Covid: o riscoviagens aos EUAmeio a novo picomortes:

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Legenda da foto, A partirnovembro, cidadãos brasileiros eoutras 32 nacionalidades não precisarão fazer quarentena para entrar nos EUA

Essa preocupação se dá principalmente pelo atual estágio da pandemia nos EUA, com médias móveisnovos casos e mortesascensão nas últimas semanas (detalhes abaixo).

Os números, inclusive, estão bem acima do que é registrado atualmente no Brasil, que apresenta quedas constantes nas infecções e nos óbitos relacionados ao coronavírus desde agosto.

"É preciso analisar esse cenário externo com cuidado, pois muitos brasileiros podem ir e voltar dos Estados Unidos num curto espaçotempo, o que aumenta o riscoretornar infectado", diz o epidemiologista Paulo Petry, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Decisão americana

O anúncioalívio nas restriçõesviagem foi feito nesta segunda-feira (20/9) por Jeff Zients, coordenadorresposta ao coronavírus da Casa Branca.

"Cidadãos estrangeiros vindo aos Estados Unidos deverão estar totalmente vacinados e apresentar prova disso antesembarcarum avião com destino aos EUA. As vacinas são a melhor linhadefesa, a melhor ferramenta que temosnosso arsenal para manter as pessoas seguras", afirmou Zients.

As medidas passam a valer a partirnovembro, mas ainda não foi definido se todas as vacinas serão consideradas na hora do embarque — por ora, as autoridades regulatórias americanas só aprovaram os imunizantesPfizer/BioNTech, Moderna e Janssen.

Essa questão será definida pelo CentroControle e PrevençãoDoenças (CDC) dos Estados Unidos, mas existe a possibilidadeque outros produtos que já receberam a chancela da Organização Mundial da Saúde (OMS) também sejam aceitos, como é o caso da CoronaVac e da vacinaAstraZeneca e UniversidadeOxford.

Ambas são amplamente utilizadas na campanhaimunização contra a covid-19curso no Brasil.

A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), avalia que a política americana atual,exigir que viajantes façam uma quarentena14 dias num terceiro país, não faz mais sentido.

"Muitas vezes, esse períodoisolamento acontecia num lugar que estava com uma situaçãomomento bem pior que a nossa", conta. "De certa maneira, a retirada das restrições reconhece o esforçonossa campanhavacinação e a melhora recente nos indicadores da pandemia por aqui."

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Legenda da foto, Vacinação nos Estados Unidos estacionou e encontra resistênciaalguns grupos, influenciados por movimentos antivacina

Os riscos

Do pontovista epidemiológico, o momento dos Estados Unidos não é dos melhores. Após uma queda importante na média móvel semanalcasos e mortes por covid-19 entre abril e julho, esses indicadores voltaram a cresceragosto e setembro.

Atualmente, o país registra uma média móvel148 mil novas infecções e 2 mil óbitos relacionados ao coronavírus.

Em comparação, as curvas brasileiras seguem uma tendência contrária: após uma segunda onda muito intensa entre março e junho, é possível notar uma queda constante nas estatísticas da covid-19 por aqui.

Os números mais recentes indicam uma média móvel34 mil diagnósticos e 557 mortes pela doença.

Ou seja: as estatísticasmomento dos Estados Unidos estão quatro vezes mais elevadasrelação às brasileiras.

"Um dos aspectos que ajuda a entender essa diferença está no ritmovacinação. Após um avanço muito rápido, os EUA praticamente estacionaram na campanha. Isso tem a ver com a rejeição às doses e à atuação dos movimentos antivacina por lá", interpreta Petry.

Cerca55% dos americanos estão com a proteção completa e praticamente 65% tomaram pelo menos a primeira dose.

No Brasil, 38% concluíram o esquema vacinal preconizado e 69% dos indivíduos já receberam a primeira dose.

E as variantes?

Um segundo aspecto que pode levantar alguma preocupação é o riscoalgum viajante se infectar durante a viagem para os Estados Unidos e trazervolta alguma variante inédita do coronavírus.

Essa nova versão poderia se espalhar pelo país e levar a um aumentocasos e óbitos.

"É preciso termente, porém, que a principal variantecirculação por lá é a Delta, que já tem transmissão comunitária no nosso país", diz Maciel.

Em todo caso, essa reabertura das fronteiras poderia servir como justificativa para que o Brasil reforçasse seus programasvigilância genômica.

Assim, seria possível detectar novas mutações virais antes que elas se espalhassem por alguma cidade ou Estado.

"Atualmente, a pandemia nos Estados Unidos afeta principalmente os indivíduos que não foram vacinados. E sempre existe a chancesurgir uma nova variante desconhecida", chama atenção a epidemiologista.

Como se proteger?

Embora ainda não existam diretrizes claras sobre o assunto, o primeiro passo para viajar aos Estados Unidos a partirnovembro será tomar as duas doses com 14 diasantecedência do voo e possuir o comprovante da vacinação na hora do check in.

Outra exigência que continuará a valer é o resultado negativoum teste PCR (que detecta a presença do coronavírus no organismo). O exame deverá ser feito nos três dias anteriores e será repetidoterras americanas.

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Legenda da foto, Ainda não está claro se todas as vacinas serão aceitas para entrar nos Estados Unidos. Essa questão deve ser definida nas próximas semanas

E, mesmo com essa primeira liberação feita no aeroporto, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil reforçam a necessidadese cuidar durante todo o períodoviagem.

"É preciso termente que, embora vacinada, a pessoa ainda pode se infectar com o coronavírus e transmiti-lo para seus contatos próximos", lembra Petry.

"Os viajantes devem usar máscarasboa qualidade, especialmentelocais fechados, e evitar aglomerações", recomenda Maciel.

"Outro ponto importante é se atualizar sobre a situação da covid-19 específica do local para onde você vai. Há Estados que atravessam um momento bem pior do que os outros, como é o casoAlabama e Flórida", completa.

Proteção coletiva

Os epidemiologistas também entendem que o futuro aumento do fluxopassageiros voltando dos Estados Unidos para o Brasil exigirá um controle ainda melhor das fronteiras e dos aeroportos internacionais.

Atualmente, todos os brasileiros ou estrangeiros que chegam ao país precisam preencher uma DeclaraçãoSaúde do Viajante, disponível no site da Agência NacionalVigilância Sanitária (Anvisa), e apresentar um teste PCR com resultado negativo que tenha sido feito nas 72 horas antes do embarque.

Para indivíduos que vêmalguns países, como o Reino Unido, também é preconizada uma quarentena após o desembarque.

Mas alguns episódios recentes, como a entrada sem restriçõesjogadoresfutebol brasileiros e argentinos vindos da Inglaterra, mostrou como esse sistema pode apresentar falhas importantes.

"Precisamos melhorar o nosso controleentrada nos aeroportos. Isso é algo que o Brasil pecou nos últimos meses e continua pecando", critica Maciel.

"A fiscalização precisa ser aprimorada, até para impedir a entradapessoas infectadas e a possível introduçãonovas variantes no país, coisa que não conseguimos fazer até agora", finaliza.

Em nota, o Itamaraty afirma que "com a significativa melhora do quadro epidemiológico no país e o avanço acelerado do processovacinação, tem-se verificado que um número crescentepaíses passou a flexibilizar seus requisitosentradabrasileiros".

"O Itamaraty e seus postos no exterior seguem trabalhandomúltiplas frentes, conjuntamente com outros órgãos públicos,esforço para permitir retomada segura do fluxopessoas", diz o órgão.

A BBC News Brasil entroucontato com a Anvisa e o Ministério da Saúde, para comentar sobre a recente decisão dos Estados Unidos e como ela afeta o país, mas não houve respostas até o fechamento desta reportagem.

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