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Covid-19: ‘Dói demais ver as crianças morrendo sem poder ver os pais’, diz pediatraaposta jogos brasileiraoUTI:aposta jogos brasileirao
"A interação com a criança estandoaposta jogos brasileiraomáscara e paramentada é algo que gera sofrimento na gente. Na nossa unidade, a gente não tem permitido a presença dos familiares, como se permitia antes, pelo riscoaposta jogos brasileiraocontaminação, porque a gente não tem EPI (equipamentoaposta jogos brasileiraoproteção individual) suficiente para disponibilizar para os pais", contou Cinara Carneiro à BBC News Brasil.
Ela relata que, às vezes, o paciente chega consciente à UTI, mas piora, é intubado e acaba morrendo sem que os pais possam acompanharaposta jogos brasileiraoperto esse processo.
Casos gravesaposta jogos brasileiraocovid-19aposta jogos brasileiraocrianças são raros e, segundo a pediatra, a maioria das que acabam precisandoaposta jogos brasileiraointernação na UTI se recupera. Mas pacientes com problemas crônicosaposta jogos brasileiraosaúde e comorbidades correm mais risco. E, ainda que seja minoria, há casosaposta jogos brasileiraomorte por covid-19aposta jogos brasileiraocrianças que não se enquadram nesse perfil.
"Dói ver uma criança morrendo sem ver os pais. Fica muita coisa não trabalhada no luto desses familiares,aposta jogos brasileiraonão ter visto,aposta jogos brasileiraonão ter acompanhadoaposta jogos brasileiraoperto fisicamente a piora. Por mais que a gente tente explicar por telefone, muita coisa não está sendo vista e vivida", diz.
"Quanta fantasia não fica? Quanta coisa imaginada e não vivida fica? Só o tempo é que vai, depois, trazer essas feridas".
'Não quero que minha mãe sofra'
Na ausência dos familiares, fica para os profissionaisaposta jogos brasileiraosaúde a responsabilidadeaposta jogos brasileiraoacalmar e acolher os pequenos pacientes diante do medo e das dores físicas.
"Os meninos que estão conscientes enxergam o que está acontecendo com os pacientes mais graves, porque é uma unidade aberta. Então, deve ser muito chocante e dar uma confusão na cabeça deles ver isso. A gente tenta acolher, suprir na medida do possível a falta dos pais", diz a pediatra Jessica Lira, que também trabalha na UTI do Hospital Infantil Albert Sabin.
Um dos momentos mais sensíveis da internaçãoaposta jogos brasileiraoum pacienteaposta jogos brasileiraocovid é a intubação. Uma conversa com um adolescenteaposta jogos brasileirao14 anos, momentos antesaposta jogos brasileiraoele ser sedado, ficou gravada na memóriaaposta jogos brasileiraoCinara Carneiro.
Enquanto o nívelaposta jogos brasileiraosaturação caia, ele não paravaaposta jogos brasileiraorepetir: "Não quero que minha mãe sofra, não quero que minha mãe sofra".
"Eu falei: 'você está precisandoaposta jogos brasileiraoajuda para respirar. Eu vou tentar te ajudar nesse momento, mas você vai receber medicação para dormir, para não sentir dor. E a gente vai estar aqui conversando quando você acordar'", relata a pediatra.
Mas o menino, que não tinha nenhuma comorbidade quando se infectou pelo coronavírus, nunca mais acordou.
"Eu tenho muito medoaposta jogos brasileiraofazer promessas que eu não possa cumprir. Nesse dia, eu senti muito medoaposta jogos brasileiraoele não ficar bem. E ele não ficou bem. E perder uma criança que tinha tudo para ficar bemaposta jogos brasileiraooutros contextos é muito difícil."
Depoisaposta jogos brasileiraover o paciente morrer, Cinara Carneiro tinha outra missão difícil pela frente: dar a notícia para aquela mãe que o menino tanto temia fazer sofrer.
"Eu consegui conversar com essa mãe pessoalmente, numa sala apropriada aqui no hospital. É muito sofrimento porque a covid traz muita culpa. Os pais se perguntam: 'Será que foi eu quem trouxe o vírus para a casa?' Nessa família existia muito esse questionamento: 'Como ele pegou?'", conta.
Fresca na memória da pediatra intensivista Jessica Lira está a conversa com os paisaposta jogos brasileiraooutra criança que, assim como o adolescenteaposta jogos brasileirao14 anos, não tinha doença prévia alguma e morreu após contrair covid-19.
A menina tinha 2 anos e desenvolveu encefalite, uma inflamação no cérebro que parece ter sido impulsionada pela contaminação pelo coronavírus.
"Ela teve morte encefálica. A conversa foi difícil, os pais estavam com muito sentimentoaposta jogos brasileiraorevolta, tinham muita dificuldadeaposta jogos brasileiraoentender como que evoluiu para isso. Não sabiam que a covid podia levar a um quadro como esse", relata Jessica.
Uma das consequências raras, porém possíveis da covid-19aposta jogos brasileiraocrianças, é o desenvolvimento da chamada síndrome inflamatória multissistêmica, que pode comprometer o cérebro, causando encefalite, ou órgãos importantes como coração e rins.
No Reino Unido, 1 a cada 5 mil crianças que se infectaram com coronavírus desenvolveram essa reação do sistema imunológico, segundo dados do governo britânico.
Os sintomas, que incluem febre alta, pressão sanguínea baixa e dores abdominais, costumam aparecer cercaaposta jogos brasileiraoum mês depois do contato com o coronavírus.
A grande maioria das crianças que se infectam pelo coronavírus não desenvolve esse processo inflamatório ou se recupera com tratamento. Masaposta jogos brasileiraoalguns casos, a síndrome pode evoluir para um quadro grave.
"O que me emociona mais no dia a diaaposta jogos brasileiraotrabalho é falar com os pais dos pacientes, você sente o sofrimento na voz deles. Eles não estão vendo os filhos, e a gente tendo que explicar, à distância, que a criança corre riscoaposta jogos brasileiraomorrer. Isso é muito sofrido", completa a médica.
Sem poder tocar no corpo
Somado ao sofrimentoaposta jogos brasileiraonão poder acompanhar o filho no hospital, os pais não podem tocar no corpo da criança que morreu por covid-19.
Isso porque, como medida importanteaposta jogos brasileiraocontrole da infecção, os corposaposta jogos brasileiraopessoas que morrem após contrair o vírus precisam passar por todo um tratamento e são entregues embalados, para impedir a propagação do vírus.
"O corpo tem que ser entregue num saquinho, por causa do riscoaposta jogos brasileiraocontaminação. Então, essa mãe não pega mais nessa pele", descreve Cinara Carneiro.
A pediatra diz que, desde o início da pandemia, passou a sofrer ainda mais com a morte dos pacientes, porque, além do luto pela perda, ela presencia diariamente as limitações que impedem que pais e crianças se despeçamaposta jogos brasileiraovida e até depois da morte.
"Não bastasse você perder um ente querido, você não pode tocar nele da forma como tocaria antes. A quantidadeaposta jogos brasileiraosofrimento que existe ao redor disso tudo é difícil. A gente é treinado para cuidar, alémaposta jogos brasileiraocurar. E a gente não está podendo cuidar como antes", diz.
"Se eu não posso entregar o corpo da criança a uma família, para ela tocar e se despedir, eu não estou conseguindo cuidar 100%. Então, a gente tem sofrido muito com isso."
Vaquinha para tablets para chamadaaposta jogos brasileiraovídeo
Num esforço para minimizar o sofrimentoaposta jogos brasileiraopais e crianças, médicos e enfermeiros do Hospital Albert Sabin fizeram uma vaquinha entre eles para comprar tablets.
Conseguiram equipar todas as unidadesaposta jogos brasileiraointernação com um aparelho, e os pequenos pacientes ganharamaposta jogos brasileiraopresente poder ver os pais por meioaposta jogos brasileiraochamadasaposta jogos brasileiraovídeo.
Segundo Cinara Carneiro, isso trouxe alegria a pais e crianças,aposta jogos brasileiraomeio a todas as dificuldades. "A gente fez maisaposta jogos brasileiraocem video-chamadas entre familiares e pacientes. Esse contato da criança com os pais por vídeo diminuiu bastante o estresse."
O equipamento também ajuda a trazer acolhimento para as crianças num dos momentos mais sensíveis, mas também felizes do processoaposta jogos brasileiraorecuperação da doença: a hora da retirada da intubação e dos sedativos.
"Muitas vezes a criança pergunta pelos pais quando acorda. A gente tenta levar o tablet e fazer vídeo-chamada com o familiar e explicar para a criança porque ela está sozinha naquele momento na UTI", diz Cinara Carneiro.
A pediatra diz que, nesse momento, a presençaaposta jogos brasileiraopsicólogos que atuam na UTI também tem sido fundamental.
"Eles nos ajudam muito nesse trabalhoaposta jogos brasileiraolevar outras ferramentasaposta jogos brasileiraocuidado além do olharaposta jogos brasileiraomédico. Quando a criança acorda, alémaposta jogos brasileiraousar o tablet, a gente tenta levar um lápisaposta jogos brasileiraocor, um papel, algo para colorir."
Alta virou momentoaposta jogos brasileiraofesta
Se a perdaaposta jogos brasileiraouma paciente gera enorme sofrimento, a alegriaaposta jogos brasileiraover a recuperaçãoaposta jogos brasileiraouma criança que já esteveaposta jogos brasileiraoestado grave é o principal combustível para continuar trabalhando, diz Cinara.
"O momento da alta já era festejado antes, mas agora a gente tem festejado dez vezes mais. A gente coloca balão na beira do berço quando está dando alta, porque a gente está entregando finalmente a criança ao familiar. É um momento muito feliz para o profissionalaposta jogos brasileiraosaúde."
Jessica Lira conta do bate-papo que teve com um adolescente que se recuperou da covid-19 depoisaposta jogos brasileiraoficar dias intubados.
"Eu perguntei: 'Você andou saindoaposta jogos brasileiraocasa, né?' Ele respondeu: 'Doutora, você acredita que eu fui o único que não saí da família e eu que fiquei doente? Eles trouxeram a doença para casa'", conta.
Realmente,aposta jogos brasileiraomuitos casos quem acaba transmitindo o vírus para as crianças são os familiares, já que as escolas permaneceram fechadas durante quase todo esse períodoaposta jogos brasileiraopandemia.
Cinara Carneiro diz que observou aumentosaposta jogos brasileiraointernações nos períodos que se seguiram ao Ano Novo e ao Carnaval. E faz um apelo:
"A gente não sabe o impacto que a covid poderá ter sobre uma criança. Sabemos que existe a síndrome inflamatória sistêmica, condição grave associada à covid. Quem vai ter? A gente não sabe. Como prevenir isso? Diminuir a chanceaposta jogos brasileiraocontágio, evitar aglomerações, esperar a vacina. Temos que cuidar dos nossos pequenos."
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