Covid-19: como a propostaeurovision bwinque empresas 'furem fila' da vacina pode atrapalhar o controle da pandemia:eurovision bwin

Enquanto o debate legislativo segueeurovision bwinpleno vapor, no campo da ciência o consenso é maior: a ordemeurovision bwinimunização importa e definir os grupos prioritários tem o potencialeurovision bwindesafogar o sistemaeurovision bwinsaúde e salvar vidas.

Mas como essa fila da vacinação foi definida?

Cobertor curto

Anteseurovision bwinentender a ordem das campanhas, é preciso tereurovision bwinmente que a discussão é ainda mais importante num contextoeurovision bwinque há escassezeurovision bwinvacinas.

Passados três meses desde o início da vacinação, o Brasil distribuiu cerca 53 milhõeseurovision bwindoses, quantia suficiente para proteger cercaeurovision bwin26,5 milhõeseurovision bwinpessoas.

Ou seja: o montante disponibilizado até o momento permite resguardar pouco maiseurovision bwin10% da população brasileira.

Agora, imagine que os gestoreseurovision bwinsaúde não tivessem feito um plano e definido os grupos que receberiam o produtoeurovision bwinprimeiro lugar: a quantidadeeurovision bwinpessoas que correria até os postoseurovision bwinsaúde seria enorme.

Isso, poreurovision bwinvez, aumentaria o riscoeurovision bwinconflitos e disparidades: pode ser que milhares jovens tomassem a picada no braço anteseurovision bwinseus pais ou avós, quando sabemos que o riscoeurovision bwincomplicações e morte pela covid-19 sobe conforme a idade avança.

Poderíamos ver também problemaseurovision bwindesigualdade geográfica e social, com cidades e Estadoseurovision bwinmaior poder aquisitivo garantido uma fatia maioreurovision bwindoseseurovision bwinrelação a outros locais mais pobres.

A limitação das vacinas é um fator importante, mas vale uma ressalva: uma filaeurovision bwinprioridades seria necessária mesmo se tivéssemos garantidoeurovision bwinuma só vez doses suficientes para todos os brasileiros.

Essa organização evita que as unidades básicaseurovision bwinsaúde fiquem lotadas — ainda mais quando sabemos que a aglomeração é um dos maiores fatoreseurovision bwinrisco para a transmissão da covid-19.

A ordem estabelecida

De modo bastante resumido, a maioria dos países onde a campanhaeurovision bwinvacinação contra a covid-19 já começou usaram três critérios básicos para definir os grupos prioritários:

"No primeiro grupo estão os idosos e os indivíduos com comorbidades, como doenças cardíacas, pulmonares e renais", exemplifica o pediatra Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileiraeurovision bwinImunizações.

Já a segunda turma inclui os profissionaiseurovision bwinsaúde que estão na linhaeurovision bwinfrente do combate à pandemia e outras categorias laborais, como professores, policiais, bombeiros e trabalhadores do setoreurovision bwintransporte e logística.

A terceira inclui populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas, alémeurovision bwinpessoaseurovision bwinsituaçãoeurovision bwinrua e indivíduos privadoseurovision bwinliberdade.

Esses três grupos podem ser subdivididoseurovision bwinuma sérieeurovision bwinoutras categorias mais detalhadas — e é justamente a partir daí que se define a ordemeurovision bwinvacinação.

Vamos analisar o que foi feito no Brasil: a maioria dos Estados e municípios começou a campanhaeurovision bwinimunização pelos trabalhadores da áreaeurovision bwinsaúde, a população indígena e os indivíduoseurovision bwinidade avançada ou com deficiência que morameurovision bwininstituiçõeseurovision bwinlonga permanência.

"Isso foi necessário para reduzir a taxaeurovision bwinóbitos por covid-19 e desafogar minimamente o sistemaeurovision bwinsaúde, permitindo uma maior proteção aos profissionais que atuam nesses ambientes", contextualiza a biotecnologista Larissa Brussa Reis, que integra a Rede Análise Covid-19.

Quando essa primeira turma estava vacinada, o foco mudou para os idosos: primeiro aqueles com maiseurovision bwin90 anos, depois os que tinham entre 85 e 89 anos e assim por diante.

A tendência é que, se tudo der certo, todos os brasileiros com maiseurovision bwin60 anos estejam imunizados entre o finaleurovision bwinabril e inícioeurovision bwinmaio.

Com isso, será possível partir para os próximos contemplados, que devem envolver profissionais da educação, forçaseurovision bwinsegurança e salvamento e portadoreseurovision bwincomorbidades.

Justo ou injusto?

É claro que há uma sérieeurovision bwincontrovérsias nessa fila estabelecida: alguns especialistas chamam a atenção e criticam a não-inclusão prioritária dos trabalhadoreseurovision bwinsetores como transporte público e cadeiaeurovision bwinalimentação.

Eles entendem que os critérioseurovision bwinidade e das comorbidades são injustos e privilegiam as camadas mais abastadas da sociedade.

"A expectativaeurovision bwinvidaeurovision bwinpobres, negros e homens é significativamente menor, portanto os mais idosos são mulheres-brancas-ricas. No entanto, a mortalidade da covid-19 tem sido maioreurovision bwinhomens-pretos-pobres", raciocina o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Universidadeeurovision bwinSão Paulo, numa sérieeurovision bwinpostagens no Twitter.

"A mortalidade por covid-19eurovision bwinhomens-pretos-pobres não é genética ou biológica, mas se deve ao fatoeurovision bwineles trabalharem nos setores essenciais eeurovision bwinmaior risco na sociedade: saúde, segurança, serviços públicos, transportes e rede alimentar", completa.

De acordo com a última atualização do Ministério da Saúde, o Plano Nacionaleurovision bwinOperacionalização da Vacina contra a Covid-19 conta com 29 grupos prioritários, que totalizam 77,2 milhõeseurovision bwinbrasileiros.

Esse planejamento pode ser adaptado e modificado pelos estados e municípios,eurovision bwinacordo com a realidadeeurovision bwincada local.

A ordem importa

Como explicado mais acima, a definição dos grupos prioritários permite proteger justamente aquelas pessoas que, por diversos motivos, correm maior riscoeurovision bwinse infectar com o coronavírus ou desenvolver as formas graves da covid-19.

Numa perspectiva individual, isso é ótimo para os vacinados: os estudos clínicos asseguram que os imunizantes aprovados têm uma ótima capacidadeeurovision bwinprevenir os casos mais sérios da doença, que exigem hospitalização, intubação e podem matar.

Mas do pontoeurovision bwinvista coletivo, a vacinação organizada dos públicos-alvo faz bem para toda a sociedade.

"O objetivo da campanha é justamente diminuir a carga da doença. A partir do momento que avançarmos nos percentuaiseurovision bwinpessoas vacinadas, conseguiremos diminuir o impacto da pandemia", esclarece Cunha.

E não dá pra se esquecer dos benefícios indiretos dessa estratégia: com os grupos prioritários protegidos, a tendência é que a necessidadeeurovision bwinleitoseurovision bwinenfermaria e UTI diminua.

A menor pressão no sistemaeurovision bwinsaúde significa uma situação muito mais tranquila para todos aqueles que precisameurovision bwinum atendimento médico por covid-19, acidenteeurovision bwintrânsito, ataque cardíaco ou qualquer outra condiçãoeurovision bwinsaúde.

Infelizmente, nas últimas semanas, muitos brasileiros morreram à esperaeurovision bwinum tratamento: com os hospitais saturados, não havia condiçõeseurovision bwinprestar socorro a todos os casos que chegaram.

Ainda não é possível ter ideia do tamanho dessa avalanche, mas, ao longo das próximas semanas, meses e anos, os cientistas terão melhores condiçõeseurovision bwinentender e estimar o impacto que a pandemia teve no nosso país.

Menos mortes

Não é exagero dizer que estabelecer e obedecer a ordem dos grupos prioritários tem o potencialeurovision bwinsalvar vidas.

Essa noção ficou mais claraeurovision bwinuma pesquisa feita na Universidade da Califórniaeurovision bwinDavis (EUA) e recém-publicada na revista científica PNAS.

Os cientistas usaram as taxaseurovision bwintransmissão do coronavírus e a alocaçãoeurovision bwindoseseurovision bwinvacinas para estimar uma sérieeurovision bwincenários sobre a evolução da pandemia.

Eles calcularam que, ao seguir alguns critérios na vacinação (como colocar profissionaiseurovision bwinsaúde e idososeurovision bwinprimeiro lugar), o índiceeurovision bwininfecções, mortes e anoseurovision bwinvida perdidos para a covid-19 fica entre 17 e 44% mais baixo na comparação com um cenárioeurovision bwinque não há um fluxograma do tipo.

"Também observamos que nas regiões onde há um aumento nas taxaseurovision bwincontágio e onde as pessoas não usam máscaras ou não mantêm o distanciamento social, a priorização nas vacinas é ainda mais importante para o controle da pandemia", disse o epidemiologista Jack Buckner, um dos autores da pesquisa,eurovision bwincomunicado à imprensa.

Vale mencionar que os cálculos da pesquisa levarameurovision bwinconta a realidade americana, mas é bem possível que o cenário se repita,eurovision bwinmaior ou menor grau,eurovision bwinoutros países.

Os fura-filas

Seguindo o raciocínio, as pessoas que tomam a vacina sem fazer parte dos grupos prioritários neste momento podem até beneficiar a própria saúde, mas estão prejudicando o resto da sociedade.

Para começoeurovision bwinconversa, ao tomarem as duas doseseurovision bwinforma ilegal, elas "roubam" o lugar e a oportunidadeeurovision bwinalguém precisaria se proteger com mais urgência.

E esse indivíduo não vacinado segue por mais tempo com risco altoeurovision bwinpegar o coronavírus e desenvolver as formas graves da infecção.

No contexto amplo, isso significa que a pandemia se prolongará e os hospitais continuarão saturados por mais tempo — o que, como vimos, é ruim para todo mundo.

Segundo as fontes ouvidas pela BBC News Brasil, um cenário negativo desses, que por ora está restrito a alguns desvios e situações pontuais, pode se institucionalizar se um projetoeurovision bwinleieurovision bwindiscussão no Senado Federal for aprovado.

A proposta, que já foi discutida e votada na Câmara dos Deputados, permite que empresas privadas comprem vacinas e apliquem imediatamente metade das doseseurovision bwinseus "empregados, cooperados, associados e outros trabalhadores que lhe prestem serviços".

Detalhe importante: os imunizantes poderiam ser tanto aprovados pela Agência Nacionaleurovision bwinVigilância Sanitária (Anvisa) ou por "qualquer autoridade sanitária estrangeira reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS)".

A nova regra mudaria a leieurovision bwinvigor, que foi sancionada há pouco maiseurovision bwinum mês.

Atualmente, empresas podem até adquirir os imunizantes contra a covid-19, mas eles precisam ter liberação da Anvisa e precisam ser doados integralmente ao SUS até que todos os grupos prioritários sejam contemplados pela campanha nacionaleurovision bwinvacinação.

Só a partir daí os entes privados poderiam usar metade dos lotes que eles compraram (a outra parcela iria direto para a rede pública) e precisam oferecer as doses gratuitamente aos seus colaboradores.

Será que vai pra frente?

De acordo com as últimas manifestações, é bastante improvável que o novo projetoeurovision bwinlei tenha vida fácil no Senado Federal.

Em primeiro lugar, a regra atual foi proposta e elaborada com a contribuição direta do presidente da casa, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Segundo, políticoseurovision bwindiversos partidos e espectros ideológicos já se posicionaram contra a mudança.

Nas redes sociais, o senador Humberto Costa (PT-PE) definiu o projeto como "algo inaceitável, a institucionalizaçãoeurovision bwinum apartheid social".

"Num país onde morrem milhareseurovision bwinpessoas por covid todos os dias, a Câmara tomou uma decisão extremamente grave, equivocada e excludente. O critério principal para a vacinação no país passa a ser o da capacidade financeiraeurovision bwincada um. Quem pode pagar, se vacina. Quem não pode pagar, vai esperar o calendário do SUS. Vamos lutar no Senado para derrotar essa medida abominável", escreveu.

O também senador Eduardo Braga (DEM-AM) classificou a ideia como um "vale tudo" na corrida pela vacina:

"A iniciativa privada deve, sim, se somar aos esforços para a aquisiçãoeurovision bwinvacinas. Mas o objetivo tem que ser o fortalecimento do Programa Nacionaleurovision bwinImunização, até que todos que fazem parte dos grupos prioritários sejam vacinados. Não dá para furar fila ou instituir um 'vale tudo' na corrida pela vacina, onde quem sai ganhando é quem tem dinheiro. O projeto apresentado pelo nosso presidente, senador Rodrigo Pacheco, foi bem claro nesse sentido. Já foi aprovado e já virou lei. Vamos cumpri-la", defendeu o senador no Twitter.

Em terceiro lugar, a possibilidadeeurovision bwinas empresas brasileiras adquirirem os imunizantes no mercado nacional ou internacional é algo difícil até do pontoeurovision bwinvista prático: as principais produtoraseurovision bwinvacinas do mundo já deixaram bem claro que no atual momento só negociarão diretamente com governos.

Portanto, as opçõeseurovision bwincompra ficariam restritas aos produtos não aprovados pela Anvisa ou que estão numa fase preliminar das pesquisas — o que certamente levanta sérias dúvidas sobre a eficácia e a segurança deles.

A perspectiva dos cientistas

Apesar do ritmo lentoeurovision bwinvacinação contra a covid-19 no Brasil,eurovision bwinlinhas gerais os grupos prioritários definidos desde o finaleurovision bwin2020 estão sendo respeitados nas campanhas estaduais e municipais.

Nesse sentido, qualquer iniciativa que desvie o foco e permita mais gente furar essa fila pode ser bastante maléfica aos progressos conquistados.

"Ao comprar vacinas para uso próprio, o setor privado desviaria doses que iriam para o Programa Nacionaleurovision bwinImunizações. No cenárioeurovision bwinescassez que vivemos, é inaceitável que a imunização seja oferecida primeiro para quem tem dinheiro para pagar", protesta Brussa Reis.

Já Cunha entende que é horaeurovision bwinacelerar a campanha e seguir as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde.

"Uma discussão sobre compraeurovision bwinvacinas por empresas privadas não deveria acontecer agora. O Brasil já tem planos para vacinar toda aeurovision bwinpopulação por meio da rede pública".

"E quanto mais rápido terminarmos essa campanha, melhor para todo mundo", completa o médico.

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