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Covid-19: Brasil deveria ter priorizado CoronaVac ou Pfizer para gestantes, dizem médicas e cientistas:aviator melhor site
Dados apresentados mostraram que 22.295 gestantes já foram vacinadas no país, embora não tenha sido esclarecido se com uma ou duas doses. Foram relatados 11 eventos adversos graves nestas mulheres — casosaviator melhor siteque há suspeitaaviator melhor siterelação com a vacinação e investigados pelas autoridades.
Entre estes 11 casos, está o da gestante do Rioaviator melhor siteJaneiro que faleceu e motivou a interrupção temporária. Ele é considerado suspeito pois ainda não foi demonstrada uma causalidade entre vacinação e a trombose trombocitopênica que levou à morte.
Franciele Francinato, coordenadora do Programa Nacionalaviator melhor siteImunizações (PNI), afirmou que esses e outros dados mostram que a vacina da Astrazeneca éaviator melhor sitegeral eficaz e segura, representando maiores benefícios do que riscos, por exemplo, para gestantes com comorbidades.
"Destaco aqui que é por que aconteceu esse evento raro, é uma cautela que o Programa Nacionalaviator melhor siteImunizações tem, até fechamento do caso", disse Francinato sobre o óbito no Rioaviator melhor siteJaneiro,aviator melhor siteuma mulheraviator melhor sitecercaaviator melhor site35 anos, cuja identidade não foi divulgada.
A decisão dos governos foi recebida com muitas críticas por médicas e cientistas ouvidas pela BBC News Brasil. Algumas chegaram a classificar a situação como "catastrófica".
"É muito fácil suspender uma vacina dianteaviator melhor siteum primeiro evento supostamente adverso e não pensar nas repercussões que essa medida vai ter sem uma campanhaaviator melhor siteesclarecimento, sem ofereceraviator melhor siteimediato uma alternativa que já poderia ter sido planejada desde o começo", aponta a ginecologista e obstetra Melania Amorim, professora da Universidade Federalaviator melhor siteCampina Grande.
"Essa paralisação é inadmissível. De cada dez mulheres grávidas que morrem por covid-19 no mundo, oito são brasileiras", estima a especialistaaviator melhor sitepolíticas públicasaviator melhor sitesaúde Michelle Fernandez, professora do Institutoaviator melhor siteCiência Política da Universidadeaviator melhor siteBrasília.
A avaliação é que toda essa doraviator melhor sitecabeça poderia ter sido evitada se o Ministério da Saúde tivesse tomado algumas precauções e feito uma campanhaaviator melhor sitecomunicação centralizada e mais clara, avaliam as especialistas.
O seguro morreuaviator melhor sitevelho
Nas primeiras versões do Plano Nacionalaviator melhor siteOperacionalização da Vacinação contra a Covid-19, o Ministério da Saúde não incluía as gestantes e as puérperas entre os grupos que receberiam as doses antes dos demais cidadãos.
Mas uma atualização no documento publicada no dia 27aviator melhor siteabril passou a incluir essas mulheres entre as prioridades.
A decisão acatou as demandasaviator melhor sitediversas entidades, que alertavam para o maior risco que esse público corria — as evidências apontam que grávidas com covid-19 têm um risco maioraviator melhor siteagravamento e necessidadeaviator melhor siteintubação quando comparadas às mulheres da mesma idade que não esperam um filho.
Esse panorama é ainda mais complexo no Brasil, que apresenta a maior taxaaviator melhor sitemortalidade materna por covid-19 no mundo.
"O problema é que a faltaaviator melhor sitecoordenação central sobre a vacinação foi a tônica desde o início. Quando as gestantes foram incluídas no planejamento, os estados começaram a vacina-las seguindo critérios próprios", rememora Amorim, que também integra a Rede Feministaaviator melhor siteGinecologistas e Obstetras.
"Alguns estados imunizaram todas as gestantes. Outros, só aquelas que apresentavam comorbidades. Um terceiro grupo nem iniciou a imunização delas", completa.
Além da faltaaviator melhor siteuma orientação uniforme para todo o Brasil, a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo, destaca que o Ministério da Saúde poderia ter indicado o uso específico apenas da CoronaVac ou da Pfizer para esse público.
"A chegada das primeiras 1 milhãoaviator melhor sitedoses da vacinaaviator melhor sitePfizer/BioNTech aconteceu no mesmo momentoaviator melhor siteque as grávidas foram incluídas no programaaviator melhor siteimunização brasileiro. Esse lote deveria ter sido totalmente direcionado para essas mulheres", avalia.
"É claro que a quantidade não seria suficiente, mas poderíamos ter usado também a CoronaVac", conclui.
Mas quais seriam os problemas da vacina AZD1222 neste grupo? Será que faz sentido interromper seu uso durante os nove mesesaviator melhor sitegestação?
Risco mínimo, mas que precisa ser levadoaviator melhor siteconta
O uso da vacinaaviator melhor siteAstraZeneca e Oxfordaviator melhor sitelarga escala revelou que ela está relacionada ao efeito colateral raríssimo que é a trombose trombocitopênica.
Em linhas gerais, o imunizante pode levar a uma reação imune que altera o sistemaaviator melhor sitecoagulação do sangue e favorece o surgimentoaviator melhor sitetrombos, que interrompem a circulação, especialmente nos vasos que irrigam o cérebro ou o sistema digestivo.
Mas, como dito acima, a probabilidadeaviator melhor siteisso ocorrer é baixíssima:aviator melhor siteacordo com as últimas informações, esse evento adverso atingiria cercaaviator melhor site0,0004%aviator melhor sitequem toma essa vacina.
A títuloaviator melhor sitecomparação, o riscoaviator melhor sitedesenvolver trombose como uma complicaçãoaviator melhor sitequadrosaviator melhor sitecovid-19 grave fica na casa dos 16,5% — ou seja, é 41 mil vezes maior.
Num momentoaviator melhor sitepandemia, com alta transmissibilidadeaviator melhor siteum vírus potencialmente fatal, as agências regulatóriasaviator melhor sitetodos os países levamaviator melhor siteconta o risco-benefício da aprovaçãoaviator melhor siteum novo produto: está mais do que claro que a probabilidadeaviator melhor sitemorrer por covid-19 é infinitamente superior ao efeito colateral dessa vacina, que é utilizadaaviator melhor sitevários lugares do mundo, incluindo Brasil, Reino Unido e boa parte da Europa.
E, no caso do Rioaviator melhor siteJaneiro, ainda não se sabe se o óbito se relaciona diretamente ao imunizante.
"As pessoas precisam entender que nem tudo que acontece após a vacinação é causado pela vacinação", esclarece a médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileiraaviator melhor siteImunizações (SBIm).
É necessário teraviator melhor sitemente que a própria gestação favorece o aparecimentoaviator melhor sitetromboses: estima-se que esse problema afete entre uma e duas mulheres a cada mil grávidas, independentementeaviator melhor sitequalquer vacina.
Esse caso específico, notificado no Rioaviator melhor siteJaneiro, tem a ver com a AZD1222? Ou ele foi causado por um quadroaviator melhor sitecovid-19? Ou será que foi um efeito da própria gravidez?
Por ora, ninguém sabe ao certo. Só uma investigação científica aprofundada poderá esclarecer esses fatos e determinará o andamento da campanha nas próximas semanas.
Um pouco maisaviator melhor sitesegurança
É importante dizer que os testes clínicos que servemaviator melhor sitebase para a aprovação das vacinas geralmente não incluem grávidas entre os voluntários.
Isso vale, inclusive, para os estudos dos produtos que previnem a covid-19: nenhum deles avaliou como as doses agiriam no organismo dessas mulheres.
Isso é esperado, uma vez que o períodoaviator melhor sitenove meses do desenvolvimento do bebê costuma ser marcado por uma sérieaviator melhor sitemudanças no corpo, que exigem maior cuidado e atenção.
Mas como então se sabe se os imunizantes serão seguros e eficazes neste grupo?
"Quando a vacina já está aprovada eaviator melhor siteuso, aconteceaviator melhor sitegestantes serem vacinadas inadvertidamente. Esses casos são notificados e acompanhados pelas autoridades sanitárias, que observam o aparecimentoaviator melhor siteeventos adversos ou não", conta Ballalai.
Isso permite indicar com mais segurança determinado produto para elas.
Um outro caminho é realizar estudos clínicos com as gestantes depois que a vacina já está sendo usadaaviator melhor sitelarga escalaaviator melhor siteoutros grupos.
E foi justamente isso que ocorreu com a Cominarty: um trabalho coordenado pelo Centroaviator melhor siteControle e Prevençãoaviator melhor siteDoenças (CDC), dos Estados Unidos, analisou dadosaviator melhor sitemaisaviator melhor site35 mil gestantes americanasaviator melhor site16 a 54 anos, que receberam as duas doses da vacina desenvolvida por Pfizer e BioNTech.
Os resultados preliminares, publicados no finalaviator melhor siteabril no periódico New England Journal of Medicine, não indicam qualquer preocupação com efeitos colaterais do imunizante nesse públicoaviator melhor siteespecífico.
Já no caso da CoronaVac, outra opção disponível na campanha brasileira, ainda não existem pesquisas do tipo.
Mas as cientistas ouvidas pela BBC News Brasil entendem que a experiência prévia com outros imunizantes que usam a mesma tecnologia dá mais segurança para seu usoaviator melhor sitegestantes.
"A CoronaVac é feita a partiraviator melhor sitevírus inativados. Trata-se do mesmo princípioaviator melhor siteoutras vacinas, como a que protege contra a gripe, utilizada há muitos anosaviator melhor sitegestantes", aponta Maciel.
Cenário internacional
A vacinação contra a covid-19 na gravidez levanta uma sérieaviator melhor sitedúvidas não só no Brasil, mas no mundo todo.
Em linhas gerais, a orientação é que essas mulheres podem receber as doses com segurança.
Nos Estados Unidos, o CDC afirma que, "com baseaviator melhor sitecomo as vacinas atuam no corpo, os especialistas acreditam ser improvável que elas representem um risco para as pessoas que estão grávidas. No entanto, existem dados limitados sobre a segurança das vacinas contra a covid-19 nessas mulheres".
A orientação das entidades americanas é conversar com o médico e tomar a decisão com base nos riscos e nos benefícios.
No Reino Unido, as diretrizes seguem a mesma tendência: "As vacinasaviator melhor sitePfizer/BioNTech e Moderna são as mais indicadas para mulheres grávidas. Qualquer pessoa que já tenha iniciado a vacinação e vá receber uma segunda dose durante a gravidez deve tomar a mesma vacina, a menos que tenha tido um efeito colateral sério após a primeira dose."
Já a Organização Mundial da Saúde reconhece que existem poucos dados disponíveis sobre o usoaviator melhor siteimunizantes contra a covid-19aviator melhor sitegestantes e pede estudos mais conclusivos antesaviator melhor sitelançar suas próprias recomendações sobre o tema.
O que fazer agora?
É óbvio que toda essa discussão das últimas horas causou agoniaaviator melhor sitemuitas gestantes e seus familiares.
Aquelas que já receberam a primeira dose da AZD1222 precisam se preocupar ou fazer algo?
Na entrevista coletivaaviator melhor siteterça-feira, representantes do Ministério da Saúde afirmaram queaviator melhor sitebreve deverá ser publicada uma nota técnica com orientações detalhadas para diferentes situações.
O momento éaviator melhor sitecalma — como dito anteriormente, pelo que se sabe até agora o riscoaviator melhor siteuma trombose é baixíssimo.
"É importante que a gestante que foi vacinada fique atenta aos sintomas e procure o serviçoaviator melhor sitesaúde se estiver com incômodos cerebrais ou abdominais, como dor persistente", orienta Amorim.
Esses sintomas costumam ocorrer entre três e 21 dias após a vacinação e não devem ser confundidos com a reação normal do organismo após receber a dose, que inclui dor no local da aplicação e febre baixa.
Na dúvida, converse com o profissionalaviator melhor sitesaúde que acompanha a gestação para receber orientações personalizadas.
Mas e o que vai acontecer com a segunda doseaviator melhor sitegestantes? Será necessário voltar para tomar o reforço da vacinaaviator melhor siteAstraZeneca e Universidadeaviator melhor siteOxford?
Essa questão ainda não tem uma resposta.
Há dois caminhos possíveis a seguir.
Uma opção é completar a proteção com a própria AZD1222. "Se a mulher não teve efeito colateral na primeira dose, a probabilidadeaviator melhor siteter alguma coisa na segunda diminui consideravelmente", diz Maciel.
A segunda alternativa é usar outro tipoaviator melhor sitevacina, a despeito da faltaaviator melhor siteevidências sobre essa "mistura".
"É provável que as gestantes recebam a segunda dose da CoronaVac ou da Pfizer", antevê Ballalai.
Faltaaviator melhor sitecoordenação
Independentemente da decisão, as especialistas consideram que as decisõesaviator melhor siteinterrupção poderão ter um efeito negativo na evolução da campanhaaviator melhor sitevacinação contra a covid-19, especialmente entre as grávidas.
"O prejuízo é enorme, porque abala ainda mais a confiança da população nas vacinas e nas autoridadesaviator melhor sitesaúde", estima Ballalai.
E a faltaaviator melhor siteações organizadas e lideradas pelo Ministério da Saúde é outro ponto que contribui para essa erosão.
"O Brasil sequer tem uma comunicação bem feita sobre a vacinação contra a covid-19. A população não sabe quando vai tomar as doses, quais são os requisitos, e isso se repete com o avançaraviator melhor sitecada fase da campanha", critica Fernandez.
"Todo esse problema catastrófico pode ser atribuído a essa descoordenação geral e, infelizmente, ao fatoaviator melhor siteque a saúde materno-infantil e os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres não são prioridade para nossos governantes", complementa Amorim.
A reportagem da BBC News Brasil entrouaviator melhor sitecontato com a assessoriaaviator melhor siteimprensa do Ministério da Saúde para ter um posicionamento oficial a respeito do assunto, mas até a publicação desta reportagem não havia recebido nenhuma resposta.
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