Brasil responde por um quinto das novas mortes por coronavírus no mundo:jogo dos dados cassino

Somando os dados do Brasil aos da América Latina e do Caribe, conclui-se que a região responde por quase a metade, ou 49,1%, dos novos óbitos semanais pela covid-19 no mundo (16.625 na semana passada). A região é considerada o novo epicentro da pandemia, e tem tido um aumento acentuadojogo dos dados cassinocasos.

Nos dados analisados, a América Latina refere-se a todos os países abaixo do México, incluindo países não hispânicos, como a Guiana Francesa e o Suriname.

Hoje, Brasil e México, os mais populosos da região, são também os países com maior númerojogo dos dados cassinoinfecções e mortes.

'Cada lugar terájogo dos dados cassinovez'

No caso do Brasil, é a sexta semana seguidajogo dos dados cassinoque o país se mantémjogo dos dados cassinoum patamar acimajogo dos dados cassino20%jogo dos dados cassinorelação ao totaljogo dos dados cassinomortes semanaisjogo dos dados cassinotodas as outras regiões, sendo que na primeira semanajogo dos dados cassinojunho chegou a responder por 25%, ou um quarto do totaljogo dos dados cassinonovas mortes no mundo.

Da segunda à última semanajogo dos dados cassinomaio, o país puloujogo dos dados cassino10% a 20% das novas mortes semanais por covid-19jogo dos dados cassinocomparação com o resto mundo.

A covid-19, doença causada pelo coronavírus, já matou maisjogo dos dados cassinomeio milhãojogo dos dados cassinopessoas no mundo inteiro. O totaljogo dos dados cassinomortes no Brasil chegou a 58.314. Ojogo dos dados cassinoinfecções, 1,3 milhão.

"Qualquer lugar é um lugar fértil para o vírus se espalhar. Alguns países foram bem-sucedidosjogo dos dados cassinofechar tudo e não permitir que se espalhasse pela comunidade, mas enquanto não tivermos uma vacina, o vírus fará o que as doenças respiratórias fazem. Cada lugar terájogo dos dados cassinovez", diz Rafael Meza, professor associadojogo dos dados cassinoepidemiologia e saúde global da Universidadejogo dos dados cassinoMichigan.

"Primeiro, foi a China e depois a Europa quem respondia pela maioria dos casos e mortes. Depois, a América do Norte e, agora, a América Latina. O crescimentojogo dos dados cassinocasos na América Latina coincide com o decréscimojogo dos dados cassinocasosjogo dos dados cassinooutras regiões, onde a epidemia chegou antes."

Os dados mostram que do fimjogo dos dados cassinofevereiro para o começojogo dos dados cassinomarço, a Europa passoujogo dos dados cassino3,9%jogo dos dados cassinonovos óbitos semanaisjogo dos dados cassinorelação ao resto do mundo (naquela época, todo o restante era só na Ásia) para 33,9%, e, na segunda semanajogo dos dados cassinomarço, para 67,8%.

O número chegou a atingir 81,1% (quando o Brasil ainda representava 0,5%) e foi regredindo, dando espaço para a América do Norte, quejogo dos dados cassinoseu ponto mais alto atingiu 38,4%, na última semanajogo dos dados cassinoabril.

"Outras regiões podem ser as próximas, e algumas das regiões que já tiverem tido suas 'primeiras ondas' podem ver segundas ondas, então esses números e rankings ainda deve mudar."

Para Meza, o lado positivo é que,jogo dos dados cassinogeral, não houve surtos explosivos na América Latina como os que aconteceram na Itália, que saturaram o sistema - embora, no Equador ejogo dos dados cassinoregiões do Brasil, sistemasjogo dos dados cassinosaúde tenham sido saturados. O númerojogo dos dados cassinocasos e mortes cresceu na região, masjogo dos dados cassinoforma mais lenta que na Europa.

Em países como o Peru, o Chile, o México e a Colômbia, houve um crescimento progressivo no númerojogo dos dados cassinocasos, mas inicialmente administrável, segundo ele. "Isso resultoujogo dos dados cassinoum longo e constante surto, e pode ser que, por isso, demore para que vejamos seu declínio."

No Brasil, a subidajogo dos dados cassinocasos foi mais lenta que nos Estados Unidos, e a curvajogo dos dados cassinoinclinação foi menor quejogo dos dados cassinovários países da Europa, observa Marília Sá Carvalho, pesquisadora da Fiocruz. "Chegamos a um certo platô", diz ela, ainda que um platô alto.

Mas não saberemos como cada país ou região foi atingido pela pandemiajogo dos dados cassinorelação aos outros até que a pandemia finalmente acabe, diz Meza.

Para entender como chegamos até aqui, é preciso voltar no tempo.

Pandemia na América do Sul

O primeiro paciente diagnosticado com coronavírus na América Latina foi no dia 26jogo dos dados cassinofevereiro, no Brasil. Antes disso houve "tempo hábil para tentar evitar que nossa curva fosse tão ascendente quanto tem sido", diz a epidemiologista e bióloga Edlaine Vilela, professorajogo dos dados cassinoepidemiologia da Universidade Federaljogo dos dados cassinoJataí, no Estadojogo dos dados cassinoGoiás.

Ela coordena o projeto brasileiro do International Citizen Project Covid-19 (ICPCovid), um consórcio internacional formado por 20 países que investiga como a população local responde às medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por autoridades locais para controlar o coronavírus.

O segundo país da região a registrar um caso foi o México, dois dias depois do Brasil.

Foi o tempo para que alguns países adotassem medidasjogo dos dados cassinorestrição da circulação do vírus - mas nem todas as regiões adotaram quarentenas ou restrições eficazes.

Apesarjogo dos dados cassinocomeçar mais tarde na América do Sul, a região está nesse quadro "difícil", segundo Sá Carvalho,jogo dos dados cassinoparte porque não foi controlada no Brasil, "que é o maior país da região, e por consequência já teria mais casos, e pouco fez para controlar o vírus".

Além disso, países latino-americanos que começaram bemjogo dos dados cassinosuas respostas à pandemia hoje veem um aumentojogo dos dados cassinoinfecções. É o caso do Chile, que decretou quarentenas no início e fortaleceu os testes no país, mas que hoje vê um expressivo aumento nas taxasjogo dos dados cassinoinfecção pelo vírus.

Um dos primeiros e piores surtos na América Latina foi no Equador, onde famílias demoraram a conseguir a enterrar seus mortos por causa do elevado númerojogo dos dados cassinomortos. Agora, no país, a situação vem se estabilizando - mas esse não é o caso do restantejogo dos dados cassinopaíses da região, onde o pico ainda não foi atingido, segundo especialistas.

O Peru é o país mais afetado da América Latina, com mais mortes per capita, depois do Brasil. Chile e México estão atrás.

Trabalho informal e cidades densas

Um dos grandes problemas no Brasil e outros países da América Latina são economiasjogo dos dados cassinoque "grande parte da população vive com o que ganha no dia e trabalhajogo dos dados cassinomaneira informal", diz Meza. Por isso, segundo ele, elas basicamente não têm como ficarjogo dos dados cassinocasa e respeitar lockdowns completos. É por isso que o vírus continua a se espalhar e não cair rapidamente como foi visto na Europa e na Ásia.

Além disso, diz ele, a América Latina tem cidades grandes com alta densidade, "onde muitas pessoas moram sob o mesmo teto", e uma população com muitos problemasjogo dos dados cassinosaúde crônicos, pobreza e sistemasjogo dos dados cassinosaúde pública com problemasjogo dos dados cassinoalgumas regiões.

Isso fará com que as consequências da pandemia na América Latina sejam "muitas e difíceis". "Os que vão sofrer mais são as pessoasjogo dos dados cassinoáreas com condições econômicas mais pobres."

Por exemplo, cita Meza: "com o foco na covid-19 e nos lockdowns, tendemos a colocar as coisasjogo dos dados cassinolado, como o tratamentojogo dos dados cassinocondições crônicas". Com as taxas altasjogo dos dados cassinodiabetes na América Latina e o fatojogo dos dados cassinoque muitos não estão tendo o tratamentojogo dos dados cassinoque necessitam, haverá repercussões na saúde que irão além da covid-19.

Outro aspecto que a pandemia suscitará na América Latina é a desigualdade econômica. "Há pessoas que podem trabalharjogo dos dados cassinocasa, mas muitas não podem, precisam sairjogo dos dados cassinocasa. Quem tem mais recursos, se sairá melhor. E quem estájogo dos dados cassinodesvantagem,jogo dos dados cassinopiores condições, se sairá pior."

Ou seja, na avaliaçãojogo dos dados cassinoMeza, haverá um aumento nas desigualdadesjogo dos dados cassinoáreas onde já há desigualdades enormes.

"À medida que a pandemia avança na América Latina, especialmente entre as pessoas com menos vantagens econômicas, são elas que serão mais afetadas."

Vilela destaca como, ao recomendar que as pessoas higienizassem as mãos com frequência, "provavelmente nos esquecemos que muitas pessoas não têm acesso a saneamento básico".

Sá Carvalho, da Fiocruz, diz que "mesmo que tivéssemos excelentes políticas públicas, haveria dificuldades no Brasil". "Poucos recursos foram investidosjogo dos dados cassinoaliviar a situação socioeconômica do povo", diz ela. No Brasil, foram R$ 600 por mês para trabalhadores informais. "A desigualdade social e a pobreza dificultam."

A região latino-americana tampouco se destacajogo dos dados cassinorelação à testagem da população. Mas o fatojogo dos dados cassinoque a região tem menos testes do que países como a Nova Zelândia, a Alemanha e países asiáticos "não é uma surpresa, e precisamos entender que países têm diferentes capacidades e infraestrutura", diz Meza. "Talvez nem sejam países comparáveis."

Para ele, dentro da América Latina, o Peru foi destacado como um país que respondeu com eficácia, assim como a Colômbia (a cidadejogo dos dados cassinoMedellín é um exemplojogo dos dados cassinorastreamento agressivo, testagem e administraçãojogo dos dados cassinocasos).

Faltajogo dos dados cassinoclareza e articulação das orientações no Brasil

Mas houve regiões da América Latinajogo dos dados cassinoque autoridades ajudaram menos que as outras, como o Brasil, observa Meza. "Isso causa confusão na população e faz o respeito às regras ser menor."

"Pode ser apontado como a razão pela qual vemos agora particularmente um grande surto como estamos vendo no Brasil, comparável só aos Estados Unidos - e comparável tambémjogo dos dados cassinouma administração e resposta ruins do governo federal, deixando tudo para os governos e Estados locais."

Desde o início da pandemia no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro tem se colocado contrário às medidas tomadas por governadores, como lockdowns ou suspensãojogo dos dados cassinoatividades. Além disso, houve divergências com ministros da Saúde - dois deles deixaram o cargo, que está vago, apenas com um ministro interino, há maisjogo dos dados cassinoum mês.

A divergência entre autoridades políticasjogo dos dados cassinocada região do Brasil e a Presidência faz as pessoas deixaremjogo dos dados cassinoseguir orientações, opina Vilela. "Em pandemias, é importante ter um papeljogo dos dados cassinoliderança muito claro. Não pode haver divergênciajogo dos dados cassinoorientação, ou a população fica confusa e não sabe como agir. Precisamosjogo dos dados cassinoinformação clara, objetiva ejogo dos dados cassinoqualidade", afirma.

As propostas foram contraditórias, diz Sá Carvalho, e faltou articulação entre diferentes níveis. "No início da pandemia o ministro da Saúde teve um conjuntojogo dos dados cassinopropostas que teve um impacto, e a epidemia cresceujogo dos dados cassinoforma mais lenta que nos Estados Unidos. A partirjogo dos dados cassinoum certo momento, entra outro ministro, e o presidente considera que a covid-19 não é uma doença importante."

Futuro

Eventualmente, haverá um decréscimojogo dos dados cassinocasos e mortes na América Latina, diz Meza. "Um dos maiores desafios, particularmentejogo dos dados cassinopaíses da América Latina, onde há segmentos da população que não podem ficarjogo dos dados cassinocasa, haverá muita pressão para encerrar lockdowns e reabrir a economia. E, com isso, aumentojogo dos dados cassinonovos casos enquanto o sistema se acomoda novamente", afirma.

E esses novos casos poderão ser vistos, provavelmente,jogo dos dados cassinonovas regiões. Por exemplo: se a capital paulista viu um grande surtojogo dos dados cassinocasos, eventualmente isso vai diminuir na cidade e outras cidades podem virar o foco.

"Alguns grandes países com muitas cidades grandes poderão ver surtos menores ou regionais que estãojogo dos dados cassinodiferentes fases", diz. "Nosso foco deve começar a mudar para comparar regiões, cidades e estados e não países."

Além disso, o próximo mês levará o inverno para a América do Sul, o que pode desempenhar um papel na disseminação do vírus. Países como o Chile e a Argentina, que antes estavam controlando bem o vírus, já estão vendo aumentos, observa Meza.

No Brasil, regiões já vêm relaxando a quarentena. "A população vaijogo dos dados cassinouma forma gradual abrindo mão. De forma lenta, mas progressiva, abrindo mão do confinamento porque acham que não é necessário", observa Edlaine, da Universidade Federaljogo dos dados cassinoJataí.

Para ela, houve uma "suspensãojogo dos dados cassinoatividades não essenciais no país", mas nunca foi feito o bloqueio total.

Agora, caminhando para o mêsjogo dos dados cassinojulho, "inverno, com sintomas gripais muito mais recorrentes", diz ela, "não é indicado que justamente passemos por uma flexibilização, por um relaxamento das medidasjogo dos dados cassinoprevenção e controle".

"O ideal é que conseguíssemos segurar esse distanciamento físico que foi adotado desde o início pelo menos até o final do mêsjogo dos dados cassinojulho", opina ela.

Acompanhando a curva epidemiológicajogo dos dados cassinooutros países, é possível observar que a epidemia, ou pelo menos essa primeira onda, tem uma duraçãojogo dos dados cassino12 a 14 semanas. "Se isso foi seguir no nosso país, nada melhor do que seguir com distanciamento até meadosjogo dos dados cassinojulho para a segurança da população", afirma.

Enquanto isso não ocorre, é preciso lembrar que à medidajogo dos dados cassinoque o isolamento é afrouxado, há uma explosãojogo dos dados cassinocasos, observa Sá Carvalho. "A essa altura do campeonato no Brasil, não temos como adotar a estratégiajogo dos dados cassinoimpedir a transmissão. A questão é administrar. Aumentou a quantidadejogo dos dados cassinocasos? Restringe."

"É preciso manter a vigilância. É muito difícil parar a economia completamente por muitos meses. Então, você afrouxa um pouco e gradativamente e, sempre que precisar, você recua. Um passo para frente, um passo para trás, mantendo a quantidadejogo dos dados cassinocasos no cabresto, preso, para não explodir", diz ela.

O Institutojogo dos dados cassinoMétricas e Avaliaçãojogo dos dados cassinoSaúde (IHME), da Universidadejogo dos dados cassinoWashington, calcula que o númerojogo dos dados cassinomortes por coronavírus na América Latina deve chegar a 388 miljogo dos dados cassinooutubro, com Brasil e México sendo responsáveis por dois terços das mortes. Segundo a pesquisa, o Brasil deve ultrapassar 166 mil mortes.

Gráficos por Cecilia Tombesi

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