'Alimento para a alma, não só o corpo': a produção agrícola das 80 roças indígenas na maior cidade do Brasil:gladiator jackpot slot

Indígenas manipulando a terra para plantação

Crédito, Pedro Biava

Legenda da foto, Mulheres são 40% dos agricultores guarani na TI Tenondé Porã

A terra indígena tem uma população estimadagladiator jackpot slot2020gladiator jackpot slot1,5 mil pessoas,gladiator jackpot slot15.969 hectares - área equivalente a cercagladiator jackpot slot159 quilômetros quadrados, quase o tamanhogladiator jackpot slotNatal (RN), segunda menor capital do país, com 167 quilômetros quadrados.

Mapa
Legenda da foto, Mapa mostra terras indígenasgladiator jackpot slotSão Paulo e municípios ao redor

Um estudo inédito produzido por pesquisadores guarani e técnicos do CTI (Centrogladiator jackpot slotTrabalho Indigenista), publicado neste mêsgladiator jackpot slotdezembro, mapeou a produção agrícolagladiator jackpot slotseis dessas aldeias localizadas no Sul da cidade: Kalipety, Krukutu, Tape Mirĩ, Tekoa Porã, Tenondé Porã e Yrexakã.

A pesquisa foi contratada pela Prefeituragladiator jackpot slotSão Paulo, por meio da Secretariagladiator jackpot slotDesenvolvimento Urbano, responsável pela coordenação do Projeto Ligue os Pontos, com objetivogladiator jackpot slotconhecer os agricultores desses territórios e dar visibilidade às práticas tradicionaisgladiator jackpot slotcultivo.

Segundo o levantamento, nessas aldeias, já são maisgladiator jackpot slot80 roças indígenas, dedicadas ao cultivogladiator jackpot slot190 variedades agrícolas, e quatrogladiator jackpot slotcada dez agricultores guarani são mulheres.

A retomada da agricultura tradicional guarani foi possível graças à recente dispersão territorial e à demarcação da TI Tenondé Porã, reconhecidagladiator jackpot slotportaria declaratória pelo Ministério da Justiçagladiator jackpot slot2016.

Agora, os indígenas paulistanos lutam pela conclusão do processogladiator jackpot slotdemarcação, que ainda depende da retiradagladiator jackpot slotnão indígenas, demarcação física do território e homologação pela Presidência da República. E reivindicam ao poder público municipal a aprovaçãogladiator jackpot slotum projetogladiator jackpot slotlei (PL 181/2016), que propõe o fortalecimento do Cinturão Verde Guarani na capital paulista.

Jera Guarani, liderança da aldeia Kalipety,gladiator jackpot slotchapéu (ao centro) durante colheitagladiator jackpot slotmilho

Crédito, Ormuzd Alves

Legenda da foto, Jera Guarani, liderança da aldeia Kalipety,gladiator jackpot slotchapéu (ao centro) durante colheitagladiator jackpot slotmilho

Alimento para o espírito

"Quando ficamos por muito tempo nas aldeias pequenas, perdemos a práticagladiator jackpot slotplantio. Com a terra demarcada, passamos a contar com uma área maior e as pessoas que têm suas memórias vivas, o conhecimento da prática do plantio, retornaram com toda força, querendo ensinar", conta Jera Guarani,gladiator jackpot slot39 anos e moradora da aldeia Kalipety.

"Para os guarani, a comida não pode alimentar só o corpo, mas sim o espírito também", diz ela. "E a comidagladiator jackpot slotbranco não faz isso, ela só nos adoece mais rápido. Hoje tem um número notávelgladiator jackpot slotguarani com diabetes e pressão alta, o que é relacionado com a alimentação que vemgladiator jackpot slotfora."

Lucas Keese, antropólogo e coordenador do estudo, destaca que, sógladiator jackpot slotmilho e mandioca, a safragladiator jackpot slot2019 produzida pelos agricultores guarani da TI Tenondé Porã chegou a 16 toneladas.

"Esse volume, apesargladiator jackpot slotnão ser suficiente para garantir a autossuficiência alimentar para toda a populaçãogladiator jackpot slot1,5 mil pessoas, já é muito significativo, pensando que, há cercagladiator jackpot slotseis anos, a produção era muito menor", diz Keese.

"Esse fortalecimento do plantio está relacionado ao processogladiator jackpot slotdispersão deles pelo território, nessa dinâmica recentegladiator jackpot slotdemarcação", destaca o antropólogo, lembrando que, até 2012, os Guarani da Zona Sul eram cercagladiator jackpot slot1 mil, ocupando apenas as aldeias Tenondé Porã e Krukutu, que à época tinham densidade populacional muito alta para os padrõesgladiator jackpot slotvida Guarani. "A luta pela terra está intrinsecamente ligada a essa cultura agrícola."

Meninogladiator jackpot slotroçagladiator jackpot slotmilho consorciada com mandiocagladiator jackpot slotaldeia da TI Tenondé Porã

Crédito, Ormuzd Alves

Legenda da foto, Meninogladiator jackpot slotroçagladiator jackpot slotmilho consorciada com mandiocagladiator jackpot slotaldeia da TI Tenondé Porã

História da TI Tenondé Porã

A fixação dos indígenas guarani na regiãogladiator jackpot slotParelheiros começa na décadagladiator jackpot slot1950, segundo o Relatório Circunstanciadogladiator jackpot slotIdentificação e Delimitação da TI Tenondé Porã, publicado pela Funai (Fundação Nacional do Índio)gladiator jackpot slot2012.

Conforme o documento, antes da implantaçãogladiator jackpot slotuma colônia alemã,gladiator jackpot slot1827, a região era habitada pelos indígenas emgladiator jackpot slotcirculação entre o litoral e o planalto.

Parelheiros permaneceu rural e pacata até a construção da Estradagladiator jackpot slotFerro Sorocabana, entre 1919 e 1938, quando foram construídas vilas para abrigar os trabalhadores da ferrovia, desconsiderando a presença guarani.

"A partir da décadagladiator jackpot slot1950, sem o devido reconhecimentogladiator jackpot slotseus direitos territoriais, algumas famílias guarani que circulavam pela região,gladiator jackpot slotum contexto cada vez mais acirradogladiator jackpot slotdisputa fundiária, lograram assentar-segladiator jackpot slotáreasgladiator jackpot slotum posseiro japonês, que viriam a ser as futuras aldeias Barragem (Tenondé Porã) e Krukutu, trabalhando justamente na produção agrícola do grileiro, alémgladiator jackpot slotpoderem, com essa proteção, fazer suas próprias roças para subsistência", conta o relatório da Funai.

Nas décadas seguintes, com a população crescendo, essas pequenas áreas homologadasgladiator jackpot slot1987 ficaram insuficientes para a prática da agricultura tradicional guarani. A história só mudaria a partirgladiator jackpot slot2012, com o reconhecimentogladiator jackpot slot15.969 hectares como terras tradicionais do povo guarani pela Funai e com a portaria declaratória do Ministério da Justiçagladiator jackpot slot2016.

As roças indígenas atuais

Entre as culturas plantadas pelos guarani paulistanos atualmente estão espéciesgladiator jackpot slotcultivo anual, como milho, mandioca, feijão, batata-doce, abóbora e melancia, chamadas por elesgladiator jackpot slottembi'u ete'i (comida verdadeira). Há também espécies perenes, como bananeiras e outras árvores frutíferas e plantas madeireiras e medicinais.

Das 1.390 pessoas que vivem nas seis aldeias analisadas, 492 estão envolvidas com a manutenção das roças, ou 35% da população.

Secagem do milho no pós-colheitagladiator jackpot slotaldeia guarani

Crédito, Isis Martins Vuolo

Legenda da foto, Secagem do milho no pós-colheitagladiator jackpot slotaldeia guarani

Entre os adultos,gladiator jackpot slotmédia 31% exercem trabalho remunerado regular, principalmente nos equipamentos públicos da região, como escolas e postogladiator jackpot slotsaúde, ou atravésgladiator jackpot slotbolsas para projetos. Muitos têm a vendagladiator jackpot slotartesanato como principal fontegladiator jackpot slotrenda ou recebem auxílios governamentais, como aposentadoria ou Bolsa Família.

"Ter a possibilidadegladiator jackpot slotgarantir partegladiator jackpot slotseu sustento por meio do que se produz no território é uma alternativa importante, sobretudogladiator jackpot slotcontextos políticos desfavoráveisgladiator jackpot slotausteridade econômica e com ameaçagladiator jackpot slotcortesgladiator jackpot slotauxílios e direitos sociais", defendem os pesquisadores.

Ainda assim, gerar renda não é uma prioridade dos agricultores guarani. Para eles, os objetivos principais do plantio, conforme o estudo, são garantir alimento saudável, fortalecer os saberes e práticas tradicionais, circular o conhecimento entre gerações e alcançar maior autonomia.

"No conceitogladiator jackpot slotvida guarani, temos que viver com o suficiente, nunca ser ganancioso e querer mais do que o necessário. Então, para nós, plantar, colher e vender já quebra essa regra", diz Jera.

"Mais do que isso, não conseguimos conceber essa ideiagladiator jackpot slotvender. Os mais velhos, desde que nascemos na aldeia, ensinam que tudo isso foi deixado para nós pela nossa divindade maior, que chamamosgladiator jackpot slotNhanderuete. Tudo isso para nós é muito sagrado, então não podemos ter a prepotênciagladiator jackpot slotplantar e ganhar dinheiro com isso."

O que falta para a agricultura guarani avançar

Se muito já avançou nos últimos anos, os guarani ainda precisamgladiator jackpot slotapoio paragladiator jackpot slotrenascida agricultura se fortalecer mais.

Segundo o estudo, entre as medidas necessárias, estão o apoio para aquisiçãogladiator jackpot slotinsumos e a assistência técnica para incrementar o manejo agroecológico.

Cultivos guarani no prato: batata-doce, milho e feijão

Crédito, Isis Martins Vuolo

Legenda da foto, Cultivos guarani no prato: batata-doce, milho e feijão

Outra medida necessária,gladiator jackpot slotacordo com os pesquisadores, é fortalecer atividadesgladiator jackpot slotintercâmbio e trocasgladiator jackpot slotsementes.

"Já visitamos aldeias guarani no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e até na Argentina. Em seis anosgladiator jackpot slotvida da minha aldeia, já temos maisgladiator jackpot slot50 tiposgladiator jackpot slotbatata-doce e maisgladiator jackpot slotnove tiposgladiator jackpot slotmilho", conta Jera. "Participamosgladiator jackpot slotfeirasgladiator jackpot slottrocagladiator jackpot slotsemente com não indígenas, onde conseguimos trazergladiator jackpot slotvolta para as aldeias sementes que os guarani mais velhos já não viam há maisgladiator jackpot slot50 anos, como amendoim preto, milho preto e milho branco grande."

Para a liderança da aldeia Kalipety, no entanto, o mais importante é garantir o fortalecimento da terra indígena. "Precisamos ter a demarcação física do nosso território e a 'desintrusão' das pessoas não-indígenas que ainda estão presentes na nossa área", afirma.

Na esfera municipal, a prioridade é o projetogladiator jackpot slotlei do Cinturão Verde Guarani. "É uma lei que garantiria muitas medidasgladiator jackpot slotapoio que já temos pelo Programa Aldeias, da Prefeitura", explica a indígena. "Por ser um programa, no iníciogladiator jackpot slottodos os anos, sempre ficamos preocupados se isso vai continuar ou não. A aprovação dessa lei garantiria às duas terras indígenas, Tenondé Porã e Jaraguá, que não precisaríamos mais nos preocupar."

Para o antropólogo Lucas Keese, o projetogladiator jackpot slotlei é importante não apenas para os indígenas, mas para a população da cidadegladiator jackpot slotSão Paulo como um todo.

"Há poucas áreas remanescentesgladiator jackpot slotMata Atlântica que sobraram ainda no município e grande parte delas está dentro das terras indígenas guarani. Essas terras realizam uma sériegladiator jackpot slotserviços ecossistêmicos, como a salvaguardagladiator jackpot slotvariedades genéticas e a proteção das matas e dos mananciais", diz Keese.

"Pensar o Cinturão Verde Guarani é uma formagladiator jackpot slotfortalecer e proteger a cidade como um todo. Uma formagladiator jackpot slotvalorizar a riqueza ambientalgladiator jackpot slotSão Paulo e pensar um outro projetogladiator jackpot slotcidade, que não seja mais esse centro que vai se expandindo indefinidamente, mas uma outra relação entre centro e periferia."

"É o município deixargladiator jackpot slotver as terras indígenas como algo negativo, uma parte do território que a cidade perde. Pelo contrário, é um ordenamento territorial que fortalece a cidade, trazendo coisas positivas para o município egladiator jackpot slotpopulação."

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