A falta que os mortos na pandemia farão também para a riqueza do Brasil:jogar jogo da roleta

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Estudo preliminar traça hipóteses para esmiuçar justamente o quanto o Brasil perdeu - e deixoujogar jogo da roletaganhar - com as vidas que estão se esvaindo na pandemia

Os pesquisadores Claudio Considera e Marcel Balassiano fizeram as estimativas cruzando dados do Portal da Transparência do Registro Civil, que traz informações sobre as pessoas mortas na pandemia, com a Pesquisa Nacional Por Amostrasjogar jogo da roletaDomicílios Contínua (Pnad Contínua,jogar jogo da roleta2018, do IBGE), que traça um panoramajogar jogo da roletaníveljogar jogo da roletaeducação e renda da população brasileira.

"Essa tragédia já alcança todos nós social ou individualmente. Esse é seu lado humano", escrevem os pesquisadores no estudo.

"Mas há outro lado: essas pessoas vitimadas tinham um certo conhecimento, certas habilidades adquiridas ao longo da vida, que utilizando e transmitindo para os colegas poderiam, por muito tempo ainda, contribuir para gerar renda para si, para eventuais dependentes e, portanto, para o país. Eles farão falta."

Considera e Balassiano estimaram, também, o quanto as pessoasjogar jogo da roletaidade produtiva ainda poderiam,jogar jogo da roletateoria, gerarjogar jogo da roletarenda para o país, levando-sejogar jogo da roletaconta a expectativajogar jogo da roletavida nacional.

Calcularam que as pessoas entre 20 e 69 anos poderiam ter tido a chancejogar jogo da roletagerar, juntas, mais R$ 36,1 bilhões ao longojogar jogo da roletasua vida, caso elas tivessem sobrevivido à pandemia.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Pessoasjogar jogo da roletaidade produtiva que o país perdeu para a covid-19 teriam tido a capacidadejogar jogo da roletagerar mais R$ 36 bilhões ao longojogar jogo da roletasua vida, se tivessem sobrevivido; acima, tributo às vítimas da pandemiajogar jogo da roletasetembro, no Rio

"O presidente fala que todo mundo vai morrer mais cedo ou mais tarde (em referência à fala,jogar jogo da roletaJair Bolsonaro,jogar jogo da roletaque "a morte é o destinojogar jogo da roletatodo mundo", ao comentar os mortos pela pandemiajogar jogo da roletamaisjogar jogo da roletauma ocasião). Isso é uma besteira", afirma Claudio Considera à BBC News Brasil.

"Ele ignora um aspecto, que é essa perdajogar jogo da roletahabilidades quejogar jogo da roletacerta forma é irreparável. Para o país, cada morte é uma perdajogar jogo da roletacapital ejogar jogo da roletacapacidadejogar jogo da roletagerar renda. Se uma máquina deixajogar jogo da roletaproduzir, você pode rapidamente colocar outra no lugar, ela não tem que aprender nada. Uma vida não tem substituição imediata, e talvez não tenha mesmo (nunca)."

O custo das tragédias sociais ao Brasil e ao mundo

Esse conhecimento e essas habilidades intangíveis que as pessoas acumulam ao longojogar jogo da roletasua vida profissional são chamados por economistasjogar jogo da roletacapital humano.

E umajogar jogo da roletasuas principais variáveis é a educação, tanto a formal (anosjogar jogo da roletaestudo) quanto a prática (ou seja, a experiência adquirida durante o trabalho), que impactam enormemente a capacidade produtiva — por isso que o Brasil, com seu históricojogar jogo da roletaproblemas na educação, é considerado globalmente como um paísjogar jogo da roletanível medianojogar jogo da roletaacumulaçãojogar jogo da roletacapital humano.

E isso nos prejudica tanto no âmbito individual quanto nacional.

"O capital humano permite às pessoas ter ciênciajogar jogo da roletaseu potencial como membros produtivos da sociedade", afirma o Banco Mundial, instituição que mede anualmente o capital humano médio dos países.

"Mais capital humano está associado a uma renda mais alta das pessoas, a mais ganhos para os países e a uma coesão mais forte da sociedade. É uma força central no crescimento sustentável e na redução da pobreza."

Para os pesquisadores do Ibre, o mesmo raciocínio da perdajogar jogo da roletacapital humano decorrente da pandemia poderia ser aplicado (e calculado) para outras mortes potencialmente evitáveis, resultadojogar jogo da roletaoutras tragédias brasileiras — como os altíssimos índicesjogar jogo da roletahomicídios e as mortes decorrentesjogar jogo da roletaacidentesjogar jogo da roletatrânsito do país.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Conhecimento e habilidades intangíveis que as pessoas acumulam ao longojogar jogo da roletasua vida profissional são chamados pelos economistasjogar jogo da roletacapital humano

Só no ano passado, o Brasil teve 47.773 mortes violentas intencionais, segundo o Anuário Brasileirojogar jogo da roletaSegurança Pública, divulgado neste mêsjogar jogo da roletaoutubro.

As mortes no trânsito, emborajogar jogo da roletaqueda, foram 30.371 no ano passado.

Esses dois números, juntos, equivalem a quase um Maracanã lotadojogar jogo da roletapessoas mortas a cada ano.

Em 2016, o Institutojogar jogo da roletaPesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calculou que os homicídiosjogar jogo da roletajovens custavam ao Brasil R$ 150 bilhões por ano.

"Cada vida é única, e óbvio que isso é muito mais importante do que a questão econômica", afirma o pesquisador Marcel Balassiano à BBC News Brasil.

"(Mas) todas as tragédias que ocorrem sempre têm uma perdajogar jogo da roletacapital humano com impacto econômico no curto prazo e para o resto da vida —jogar jogo da roletao quanto essas pessoas poderiam produzir."

A mesma lógica vale para outros países que perderam capital humano, seja na pandemia oujogar jogo da roletaguerras e eventos trágicos.

Considera cita, por exemplo, os 6 milhõesjogar jogo da roletamortos no Holocausto. "Pensejogar jogo da roletaquantos eventuais prêmios Nobel estariam ali, quantas pessoas que poderiam ter contribuído para o bem da humanidade, ou na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais. São perdas também do pontojogar jogo da roletavista econômico."

Fragilidade da mãojogar jogo da roletaobra

Considera e Balassiano fazem a ressalvajogar jogo da roletaque, na atual crise econômica do Brasil, muitas das vítimas fatais do coronavírus talvez estivessem entre os maisjogar jogo da roleta65 milhõesjogar jogo da roletabrasileiros que, segundo dadosjogar jogo da roleta2019, já viviamjogar jogo da roletasituação vulnerável no mercadojogar jogo da roletatrabalho e possivelmente sofreriam precarização profissional ainda mais intensa por causa da pandemia. Muitos talvez estivessem desempregados.

Isso não muda, porém, o fatojogar jogo da roletaque suas habilidades e conhecimentos foram precocemente perdidos.

Crédito, Reprodução/Palácio do Planato

Legenda da foto, "O presidente fala que todo mundo vai morrer mais cedo ou mais tarde (em referência à fala,jogar jogo da roletaJair Bolsonaro,jogar jogo da roletaque "a morte é o destinojogar jogo da roletatodo mundo", ao comentar os mortos pela pandemia). Ele ignora um aspecto, que é essa perdajogar jogo da roletahabilidades quejogar jogo da roletacerta forma é irreparável."

Do pontojogar jogo da roletavista dos aposentados — que, embora talvez não gerassem mais renda e dependessem do Estado para sustentar a si e a parentes —, os economistas apontam que "algumas das mortes (na pandemia) levarão a pagamentojogar jogo da roletapensão. (...) Do lado fiscal, sejogar jogo da roletaum lado temos os aposentados que deixarãojogar jogo da roletapesar no INSS, do outro (haverá) mais pensõesjogar jogo da roletaalguns casos. Pesquisas futuras para quantificar esse efeito fiscal ficam como sugestões".

Ambos os pesquisadores ressaltam que seu levantamento é preliminar, com o objetivo de, mais do que estabelecer um cálculo definitivo sobre a perdajogar jogo da roletacapital humano na pandemia, "provocar um debate e falar disso mais qualitativamente do que quantitativamente".

Um desafio global

O problema, claro, é compartilhado pelo restante do mundo,jogar jogo da roletameio às disrupções socioeconômicas provocadas pelo coronavírus. Em relatóriojogar jogo da roletasetembro, o Banco Mundial afirmou que a pandemia "ameaça reverter muitos dos ganhos recentes" na melhoria do capital humano global.

Para voltar a promover o acúmulojogar jogo da roletacapital humano, o Banco sugere que os países não apenas deem apoio às comunidades mais vulneráveis, como voltem seus olhares à educação: desde investirjogar jogo da roletaestímulos cognitivos para as crianças menores (na fasejogar jogo da roletaque seu cérebro está no auge do desenvolvimento) até promover habilidades nas crianças mais velhas e adolescentes.

Isso tudo no cenário desafiador da volta às aulas presenciais, ainda sob a ameaça do contágio pelo coronavírus, que demanda conciliar os esforços da educação à distância com "recursos personalizadosjogar jogo da roletaensino e aprendizagem, urgentemente necessários principalmente para compensar (as oportunidadesjogar jogo da roletaaprendizado) perdidas pelas criançasjogar jogo da roletasituaçãojogar jogo da roletadesvantagem".

E, mesmo antes da pandemia, a desigualdade social já impedia muitos jovensjogar jogo da roletaatingirem seu pleno potencialjogar jogo da roletacapital humano. Agora, o desafio é ainda maior, diz o relatório do Banco Mundial.

"No mundo, uma criança nascida pouco antes da chegada da covid-19 teria como expectativa,jogar jogo da roletamédia, alcançar apenas 56%jogar jogo da roletasua produtividade potencial como trabalhadora futura. (Porque) os abismosjogar jogo da roletacapital humano continuam especialmente profundosjogar jogo da roletapaísesjogar jogo da roletabaixa renda e os que são afetados pela violência, conflitos armados e fragilidade institucional."

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