Por que desenvolver uma vacina é tão complexo — e nem sempre factível:nome de casas de apostas

Médico com frasconome de casas de apostasvacina contra covid-19

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Estudo para criar vacina contra a malária já duram 30 anos

Muito disso tem a ver com o fatonome de casas de apostasque o desenvolvimentonome de casas de apostasum imunizante é processo demorado e caro. O pesquisador Luiz Carlos Dias, professor titular do Institutonome de casas de apostasQuímica, da Universidade Estadualnome de casas de apostasCampinas (Unicamp), explica que as candidatas a vacinas devem passar inicialmente pela fase pré-clínicanome de casas de apostasmodelosnome de casas de apostasanimais, como ratos, camundongos e macacos, para testar segurança e se produzem alguma resposta imunológicanome de casas de apostasdefesa.

As três fases

Se aprovadas, passam por avaliaçãonome de casas de apostastestes clínicosnome de casas de apostasseres humanos, primeironome de casas de apostasfase 1,nome de casas de apostaspequeno gruponome de casas de apostasvoluntários saudáveis, no qual se avalia a segurança, se causa algum tiponome de casas de apostasefeito colateral adverso e a imunogenicidade, ou seja, a capacidadenome de casas de apostasgerar imunização. Se bons resultados são obtidos, segue para estudo clíniconome de casas de apostasfase 2, com centenasnome de casas de apostasparticipantes, coletando informações sobre segurança, doses, horários, modosnome de casas de apostasadministração e imunogenicidade.

Se aprovadas, seguem para a fase 3, num universo maiornome de casas de apostaspessoas, com milharesnome de casas de apostasindivíduosnome de casas de apostasvários países, "Esta etapa fornece resposta definitiva da eficácia,nome de casas de apostasproteção e segurança", explica Dias. "Se a vacina se mostra segura e eficiente, é aprovada e após registro na Agência Nacionalnome de casas de apostasVigilância Sanitária (Anvisa), pode ser produzidanome de casas de apostaslarga escala no Brasil e distribuída para a população. Isso leva tempo, no entanto. A da caxumba, por exemplo, foi uma das mais rápidas desenvolvidas até hoje e demorou 4 anos."

De acordo com Silva, no rol das doenças negligenciadas estão, principalmente, as tropicais (zika, dengue, Chagas, chikungunya e malária, por exemplo), que acometem populações pobres, principalmentenome de casas de apostaspaíses economicamente frágeis. "Se não tem retorno financeiro (mercado) a indústria não terá o apelo comercial para justificar o desenvolvimento e, neste caso, o investimento na pesquisa dependenome de casas de apostasrecursosnome de casas de apostaspaíses desenvolvidos (que tem outros focos),nome de casas de apostasinstituições filantrópicas e dos países acometidos que não têm recursos,nome de casas de apostasfato, ou não têm interesse (incluo o Brasil aqui)", diz. "Ou seja, fica praticamente inviável."

Sem vacina contra a Aids

Quanto aos obstáculos biológicos, um exemplo muito ilustrativo é o caso da aids. Em abrilnome de casas de apostas1984, pouco depois do surgimento da doença, autoridades da áreanome de casas de apostassaúde do Estados Unidos anunciaram que uma vacina para prevenir a disseminação do vírus HIV, o agente causador da enfermidade, estaria pronta dali a dois anos. Como se sabe, maisnome de casas de apostas36 anos depois tal imunizante ainda não existe, apesar dos esforçosnome de casas de apostascientistas do mundo inteiro durante todo esse período.

Pesquisador Walter Beys Silva

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Pesquisador Walter Beys Silva diz que investimento é barreira para pesquisadores

Para o médico Paulo Sérgio Ramosnome de casas de apostasAraújo, professor adjuntonome de casas de apostasDoenças Infecciosas e Parasitarias, da Faculdadenome de casas de apostasMedicina da Universidade Federalnome de casas de apostasPernambuco (UFPE), nas últimas três décadas, muito se avançou, mas talvez ainda se esteja distantenome de casas de apostasuma vacina que tenha efeito protetor contra o HIV.

"Esta dificuldade é multifatorial, mas se deve principalmente à complexidade deste vírus que possui uma grande capacidade adaptativa,nome de casas de apostasforma que alterações nas suas proteínas, codificadas por mutações genéticas, colocam obstáculo na obtençãonome de casas de apostasuma eficaz", explica, "Em contrapartida, todos os testes realizados até agora fizeram a ciência compreender vários mecanismos da vacinologia e que tem contribuído muito para a medicina."

Dias explica que as vacinas usam um antígeno (proteína), que é uma substância estranha ao corpo e que desencadeia uma resposta imunológica, que é a produçãonome de casas de apostasanticorpos e/ounome de casas de apostascélulas citotóxicas (que matam células infectadas). "No casonome de casas de apostasvírus, nós precisamosnome de casas de apostasanticorpos chamados neutralizantes, que, como o nome diz, o neutralizam e o impedemnome de casas de apostasentrar nas células", diz.

Mas também é necessário uma resposta celular, produzindo células citotóxicas (linfócitos tipo TCD4 e TCD8), glóbulos brancos que organizam e comandam a resposta diante dos agressores. "São esses linfócitos TCD4 e TCD8 que memorizam, reconhecem e destroem os microrganismos estranhos que entram no corpo humano", informa. "Algumas pessoas têm poucos anticorpos neutralizantes circulantes, mas podem ter bastante células citotóxicas. São muito importantes esses dois tiposnome de casas de apostasresposta."

De acordo com Dias, a aids é uma doença grave, pois o HIV, seu vírus causador, ataca justamente os linfócitos TCD4, ligando-se a um componente da membrana dessa célula e penetrando no seu interior para se multiplicar. "O sistema imunológico do nosso organismo perde a capacidadenome de casas de apostasdefesa e o corpo fica mais vulnerável a doenças", explica.

Pesquisador Sérgio Suruginome de casas de apostasSiqueira

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Pesquisador Sérgio Suruginome de casas de apostasSiqueira diz que vacinas se diferenciam umas das outras

O imunologista Sérgio Suruginome de casas de apostasSiqueira, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), lembranome de casas de apostasoutro desafio: as vacinas são diferentes umas das outras.

"Então, quando se tenta desenvolver uma contra um patógeno específico, se encontra dificuldades completamente distintas.", diz. "De um modo geral, as dificuldades são, primeiro conhecer as características moleculares do micro-organismo contra o qual se pretende proteger, depois vem a produçãonome de casas de apostasum antígeno vacinal (que é o que se introduz no organismo para gerar resposta imunológica), por fim temos que realizar testes para saber se o imunizante é seguro e eficaz (capaznome de casas de apostasgerar proteção sem causar danos graves às pessoas). Todas estas etapas custam muito tempo e dinheiro."

Dengue, zika e chikungunya

A vacina contra a dengue, por exemplo, segundo ele, apresenta dificuldades relacionadas com a segurança. "Existem quatro variantes do vírus da doença e um imunizante seguro e eficaz contra ela deve proteger contra todas elas", diz. "Se por acaso, alguém responde a três dos tipos e entranome de casas de apostascontato com o quarto na forma selvagem, existe um risco aumentadonome de casas de apostasque este indivíduo adquira a forma grave da doença, ou seja, ao invésnome de casas de apostasproteger, a vacina pode aumentar o dano. Mas isso já está sendo resolvido com as mais recentes."

Apesar desses obstáculos, já existe uma vacina licenciada para a dengue desde 2015, mas ainda não disponível no Programa Nacionalnome de casas de apostasImunizações (PNI). Além disso, há vários gruposnome de casas de apostaspesquisa tentando desenvolver novos imunizantes para a doença. "O Brasil vem tentando produzir uma desde 2009", conta Dias. "O Instituto Butantan está conduzindo estudosnome de casas de apostasFase 3, com uma baseadanome de casas de apostasvírus atenuado e os resultados devem ser divulgadosnome de casas de apostas2021. A companhia japonesa Takeda e a americana Merck Sharp & Dohme (MSD) também vêm trabalhando para desenvolver alguma para a dengue."

No caso da zika e chikungunya, Siqueira diz que são doenças importantes, masnome de casas de apostasincidência não tão grande no mundo, notadamente nos países mais desenvolvidos, onde estão os centros mais sofisticadosnome de casas de apostaspesquisa e desenvolvimentonome de casas de apostasvacinas. "Por isso há um certo desinteressenome de casas de apostaspesquisar e desenvolvê-las", explica. "De todos os modos, alguns desses imunizantes já estãonome de casas de apostasfasenome de casas de apostasdesenvolvimento, inclusive aqui no Brasil e logo teremos a condiçãonome de casas de apostasnos proteger contra estas doenças também."

Malária

Nas lista das enfermidades para a quais é difícil criar uma vacina está com destaque a malária. "Alémnome de casas de apostasser uma doença tropical e, por isso, não despertar interesse comercial, tem também o desafio biológico como ponto forte", diz Silva. "Ela é causada por parasitas do gênero Plasmodium, que são protozoários com ciclonome de casas de apostasvida complexo, alémnome de casas de apostaster maior complexidade estrutural e genética, se comparado a vírus e bactérias, e ainda temos entendimento limitado sobre a resposta imune gerada na infecção."

De acordo com Silva, a exposição prévia ao parasita, por exemplo, não garante imunidade, o que por si só já mostra a dificuldadenome de casas de apostasse induzir uma resposta imune eficiente, duradoura e preventiva, que é o objetivonome de casas de apostasuma vacina. "Então, para organismos mais complexos, como o Plasmodium, é ainda mais desafiador o desenvolvimentonome de casas de apostasum imunizante, porque os alvos no agente causador da doença são maioresnome de casas de apostasnúmero e complexidade", explica. "No caso da malária, o agente causador, por exemplo, apresenta fases diferentes do seu ciclonome de casas de apostasvida no hospedeiro humano. Este patógeno, portanto, acaba mudandonome de casas de apostasapresentação durante o progresso do processo parasitário. Isto tudo ajuda a explicar as dificuldadesnome de casas de apostasse obter uma vacina eficiente para esta doença. Mas investimento e pesquisa podem ultrapassar esta barreiras."

De certa forma, pelo menosnome de casas de apostasparte já foram ultrapassadas. "O mundo vem investigando um imunizante para a malária há aproximadamente 30 anos", conta Dias. "Hoje temos a Mosquirix." Trata-senome de casas de apostasuma vacina, desenvolvida pela GlaxoSmithKline (GSK), uma companhia farmacêutica multinacional britânica, que foi aprovada e já está sendo usada, desde 2019, para imunizar criançasnome de casas de apostas5 a 17 meses, na África Subsaariana. "Sua eficácia é limitada [menosnome de casas de apostas40%], mas podemos considerar como um grande avanço, já que levou quase três décadas para seu estudo, testes e registros", completa Paulo Sérgio Ramosnome de casas de apostasAraújo,

Apesar das dificuldadesnome de casas de apostasdesenvolver vacinas para algumas doenças, os pesquisadores dizem que para nenhuma delas isso é impossível. "Impossível é uma perspectivanome de casas de apostasmomento, não uma realidade", diz Siqueira. "O que não pode ser feito (ou não é prioridade) hoje, poderá ser amanhã. O desenvolvimentonome de casas de apostasimunizantes dependenome de casas de apostaspesquisas sofisticadas e muitos recursos."

O mecanismo geralnome de casas de apostasação das vacinas é conhecido há muito tempo, no entanto, lembra ele. "Deste modo, tornar uma possível depende muito maisnome de casas de apostasuma concentraçãonome de casas de apostasesforços do que propriamentenome de casas de apostasuma dificuldade técnica", explica. "Obviamente que existem patógenos que pornome de casas de apostasnatureza, exigem uma estratégianome de casas de apostasprodução (aquilo que chamamosnome de casas de apostasplataforma) mais complexa, cara e demorada para ser obtida, contudo eu não diria que um determinado imunizante é impossível. Nunca."

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