7 coisas que o Brasil deveria fazer para controlar segunda ondazé bettiocovid-19:zé bettio

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Legenda da foto, O crescimento das internações por covid-19zé bettioalguns hospitais privadoszé bettioSão Paulo liga o sinalzé bettioalerta sobre uma possível segunda onda da pandemia

"Isso dependezé bettiouma sériezé bettiofatores, como a mobilidadezé bettiopessoas e a atividade econômica das cidades, sobre os quais não temos controle nenhum", admite o físico Silvio Ferreira, especializadozé bettiosistemas complexos e modelagem epidêmica e professor da Universidade Federalzé bettioViçosa (MG).

Alguns cálculos indicam que a situação da pandemiazé bettiocertos lugares do Brasil já está se agravando agora, quase como se estivéssemos emendando a primeira e a segunda onda.

Os gráficos sobre a incidênciazé bettioSíndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que são um indicativo sobre o estágio mais sério das doenças infecciosas que afetam nariz, garganta e pulmões (casozé bettiogripe e covid-19), voltaram a subir substancialmente nas últimas semanaszé bettiocidades como Florianópolis.

Os númeroszé bettiocasos confirmadoszé bettiocovid-19 estãozé bettioaltazé bettiooutros locais, como na Grande São Paulo e nos Estados do Paraná e Rio Grande do Sul.

"O cenário ainda não está igual ao da Europa e ainda não temos dados oficiais, mas pelo que estamos vendo e ouvindo dos colegas, os casos parecem já estar subindozé bettionovozé bettioalguns locais", observa o médico José Luizzé bettioLima Filho, professor titular da Universidade Federalzé bettioPernambuco.

Ingredientes para a piora do cenário

Algumas projeções indicam que essa segunda onda pode ser agravada pelo final do ano, quando muitas pessoas vão viajar e se reunir com familiares e amigos para celebrar as festas ou aproveitar os diaszé bettiocalor.

Outro fator que pode pesar no futuro é a chegadazé bettiotemperaturas mais frias a partirzé bettiomarço e abrilzé bettio2020. Durante o outono e o inverno, as aglomeraçõeszé bettiolocais fechados se tornam mais frequentes, o que favorece a disseminação do vírus.

Não dá pra ignorar também o relaxamento das regras para o funcionamentozé bettioestabelecimentos comerciais e o cansaço das pessoaszé bettiocontinuaremzé bettioisolamento, por mais que ele continue necessário.

Diantezé bettiotantas possibilidades, a única certeza que os especialistas possuem é que o Brasil tem uma chancezé bettiose organizar bem pelas próximas semanas para criar ações e políticas capazeszé bettiodiminuir infecções, internações e óbitos.

"Precisamos usar a ciência e os modelos preditivos para entender o que pode acontecer num futuro próximo. A partir daí, podemos lançar mãoszé bettiomedidas que mitigam o impacto da covid-19zé bettionossa realidade", analisa o matemático Eliandro Cirilo, da Universidade Estadualzé bettioLondrina (PR).

Confira abaixo sete ações que podem fazer a diferença na força que uma segunda onda terá no Brasil:

1. Melhorar o acesso e a qualidade dos dados

Ainda que o Brasil tenha uma estrutura considerávelzé bettioinformações na área da saúde, matemáticos, epidemiologistas e gestores públicos ainda encontram dificuldade para fazer comparações entre diferentes cidades e regiões ou colocarzé bettiopráticas as ações corretas para cada estágio da pandemia.

"O grande problema está na qualidade dos dados. Não temos certeza sobre a precisão deles ou a frequência com que são disponibilizados. Durante uma pandemia, não basta saber que ocorreram 100 mil casos. Precisamos entender quando eles aconteceram, a faixa etária dos acometidos,zé bettiolocalização, a gravidade…", exemplifica Ferreira.

O ideal seria que todos os municípios do país possuíssem um sistema online igual (ou similar) e uma padronizaçãozé bettiocomo as informações deveriam ser preenchidas segundo alguns critérios.

Assim, os dados seriam repassadoszé bettiomaneira uniforme para as cidades e os Estados até chegarem ao governo federal. Pelo que comentam especialistas, isso ainda não está bem organizado no Brasil.

2. Considerar as realidades locais

Os epidemiologistas são unânimeszé bettioafirmar que não faz sentido analisar um gráfico da covid-19 do Brasil todo. Cada região do país temzé bettioprópria característica e apresenta particularidades sobre os númeroszé bettiocasos, hospitalizações e óbitos.

"Quando analisamos um país continental como o Brasil, o gráfico pode ser generalista demais. A soma do que ocorrezé bettiotodos os Estados acaba não representando nenhum Estado. É necessário analisar lugar a lugar para entender o que está acontecendo", constata o cientistazé bettiodados Isaac Schrarstzhaupt, da Rede Análise Covid-19.

Em alguns locais, como Manaus e Belém, por exemplo, houve um picozé bettioinfectados e mortos. Passadas algumas semanas, a curva caiu e ficou relativamente controlada. Outros lugares, como São Paulo, vivenciaram um platô altozé bettioindivíduos afetados durante muitos meses. Os números não baixaram, nem subiram: ficaram praticamente nivelados por um longo período.

É necessário, portanto, levarzé bettioconta cada cidade, Estado ou região na horazé bettioimplementar ou reforçar as regras que restringem a circulaçãozé bettiopessoas. "Precisamos desenvolver algum tipozé bettiomedida customizada que permita relaxar ou endurecer as políticaszé bettioacordo com o estágio da pandemia e com a realidade local", pensa Cirilo, da Universidade Estadualzé bettioLondrina (PR).

Essa foi a estratégia usadazé bettiooutubro na cidadezé bettioNova York, nos Estados Unidos: o prefeito propôs que os bairros onde o coronavírus estavazé bettiomaior circulação, como Brooklyn e Queens, tivessem o comércio e as escolas fechadas.

3. Ampliar a testagem

"Onde a gente não faz testes, não encontra casos", raciocina Ferreira. A única maneirazé bettioentender o real cenário da pandemia é criar um programazé bettiotestagem populacional, incluindo as pessoas que não apresentam sintomas sugestivos.

Só assim será possível detectar os casos assintomáticos ou com poucos sinais, que representam a grande maioria dos infectados. Apesarzé bettionão sofrerem grandes abalos na própria saúde, essas pessoas podem transmitir o vírus para outras.

Vamos aos números:zé bettioacordo com o site Worldometers, o Brasil tem cercazé bettio5,3 milhõeszé bettiocasos confirmadoszé bettiocovid-19 e 164 mil mortos. Desde março, o país realizou 21 milhõeszé bettiotestes.

Apesarzé bettioser a terceira nação com os números mais altos da pandemia (só fica atrászé bettioEstados Unidos e Índia), nosso país ocupa a 98ª posição no rankingzé bettioexames feitoszé bettiorelação ao tamanho da população. Aparecemos atrászé bettionações como Colômbia, Omã e Bósnia e Herzegovina.

E há outro agravante nessa história: cerca da metade dos testes feitos no Brasil são os rápidos, aqueles que só informam se a pessoa já teve covid-19 no passado, não se ela está com o vírus naquele momento. Para descobrir a doença ativa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza o exame conhecido pela sigla PCR.

A testagemzé bettiomassa permite ter um panorama mais certeirozé bettiocomo está a situação e quais ações são necessárias para conter a disseminação do coronavírus. Foi o que aconteceu na cidadezé bettioKashgar, na China, na última semanazé bettiooutubro: após um surto local, as autoridades fizeram 4,7 milhõeszé bettiotesteszé bettiouma só vez.

"A China tem feito isso com regularidade. Quando eles detectam um aumento pequenozé bettiocasoszé bettiocovid-19 num lugar, fazem milhõeszé bettiotestes para flagrar aqueles indivíduos que estão assintomáticos. Eles são isolados, o que interrompe a cadeiazé bettiotransmissão", contextualiza Schrarstzhaupt.

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Legenda da foto, Os programaszé bettiotestagem são uma das estratégias bem-sucedidas para lidar com o coronavírus

4. Isolar e rastrear contatos

Vamos supor que o programazé bettiotesteszé bettiolarga escala estivesse implementado. Qual seria o próximo passo? Isolar aqueles que foram diagnosticados com a covid-19.

Os protocolos mais bem-sucedidos indicam que esses indivíduos devem ficarzé bettiocasa (se possível,zé bettioum quarto sem contato com familiares ou amigos) pelas próximas duas semanas. Se, no meio do processo, os sintomas se agravarem ou aparecer faltazé bettioar, é preciso buscar a orientação médica ou o pronto-socorro.

O terceiro passo dessa estratégia é o rastreamento. Na prática, isso significa perguntar aos pacientes recém-diagnosticados com quem eles tiveram contato físico nos últimos dias. Essas pessoas são, então, avisadas e orientadas a fazer uma quarentena ou realizar os exames.

Testar, isolar e rastrear, inclusive, são as ações que permitem a países como Tailândia e Nova Zelândia o controle da covid-19 dentrozé bettioseus territórios.

5. Coordenar as ações

Em meio à maior pandemia do século, o Brasil teve três ministros da saúde e acompanhouzé bettioperto brigas públicas entre prefeitos, governadores e o presidente Jair Bolsonaro.

A faltazé bettiocoordenação entre setores do poder público no país fica evidentezé bettioum estudo feito pela Universidadezé bettioOxford, na Inglaterra, a partirzé bettiodados fornecidos pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Eles fizeram entrevistas com prefeitos ou gestoreszé bettiosaúdezé bettio4.061 cidades brasileiras entre março e agostozé bettio2020.

A principal conclusão do trabalho é que a maioria dos locais até adotou medidaszé bettiocontenção (como fechamentozé bettioescolas e do comércio), mas não houve nenhuma decisão conjunta entre municípios vizinhos — portanto, havia um total descompasso que não respeitava as realidades regionais.

A limitação da circulaçãozé bettiopessoas também parece ter durado pouco tempo: logo no finalzé bettiomarço, a maioria das cidades já começou a flexibilizar suas regras por causa da pressão das empresas e dos cidadãos. Tudo isso foi feito sem nenhuma sincronia com os governos estadual ou federal.

6. Divulgar orientações claras sobre as medidas básicaszé bettioproteção

"As pessoas estão cansadas e estressadas com toda a situação. Por outro lado, muitas não têm como sobreviver se ficaremzé bettiocasa. Elas não têm escolha: vão às ruas e se arriscam para garantir o sustento, mesmo com o riscozé bettiose infectar", constata Cirilo.

Agora imagine o barrilzé bettiopólvora que pode ser criado quando os gestores precisarem retomar as medidas mais restritivas para barrar a segunda onda? Na Europa, os toqueszé bettiorecolher e as quarentenas motivaram uma sériezé bettioprotestos e confrontos com a polícia.

Para evitar o mesmo efeito aqui no Brasil, é urgente pensarzé bettioformaszé bettiocomunicar à população a necessidadezé bettionovas restrições. "Devemos explicarzé bettioalguma maneira que talvez seja melhor paralisar as atividades agora do que fechar tudo por muito mais tempo daqui a três meses", propõe Schrarstzhaupt.

Outro ponto que merece reforço constante por meiozé bettiocampanhas públicas são as medidas individuaiszé bettioproteção. "Vamos continuar a manter a distância segura dos outros, usar máscaras e lavar sempre as mãos", orienta Lima Filho.

7. Se antecipar à dinâmica da doença (e ao comportamento das pessoas)

Os especialistas sugerem que os gestoreszé bettiosaúde pública não tomem decisões precipitadas ou atrasadas e acompanhem a dinâmica da doença. Mas o que significa isso?

"Há uma latência natural, uma demora, para começarmos a ver os efeitoszé bettiouma segunda onda. Existe um tempo até o exame ser feito, ele ser analisado e sair o resultado", observa o especialistazé bettiociência da computação Jones Oliveirazé bettioAlbuquerque, do Departamentozé bettioEstatística e Informática da Universidade Federal Ruralzé bettioPernambuco.

A demora não se limita ao diagnóstico: entre o aparecimento dos primeiros sintomas, o agravamento do quadro, a internação e a morte (ou a recuperação e a alta), o processo todo leva quatro semanas ou mais.

Portanto, os impactoszé bettiouma segunda onda sobre a mortalidade só são percebidos muito tempo depois. Se as autoridades esperarem para agir, será tarde demais.

"Nossos representantes deveriam estar pensando desde ontemzé bettiocomo capacitar o sistemazé bettiosaúde e reabrir ou ampliar hospitais e UTIs", alerta Lima Filho.

Por fim, é importante prestar atenção no comportamento das pessoas. Além do cansaço natural com a pandemia e as restrições que ela demanda, a tendência é que mais gente viaje para curtir o verão e as festaszé bettiofinalzé bettioano com amigos e familiares. Isso pode ser evitadozé bettioalguma forma?

Na sequência, depois dos meseszé bettiocalor, a temperatura vai cair. Como evitar que as pessoas se aglomeremzé bettiolocais fechados, onde o riscozé bettiotransmissão do coronavírus é alto?

Essas são algumas perguntas para as quais as autoridades brasileiras precisam encontrar respostas com rapidez.

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