Antesh2 poker online'AmarElo'h2 poker onlineEmicida, estes documentários já contavam a trajetória do negro no Brasil:h2 poker online
Com isso, o rapper busca mostrar que a jornadah2 poker onlineluta dos negros brasileiros não começou agora. Trata-seh2 poker onlineum movimento coletivo, com continuidades entre gerações.
Hoje, o griô é eletrônico
AmarElo não foi o primeiro e não será o último documentário a resgatar a jornadah2 poker onlinesobrevivência, luta e vitórias dos negros brasileiros. Antes dele, outros trabalhos guardaram essa históriah2 poker onlinepelícula e videotape.
"A história do movimento negro não passa pelos bancos escolares, passa pela tradição da contaçãoh2 poker onlinehistória", diz Filó Filho, um dos fundadores do acervo digitalh2 poker onlinecultura negra Cultne. "Hoje, o griô é eletrônico. O audiovisual é uma formah2 poker onlinefala, passandoh2 poker onlinegeraçãoh2 poker onlinegeração as nossas histórias."
Griô, na África Ocidental, é o indivíduo que tem por vocação preservar e transmitir as histórias, conhecimentos, canções e mitos do seu povo.
"Há um problema com a história recente. Ela já é suficientemente velha para estar fora do discurso jornalístico corrente mas, ao mesmo tempo, é nova demais para ter historiografia", diz o jornalista Gabriel Priolli. "Então a história recente fica num certo limbo e esse é o papel da recirculação desses materiais: permitir que os jovens tenham a noção histórica, o sentidoh2 poker onlinecontinuidade e progressão das coisas."
Confira a seguir três documentários que, antesh2 poker onlineAmarElo, trataram da trajetória dos negros e negras no Brasil.
1. O Negro da Senzala ao Soul (1977)
"Um quadro do pensamento negro no Brasilh2 poker onlinehoje. É isso que estaráh2 poker onlineseu vídeo a partirh2 poker onlineagora."
As palavras sãoh2 poker onlineum âncorah2 poker onlinetelevisão negro, que aparece sem ser identificado durante os primeiros minutos do documentárioh2 poker onlineEmicida.
Esse jornalista é Paulo Roberto Leandro, falecidoh2 poker online2015. E a cena é parteh2 poker onlineum outro documentário: O Negro da Senzala ao Soul, lançadoh2 poker online1977, por Gabriel Priolli, então repórter da TV Cultura,h2 poker onlineseu primeiro emprego como jornalista, aos 24 anos.
Priolli conta que o filme surgiuh2 poker onlineuma reportagem comum da TV Cultura, quando ele foi enviado para cobrir a "Quinzena do Negro" na USP, evento acadêmico organizado pelo sociólogo Eduardoh2 poker onlineOliveira e Oliveira (1924-1980).
À época, na Cultura, o chefeh2 poker onlinereportagem era o jornalista negro Roberto Camargo, e Paulo Roberto Leandro, também preto, era diretor do departamentoh2 poker onlinejornalismo.
"1977 era um momento que o movimento estudantil estava eclodindo, com as primeiras passeatas depoish2 poker online1968 [anoh2 poker onlineendurecimento da ditadura militar, quando foi decretado o Ato Institucional Nº 5] saindo da USP naquele ano", lembra Priolli.
"Era o momentoh2 poker onlinerearticulação da sociedade civil depois da morte do Vlado [Vladimir Herzog, diretorh2 poker onlinejornalismo da TV Cultura e professor da USP, morto pela ditadurah2 poker online1975], com uma rearticulação geral do movimento sindical, dos movimentosh2 poker onlinecarestia,h2 poker onlinetrabalhadores rurais, estudantes, negros, mulheres, gays e os partidos também começavam a discutir a questão da recuperação partidária", recorda o jornalista.
"Nesse caldoh2 poker onlinecultura, surge a Quinzena do Negro. Era para ser um debate acadêmico, mas quando cheguei ali, vi que era muito mais que isso. Era um embrião do ressurgimento e da rearticulação do movimento negro", diz Priolli, lembrando que já estavam ali presentes diversos dos militantes negros que fundariam no ano seguinte o MNU.
"Isso aconteceu num momentoh2 poker onlineque a soul music bombava no Brasil", conta o jornalista.
"Ela juntava milharesh2 poker onlinejovens nos bailes. O que hoje é o funk na época era o soul, que juntava a molecada negra nas periferiash2 poker onlineSão Paulo e Rio, sobretudo. E era, evidentemente, muito mais do que ouvir música, tinha um sentido cultural e políticoh2 poker onlineblack pride [orgulho negro] eh2 poker onlineidentidade que era uma coisa visível."
Priolli conta que o ineditismo do documentário foi tratarh2 poker onlineum assunto que, na época, era tabu e não tinha espaço no debate público.
"Ainda vivíamos sob uma censura terrível, ela só cairia no final do ano seguinte. Todo mundo achou que o documentário seria censurado, mas ele passou", lembra o jornalista.
"Foi uma ousadia muito grande, pois o Brasil era oficialmente uma 'democracia racial' e ponto. Não existia questão do negro. Simplesmente afirmar que existia, que o racismo era um problema estrutural, que precisava ser enfrentado e faria parte central da luta democrática tinha uma dimensão subversiva muito grande."
Priolli conta, com orgulho, que o documentário foi abraçado pelo movimento negro desdeh2 poker onlineprodução até o lançamento. "Desde que foi ao ar, ele passou a ser um materialh2 poker onlineestudo do movimento negro eh2 poker online'agitprop' [termo usado pela esquerda durante a ditadura para açõesh2 poker onlineagitação e propaganda política]. Cópias do programa rodavam nas mãos dos militantes para fazer trabalhoh2 poker onlinebase, então ele teve um papel político importante."
Para ele, foi uma emoção rever trechos do seu trabalho no documentárioh2 poker onlineEmicida. "Me senti recompensado, vivo. Considero talvez o trabalho mais importante da minha vida e ver que ele continua ressoando na juventude 43 anos depois dá muito orgulho e satisfação."
O documentário O Negro da Senzala ao Soul pode ser visto na íntegra no YouTube.
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2. Ôrí (1989)
"No Brasil, você pode encontrar nos terreiros, nas escolash2 poker onlinesamba, nos gruposh2 poker onlinemaracatu, nos ranchos, nos blocosh2 poker onlinefrevo, os reinos africanos recriados", diz o militante do movimento negro Ciro Nascimento, durante um desfile da Vai-Vaih2 poker online1980, registrado pelo documentário Ôrí, lançado pela socióloga e cineasta Raquel Gerberh2 poker online1989.
Ôríh2 poker onlineiorubá significa "cabeça", mas também "consciência".
Partindo da vida e do pensamento da historiadora e militante negra Beatriz Nascimento (1942-1995), o filme documenta os movimentos negros brasileiros entre 1977 e 1988, discute a relação entre Brasil e África e o conceitoh2 poker onlinequilombo.
Gerber conta que, nos anos 1970, trabalhou como voluntária na Cinemateca Brasileira, onde ajudou na restauração dos negativos do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, após um roubo na instituiçãoh2 poker onlinepreservação do audiovisual brasileiro, que à época estava instaladah2 poker onlinegalpões no Parque do Ibirapuera.
"Foi uma escolah2 poker onlinecinema para mim. Glauber tinha uma relação muito forte com a cultura da Bahia, então passei a me interessar pelas culturas formadoras do Brasil, ele me abriu muitas portash2 poker onlinereflexão sobre as origens da nossa formação cultural", conta Gerber.
Ela realizou algumash2 poker onlinesuas primeiras filmagens no terreiro Ilê Xoroquê,h2 poker onlineSão Paulo, que era frequentado à época pela militância negra. Também esteve presente na Semana do Negro na USP,h2 poker online1977. Eh2 poker online1978 teve a oportunidadeh2 poker onlineviajar pela primeira vez à África — que passava pelos processosh2 poker onlineluta pela independência nacional dos países, após a colonização —, alémh2 poker onlineacompanhar a formação do Movimento Negro Unificado também naquele ano.
"Havia toda uma conjunçãoh2 poker onlinefatores que impulsionava a realizaçãoh2 poker onlineum trabalho nessa área", diz a cineasta.
"E eu conheci nessa época,h2 poker online1977, a Beatriz Nascimento, por quem senti uma grande afinidade no campo das ideias", recorda Gerber.
"Ela estava produzindo uma historiografia que queria se contrapor à historiografia oficial, que mostrava o negro brasileiro só como escravo. Então ela se propunha a fazer uma nova historiografia dos quilombos no Brasil, mostrando o quilombo como recriaçãoh2 poker onlineuma formação societária, mas também como uma formah2 poker onlineorganização e resistência dos negros ao colonialismo. Uma forma que vem da África para as Américas e se perpetua até hoje."
O documentário levou 11 anos para ser concluído, tendo parte do seu material apreendido pela ditadura aindah2 poker online1977. A diretora conta que enfrentou na produção do filme a ausênciah2 poker onlineimagens sobre a história negra, com muito da memória da escravidão tendo sido destruída após a abolição. Além disso, na épocah2 poker onlinesua estreia, o filme foi passadoh2 poker onlinepoucas salas, devido à dificuldadeh2 poker onlinese exibir documentáriosh2 poker onlinelonga metragem nos cinemas.
"Demorou quase 50 anos para o filme ser visto no Brasil. Ele foi exibido internacionalmente e ganhou muitos prêmios importantes, mas demorou muito para ser conhecido aqui. Só há um ano ele está disponívelh2 poker onlineplataforma digital e agora há muita demanda, porque ele atende aos professores na áreah2 poker onlineensinoh2 poker onlinehistória."
O documentário Ôrí pode ser visto na íntegra na plataforma Tamanduá.
3. Frente Negra Brasileira (1985)
"Só o outro me interessa. Afinal, é no encontro que nossa existência faz sentido", diz Emicidah2 poker onlineAmarElo, citando o Manifesto Antropofágico do modernista Oswaldh2 poker onlineAndrade.
O documentário Frente Negra Brasileira,h2 poker onlinepouco maish2 poker online17 minutos e editado por Ras Adauto e Zózimo Bulbul, registra um grande encontro da história negra brasileira.
Em 1985, na sede campestre do Clube Aristocrata — histórico clube para negros criado na décadah2 poker online1960h2 poker onlineSão Paulo,h2 poker onlineresposta à discriminação sofrida pela elite negra por parte da high society paulistana —, militantes do MNU se encontraram com remanescentes da Frente Negra Brasileira.
"Vocês querem saber a diferença entre a nossa época e ah2 poker onlineépoca?", pergunta Henrique Cunha, um dos fundadores da Frente Negra Brasileira, durante o encontro.
"É que, na nossa época, nós sentíamos o preconceito aberto. Nós passávamos no barbeiro, ele dizia: 'Não, aqui não cortamos cabeloh2 poker onlinepreto'. Preto entrava no restaurante, ouvia: 'Escuta, vocês vão comer lá na baixada, porque aqui o patrão não quer preto'. Era assim aberto."
Filó Filho, um dos criadores do acervo Cultne, junto a Carlos Medeiros, Ras Adauto e Vik Birkbeck, conta que o encontro surgiuh2 poker onlineuma discussão dentro do movimento negro sobre a questão da memória.
"Ali foi um momento histórico entre gerações do movimento negro, jovens ouvindo os mais velhos, e eles falando ali enquanto sujeitos daquele momento da décadah2 poker online1930", diz Filó Filho, cujo nomeh2 poker onlinebatismo é Asfilófioh2 poker onlineOliveira Filho.
"A importância da memória é essa. Futuras gerações, os próximos doutores que nós vamos ter, terão referências com base nisso que nós plantamos. Estamos entregando o bastão para essa geração que está aí", diz o videomaker e produtor.
"Graças a Deus, mais da metade dos estudantes universitários hoje são negros. Mas graças a quê? Ao movimento negro. Ele que pavimentou essa estrada para essa garotada hoje estar aí agora. Quero deixar esse mundo com a convicçãoh2 poker onlineque eles não vão deixarh2 poker onlineresgatar o passado."
O documentário Frente Negra Brasileira pode ser visto na íntegra no YouTube, disponibilizado pelo acervo Cultne.
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