidente do conselho diretor da Associação Brasileira do Agronegócio, Marcello Brito, diz que a associação se pauta "pela melhor ciência" e que "jogar fora a ciência porque ela não nos traz só vantagens, mas também deveres, é no mínimo contraproducente, jogando contra a melhoria contínua".

Palestras

Felicio, o professor do departamentoslot mangoGeografia da USP contratado pela Aprosoja Mato Grossoslot mango2019, é conhecido por suas posições controversas — ultimamente,slot mangorelação à pandemiaslot mangocovid-19. Em um vídeo publicadoslot mangoagosto deste anoslot mangoseu canal do YouTube, chamou a pandemiaslot mango"fraudemia" e disse, sem base científica, que vacinas causam danos maiores que a covid-19. Em outro, afirmou que máscaras não são efetivas contra a covid-19. É também um notório negacionista das mudanças climáticas causadas pelo homem. Ficou conhecidoslot mango2012, quando foi convidado ao Programa do Jô, da Globo, e, sem provas, negou o efeito estufa.

Professor da USP Ricardo Felicio, então presidente da Comissãoslot mangoRelações Exteriores, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), diretor do Departamentoslot mangoMeio Ambiente do Itamaraty, ministro Leonardo Cleaverslot mangoAthayde e professor aposentado da Ufal Luiz Carlos Molion

Crédito, Geraldo Magela/Agência Senado

Legenda da foto, Ricardo Felicio (no canto esquerdo) e Luiz Carlos Molion (no canto direito) dão palestras pelo Brasil; na foto, eles participamslot mangoaudiência pública no Senado

Durante três semanas, a reportagem tentou falar com Felicio por telefonemas, mensagensslot mangotexto e e-mails, mas não obteve resposta. O vice-presidente da Aprosoja Mato Grosso, Lucas Beber, justificou o conviteslot mangoentrevista à BBC News Brasil.

"A gente trouxe o Ricardo Felicio para fazer um contraponto com aquilo que é replicado na mídia hoje, que parece uma verdade absoluta. A gente não queria impor aquilo como uma verdade, mas sim trazer a um debate", afirma. Para ele, as mudanças climáticas causadas pelo homem ainda são uma "incerteza" — embora já haja consenso científicoslot mangotorno delas. Beber também disse não se lembrar quanto custou o cicloslot mango11 palestras feitas por Felicio naquele ano.

Silosslot mangosoja e plantação

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Vice-presidente da Aprosoja Mato Grosso diz que convite a professor considerado negacionista se deu para promover 'contraponto com o que é replicado na mídia'

No ano passado, o meteorologista também foi convidado para falar no Tecno Safra Nortão 2020, uma feira para produtores rurais, lideranças, técnicos, pesquisadores e estudantes organizada pelo sindicato ruralslot mangoMatupá, município no norteslot mangoMato Grosso.

Segundo o vice-presidente do sindicato, Fernando Bertolin, ao menos cem pessoas, entre pequenos e grandes agricultores, pecuaristas e outras pessoas da cidade assistiram à palestra. Ele defende o convite, dizendo que, à época, Felicio estava "bem forte na mídia" e queslot mangopalestra "foi um pedido dos produtores". "A gente ouve todo mundo. Ele tem o embasamento teórico dele e a gente queria saber por que ele dizia aquilo."

Bertolin diz não se recordar do valor da palestraslot mangoFelicioslot mangocabeça, mas afirma que nenhuma das contratadas pela feira custou maisslot mangoR$ 15 mil.

Em 2018, Felicio concorreu, sem sucesso, ao cargoslot mangodeputado federal pelo PSL, antigo partido do presidente Jair Bolsonaro.

Um ano antes, o presidente tuitou um vídeoslot mangouma entrevistaslot mangoque Felicio nega a existênciaslot mangomudanças climáticas causadas pelo homem. Bolsonaro escreveu: "Vale a pena conferir". Consultada pela BBC News Brasil sobre esta recomendação feita por Bolsonaro, a assessoria da Presidência não respondeu.

O professor não foi aclamado apenas pelo presidente. Em 2019, Felicio foi convidado para dar uma palestra no Senado ao ladoslot mangooutro acadêmico que não acredita no aquecimento global causado pelo homem, o professor aposentado da Universidade Federalslot mangoAlagoas (Ufal), meteorologista Luiz Carlos Molion.

O convite para que os professores falassemslot mangouma audiência pública conjunta das comissõesslot mangoRelações Exteriores eslot mangoMeio Ambiente do Senado sobre as mudanças climáticas partiu do senador do Acre Marcio Bittar (hoje PSL, mas, na época, do MDB), um ex-pecuarista que faz parte da bancada ruralista.

Ao ladoslot mangoFelicio, Molion é considerado um dos principais representantes do negacionismo climático no Brasil e autor das outras palestras contabilizadas pela reportagem.

Nos últimos três anos, Molion fez diversas palestras promovidas por entidades como a Cooperativa Agrícolaslot mangoUnaí,slot mangoMinas Gerais, a Associação Avícolaslot mangoPernambuco, a Associaçãoslot mangoEngenheiros e Arquitetosslot mangoItanhaém, com o patrocínio oficial do Conselho Regionalslot mangoEngenharia e Agronomiaslot mangoSão Paulo, a Central Campo, uma empresa especializada na vendaslot mangoinsumos agrícolas, a Feira Agrotecnológica do Tocantins, do governo do Tocantins, a feiraslot mangoAgronegócios da Cooabriel, uma cooperativaslot mangocafé com atuação no Espírito Santo e na Bahia, e o sindicato ruralslot mangoCanarana, no Mato Grosso.

Molion também foi convidado para falarslot mangouniversidades: o Institutoslot mangoCiências Agrárias da Universidade Federalslot mangoMinas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A BBC News Brasil procurou todas essas instituições para comentar sobre os convites que fizeram a Molion — leia as respostas abaixo e no fim desta reportagem.

A maior parte dessas palestras tem como tema as perspectivas climáticas para o ano seguinte e as "tendências para os próximos 10 anos". Nas palestras — a maioria disponível no YouTube e vistas pela BBC News Brasil —, Molionslot mangofato faz previsões para o ano seguinte, útil para que os produtores rurais se planejem para as próximas safras, mas reserva a última parte da palestra para falar sobre como o "aquecimento global é uma fraude" — novamente, uma afirmação sem embasamento científico.

Ele mostra um slide na parte final emslot mangoapresentaçãoslot mangoPowerpoint, com suas palavras finais. O texto da apresentação diz que o clima "varia por causas naturais", e que "eventos extremos sempre ocorreram". Afirma, também: "Aquecimento global é mito. CO2 não controla o clima, não é vilão (…) Reduçãoslot mangoemissões: inútil!"

A patch of deforested land in the Amazon rainforest

Crédito, AFP

Legenda da foto, Segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC),slot mangoagosto deste ano, o papel da influência humana no aquecimento do planeta é "inequívoco"; no Brasil, a maior causaslot mangoemissõesslot mangogases do efeito estufa é o desmatamento

Na palestra promovida pela Secretariaslot mangoAgricultura, Pecuária e Aquicultura do governo do Tocantinsslot mangomaioslot mango2020, por exemplo, Molion afirmou, contrariando a ciência, que o "aquecimento global é uma farsa, é um mito". "Reduzir emissões como quer esse Acordoslot mangoParisslot mango2015 é inútil, o Brasil tinha que pular fora porque reduzir emissões não vai causar nenhum benefício para o planeta, para o clima, porque o CO2 não controla o clima", disse, indo contra a esmagadora maioria da produção científica dos últimos anos e aos esforço globalslot mangoselar acordos para diminuir as emissões dos gasesslot mangoefeito estufa.

A secretaria disse que o convidou, ao ladoslot mangooutros palestrantes, para "alinhar o setor agropecuário quanto às diversas correntes existentes e auxiliá-los no seu planejamento e tomadasslot mangodecisão mais assertivas para seu empreendimento rural".

Depois,slot mangooutubroslot mango2020,slot mangoum seminário virtual promovido pela Central Campo, uma empresa mineira especializada na vendaslot mangoinsumos agrícolas, Molion fez as mesmas afirmações sobre o CO2 e o Acordoslot mangoParis.

O diretor da empresa, Artur Barros, disse por e-mail à BBC News Brasil que a empresa "sempre soube do posicionamento do professor Molion, que é muito pragmático quanto às questões climáticas" e "o profissional que tem maior assertividade nas previsões". "A Central Campo, assim como grande parte dos produtores atendidos pela empresa, está muito alinhada ao posicionamento do professor Molion".

À BBC News Brasil, Molion afirmou: "Procuro usar minhas palestras para o agronegócio, que não são poucas, para no terceiro bloco falar sobre as mudanças climáticas e a farsa do CO2 como controlador do clima global. Faço um diagnóstico local, previsão para safra e depois falo sobre a tendência do clima dos próximos dez, 15 anos, que éslot mangoresfriamento."

Segundo Molion, ele dá 50 palestras por ano, "a grande maioria, 80%, 85% para o agronegócio", cobrando R$ 4 mil por cada uma. Barros, da Central Campo, afirmou que foi este o valor que pagou pela palestra do professor.

O meteorologista diz que não se incomodaslot mangoser chamadoslot mango"negacionista", embora, ressalte, nunca tenha negado que houve aquecimento no planetaslot mangoum período específico no passado. "Eu levo o que acho que está correto, pode ser que daqui a alguns anos me provem que estou errado e vou reconhecer isto. Não sou paraquedista. Eu tenho visão muito crítica do clima local e global graças ao meu treinamento."

Um dos seminários mais recentesslot mangoque participou teve também a presençaslot mangomembros do governo Bolsonaro: o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministroslot mangoInfraestrutura, Tarcisio Freitas. Foi um seminário virtual sobre a Amazôniaslot mangoagosto deste ano organizado pelo Instituto General Villas Bôas, ONG do ex-comandante do Exército.

Contrariando o consenso da comunidade científica sobre as mudanças climáticas, Molion defendeu que o clima global varia naturalmente, sem influência da ação humana, e apresentou um slideslot mangoque dizia que o efeito-estufa, "como descrito pelo IPCC, é questionável". Antesslot mangopassar a palavra para o ministro Freitas, afirmou: "CO2 não é vilão, quanto mais CO2 tiver na atmosfera, melhor".

Mourão fala, com bandeira do Brasil ao fundo

Crédito, Adnilton Farias/Palácio do Planalto

Legenda da foto, Vice-presidente Hamilton Mourão participouslot mangoseminário sobre a Amazônia que teve a participação do professor Luiz Carlos Molion;slot mangoassessoria disse que ele se baseiaslot mango'dados científicos para emissãoslot mangosuas ideias e opiniões'

A BBC News Brasil procurou a vice-presidência questionando por que Mourão aceitou participarslot mangoum seminário ao ladoslot mangoum professor que nega que a ação do homem esteja contribuindo para o aquecimento global. Sua assessoria disse apenas que Mourão participou do evento a convite do Instituto General Villas Bôas e que "baseia-seslot mangodados científicos para emissãoslot mangosuas ideias e opiniões".

A assessoria do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, afirmou que ele participou do seminário após convite feito pelo próprio general Villas Boas. A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, foi inicialmente anunciada como um dos nomesslot mangoministros que participariam do seminário, masslot mangoassessoria informou que ela não participaria do evento, sem responder por que desistiu.

Negacionismo climático no Brasil

A genealogia do negacionismo climático no Brasil começa nos anos 2000, quando a imprensa "dava pesos iguais para argumentos com pesos totalmente diferentes", avalia o sociólogo Jean Miguel, pesquisador associado da Unifesp que estuda o tema. O debate sobre o assunto no Brasil se deu principalmente a partir do documentário americano Uma Verdade Inconveniente (2006), sobre a campanha do ex-vice-presidente americano Al Gore a respeito do aquecimento global.

Enquanto isso, um grupo pequenoslot mangonegacionistas na academia brasileira, incluindo Felicio e Molion, se pronunciavam publicamente sobre o tema. Para Miguel, eles são "verdadeiros mercadores da dúvida, trabalhando para destacar lacunas que toda ciência possui e amplificar incertezas".

"[E quem os ouviu no Brasil] foi parte do agronegócio interessado na desregulamentação florestal", responde Miguel.

Hoje, "as palestras fazem massagem no ego do produtor rural e criam a mentalidadeslot mangoque esses gruposslot mangoagronegócio estão sendo injustiçados enquanto estão contribuindo para o PIB nacional", diz o pesquisador.

Não significa que todos os produtores rurais sejam negacionistas. "A briga hoje é entre dois lados: o setorslot mangoagroexportação, que está maisslot mangocontato com compradores internacionais, portanto mais pressionado pela questão reputacional, e que faz investimentos a longo prazo, pensando na questão produtiva na próxima década, não na próxima safra", diz Raoni Rajão, professorslot mangogestão ambiental na Universidade Federalslot mangoMinas Gerais (UFMG).

"Outro lado do setor são os produtores, mais politizados e fortes apoiadoresslot mangoBolsonaro e todaslot mangoagenda. Elesslot mangocerta forma compram esse discurso que toda a narrativaslot mangomudança climática é algo para poder impedir o desenvolvimento do Brasil."

Apesarslot mangonão começar no governo Bolsonaro, o negacionismo "encontra terreno fértil para proliferar" emslot mangogestão, avalia Miguel, citando algumas ações do governo atual, como o fechamento da secretaria responsável por elaborar políticas públicas sobre as mudanças climáticas, no início da gestão Bolsonaro (ela foi reabertaslot mangomeio a críticas no ano seguinte) e a desistênciaslot mangosediara COP-25 que ocorreria no Brasilslot mangonovembroslot mango2019. Emslot mangocampanha,slot mango2018, Bolsonaro também prometeu acabar com o que chamavaslot mango"indústria das multas" ambientais.

O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, que ficou no cargo do começo do governo Bolsonaro até marçoslot mango2021, chegou a colocarslot mangodúvida que as mudanças climáticas seriam causadas pela ação humana, na contramão do consenso científico.

Jair Bolsonaro

Crédito, EPA/Joedson Alves

Legenda da foto, Para sociólogo, negacionismo climático no Brasil não começou no governo Bolsonaro, mas encontrou 'terreno fértil para proliferar' emslot mangogestão

"Eles estão altamente informados pelo negacionismo climático. Mesmo que não digam que é uma fraude,slot mangouma maneira interna vão criando as possibilidadeslot mangosabotar a ciência e as políticas climáticas nacionais, com formas práticasslot mangonegacionismo climático", afirma Miguel.

Reportagem recente da BBC News Brasil mostrou que o governo Bolsonaro cortouslot mango93% os gastos para estudos e projetosslot mangomitigação e adaptação às mudanças climáticas nos três primeiros anos daslot mangogestão quando comparado com os três anos anteriores.

Desmatamento

Mas ações práticas terãoslot mangoser adotadas para que o Brasil cumpra as metas anunciadas pelo governo durante a COP-26: zerar o desmatamento ilegal no país até 2028, reduzir as emissõesslot mangogases do efeito estufaslot mango50% até 2030 e atingir a neutralidadeslot mangocarbono até 2050.

O desmatamento, causado pela expansão da agricultura e da pecuária, é responsável pela maior emissãoslot mangoCO2 no Brasil.

Só entre agostoslot mango2019 e julhoslot mango2020, uma áreaslot mango10.851 km2 — mais ou menos metade da área do Estadoslot mangoSergipe — foi desmatada na Amazônia Legal, segundo dados do sistema Prodes, do Instituto Nacionalslot mangoPesquisas Espaciais (INPE). O valor representou um aumentoslot mango7,13%slot mangorelação ao ano anterior.

Esse crescimento teve um claro reflexo nas emissõesslot mangogases poluentes pelo Brasilslot mango2020. Houve um aumentoslot mango9,5%, segundo dados do Sistemaslot mangoEstimativasslot mangoEmissõesslot mangoGasesslot mangoEfeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, principalmente por mudanças no uso da terra e floresta, que inclui o desmatamento, e a agropecuária. O aumento aconteceu na contramão do mundo que, parado por conta da pandemiaslot mangocovid-19, diminuiu as emissõesslot mango7%.

Madeiras

Crédito, Adriano Machado/Reuters

Legenda da foto, Só entre agostoslot mango2019 e julhoslot mango2020, uma áreaslot mango10.851 km2 - mais ou menos metade da área do Estadoslot mangoSergipe - foi desmatada na Amazônia Legal

Para Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, a boa notícia é que, se o Brasil conseguir controlar o desmatamento, "as emissões cairão muito rapidamente". "Se controlarmos o desmatamento, não há país no mundo que vai ter emissões menores proporcionalmente do que temos no Brasil, então acho que é uma oportunidade. Teremos um resultado incrível para o Brasil e para o planeta."

Apesarslot mangopertencer ao setor responsável pela maior parteslot mangoemissõesslot mangogases do efeito estufa no Brasil, parte dos ruralistas diz acreditar ser injustamente acusada por ambientalistas.

As palestras do meteorologista Felicio no Mato Grosso,slot mango2019, "foram bem numa épocaslot mangoque era moda dizer que o agricultor era quem estava acabando com o mundo", diz o produtor rural Artemio Antonini, presidente do sindicato ruralslot mangoNova Xavantina, no Mato Grosso. Também céticoslot mangorelação às mudanças climáticas, Antonini ajudou a organizar a palestraslot mangoFelicio na região.

Na opiniãoslot mangoRajão, da UFMG, "o agro como um todo toma as dores e se sente ofendido quando se falaslot mangodesmatamento". "A reação é negar o desmatamento e a existência das mudanças climáticas."

"Tomar as dores" porque,slot mangofato, quem desmata primariamente não é produtor rural. Uma área desmatada começa com uma ondaslot mangoespeculadores - quem demarca a terra e serra dali a vegetação depois quem tenta regularizar a área -,slot mangoseguida vem o pecuarista e depois vem o agricultor, explica Rajão. "Por isso que quando dizem que não estão envolvidos com o desmatamento, é verdade, boa parte deles não está. Mas se beneficiamslot mangoum fornecimentoslot mangoterra barata, que vemslot mangotodo o processoslot mangodesmatamento ilegal que às vezes aconteceu 10 anos antes."

A ilegalidade é bastante concentrada. O estudo "As maçãs podres do agronegócio brasileiro",slot mangoRajão e outros pesquisadores, mostrou que maisslot mango90% dos produtores na Amazônia e no Cerrado não praticaram desmatamento ilegal após 2008. Além disso, apenas 2% das propriedades nessas regiões eram responsáveis por 62%slot mangotodo desmatamento potencialmente ilegal. O trabalho foi publicado na revista Science no ano passado.

'Agrosuicídio'

O agricultorslot mangosoja Ilson Redivo também esteve na plateiaslot mangouma das palestras que o professor Ricardo Felicio deuslot mango2019, no municípioslot mangoSinop, norte do Mato Grosso.

Redivo migrou do Paraná para Sinopslot mango1988, inicialmente trabalhando, como a maioria dos migrantes, no setor madeireiro. "Era um grande polo madeireiro, e era o que dava retorno na época", diz. Hoje, ele possui uma fazendaslot mango4200 hectaresslot mangomilho e soja na região, e é presidente do Sindicato Rural da cidade.

Ele diz ter gostado da palestraslot mangoFelicio. Como ele, o produtor rural também rejeita a ciência estabelecida sobre o aquecimento global. Ele diz que é uma "narrativa econômica", não ambiental, criada para conter o desenvolvimento do Brasil.

"Eu estou há trinta anos aqui, foi desmatado um monte e o clima continua da mesma forma, tá certo? Não houve alteração climática", diz Redivo à BBC News Brasil.

Ecoando argumentos já usados por Bolsonaro, o agricultor diz que o Brasil é "um exemplo para o mundoslot mangopreservação ambiental". "O produtor brasileiro é o cara que mais preserva."

O argumento é repetido por outros produtores rurais. "Ninguém fala que o agricultor está deixando 80% e só usando 20% da área para produzir", reclama o produtor rural Antonini.

Gadoslot mangoarea desmatada

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Durante a COP-26,slot mangoGlasgow, Brasil prometeu zerar o desmatamento ilegal no país até 2028

Eles se referem à Reserva Legal, um dispositivo criado no Código Florestal Brasileiro que obriga os proprietáriosslot mangoterras na Amazônia a preservar 80% da floresta nativa (no Cerrado, o valor éslot mango35%;slot mangooutros biomas, 20%), algo que beneficia o próprio agronegócio, por meio dos serviços ambientais prestados pela floresta. Muitos agricultores acham isso injusto. Mas, na prática, nem todos respeitam essa exigência.

A pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) Ritaumaria Pereira conduziu entrevistas com 131 criadoresslot mangogado no Paráslot mango2013 e 2014 e descobriu que maisslot mango95% deles declararam preservar menos do que a quantidade exigida. Segundo ela, argumentam que, quando chegaram, a terra já estava nua, ou que no passado tinham o estímulo para desmatar, ou que não tinham recursos para regenerar 80%.

Para Pereira, da Imazon, para que o Brasil consiga cumprir as metas anunciadas durante a COP-26, será preciso investirslot mangofiscalização na Amazônia, fortalecendo órgãos como o Ibama e o ICMBio.

Também será preciso combater o discurso do negacionismo climático. A mensagem transmitida a produtores rurais, diz ela, legitima o desmatamento, e "traz mais pessoas para esse pensamento, para que, num futuro próximo, validem assim tudo o que já desmataram".

Para Rajão, da UFMG, é uma narrativa "que no curto prazo é confortante, mas no longo prazo contribui para o chamado 'agrosuicídio'".

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Posicionamentosslot mangoempresas que convidaram professores para palestras

slot mango Cooperativa Agrícolaslot mangoUnaí (Coagril)

A Cooperativa Agrícolaslot mangoUnaí Ltda (Coagril) diz "ter contratado o professor Molion no intuitoslot mangoobter informações acerca do regimeslot mangochuvas para a regiãoslot mangosua atuação, visando ao planejamento estratégico dos seus negócios eslot mangoseus cooperado".

slot mango Associação Avícolaslot mangoPernambuco

"A AVIPE reforça seu caráter plural onde preza pela diversidadeslot mangoideias onde o debateslot mangotodos os pontosslot mangovista precisa ser exaurido constantemente com o intuito da busca eternaslot mangouma conclusão contingente sobre quaisquer assuntos. (…) Como associação, não nos cabe acreditar ou não se os fatos humanos causam mudanças climáticas, pois nosso papel não éslot mangocredo, mas simslot mangoapoiar o debate científico por aqueles que se dedicam toda uma vidaslot mangopesquisa. Não condiz com nossos princípios, condutas e valores, selecionar uma parcelaslot mangoopiniões do mundo científico para apoiar determinada conclusão com fins casuísticos ou individuais. Aspectos financeiros são reservados apenas aos nossos associados."

slot mango Associaçãoslot mangoEngenheiros e Arquitetosslot mangoItanhaém, com o patrocínio oficial do Conselho Regionalslot mangoEngenharia e Agronomiaslot mangoSão Paulo

A Associaçãoslot mangoEngenheiros e Arquitetosslot mangoItanhaém recebeu o pedido da BBC News Brasil por e-mail e WhatsApp, mas não respondeu.

O Crea-SP respondeu que "tem como missão legal o aperfeiçoamento técnico e cultural dos profissionais da área tecnológica, conforme a Lei 5.194".

"Os eventos com essa finalidade, realizados pelas associações, sãoslot mangoresponsabilidadeslot mangoseus idealizadores e não necessariamente representam a posição do Crea-SP.

O Conselho reforça ainda que acreditaslot mangomudanças climáticas causadas pelas ações humanas e, como formaslot mangoapoiar medidas para combatê-las, é signatário dos 17 Objetivosslot mangoDesenvolvimento Sustentável da ONU."

slot mango Cooperativaslot mangocafé Cooabriel

Recebeu o pedido da BBC News Brasil por e-mail, mas não respondeu.

slot mango Sindicato ruralslot mangoCanarana

O presidente do sindicato, Alex Wisch, respondeu, por mensagem via WhatsApp: "Propomos que vocês indiquem um cientistaslot mangomesmo nível acadêmico do Prof. Molion para que todos possam ter conhecimento da verdade científica sobre esse tema. Podemos colaborar financeiramente com esse evento e inclusive sediar o evento."

slot mango Institutoslot mangoCiências Agrárias da Universidade Federalslot mangoMinas Gerais (UFMG)

Por telefone, o vice-diretor do Institutoslot mangoCiências Agrárias da UFMG, Helder Augusto, afirmou: "Na universidade, há diversidadeslot mangoideias e contrapontos. Não é um posicionamento da UFMG. É um pontoslot mangovista dele, é uma fala relativa. A pessoa veio, fez palestra e pode falar o que bem entender porque é um ambiente público. A universidade não paga palestra para ninguém."

slot mango Universidade Federal da Paraíba

"O evento foi realizado no auditório do Centroslot mangoTecnologia da UFPB, organizado no âmbito do Departamentoslot mangoEngenharia Mecânica, que aproveitou que o palestrante já estavaslot mangoJoão Pessoa (PB) e o convidou para ministrar palestra na UFPB, portanto, neste casoslot mangoparticular, sem ônus para a UFPB.

A iniciativaslot mangoconvidar o pesquisador para ministrar palestra sobre seus estudos não se confunde com a visão, missão e valores da UFPB, entre os quais destaca-se o caráter público e autônomo da Universidade.

A UFPB defende o papel da academia e apoia a ciência e a pesquisa, o conhecimento gerado a partirslot mangométodos científicos, no intuitoslot mangoencontrar soluções para desafiosslot mangotodas as áreas e geraçãoslot mangobenefícios para a sociedade. Por meio da ciência, as teorias são constantemente testadas, visandoslot mangocomprovação ou substituição por outra teoria que resista à checagem. Não compete à Universidade aplicar censura prévia à ciência."

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