Covid: Por que melhora nos números da pandemia ainda não é luz no fim do túnel:betnacional linkedin

Cemitériobetnacional linkedinSP com valas abertas

Crédito, Rodrigo Paiva/Getty Images

Legenda da foto, Especialistas veem melhora da pandemiabetnacional linkedincovid-19 registradas nos últimos dias com extrema cautela

E esses não são os únicos indíciosbetnacional linkedinuma aparente melhora da pandemia no país: o último Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), informa que todos os estados (com exceçãobetnacional linkedinMato Grosso) e todas as capitais apresentam uma tendênciabetnacional linkedinqueda ou estabilização nos númerosbetnacional linkedininfecções respiratórias tanto no curto quanto no longo prazo (entre 3 e 6 semanas, respectivamente).

Para completar, um levantamento feito pela Folhabetnacional linkedinS.Paulo revela que a taxabetnacional linkedinocupaçãobetnacional linkedinUTIs (Unidadesbetnacional linkedinTerapia Intensiva) vem caindo consideravelmente: atualmente, apenas três capitais — Curitiba (PR), Campo Grande (MS) e Palmas (TO) — estão com maisbetnacional linkedin90% desses leitosbetnacional linkedinuso.

Gráficosbetnacional linkedinmédia móvelbetnacional linkedinnovos casos e mortes por covid-19 do Conass

Crédito, Conass/Divulgação

Legenda da foto, Nos gráficosbetnacional linkedinmédias móveisbetnacional linkedinnovos casos (à esquerda) e óbitos (à direita), é possível notar claramente uma queda nos últimos sete dias

Apesarbetnacional linkedintodas essas evidências representarem ótimas notícias, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil analisam o cenário com extrema cautela e entendem que o país poderia usar essa "oportunidade" para lançar mãobetnacional linkedinmedidas e políticas públicas realmente capazesbetnacional linkedincontrolar a pandemia, como um amplo programabetnacional linkedintestagem e a aceleração da campanhabetnacional linkedinvacinação.

"Embora alguns indicadores importantes estejam regredindo, ainda temos uma taxabetnacional linkedintransmissão viral muito alta. Vejo, portanto, com certa reserva essa melhora e acho que ainda não temos motivos para comemorar", analisa o epidemiologista Paulo Petry, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

"Essa regressão das estatísticas não significa que podemos relaxar, muito pelo contrário. Deveríamos fazer exatamente o oposto: ampliar o usobetnacional linkedinimunizantes, reforçar o distanciamento físico e o usobetnacional linkedinmáscaras e criar um programa para testar e rastrear contatos", acrescenta o epidemiologista computacional Jones Albuquerque, professor da Universidade Federal Ruralbetnacional linkedinPernambuco (UFRPE).

Mapa do Brasil com tendênciasbetnacional linkedininfecções virais para o futuro

Crédito, Boletim InfoGripe/FioCruz/Divulgação

Legenda da foto, A última edição do Boletim InfoGripe aponta uma tendênciabetnacional linkedinestabilização ou queda nas infecções respiratórias na maioria dos Estados brasileiros. O problema é que essa estabilização acontecebetnacional linkedinpatamares ainda muito altosbetnacional linkedintransmissão viral, novos casos e mortes

Transmissão viral (extremamente) alta

O mesmo Boletim InfoGripe da FioCruz que aponta tendênciasbetnacional linkedinqueda e estabilização no Brasil traz uma informação muito relevante para entender o atual momento: a transmissão comunitária dos vírus respiratórios segue muito altabetnacional linkedinboa parte do país.

Vale notar que o relatório não fala especificamente sobre a covid-19, mas analisa os casosbetnacional linkedinhospitalização por Síndrome Aguda Respiratória Grave (SRAG) — durante a pandemia, estima-se que a maior parte deles seja causado pelo coronavírus mesmo.

Para entender como o vírus está circulando por uma determinada região do país, os especialistas criaram um índice que considera o totalbetnacional linkedinnovos casosbetnacional linkedinSRAG que foram detectados na última semana a cada 100 mil habitantes.

Os autores do estudo levambetnacional linkedinconta as 118 macrorregiões, que são divididas por todo o território nacionalbetnacional linkedinacordo com as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde.

Os últimos dados apontam que 75 dessas macrorregiões apresentam um nívelbetnacional linkedintransmissão comunitáriabetnacional linkedinvírus respiratórios extremamente alto (com 10 ou mais novos casos a cada 100 mil habitantes).

Em 26 áreas, o nível é considerado "muito alto", ao passo quebetnacional linkedinoutras 15, essa transmissão é classificada como "alta".

Apenas duas macrorregiões (localizadas no Espírito Santo e no Piauí) apresentam uma situaçãobetnacional linkedinmomento que se assemelha aos níveis pré-epidemia e o relatório admite que há um problemabetnacional linkedinsubnotificação nesses locais.

Mapa do Brasil que classifica transmissão comunitáriabetnacional linkedinvírus respiratórios

Crédito, Boletim InfoGripe/FioCruz/Divulgação

Legenda da foto, Mapa do Boletim InfoGripe, da FioCruz, revela que transmissão comunitáriabetnacional linkedinvírus respiratórios segue extremamente altabetnacional linkedinboa parte do país

Na prática, uma transmissão que vaibetnacional linkedin"alta" a "extremamente alta"betnacional linkedinpraticamente todo o país significa que muita gente está se infectando e passando o vírus adiante — e nós sabemos que uma parcela significativa desses casos desenvolve complicações, que exigem atenção médica, hospitalização, leitosbetnacional linkedinUTI, intubação...

Ou seja: o riscobetnacional linkedinessa situação desencadear uma bolabetnacional linkedinneve e dar início a uma terceira onda num futuro próximo não é desprezível.

"A transmissão desse vírus é exponencial: uma pessoa infecta outras, que passam para mais gente e assim por diante. É por isso que ele se espalhou tão rápido pelo mundo inteiro", complementa Petry.

Numa sériebetnacional linkedinpostagens no Twitter, o pesquisadorbetnacional linkedinsaúde pública Marcelo Gomes, um dos responsáveis pelo Boletim Infogripe, classificou o atual status da pandemia no Brasil como "menos pior".

"A situação segue feia, mas parece que está tudo tranquilo. Afinal, o picobetnacional linkedinmarço já passou. [...] Se o vulcão não está maisbetnacional linkedinerupção, não tem problema estar tudobetnacional linkedinchamas pelo jeito… Azarbetnacional linkedinquem se importa, azarbetnacional linkedinquem se interna e azarbetnacional linkedinquem morre", escreveu.

Nessa mesma linha, embora os números mais recentesbetnacional linkedincasos e óbitos estejam caindo, eles ainda são muito altos e inaceitáveis: afinal, falamos aquibetnacional linkedinuma média móvel semanalbetnacional linkedin1,5 mil mortes todos os dias por uma doença para a qual existem formas efetivasbetnacional linkedincontrole e prevenção.

Gomes ainda chama a atenção para o fatobetnacional linkedino mapa atualbetnacional linkedintransmissão comunitária do vírus estar muito parecido ao que aconteceubetnacional linkedindezembrobetnacional linkedin2020 — e todos nós somos testemunhasbetnacional linkedincomo a crise sanitária se aprofundou rapidamente a partirbetnacional linkedinjaneiro, fevereiro e marçobetnacional linkedin2021.

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Efeitos das vacinas?

Diante das boas novas recentes, muita gente tem se perguntado se o avanço da vacinação contra a covid-19 no país pode ter contribuído para essa queda, especialmente nas médiasbetnacional linkedinmortalidade.

Embora a campanha brasileira ainda esteja bem longebetnacional linkedinimunizar uma parcela significativa da população, alguns indícios apontam que alguns grupos, como os profissionais da saúde e os idosos, podem já ter sentido alguns benefíciosbetnacional linkedinterem recebido prioridade.

Esse ganho pode ser observado num trabalho realizado por pesquisadores da Universidade Federalbetnacional linkedinPelotas (UFPel), da Universidade Harvard e do Ministério da Saúde.

O levantamento aponta que, nas seis primeiras semanasbetnacional linkedin2021, 25% das mortes por covid-19 ocorreram entre pessoas com maisbetnacional linkedin80 anos. A partirbetnacional linkedinmaio e junho, essa faixa etária passou a representar apenas 12% dos óbitos registrados.

A mesma queda foi observada nos indivíduosbetnacional linkedin75 a 79 anos algumas semanas depois.

Como esses grupos foram os primeiros a tomar a vacina logo que elas começaram a chegar ao Brasil (em meadosbetnacional linkedinjaneiro e fevereiro), tudo indica que eles ficaram mais resguardados das formas graves da doença, que evoluem para necessidadebetnacional linkedininternaçãobetnacional linkedinUTI, intubação e,betnacional linkedinalguns casos, óbito.

"O rápido aumento da cobertura vacinal entre idosos brasileiros foi associado a quedas importantes na mortalidade relativabetnacional linkedincomparação com indivíduos mais jovens", escrevem os cientistas responsáveis pelo estudo.

"Se as taxasbetnacional linkedinmortalidade entre os idosos permanecessem proporcionais ao que foi observado até a semana 6 [entre janeiro e fevereirobetnacional linkedin2021], seriam esperadas 43.802 mortes adicionais relacionadas à covid-19 até a semana 19 [entre maio e junho]", concluem.

Profissionalbetnacional linkedinsaúde aplica vacina numa pessoa

Crédito, NurPhoto/Getty Images

Legenda da foto, Brasil teria capacidadebetnacional linkedinvacinar até 2 milhõesbetnacional linkedinpessoas contra a covid-19 por dia. Médiabetnacional linkedinjunho ficoubetnacional linkedin800 mil doses aplicadas a cada 24 horas

A grande questão, como dito anteriormente, é que estamos longebetnacional linkedinaplicar os imunizantesbetnacional linkedintodos os brasileiros: até o momento, apenas 12% da população já recebeu as duas doses.

E levaremos pelo menos até o finalbetnacional linkedin2021 ou iníciobetnacional linkedin2022 para que todos os indivíduos com maisbetnacional linkedin18 anos estejam efetivamente vacinados — isso se as projeçõesbetnacional linkedinentregasbetnacional linkedinvacinas do Ministério da Saúde e as promessasbetnacional linkedinprefeitos e governadores se cumprirem.

A aceleração da vacinação contra a covid-19, incentivada por pesquisadoresbetnacional linkedinsaúde pública, permitiria não apenas proteger individualmente cada um dos cidadãos contemplados, mas contribuiria pouco a pouco para chegarmos à imunidade coletiva que nos permitirá futuramente ficar numa situação mais tranquila e menos restritiva.

O perigo das cepas atualizadas

Em meio a tantos avanços e retrocessos, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil citaram o aparecimentobetnacional linkedinnovas variantes do coronavírus como uma das mais fortes ameaças a um eventual arrefecimento da pandemia.

A variante Gama, detectada originalmentebetnacional linkedinManaus, foi decisiva para que a segunda onda tomasse a forma e matasse milharesbetnacional linkedinpessoas não apenasbetnacional linkedinnosso país, masbetnacional linkedinvárias partes do mundo.

Já a variante Delta, que surgiu na Índia, assusta pelo seu poderbetnacional linkedintransmissibilidade:betnacional linkedinpoucas semanas, ela dominou as cadeias virais do Reino Unido, a pontobetnacional linkedinpostergar (e até fazer regredir) as medidas restritivas por lá.

"E, quanto mais tempo um vírus circula, maior a probabilidadebetnacional linkedinque ele sofra mutações que eventualmente podem até inviabilizar as vacinas já disponíveis", avisa Petry.

"Nosso medo é que uma imunização lenta permita que surjam novas variantes ainda mais perigosas, o que seria muito ruim", completa.

Para que esse cenário catastrófico não vire realidade, existem duas coisas principais que devem ser feitas com urgência.

A primeira delas é botar o pé no acelerador da vacinação:betnacional linkedinjunho, 800 mil brasileiros foram imunizados todos os dias,betnacional linkedinmédia.

É preciso aumentar esse ritmo: o Programa Nacionalbetnacional linkedinImunizações (PNI) tem capacidade para aplicar as doses contra a covid-19betnacional linkedinaté 2 milhõesbetnacional linkedinpessoas a cada 24 horas.

"E nós já alcançamos números parecidos nas campanhas contra a poliomielite, por exemplo", lembra Petry.

O segundo ponto estábetnacional linkedinreforçar as medidas não farmacológicas que impedem a circulação do coronavírus, sobre as quais falaremos adiante.

Profissionalbetnacional linkedinsaúde cuidabetnacional linkedinpaciente intubada

Crédito, NurPhoto/Getty Images

Legenda da foto, Enquanto a taxabetnacional linkedinocupaçãobetnacional linkedinleitos hospitalares parece estar mais controlada, o nívelbetnacional linkedintransmissãobetnacional linkedinvírus respiratórios extremamente alta preocupa os especialistas

Distanciamento, máscara e teste

Enquanto as porcentagensbetnacional linkedinbrasileiros vacinados sobem pouco a pouco, os gestoresbetnacional linkedinsaúde pública deveriam persistir e até ampliar as ações comprovadamente eficazes para conter as curvas epidêmicas.

Falamos aquibetnacional linkedinpolíticas que inibam aglomerações, incentivem o usobetnacional linkedinmáscaras, controlem as fronteiras e as rodovias e criem um programabetnacional linkedintestagem e rastreamentobetnacional linkedincontatos, algo que não foi implementado até agora no país.

"Enquanto a Austrália faz um monitoramento pesado e tranca todo mundo quando os primeiros casos são detectados num lugar, aqui a gente não faz testesbetnacional linkedinforma sistemática", compara Albuquerque, que também integra o Laboratóriobetnacional linkedinImunopatologia Keizo Asami da Universidade Federalbetnacional linkedinPernambuco.

Sem essa vigilância munidabetnacional linkedininformaçõesbetnacional linkedindiagnóstico, fica complicado saber a real situação da pandemia no país e como isso vai evoluir nas próximas semanas.

E esses cuidados todos, inclusive, deveriam ser pensados não apenas do pontobetnacional linkedinvistabetnacional linkedinnosso território, masbetnacional linkedintodo o continente ou dos países com os quais temos contato frequente, defende Albuquerque.

"Durante uma pandemia, um país só está seguro quando a situação também está controlada nos seus vizinhos", raciocina o especialista.

Do pontobetnacional linkedinvista individual, vale seguir respeitando as orientações que minimizam os riscos, como ficarbetnacional linkedincasa sempre que possível e, ao sair, usar máscara (de preferência, a PFF2 ou a N95), manter uma distância mínimabetnacional linkedin1,5 metrobetnacional linkedinoutras pessoas, lavar as mãos com frequência e preferir lugares abertos e bem arejados.

E, claro, quando chegar abetnacional linkedinvez, ir até o postobetnacional linkedinsaúde para receber a vacina (independentemente do imunizante que estiver disponível) para ficar mais protegido e contribuir para que a pandemia melhore pra valer num futuro próximo.

Línea

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