‘Pressão da UTI tem feito meus médicos e enfermeiros pedirem demissão’:aposta na desportiva
"Nunca vimos antes tanto burnout, tanta síndrome do pânico, tantos afastamentos laborais, tantas férias como agora nesse último ano. Os profissionais estão desgastados, não se sentem valorizados pela políticaaposta na desportivasaúde", diz ele.
A médiaaposta na desportivaplantões por mês entre os médicos da UTI subiuaposta na desportiva4,6 para 7,9 e o absenteísmo médico (percentual dos plantões feitos por coberturas, e não pelo profissional oficialmente na escala) saltouaposta na desportiva2,5% para 16%.
Nunes trabalha há 8 anos no hospital. Nunca membros da equipe pediram para sair tanto quanto agora. E não apenas médicos, mas também enfermeiros e técnicosaposta na desportivaenfermagem, queaposta na desportivageral têm uma remuneração mais baixa, têm preferido ficar algum tempo sem trabalhar do que voltar para o que tem sido o dia a dia da UTI.
Entre a equipe médica foram 41 desligamentos nesse período. Dos 115 que hoje fazem parte do grupo, 39 estão ali há um ano ou menos.
O númeroaposta na desportivaprofissionais por ala segue os parâmetros estipulados pela vigilância sanitária, mas antes havia mais enfermeiros "e, a depender, até mais médicos" para cada grupoaposta na desportivapacientes.
De um ano para cá, o númeroaposta na desportivaleitos quase dobrou: eram 73 camasaposta na desportivaunidades críticas, hoje são 168, entre unidades críticas e semi-críticas, 130 apenas para covid.
"E todas as vezes que a gente começa a atender mais doentes, a abrir mais leitos, a gente se pergunta se vai ter condiçõesaposta na desportivacuidar desses pacientes", diz ele, referindo-se não apenas aos profissionaisaposta na desportivasaúde, mas também à estrutura e materiais necessários para atender os casos graves.
Não chegaram a faltar medicamentos e oxigênio, mas esse foi um risco concreto algumas semanas atrás, antesaposta na desportivaas medidasaposta na desportivarestrição implementadas no Estado reduzirem a demanda por atendimento.
"Isso bateu na nossa porta, sim, o que gerou bastante ansiedade do pontoaposta na desportivavista do cuidado da saúde."
Por ser um hospitalaposta na desportivaalta complexidade, o Santa Marcelina atende especialmente pacientes graves, que demoram até apresentar alguma melhora. Hoje, cercaaposta na desportiva80% estão intubados. Com a pandemia atingindo pessoas cada vez mais jovens, a idade média dos pacientes caiuaposta na desportiva68 para 54 anos.
Além dos pulmões, a doença ataca diversas outras áreas do corpo. Muitos apresentam falência renal e precisamaposta na desportivahemodiálise. Há casosaposta na desportivatrombolismo pulmonar eaposta na desportivatromboses periféricas, como acidente vascular cerebral.
O acometimento do sistema nervoso central faz com que,aposta na desportivaforma geral, os pacientes fiquem mais tempo sedados, "o que faz com que o despertar deles da ventilação mecânica seja muito agitado".
Os mais jovens passam mais tempo no hospital e, com a internação mais longa, vêm uma sérieaposta na desportivaoutros problemas, como as infecções.
"É muito falso uma pessoa imaginar que um profissionalaposta na desportivasaúde que foi formado para isso se habitua a esse tipoaposta na desportivaocorrência. Ver um paciente falecer, isso não é agradável para ninguémaposta na desportivamomento algum da nossa história profissional - e a letalidade é mais alta entre os pacientesaposta na desportivacovid", afirma.
"A gente vê pacientes jovens hoje com agravos sistêmicos por muito tempo, eaposta na desportivaalgum momento a gente precisa sentar e rever onde é que a gente está naquele tratamento. Mas até onde vai a nossa atuação? A partiraposta na desportivadado momento, o sofrimento é grande demais - e quando a gente decide isso? Essa é uma pergunta pra qual a gente não tem resposta, mas com que nos deparamos todos os dias."
Os médicos intensivistas passam por quatro anosaposta na desportivaformação depois da faculdade. São treinados para tomar decisões difíceis e trabalhar sob pressão. Mas muitas das cenas produzidas pela pandemia serão difíceisaposta na desportivaapagar da memória.
Para Nunes, uma delas é do ano passado, o momentoaposta na desportivaque os médicos tiveram que passar a atender os familiaresaposta na desportivapacientes no estacionamento, dado o número elevadoaposta na desportivadoentes e a probabilidade altaaposta na desportivacontaminação.
"Eu olhei pela janela e vi os residentes, os médicos assistentes conversando com centenasaposta na desportivafamiliares no estacionamento", recorda.
"Aí você imagina: como que o governante, como que as pessoas responsáveis pela políticaaposta na desportivasaúde não são sensíveis àquilo? Familiares sendo acolhidos no estacionamento. Os profissionais que acabaramaposta na desportivase desparamentar, vendo [logo antes] pacientes graves que vão falecer. Pessoas chorando no estacionamento, fora do hospital. Isso não pode ser tido como normal."
"Esse dia realmente me perguntei: o que será desse sistema? O que vai acontecer? Nós estamos tentando fazer o melhor. A gente entende que o hospital está tentando fazer o melhor. Os governantes... espero que estejam tentando fazer o melhor. Mas a políticaaposta na desportivasaúde não inclui essas pessoas? Nossa clientela é humilde. Essas pessoas humildes estavam num estacionamento conversando com os médicos. Centenasaposta na desportivapessoas. O que está acontecendo? Isso não pode ser normal. Eu não acho que um ano depois eu tenha recolhido os meus cacos do que eu vi."
De um ano para cá, o ambienteaposta na desportivatrabalho tem se tornado cada vez mais silencioso.
"O início da pandemia foi marcado por muita conversa", diz ele.
"A rotinaaposta na desportivatrabalho deles mudou abruptamente, o perfil do doente mudou, era uma doença nova, que não sabíamos como tratar. Isso causava muito pânico no profissionalaposta na desportivasaúde."
Com o tempo, a preocupação e o medo foram dando espaço para o cansaço e o estresse.
"Isso gera hoje um ambiente muito mais tenso. Por mais que os profissionais tentem conversar e se apoiar, eles estão muito cansados."
Com a piora da situação e a marcaaposta na desportiva4 mil mortes por dia, "é muito difícil fazer com que aqueles profissionais não se sintam tristes e deprimidos com o que está acontecendo".
Especialmente por sentirem que a tragédia poderia ter sido evitada.
"Existem duas formasaposta na desportivaa gente resolver isso: o distanciamento social e o usoaposta na desportivamáscarasaposta na desportivaum lado e a vacina do outro. A gente teve uma políticaaposta na desportivasaúde que não fez isso, não planejou isso há um ano. Tudo bem, não evitaria todas as mortes, eu entendo isso. Mas poderia ser muito menos", diz o médico.
"Não tem lógica. Agora a gente está pagando caro por isso com vidas."
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