Tratamento precoce | 'Kit covid é kit ilusão': os dados que apontam riscos e faltabanco pokereficácia do suposto tratamento:banco poker

Ao longo dos últimos meses, diversas entidades nacionais e internacionais se posicionaram contra o coquetelbanco pokermedicamentos promovido pelo governo Bolsonaro, que inclui a hidroxicloroquina, a azitromicina, a ivermectina e a nitazoxanida, além dos suplementosbanco pokerzinco e das vitaminas C e D.

Atualmente, esse mix farmacológico não é reconhecido ou chega a ser contra-indicado por entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Centrobanco pokerControle e Prevençãobanco pokerDoenças dos Estados Unidos e da Europa, a Agência Nacionalbanco pokerVigilância Sanitária (Anvisa) e a Sociedade Brasileirabanco pokerInfectologia (SBI).

Mas antesbanco pokerentrar nos detalhes sobre como tantas instituições chegaram a essa conclusãobanco pokerque esses remédios não são eficazes ebanco pokerque não existe tratamento precoce que funcione contra a covid-19, é importante explicar como surge um novo remédio contra determinada doença e como esse processo pode ser acelerado durante uma pandemia.

Da bancada do laboratório à prateleira da farmácia

Geralmente, a descobertabanco pokerum novo tratamento se inicia com a pesquisa básica. Um grupobanco pokercientistas começa a estudar uma molécula para entender suas características e seus potenciaisbanco pokeruso.

Essa substância, então, é testada num pequeno conjuntobanco pokercélulas na bancada do laboratório. O objetivo aqui é entender se as coisas funcionam como o esperado e se aquele composto tem alguma ação interessante dentrobanco pokerum sistema biológico simples.

Se tudo der certo, a próxima etapa inclui testes com cobaias. A nova molécula é administradabanco pokercamundongos, macacos e outros animais que apresentam algumas características semelhantes ao que ocorre no corpo humano.

Caso a candidata apresente bons resultados, ela passa para a nova etapa: os testes clínicos. Esses estudos são divididosbanco pokertrês fases, envolvem centenas ou até milharesbanco pokerseres humanos e têm como objetivo final garantir a segurança e a eficácia daquela nova formulação.

O teste clínicobanco pokerfase 3 costuma ser o mais rígido e amplobanco pokertodos. Para comprovar que aquele novo medicamento é realmente bom, os cientistas dividem os voluntáriosbanco pokerpelo menos dois grupos.

O primeiro deles toma doses do remédiobanco pokerverdade. Já o segundo vai receber uma substância placebo (sem nenhum efeito no organismo) ou o melhor tratamento existente até aquele momento contra a doença que o novo candidato a farmáco promete combater.

O ideal é que nem os cientistas, muito menos os participantes do estudo, saibam quem integra qual grupo. Isso evita vieses ou o chamado efeito placebo, quando a pessoa se sente melhor por acreditar que foi tratada, mesmo quando recebeu um comprimidobanco pokerfarinha.

O que acabamosbanco pokerdescrever aqui é um estudo randomizado (os voluntários são sorteados para entrarbanco pokerum esquema terapêutico ou no outro), duplo cego (os participantes e os cientistas não fazem ideiabanco pokerquem recebeu o quê) e controlado (uma parte do grupo tomou placebo ou a melhor terapia disponível até então). É considerado o padrão-ouro das pesquisas.

Depoisbanco pokertodo esse rito, os resultados dos dois grupos são comparados. O esperado é que a turma sorteada para tomar o candidato à medicamento esteja melhorbanco pokerrelação a quem fez parte do grupo placebo. Também é essencial que a nova molécula não provoque efeitos colaterais graves demais.

Os relatosbanco pokertodo esse esforço são então publicados num jornal científico, onde eles passam por uma revisãobanco pokerespecialistas independentes e, caso sejam aprovados, poderão ser lidos, contestados e repetidos por outros gruposbanco pokerpesquisabanco pokerqualquer lugar do mundo.

Se os resultados forem bons, os donos daquele novo produto entram com um pedidobanco pokeraprovação nas agências regulatórias, como a Anvisa no Brasil e o FDA nos Estados Unidos. Se essas entidades estiverembanco pokeracordo com o que foi apresentado, elas liberam o uso do novo medicamento no país.

Para você ter ideia como esse processo é complicado e criterioso,banco pokercada 5.000 moléculas testadasbanco pokercélulas e cobaias, apenas uma consegue passar por todas as etapas e chegar às farmácias e aos hospitais. Esse processo dura,banco pokergeral, 12 anos e exige um investimentobanco pokerUS$ 2,6 bilhões.

Dá pra acelerar esse processo?

É claro que, durante uma pandemia que ceifa milharesbanco pokervidas todos os dias, torna-se impraticável esperar maisbanco pokeruma década para encontrar uma solução.

Uma estratégia que permite agilizar as coisas é o chamado reposicionamentobanco pokerfármacos. Em resumo, os cientistas começam a avaliar um montebanco pokerremédios já disponíveis para tratar outras doenças. Quem sabe eles também não podem ajudar num contexto diferente?

"É possível pegar vários medicamentos aprovados e utilizar uma plataforma automatizada para fazer testes com culturasbanco pokercélulas. Assim já se descartam aquelas que não mostraram efeito algum e se delimita um grupobanco pokermoléculas que apresentam algum potencial", explica o microbiologista Luiz Almeida, coordenadorbanco pokerprojetos educacionais do Instituto Questãobanco pokerCiência.

Esse processo funciona como uma peneira: o objetivo é descartar o material que não tem serventia e selecionar, mesmo que grosseiramente, aqueles que podem ajudarbanco pokeralguma maneira.

O reposicionamento traz algumas vantagens. O principal deles é o fatobanco pokertrabalhar com produtos que já estão aprovados pelas agências regulatórias e, portanto, já se mostraram relativamente seguros à saúde humana.

Importante mencionar que, para comprovar o seu valor diantebanco pokerqualquer enfermidade, os remédios (mesmo os reposicionados) precisam passar por aqueles estudos randomizados, duplo cegos e controlados que explicamos um pouco acima.

E isso tudo aconteceu com intensidade a partirbanco pokerfevereiro e marçobanco poker2020: quando diversos especialistas notaram a gravidade da covid-19, houve uma verdadeira corrida para conferir se algum produto farmacêutico já aprovado poderia servir como solução.

Foi assim que hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e tantas outras candidatas entraram na história da pandemiabanco pokercovid-19.

Hidroxicloroquina, uma droga apadrinhada por Trump e Bolsonaro

O potencial da hidroxicloroquina contra a covid-19 começou a ser explorado a partirbanco pokerum pequeno trabalho publicado na China. Mas ela só ganhou as manchetes com a publicaçãobanco pokerum estudo feito pelo médico francês Didier Raoult e porbanco pokerequipe.

Divulgadabanco pokermarçobanco poker2020, a pesquisa envolvia 36 pacientes e afirmava que o remédio, usado no tratamentobanco pokerdoenças como malária, lúpus e artrite reumatoide, era capazbanco pokerdiminuir a cargabanco pokercoronavírus no organismo.

E mais:banco pokeracordo com as conclusões do experimento, esses benefícios eram ainda maiores se a azitromicina (um antibiótico) fosse administradabanco pokerconjunto.

Apesar da esperança inicial, os cientistas rapidamente começaram a notar que havia algo muito estranho nessa história. "A publicação do artigo foi muito criticada, pois estava cheiabanco pokererros metodológicos e coisas sem explicação", relembra o médico Jose Gallucci-Neto, do Institutobanco pokerPsiquiatria do Hospital das Clínicasbanco pokerSão Paulo.

Em setembro, Raoult foi denunciado pela Sociedadebanco pokerPatologia Infecciosabanco pokerLíngua Francesa (SPILF) por "promoção indevidabanco pokermedicamento". Agorabanco pokerjaneiro, o médico admitiu numa carta ter excluído alguns voluntários do resultado da pesquisa.

"Ao avaliar esses dados completos, com esses participantes que ficarambanco pokerfora do artigo original, o resultado da hidroxicloroquina é negativo e não houve reduçãobanco pokermortalidade, necessidadebanco pokerUTI ou oxigenação", completa Gallucci-Neto.

Mesmo com essas suspeitas iniciais e as correções posteriores, o estrago já estava feito. Ainda no primeiro semestrebanco poker2020, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, bancou a ideiabanco pokerRaoult. O então presidente escreveu que a hidroxicloroquina "deveria ser colocadabanco pokeruso imediatamente, pois pessoas estão morrendo".

As convicçõesbanco pokerTrump encontraram ressonânciabanco pokeroutro ponto do continente americano, mais especificamente no Brasil. O presidente Jair Bolsonaro também fez ampla defesa do uso da hidroxicloroquina contra a covid-19.

No dia 21banco pokermarço, ele publicou um vídeo no Twitter intitulado "Hospital Albert Einstein e a possível cura dos pacientes com o covid-19",banco pokerque anuncia que o laboratório químico e farmacêutico do Exército Brasileiro iria ampliar a fabricação desse medicamento.

Ao longo dos meses, não faltaram demonstraçõesbanco pokerapoio à hidroxicloroquina. Bolsonaro levou o fármaco a tiracolobanco pokerdiversos vídeos e transmissões ao vivo.

A hidroxicloroquina também foi um dos motivos centrais da quedabanco pokerdois ministros da Saúde. Os médicos Luiz Henrique Mandetta (que dirigiu o ministério entre 1ºbanco pokerjaneirobanco poker2019 a 16banco pokerabrilbanco poker2020) e Nelson Teich (que liderou a pastabanco poker17banco pokerabril a 15banco pokermaiobanco poker2020) saíram após pressões e discordâncias sobre o uso amplo desse medicamento para combater a pandemia no país.

Mas o que diz a ciência sobre a hidroxicloroquina?

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil entendem que era até compreensível usar a hidroxicloroquina nos momentos iniciais da pandemia,banco pokermeadosbanco pokermarço, abril e maiobanco poker2020 — afinal, os médicos estavam tateando no escuro e lidavam com uma doença sobre a qual não havia experiência nenhuma.

A partirbanco pokerjunho e julho, porém, começaram a ser publicados estudos mais robustos a respeito do tema. Eles mostravam que esse remédio realmente não funcionavabanco pokerqualquer estágio da doença, seja antes do início dos sintomas, seja no leitobanco pokeruma UTI.

"Atualmente, temos uma enorme quantidadebanco pokerevidências mostrando que a hidroxicloroquina não é efetiva como tratamento da doença nos quadros graves, nos leves ou como profilaxia, para impedir que o vírus invada nossas células", afirma a pneumologista brasileira Letícia Kawano-Dourado, que faz parte do painel da Organização Mundial da Saúde (OMS) que desenvolve diretrizesbanco pokertratamento contra a covid-19.

Nos últimos meses, vários estudos foram publicados a respeito do tema. Um dos mais importante deles foi feito no Reino Unido e é conhecido como Recovery Trial. Numa análisebanco pokermaisbanco poker4.500 pacientes hospitalizados, o usobanco pokerhidroxicloroquina e azitromicina não trouxe benefício algum.

O mesmo resultado foi observado na pesquisa da Coalizão Covid-19 Brasil, com cercabanco poker500 voluntários brasileiros com a infecção pelo coronavírusbanco pokerestágios leves ou moderados. Mais uma vez, a duplabanco pokerfármacos não mostrou o efeito desejado.

Além disso, os tratamentos testados foram associados a efeitos adversos mais frequentes, principalmente aumento do chamado intervalo QT, um sinalbanco pokermaior risco para arritmia detectado por eletrocardiograma; e aumentobanco pokerenzimas TGO/TGP no sangue, alteração que pode indicar lesão no fígado.

Segundo documento da Sociedade Brasileirabanco pokerInfectologia, outros efeitos adversos são retinopatias, hipoglicemia grave e toxidade cardíaca. Por isso, é "exigido contínuo monitoramento médico dos indivíduosbanco pokeruso da cloroquina ou hidroxicloroquina". E outros efeitos colaterais possíveis são diarreia, náusea, mudançasbanco pokerhumor e feridas na pele.

Numa nota informativa publicadabanco pokerseu site, a Organização Pan-Americanabanco pokerSaúde (Opas) também orienta sobre ineficácia do uso desse esquema terapêutico: 

"As evidências disponíveis sobre benefícios do usobanco pokercloroquina ou hidroxicloroquina são insuficientes, a maioria das pesquisas até agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos colaterais do medicamento. Por isso, enquanto não haja evidências científicasbanco pokermelhor qualidade sobre a eficácia e segurança desses medicamentos, a Opas recomenda que eles sejam usados apenas no contextobanco pokerestudos devidamente registrados, aprovados e eticamente aceitáveis."

Kawano-Dourado conta que o uso do fármaco contra o coronavírus é um assunto superado na maioria dos lugares. "A hidroxicloroquina e outras representantes do tratamento precoce seguembanco pokerpauta apenasbanco pokeralguns países subdesenvolvidos, como Brasil, Índia, Costa do Marfim e Filipinas."

Ivermectina, o antiparasitário que virou a bola da vez

A partir do segundo semestre, a ivermectina passou a disputar espaço como outra promessa contra a covid-19. Tudo começou a partirbanco pokerum estudo experimental com células,banco pokerque esse remédio usado contra infestaçõesbanco pokervermes, parasitas e ácaros mostrou ter poderbanco pokerfogo contra o coronavírus.

O problema, mais uma vez, estava embanco pokerorigem. A dose utilizada neste trabalho inicial era absolutamente irreal. Alguns cálculos posteriores mostraram que, para obter o mesmo efeito visto na bancada do laboratório, seria necessário dar a seres humanos dosagensbanco pokerivermectina dez vezes superiores ao limite considerado seguro.

Em outras palavras, tudo indica que a quantidade necessáriabanco pokerivermectina para "matar" o coronavírus num cenário realbanco pokerinfecção representaria um riscobanco pokerefeitos colaterais gravíssimos e overdose nas pessoas.

Porém, ao contrário da hidroxicloroquina, cuja ineficácia contra a covid-19 está bem demonstrada pelos estudos publicados até o momento, a situação da ivermectina ébanco pokerincerteza.

Por aqui, ainda inexistem aqueles estudos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo sobre os quais falamos mais acima.

Os resultados das pesquisas feitas até agora ficam, então, contraditórios. Uma delas, do Centro Internacionalbanco pokerDoenças Diarreicasbanco pokerBangladesh, por exemplo, até revela uma diminuição da carga viral dos pacientes com covid-19, sem que isso resulte numa melhora significativa dos sintomas. 

Um trabalho do Institutobanco pokerSaúde Globalbanco pokerBarcelona, na Espanha indica que o uso da ivermectina aliviou um pouco os incômodos da infecção num grupobanco pokervoluntários tratados. Mas os próprios autores admitem a necessidadebanco pokertestes clínicos maiores para confirmar as observações.

Como pode ser visto, essas investigações são muito pequenas, com poucos participantes, e não têm significado prático. Tanto que as principais entidadesbanco pokersaúde do mundo, como os Institutos Nacionaisbanco pokerSaúde dos EUA, não indicam o uso dessa droga como tratamento da covid-19.

Isso porque os estudos sobre o papel do antiparasitário são inconclusivos e os cientistas estão conduzindo investigações maiores para descartar ou recomendar seu uso durante a pandemia.

Portanto, não se recomenda que esse medicamento deva ser usado no atual estágio.

Azitromicina, sem efeitosbanco pokerpacientes graves e riscobanco pokersuperbactérias

Em setembrobanco poker2020, um estudobanco pokerpesquisadores brasileiros publicado na Lancet, a segunda revista médica mais influente do mundo, afirmou que a azitromicina não leva a melhorasbanco pokerpacientes hospitalizados e, portanto, não tem indicaçãobanco pokeruso para casos graves.

Os pacientes foram divididos aleatoriamentebanco pokerdois grupos — 214 deles receberam azitromicina mais o tratamento padrão, e outros 183 receberam apenas o tratamento padrão, sem azitromicina. O tratamento padrão, feitobanco pokerambos os casos, incluía a hidroxicloroquina, pois naquela época — entre março e maio — seu uso estava sendo bastante frequente.

Não houve diferença entre os dois gruposbanco pokerrelação a númerobanco pokeróbitos nem ao tempobanco pokerinternação.

"Gostaríamos muito que tivesse funcionado, porque é um medicamento barato, conhecido e normalmente bem tolerado na questão dos efeitos colaterais", disse Luciano Cesar Pontesbanco pokerAzevedo, médico do Hospital Sírio-Libanês e parte da equipe que assina o artigo no Lancet,banco pokerentrevista à BBC News Brasil na época da publicação.

Ele esperava que, com os resultados, pelo menos a azitromicina deixassebanco pokerser receitado indiscriminadamente no tratamento para covid-19, o que poderia levar a falta do medicamento para quem precisa e também aumento da resistênciabanco pokerbactérias. Isto porque a função original da azitromicina ébanco pokerantibiótico, muito usadobanco pokerinfecções bacterianas nas chamadas vias aéreas superiores, como no nariz e garganta.

Nitazoxanida: da fama instantânea ao ostracismo imediato

De um dia para o outro, o vermífugo nitazoxanida ganhou os holofotes no Brasil como uma possível solução contra a covid-19.

No dia 19banco pokeroutubrobanco poker2020, Bolsonaro e o ministrobanco pokerCiência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, anunciaram um estudo que mostrava que essa droga poderia ser útil como tratamento precoce.

Alguns dias depois, os resultados dessa pesquisa foram publicados no periódico científico European Respiratory Journal. De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, as conclusões do teste foram consideradas muito fracas e sem nenhuma aplicação prática.

Prova disso é que, hojebanco pokerdia, a nitazoxanida nem faz parte do protocolo do já questionável tratamento precoce que foi encampado pelo Ministério da Saúde brasileiro.

Dexametasona, um dos poucos que vingaram

Nem sóbanco pokerfracassos vive a estratégiabanco pokerreposicionamentobanco pokerfármacos contra a covid-19. Há pelo menos um medicamento já conhecido que mostrou seu valor nos quadros graves da infecção pelo coronavírus.

Falamos aqui da dexametasona, representante da classe dos corticoides, muito usada contra doençasbanco pokerpele, enfermidades reumatológicas, asma e alergias.

Um estudo capitaneado pela Universidadebanco pokerOxford, na Inglaterra, revelou que esse medicamento é um aliado valioso para os quadros que necessitambanco pokerinternação.

"Em alguns pacientes, a infecção pelo coronavírus desencadeia uma forte reação inflamatória do organismo. Isso, porbanco pokervez, passa a afetar diferentes órgãos e pode até causar a morte", contextualiza o médico Momtchilo Russo, professor sênior do Departamentobanco pokerImunologia do Institutobanco pokerCiências Biomédicas da Universidadebanco pokerSão Paulo (USP).

A dexametasona entra justamente nessa situação. Ela ameniza a pane inflamatória que se instalabanco pokerparte dos quadros agravadosbanco pokercovid-19.

Que fique claro: esse corticoide não é um tratamento precoce e nem deve ser usado por todo mundo que se contamina. Os médicos avaliam caso a caso e prescrevem esse fármacobanco pokeracordo com critérios muito bem estabelecidos.

Um grupo anti-'kit covid' que só cresce

O avanço da ciência ao longo dos últimos meses permitiu que muitas entidades adotassem posturas contundentes contra a adoção do tratamento precoce ou do "kit covid".

No Brasil, um dos primeiros órgãos a se posicionar foi a Sociedade Brasileirabanco pokerInfectologia (SBI). Em junhobanco poker2020, a entidade produziu o primeiro documento analisando a pouca evidência científica disponívelbanco pokeralguns remédios, como a hidroxicloroquina.

Ao longo dos meses, a SBI atualizou esses pareceres e adotou uma posição muito firme contra o tratamento precoce. Em seu último informe, publicado no dia 19banco pokerjaneiro, a sociedade reafirma:

"As melhores evidências científicas demonstram que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção ou no 'tratamento precoce' para a covid-19 até o presente momento. Pesquisas clínicas com medicações antigas indicadas para outras doenças e novos medicamentos estãobanco pokerpesquisa. Atualmente, as principais sociedades médicas e organismos internacionaisbanco pokersaúde pública não recomendam o tratamento preventivo ou precoce com medicamentos, incluindo a Agência Nacionalbanco pokerVigilância Sanitária (Anvisa), entidade reguladora vinculada ao Ministério da Saúde do Brasil".

O médico Clóvis Arns da Cunha, presidente da SBI, relata que a repercussão dos posicionamentos fez com que ele próprio e vários membros da entidade fossem atacados pelas redes sociais e chegassem a receber até ameaçasbanco pokermorte. "Isso exigiu muita resiliênciabanco pokernossa parte e fez com que nos uníssemos e nos apoiássemos ainda mais", diz.

Cunha também se incomoda com a faltabanco pokerrespaldobanco pokeroutras entidades ao longobanco poker2020. A Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federalbanco pokerMedicina (CFM) não chancelaram os posicionamentos da Sociedade Brasileirabanco pokerInfectologia e não se manifestaram contra o tratamento precoce e o "kit covid".

O Conselho Federalbanco pokerMedicina chegou a dizer que caberia a cada médico decidir individualmente se prescreveria ou não hidroxicloroquina, ivermectina e afins.

Na última semana, o Conselho Federalbanco pokerMedicina soltou uma nota à imprensa afirmando que muitas dessas drogas "não contam com reconhecimento internacional".

Já a Associação Médica Brasileira teve uma mudançabanco pokerdiretoria a partirbanco pokerjaneirobanco poker2021. Os novos gestores da associação deram indicativosbanco pokerque terão uma postura mais ativa a partirbanco pokeragora — seu novo presidente, César Eduardo Fernandes, coassina o informe da Sociedade Brasileirabanco pokerInfectologia citado acima.

A BBC News Brasil tentou entrarbanco pokercontato com CFM e AMB, mas nenhuma das entidades respondeu aos pedidosbanco pokerentrevista.

Posição sem respaldo científico do governo federal

A despeitobanco pokertodas evidências científicas e do posicionamentobanco pokerentidades nacionais e internacionais, o Ministério da Saúde e algumas secretarias estaduais e municipaisbanco pokersaúde insistiram no tratamento precoce — embora o aplicativo do Ministério que recomendava o tratamento precoce tenha saído do ar recentemente.

No dia 16banco pokerjaneiro, o Twitter colocou um alertabanco pokerinformação duvidosabanco pokeruma mensagem postada pelo Ministério da Saúde. O texto dizia: "Para combater a covid-19, a orientação é não esperar. Quanto mais cedo começar o tratamento, maiores as chancesbanco pokerrecuperação. Então, fique atento! Ao apresentar sintomas da covid-19, #NãoEspere, procure uma Unidadebanco pokerSaúde e solicite o tratamento precoce".

Ao ser perguntado sobre o assunto durante uma coletivabanco pokerimprensa, o ministro Eduardo Pazuello disse que era preciso diferenciar o tratamento precoce do atendimento precoce.

"Nós defendemos, incentivamos e orientamos que a pessoa doente procure imediatamente o postobanco pokersaúde. Que procure o médico e ele faça o atendimento clínico e o diagnóstico precoce dos pacientes. Tratamento é uma coisa, atendimento é outra", respondeu o general.

No entanto, uma breve análisebanco pokeroutras falasbanco pokerPazuello confirma que ele insistiu no tratamento precoce diversas vezes e nos mais variados contextos.

Poucos dias antesbanco pokero sistemabanco pokersaúdebanco pokerManaus entrarbanco pokercolapso, o ministro esteve na cidade com assessores e um comitivabanco pokermédicos justamente para falar com as autoridades locais a respeito do assunto.

Numa análise sobre a crise sanitária na capital amazonense, Pazuello afirmou: "Manaus não teve a efetiva ação no tratamento precoce com diagnósticos clínicos, no tratamento básico. Isso impactou muito a gravidade da doença".

Cunha, da SBI, rebate: "Eles levaram o kit ilusão, o kit covid, que desde junho todas as sociedades médicas científicas e autoridades sanitárias do mundo sabem que não funciona. Eles deveriam oferecer oxigênio, UTI e mais pessoas para tratar o querido povobanco pokerManaus. Isso foi a gota finalbanco pokerquão errado o ministério estava."

Na última semana, o lançamento do aplicativo TrateCov também gerou uma sériebanco pokerpolêmicas. A plataforma do Ministério da Saúde serviria para orientar profissionais da saúde sobre as melhores condutas nos pacientes com sintomas sugestivosbanco pokercovid-19.

O problema era que o app, que já foi retirado do ar, indicava as drogas do "kit covid" até diante dos sintomas mais simples, que na maioria das vezes melhoram com o passar do tempo.

A BBC News Brasil procurou o Ministério da Saúde para entrevistas, mas até o fechamento da reportagem não recebeu nenhuma resposta.

Efeitos imediatos (e para o futuro)

Mas qual o problemabanco pokerusar esses medicamentos todos como prevenção ou tratamento precoce contra a covid-19?

Em primeiro lugar, o uso desse coquetel dá uma falsa sensaçãobanco pokersegurança. As pessoas podem sentir que estão protegidas por conta das medicações e relaxar nas medidas que realmente funcionam, como usobanco pokermáscara, distanciamento físico e lavagembanco pokermãos.

"Além disso, muitos desses comprimidos e cápsulas podem provocar efeitos colaterais importantes se usadosbanco pokerforma inadequada", alerta a médica Irmabanco pokerGodoy, presidente da Sociedade Brasileirabanco pokerPneumologia e Tisiologia.

Há ainda uma preocupação específica com o uso indiscriminado da azitromicina, um tipobanco pokerantibiótico usadobanco pokerinfecções bacterianas como a gonorreia e a pneumonia.

Com tanta gente utilizando esse remédio sem necessidade, isso pode acelerar o processobanco pokerresistência antimicrobiana — quando os micro-organismos criam mecanismos para "driblar" o tratamento e continuarem vivos.

Tudo indica que, no futuro, a azitromicina e outros antibióticos não serão mais capazesbanco pokeracabar com essas infecções e elas voltem a ser mortais.

"Recentemente, a OMS soltou um alertabanco pokeraumentobanco pokercasosbanco pokerresistência bacteriana pelo uso excessivobanco pokerantibióticos como a azitromicina. Isso cria, por exemplo, quadrosbanco poker'supergonorreia'banco pokerque não há tratamento", adverte a médica Viviane Cordeiro Veiga, coordenadorabanco pokerUTI da BP-A Beneficência Portuguesabanco pokerSão Paulo e participante da Coalizão Covid-19 Brasil.

Cuidar na medida certa

Os especialistas relatam que, ao se posicionarem publicamente contra o tratamento precoce, costumam ouvir sempre o mesmo argumento: "Mas eu conheço pessoas que tomaram hidroxicloroquina ou ivermectina e melhoraram".

O médico Leonardo Weissmann, do Institutobanco pokerInfectologia Emílio Ribas,banco pokerSão Paulo, esclarece que cercabanco poker80% das pessoas que pegam covid-19 têm formas leves, que regridembanco pokerpoucos dias independentementebanco pokerqualquer tratamento.

Há um segundo contraponto comum nas redes sociais. Muitos pacientes que estão com sintomas menos graves não se conformam com a orientaçãobanco poker"só" ficarbanco pokercasa isolados, sem necessidadebanco pokernenhum comprimido específico. Eles temem uma piora, como o aparecimentobanco pokerfaltabanco pokerar e uma posterior necessidadebanco pokerintubação no hospital.

"Nos primeiros diasbanco pokercovid-19, é importante medir a oxigenação por meio do oxímetro, um aparelhinho facilmente encontrado nas farmácias. Se acontecer uma diminuição do oxigênio no sangue, busque uma orientação médica", indica Weissmann.

De resto, quadros leves da infecção pelo coronavírus exigem repouso, boa hidratação e, se necessário, medicação para sintomas como febre e dor no corpo. Caso os incômodos persistam ou apareça a faltabanco pokerar, é horabanco pokerir até o pronto-socorro.

O que se sabe hoje...

Por fim, vale mencionar que a ciência é o campo das verdades provisórias. Isso significa que amanhã, ou daqui a um mês, podem surgir trabalhos que comprovem a eficácia e a segurançabanco pokeralguns medicamentosbanco pokerdeterminadas doses para os estágios iniciais da doença.

"Nenhum médico ou entidade é contra o conceitobanco pokertratamento precoce, desde que ele realmente funcione", esclarece Godoy, que também é professora da Faculdadebanco pokerMedicinabanco pokerBotucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Enquanto não aparecem novidades farmacológicas contra a pandemia (e não há uma boa parcela da população vacinada), nos resta seguir respeitando as medidasbanco pokerproteção, como o usobanco pokermáscaras, o distanciamento físico, a limpeza das mãos e a preferência por ambientes bem arejados.

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