Medobet cocoengravidar na pandemiabet cococovid-19 se assemelha ao auge da epidemiabet cocozika, segundo pesquisa:bet coco

Barrigabet cocográvida, que segura dois sapatinhosbet cocobebê

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Levantamento foi feito pela Universidade do Texasbet cocoAustin com mulheres do Estadobet cocoPernambuco

No iníciobet coco2020, Marteleto e seus colegas estavam se preparando para entrevistar 4 mil mulheresbet cocoidade reprodutiva no estadobet cocoPernambuco, que seriam acompanhadas ao longo do tempo para investigar as consequênciasbet cocolongo prazo da epidemiabet cocozika no que diz respeito à fertilidade.

A pesquisa, que recebeu financiamento dos Institutos Nacionaisbet cocoSaúde dos Estados Unidos (NIH, na siglabet cocoinglês), está sendo feitabet cocoparceria com instituições brasileiras como a Universidade Federalbet cocoMinas Gerais (UFMG), a Universidade Federalbet cocoPernambuco (UFPE) e a Universidade Estadualbet cocoCampinas (Unicamp).

"Estávamos prontos para ir a campo para iniciar esse painelbet cocomarço quando a pandemia começou", diz Marteleto.

A equipe tevebet cocodecidir, então, se aguardava o fim da emergência ou se mudava tudo para se adequar à nova realidade. Transformar o projeto se provou a escolha mais acertada. As entrevistas que seriam face a face passariam a ser feitas por telefone com uma metodologiabet cocodiscagem aleatória.

O projeto incluiu ainda uma sériebet coco56 entrevistasbet cocoprofundidade via Zoom. Além disso, os questionários foram alterados para incluir perguntas sobre o impacto do novo coronavírus nas percepções e decisões das mulheres sobre se deveriam ter filhos.

Dados preliminares levantados pelos pesquisadores evidenciam medo e insegurançabet cocoengravidar no contexto da pandemia. De todas as entrevistadas, 1.880 (79,9%) concordam que as mulheres devem fazer todo o possível para evitar uma gravidez durante a atual pandemiabet cococovid-19.

Trata-sebet cocouma porcentagem maior do que as que concordam que as mulheres deveriam ter feito todo o possível para evitar uma gravidez na epidemiabet cocozika (76,1%).

Das 1.342 mulheres que disseram que ainda querem ter filhos, 28,17% mudarambet cocoideia sobre engravidarbet coco2020 devido à pandemia. Das 863 mulheres que disseram não ter mais intençãobet cocoter filhos, 19,12% disseram que tomaram essa decisão justamente por causa do novo coronavírus. Além disso, 76,88% das mulheres disseram que têm medobet cocoengravidar e ter algum problema com o bebê ou com a gravidez devido à covid-19.

Gestante com máscarabet cocoproteção

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Dados preliminares evidenciam medo e insegurançabet cocoengravidar no contexto da pandemia

Memória da zika ainda está presente

Uma das questões que o projeto busca investigar é o efeito dessas duas graves crisesbet cocosaúde pública muito próximas uma da outra nas mulheresbet cocoidade reprodutiva.

"Será que as mulheres que engravidaram na época do zika, ou que suspeitaram que tinham zika são as que mais querem mudar o comportamento reprodutivo agora? Será que são essas que tem mais medo?", pergunta Marteleto.

As cenasbet cocohospitais lotados com bebês nascidos com microcefalia e outros problemas gravesbet cocodesenvolvimento associados à zika ainda são bastante presentes na memóriabet cocobrasileiras como a psicóloga Mariana Ducatti Horiquinibet cocoAlmeida,bet coco31 anos.

Ela e o marido pretendiam ter filho este ano, mas optaram por adiar os planos por causa da pandemia.

"Na epidemia do zika foi comprovada a transferência do vírus pela placenta. E levantou-se a possibilidadebet cocoassociação com a microcefalia. A gente ficou com medo porque a gente não sabia se o covid também poderia ocasionar algo nesse sentido", diz Mariana.

Psicóloga Mariana Almeida e o marido Everton Barbosa

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Psicóloga Mariana Almeida e o marido Everton Barbosa decidiram postergar os planosbet cocogravidez por causa da pandemia

Até o momento, estudos têm mostrado que bebês nascidosbet cocomães infectadas por covid-19 tendem a se desenvolver bem. Por outro lado, mulheres grávidas com covid-19 têm se mostrado mais vulneráveis a quadros graves da doença do que mulheres não-grávidas.

Outro fator que pesou na decisão foi o fatobet cocotanto ela quanto o marido, o fisioterapeuta Everton Horiquini Barbosa, trabalharembet cocoum hospital.

"A gente continuou trabalhando durante toda a pandemia. Apesarbet coconão ser um hospital geral, mas um hospitalbet cococâncer, cheguei a atender muitos pacientes com covid, por isso acabamos ficando preocupados e optando por postergar." Além disso, ambos lecionambet cocouma faculdade que pode retomar as atividades presenciais a qualquer momento.

Para o casal, esse períodobet cocoinsegurança não deve acabar tão cedo. "A gente toma todos os cuidados, mas a gente não pensabet cocoretomar os planos tãobet cocobreve. Talvez no final do ano que vem."

Insegurança financeira

No casobet cocoMariana e Everton, a questão econômica não pesou na decisão. Mas, para muitas mulheres, a insegurança financeira atrelada à pandemia tem tido um impacto contundente. Cercabet coco70% das entrevistadas pela pesquisa da Universidade do Texas relataram que a renda do domicílio caiu durante a pandemia.

Enquanto o zika era uma ameaça maior para o bebê, o covid-19 tem se mostrado uma ameaça para toda a família. "Elas articulam que agora a situação é pior porque pode afetar os pais, os empregos e a questão financeirabet cocoforma mais abrangente. Dizem que é pior engravidar agora porque é mais incerto, mais inseguro", conta Marteleto.

Luciana (nome fictício) estava começando um planejamento para engravidar quando perdeu o emprego e o convênio médico logo no início da pandemia.

Ela pediu para terbet cocoidentidade preservada porque ainda não tinha compartilhado os planos com toda a família. "Por causa da minha idade, maisbet coco40 anos, saiba que seria um processobet cocoque iria precisarbet cocoalgum tratamentobet cocofertilidade", conta.

As economias que estavam reservadas para esses procedimentos acabaram sendo usadas para a subsistência.

"Os planos foram para 2021. Não passou a vontadebet cocoser mãe", diz.

Pandemia exacerba desigualdade

Outro aspecto que Marteleto e seus colegas pretendem examinar é até que ponto as mulheres estão conseguindo realizar o que elas desejambet cocotermosbet cocogravidez e fecundidade.

A hipótese é que, quanto menor a renda, mais as mulheres estão à mercêbet cocofatores como faltabet cocoacesso a métodos contraceptivos ou a serviçosbet cocosaúde, por exemplo.

Os dados do estudo mostram ainda que mulheres negras tiveram uma probabilidade maiorbet cocoreportar que não conseguiram acessar serviçosbet cocosaúdebet cococomparação a mulheres brancas ou pardas.

Para a epidemiologista Emanuelle Góes, doutorabet cocoSaúde Pública pela UFBA e pós-doc pelo Cidacs/Fiocruz, situações preexistentesbet cocodesigualdadebet cocoacesso à saúde reprodutiva têm se exacerbado durante a pandemia. No Brasil e tambémbet cocooutras partes do mundo, o acesso aos métodos contraceptivos e a serviçosbet cocopré-natal foram prejudicados, sendo as mulheres negras as mais afetadas.

"A gente observa, por exemplo, que estudos mostram que mulheres pretas morreram mais do que mulheres brancas por conta da covid-19. E isso foi por conta da diferençabet cocorelação ao acesso à UTI, à ventilação mecânica", diz Góes. Presume-se que as mulheres negras também se saem prejudicadas quanto ao acesso a serviçosbet cocosaúde reprodutiva.

A consequência da faltabet cocoacesso a métodos contraceptivos é o aumentobet cocogestações não previstas ebet cocoabordos inseguros. "A gente não tem como medir porque são abortos clandestinos, mas a gente pressupõe que isso deva estar acontecendo", diz Góes.

Declíniobet coconascimentos?

Se a epidemiabet cocozika resultoubet cocoum declínio temporário na curvabet coconascimentos no Brasil, será que o mesmo pode ocorrerbet cocorelação à atual pandemiabet cococovid-19?

Ainda é cedo para avaliar e existem algumas nuances a serem consideradas. Além da faltabet cocoacesso a métodos contraceptivos, o que pode fazer com que mulheres engravidem mesmo sem querer, situaçõesbet cococrise às vezes têm efeitos inesperados sobre a natalidade.

"Meus colegas que trabalham com o impacto da Aids nos países africanos encontraram que naquele contexto as mulheres relataram que queriam engravidar justamente porque um bebê traria alento no meio daquela incerteza toda", relata Marteleto.

Nesta sexta-feira, 11bet cocodezembro, completam-se 9 meses do diabet cocoque a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que vivíamos uma pandemia do novo coronavírus. Somente os dadosbet coconascimentos dos próximos meses poderão responder se a pandemia, que já levou maisbet coco179 mil vidas no Brasil, também fará com que tantos outros deixembet coconascer.

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