'Minha família está morrendocódigo promocional b1betfome na Venezuela': maiscódigo promocional b1bet3 mil indígenas warao buscam vida melhor no Brasil:código promocional b1bet

Crédito, Divulgação Acnur

Legenda da foto, Eulirio Baes, líder warao da Venezuela,código promocional b1betcentrocódigo promocional b1bettriagem que recebe venezuelanos na cidade fronteiriçacódigo promocional b1betPacaraima (RR)

Os primeiros imigrantes warao chegaram ao Brasilcódigo promocional b1bet2014. Mas esse movimento se intensificou a partircódigo promocional b1bet2016, com o agravamento da crise na Venezuela.

Os indígenas deixam seu paíscódigo promocional b1betorigem diante do desabastecimentocódigo promocional b1betitens básicos, da hiperinflação e do aumento da violência, com a açãocódigo promocional b1betgrupos armados nos seus territórios, devido ao avanço da mineração na região do Arco Mineiro do Orinoco.

Em 2014, eram pouco maiscódigo promocional b1bet30 warao no Brasil. No iníciocódigo promocional b1bet2017, já somavam 600 indivíduos. Em março do ano seguinte, o número havia dobrado para 1.200 e,código promocional b1betdezembro do ano passado, a estimativa eracódigo promocional b1bet3.300 indígenas da etnia vivendocódigo promocional b1betterritório nacional.

Para se ter uma ideia da relevânciacódigo promocional b1betuma comunidade indígena desse tamanho, o Brasil somava 252 povos indígenascódigo promocional b1bet2016, segundo levantamento do ISA (Instituto Socioambiental). Desse total, apenas 97 povos tinham mais do que mil pessoas.

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Legenda da foto, Mulheres indígenas warao recebem treinamento para transformar artesanatocódigo promocional b1betrenda

A maioria dos warao que vive no Brasil se sustenta pedindo dinheiro nas ruas. Para eles, essa não é uma prática constrangedora ou indigna, mas uma adaptação ao ambiente urbano das práticascódigo promocional b1betcoleta que realizavamcódigo promocional b1betseus territórios para garantir o sustento da comunidade.

Para tratar dessas e outras particularidades desse novo grupo crescentecódigo promocional b1betimigrantes, e dar subsídios ao poder público para realizar adequadamente a acolhida a eles, a Acnur está lançando nesta quinta-feira (15/4) um amplo estudo sobre a presença warao no Brasil.

No país, além da vulnerabilidade extrema, essa população enfrenta a barreira linguística - no geral, esses imigrantes falam warao como primeiro idioma e espanhol como segundo, desconhecendo o português. Também têm dificuldade para se inserir na economia, devido ao baixo nívelcódigo promocional b1betinstrução escolar e elevado índicecódigo promocional b1betanalfabetismo.

"As barreiras que um refugiado enfrenta duplicam quando se tratacódigo promocional b1betrefugiados indígenas", diz Sebastian Roa, coordenador da resposta indígena venezuelana da Acnur no Brasil.

Um povocódigo promocional b1betdeslocamento, mas não nômade

Os warao são a segunda maior etnia indígena da Venezula, com a população estimadacódigo promocional b1bet49 mil pessoas pelo Censocódigo promocional b1bet2011, atrás apenas da etnia wayuu (Guajiro), a maior do país vizinho, com 413 mil indivíduos.

Na Venezuela, o povo warao vive principalmente no Estadocódigo promocional b1betDelta Amacuro, no Nordeste do país, onde o rio Orinoco deságua no oceano Atlântico, ecódigo promocional b1betpartes dos Estadoscódigo promocional b1betMonagas e Sucre.

Crédito, Divulgação Acnur

Legenda da foto, Localização dos territórios warao na Venezuela

O processocódigo promocional b1betdeslocamento dos warao dentro da Venezuela tem início ainda na décadacódigo promocional b1bet1960, como resultadocódigo promocional b1betum malsucedido projeto desenvolvimentista do governo venezuelanocódigo promocional b1betrepresamentocódigo promocional b1betum dos rios do delta do Orinoco para estímulo à agricultura.

Como resultado da deterioração ambiental causada pelo projeto, muitos warao tiveram seus meioscódigo promocional b1betsubsistência prejudicados e as terras invadidas por agricultores e pecuaristas não indígenas. Com isso, passaram a buscar nas cidades trabalho e recursos paracódigo promocional b1betsobrevivência.

Nos anos 1990, o território warao seria novamente devassado por um projeto petrolífero e por uma grave epidemiacódigo promocional b1betcólera, que mais uma vez estimulou o deslocamento dos indígenas rumo aos centros urbanos,código promocional b1betbuscacódigo promocional b1betatendimentocódigo promocional b1betsaúde.

"Esses deslocamentos passam a ocorrer no século 20 como resultadocódigo promocional b1betdiferentes intervenções no territóriocódigo promocional b1betorigem", observam os pesquisadores, no estudo produzido pela Acnur.

"Trata-secódigo promocional b1betum processocódigo promocional b1betmudança social e cultural decorrentecódigo promocional b1betrelaçõescódigo promocional b1betpoder e dinâmicas políticas e territoriais, que não tem nada a ver com nomadismo", destacam.

No período recente, foi a crise econômica, política e humanitária na Venezuela que incitou novamente o deslocamento dos warao, agora para fora do país.

Até agostocódigo promocional b1bet2020, o Brasil já havia recebido maiscódigo promocional b1bet264 mil venezuelanos, entre refugiados e migrantes. Desse total, cercacódigo promocional b1bet5 mil são indígenas, 65% deles, da etnia warao, segundo dados da agência da ONU.

Por aqui, a presença warao foi primeiro identificadacódigo promocional b1betRoraima, se espalhando nos anos seguintes para Amazonas e Pará.

Em 2020, atravéscódigo promocional b1betseus deslocamentos, esses indígenas já estavam presentescódigo promocional b1bet75 cidades, das cinco regiões brasileiras.

Coletacódigo promocional b1betdinheiro, não mendicância

"Esta cidade, o Brasil, me abraçou bem, mas a situação sempre continua. É muito difícil conseguir trabalho", diz outro indígena warao,código promocional b1bet35 anos.

"A ajuda da prefeitura, a única ajuda, é para pagar o aluguel, com R$ 200 todo mês. Para mim, é pouco. O aluguel está R$ 360. Aí eu saio com as crianças na rua para coletar no sinal", relata.

"Necessitamoscódigo promocional b1betajuda com comida, e para pagar a outra parte do aluguel. Às vezes, não saímos (às ruas), por causa da situação da pandemia. Nós estamos com medocódigo promocional b1betsair todos os dias com crianças. Com quatro crianças, não posso. Já faz quase uma semana que estou sem saircódigo promocional b1betcasa."

Assim como para este paicódigo promocional b1betquatro filhos, pedir dinheiro nas ruas é a principal fontecódigo promocional b1betrecursos para a maioria dos warao que chega ao Brasil.

Segundo levantamentos feitos pela Acnur e pelo MPF (Ministério Público Federal), esta é a ocupação principal entre esses indígenas no Amazonas (34,8%) e no Pará (41,8%). Em seguida, com menos relevância, estão a vendacódigo promocional b1betartesanato, o comércio e o trabalho braçal.

Crédito, Divulgação Acnur

Legenda da foto, Novo abrigo para os warao no Brasil melhora as condiçõescódigo promocional b1betrecepção para refugiados indígenas

"A prática (dos warao)código promocional b1betpedir dinheiro nas ruas ocorrecódigo promocional b1betforma sistemática desde os anos 1990", destacam os pesquisadores da Acnur, lembrando que ela teve início quando parte dessa população se deslocou para as cidades fugindo da epidemiacódigo promocional b1betcólera.

A partir dessa experiência, os warao passaram a adotar a coletacódigo promocional b1betdinheiro nas cidades como uma estratégia frequente, organizando viagenscódigo promocional b1betgruposcódigo promocional b1betmulheres e crianças, quecódigo promocional b1betpoucos dias conseguiam valor suficiente para toda a família passar o mês.

"Pedir dinheiro nas ruas é uma estratégia elaboradacódigo promocional b1betforma autônoma pelos warao para garantircódigo promocional b1betsobrevivência no contexto urbano, sendo entendida como um trabalho, não como mendicância", explica a equipe da Acnur.

"Ela não é compreendida como uma prática depreciativa, constrangedora ou indigna, assim como, quando estãocódigo promocional b1betsuas comunidades, não é indigno adentrar as matascódigo promocional b1betbuscacódigo promocional b1betfrutas, mel e pequenos animais."

Entre os warao que vivem no Brasil, a coleta também tem outra função fundamental: ajudar os parentes que ficaram na Venezuela.

"Nós, venezuelanos, não viemos todos juntos, parte da família ficou nos caños, nas comunidades", conta um waraocódigo promocional b1bet24 anos, vivendocódigo promocional b1betJoão Pessoa, na Paraíba.

"Ficaram, mas se acabou todo o material para trabalhar na agricultura, para plantar ocumo chino (vegetal semelhante ao inhame), banana, macaxeira... Minha família que vive nos canõs tem sofrido muita fome e também não tem os materiais para trabalhar. Então, eles dizem: 'Vocês que estão no Brasil precisam nos ajudar'."

"Por isso é que estamos trabalhando nas ruas, pedindo dinheiro junto com as crianças. Nós temos que trabalhar para ajudá-los."

A presença das crianças na coletacódigo promocional b1betdinheiro nas ruas é frequentemente motivocódigo promocional b1betatritos entre os warao e as autoridades brasileiras, que pensam a infância sob a lógica do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

"Isso precisa ser vistocódigo promocional b1betuma perspectiva diferenciada quando se tratacódigo promocional b1betpopulações indígenas", afirma Sebastian Roa, da Acnur. "É preciso entender o contexto histórico e pensar estratégias interculturais. É preciso considerar que as mães dessas crianças estão indo para as ruas porque não têm acesso a uma sériecódigo promocional b1betserviços, ao trabalho, têm desafios com a língua."

"Se já é difícil ser refugiado, imagine ser um refugiado indígena, por isso é preciso pensarcódigo promocional b1betestratégias holísticas e intersetoriais."

Os warao e a pandemia

O fechamento das fronteiras entre Brasil e Venezuela, devido à pandemia do coronavírus, reduziu o fluxo migratório dos warao para o Brasil no período mais recente, afirma Luiz Fernando Godinho, porta-voz da Acnur no Brasil.

Com a crise sanitária, também houve uma redução na velocidadecódigo promocional b1betanálise dos processoscódigo promocional b1betconcessãocódigo promocional b1betrefúgio oucódigo promocional b1betresidência temporária pelas autoridades brasileiras, relata o representante. Mas, segundo ele, isso foi normalizado ao longo do tempo.

Crédito, Divulgação Acnur

Legenda da foto, Novo abrigo para os warao no Brasil melhora as condiçõescódigo promocional b1betrecepção para refugiados indígenas

Desde junhocódigo promocional b1bet2019, o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados) considera que a Venezuela se encontracódigo promocional b1bet"situaçãocódigo promocional b1betgrave e generalizada violaçãocódigo promocional b1betdireitos humanos", o que permite o reconhecimento como refugiadoscódigo promocional b1betpessoas que deixam o país devido à crise política, econômica e social.

Com isso, o Brasil se tornou o país da América Latina com maior númeroscódigo promocional b1betvenezuelanos com statuscódigo promocional b1betrefugiados, totalizando cercacódigo promocional b1bet46 mil pessoascódigo promocional b1betdezembrocódigo promocional b1bet2020.

Em fevereiro deste ano, maiscódigo promocional b1bet600 indígenas venezuelanos tinham o statuscódigo promocional b1betrefugiados no país, outros 1,9 mil viviam como residentes temporários e 2,9 mil aguardavam resposta ao pedidocódigo promocional b1betrefúgio.

Na pandemia, também foi um desafio equilibrar as práticascódigo promocional b1betsaúde tradicional da cultura warao, com o tratamento biomédico.

"Quando um indígena adoece, o protocolo médico warao estabelece que o primeiro diagnóstico deve partircódigo promocional b1betumcódigo promocional b1betseus xamãs; o paciente só pode ser encaminhado para o tratamento biomédico apóscódigo promocional b1betliberação", explica a equipe da Acnur.

"A percepção deles sobre a saúde é completamente diferente", observa Godinho. "Teve situaçãocódigo promocional b1betManaus, por exemplo,código promocional b1betque o xamã teve que fazer uma benzedura para o paciente entrar na clínica e ser tratado para covid", lembra o porta-voz da Acnur.

Entre janeirocódigo promocional b1bet2017 e dezembrocódigo promocional b1bet2020, foram registradas 102 mortes entre os warao no Brasil, 21 delas causadas por pneumonia, nove por tuberculose e oito por covid-19 - as doenças do trato respiratório sempre foram a maior fragilidadecódigo promocional b1betsaúde dessa comunidade, mesmo antes da pandemia.

Como as demais populações vulneráveis do Brasil, os warao tiveramcódigo promocional b1bet2020 direito a receber o auxílio emergencialcódigo promocional b1betR$ 600 a R$ 1.200. Muitos deles enfrentaram empecilhos para isso, devido à faltacódigo promocional b1betdocumentos, dificuldades com a língua e pouca familiaridade com a internet.

Mas, vencidas essas barreiras iniciais, o auxílio teve um efeito substancial para essa população, que no geral vive com a baixíssima renda obtida pela coleta nas ruas.

"O auxílio gerou autonomia. Em Manaus, por exemplo, muitos indígenas deixaram os abrigos e começaram a alugar seus próprios espaços", conta o coordenador da área indígena da Acnur.

A ajuda emergencial também permitiu aos warao enviar recursos mais substanciais para os parentes na Venezuela, alémcódigo promocional b1betsatisfazer suas necessidades básicas no Brasil.

Agora, destaca Sebastian Rao, o principal desafio é a inclusão dessa comunidade nas estratégias locaiscódigo promocional b1betvacinação.

"Há vários Estados que estão vacinando a populaçãocódigo promocional b1betárea urbana e os warao entram nesse fluxo", diz Rao. "Isso é muito positivo, porque é um reconhecimentocódigo promocional b1betque não é só porque um indígena écódigo promocional b1betoutra nacionalidade, que ele não é indígena. Os indígenas warao têm os mesmo direitos que os indígenas brasileiros."

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