Crianças reproduzem racismo? O debate que transformou escolaerro 512 galera betSP:erro 512 galera bet

Cartazes feitos na Emei Nelson Mnadela cotnra o racismo

Crédito, Arquivo pessoal/Emei Nelson Mandela

Legenda da foto, Emei Nelson Mandela é considerada referênciaerro 512 galera beteducação antirracista

Considerada hoje referênciaerro 512 galera beteducação antirracista, a Emei Nelson Mandela (que abriga 212 alunoserro 512 galera bet4 a 6 anos no bairro do Limão, zona norteerro 512 galera betSão Paulo) só conseguiu criar estratégias para discutir e combater o racismo na escola depoiserro 512 galera betolhar a si própria no espelho, nas palavras da ex-diretora Cibele Racy, que deu início,erro 512 galera bet2011, às discussões sobre o tema comerro 512 galera betequipe.

Bonecos feitos para discutir o racismo na Emei Nelson Mandela

Crédito, Arquivo pessoal/Emei Nelson Mandela

Legenda da foto, Uma família interracialerro 512 galera betbonecos é colocadaerro 512 galera betsituações do dia a dia que permitam aos educadores abordar as relações étnico-raciais com as crianças

"Fizemos uma análise individualerro 512 galera beto que cada umerro 512 galera betnós fazia ou poderia fazer", explica Racy à BBC News Brasil. "Como a equipeerro 512 galera betprofessores se relacionava com as equipeserro 512 galera betlimpeza eerro 512 galera betcozinha? Havia racismo nessas relações? Porque, por menos que a gente queira admitir, a gente replica atitudes racistas. E não é possível combater o racismo sem admitir que você mesmo pode ser racista."

A discussão foi embasadaerro 512 galera betuma leierro 512 galera bet2003, que tornou obrigatório o ensinoerro 512 galera bethistória e cultura afro-brasileiras nas escolas públicas e particulareserro 512 galera bettodo o país.

De estereótipos enraizados e brincadeiras como escravos-de-jó e "barra manteiga na fuça da nega" até situaçõeserro 512 galera betque equipeserro 512 galera betlimpeza (formadas emerro 512 galera betmaioria por mulheres negras) eram colocadaserro 512 galera betposiçãoerro 512 galera betsubserviência, Racy e seus colegas se dispuseram a rever toda a prática da escola que pudesse ter resquícios racistas.

"Muitas vezes, o professor se achava no direitoerro 512 galera betsujar a sala porque sabia que alguém ia limpar. Professoras negras não sentiam que tinham espaço para trazer seus saberes. Fizemos toda essa reflexão antes mesmoerro 512 galera betcomeçar a trabalhar o tema com as crianças."

O príncipe negro

Quando o trabalho chegouerro 512 galera betfato às crianças, um fio condutor foi uma família inter-racialerro 512 galera betbonecoserro 512 galera bettamanho real.

Tudo começou quando as crianças quiseram um espantalho para cuidar da horta da escola, explica Jaqueline Rinaldo, a atual diretora da Emei.

Mas o espantalho, a quem as crianças rapidamente se afeiçoaram, tinha pele branca e olhos claros, pouco representativo dos traços físicos da maioria das crianças da escola.

As educadoras propuseram trocar o espantalho por um príncipe e pediram que as crianças desenhassem como imaginavam que esse príncipe seria. O resultado, novamente, foram desenhos com figuraserro 512 galera betpeles e olhos claros.

"Mas o que chegou foi um príncipe negro, uma desconstrução do que elas imaginavam", conta Rinaldo.

Na narrativa criada pelos educadores, Azizi Abayomi, como foi chamado o boneco príncipe, se casou com uma boneca branca e teve filhos gêmeoserro 512 galera bettonserro 512 galera betpele diferentes.

A família inter-racial é colocadaerro 512 galera betsituações do dia a dia que permitam aos educadores abordar as relações étnico-raciais com as crianças e questões básicas — a começar, por exemplo, pelo efeito da proteína melanina sobre a cor da pele das pessoas.

Ao mesmo tempo, isso foi parteerro 512 galera betum esforçoerro 512 galera bettrazer mais brincadeiras, livros e atividades com personagens negros eerro 512 galera bettemática negra e africana — uma preocupação que a própria Cibele Racy achava importante mas, por si só, insuficiente no antirracismo da escola.

"Essa representatividade (em livros e brincadeiras) é um passo inicial — desde as músicas que escolhemos para elas ouvirem até os livros que compramos. Mas a lei (que torna obrigatório o ensinoerro 512 galera bethistória negra) vai muito além. Foi preciso mudar toda a vida da escola."

Alunos da Emei Nelson Mandela

Crédito, Arquivo pessoal/Emei Nelson Mandela

Legenda da foto, Educadora defende "trazer ações para o grupo inteiroerro 512 galera betalunos refletir" sobre o racismo, por meioerro 512 galera betbrincadeiras e atividades que abordem as relações étnicas e a cor da pele

A estratégia envolveu também as famílias das crianças, descartando a "superioridade que a escola poderia ter sobre famílias economicamente não favorecidas" e convidando pais para serem diretores por um dia e contribuírem com seus saberes no cotidiano da escola.

De volta à pergunta que inicia esta reportagem, sobre atitudes sutis e potencialmente racistas das crianças, havia algumas: por exemplo, não querer sentar na cadeira antes ocupada por um amiguinho negro; achar que o príncipe Azizi deveria casar com uma boneca loira porque "negro gostaerro 512 galera betloira".

"O que se costuma dizer para uma criançaerro 512 galera betum caso assim é: 'não faz isso, é tão feio'. Mas isso não é uma prática antirracista", argumenta Racy. "A criança vai sentir, e só não vai falar aquilo (a fala potencialmente racista). Tentamos não subestimar as crianças e dar a liberdade para que elas falassem."

A educadora defende que a reação mais eficiente é,erro 512 galera betvez do sermão individual, "trazer ações para o grupo inteiroerro 512 galera betalunos refletir", por meioerro 512 galera betbrincadeiras e atividades que abordem as relações étnicas e a cor da pele. "Você combate atitude racista com conhecimento."

Ataque racista

Um pontoerro 512 galera betvirada na história da escola foi, aindaerro 512 galera bet2011, a troca da Festa Junina anual por uma Festa Afrobrasileira, com concursoserro 512 galera betroupas e penteados afro, rituaiserro 512 galera betreligiõeserro 512 galera betorigem africana e "mensagenserro 512 galera betluta e resistência".

Racy concorda que houve polêmica por substituir uma festa tão tradicional brasileira, mas argumenta que "somos uma escola localizadaerro 512 galera betum bairro negro, cercadaerro 512 galera betescolaserro 512 galera betsamba. E, àquela altura, já estávamos próximos das famílias,erro 512 galera betum processoerro 512 galera betconquista da comunidade".

Alguns meses depois da festa, a escola sofreu pichaçõeserro 512 galera betseu muro: uma suástica nazista ao lado da frase "vamos cuidar do futuroerro 512 galera betnossas crianças brancas".

O caso virou notícia, e a escola respondeu pintando o muro com desenhos das crianças e levantando um abaixo-assinado para mudar seu nome — que na época ainda era Emei Guia Lopes,erro 512 galera bethomenagem a um herói da Guerra do Paraguai — para Emei Nelson Mandela.

"Escolhemos porque as crianças tinham ficado encantadas com a históriaerro 512 galera betMandela", conta a ex-diretora.

A históriaerro 512 galera betduas meninas

No outro extremo da cidade, no Jardim Shangrilá, às beiras da represa Billings (zona sulerro 512 galera betSão Paulo), outra escolaerro 512 galera beteducação infantil segue os mesmos passos.

Inaugurada no início deste ano, a Emei Jardim Ideal por enquanto operou mais tempoerro 512 galera betmodo remoto, por conta da quarentena, do queerro 512 galera betmodo presencial.

Mas os primeiros meseserro 512 galera bettrabalho já despertaram na equipe a necessidadeerro 512 galera betadotar práticas antirracistas.

"Uma experiência muito marcante para mim veio da unidade escolar anterior onde trabalhei, com duas meninas: Luiza e Carolina (nomes alterados pela reportagem para preservar a identidade das crianças),erro 512 galera bet4 anos, são melhores amigas desde a época que estavam no centroerro 512 galera beteducação infantil", conta à BBC News Brasil Janaína Martins, coordenadora pedagógica.

"Luiza é loira,erro 512 galera betolhos claros e cabelos sempre presoserro 512 galera betuma trança. Carolina é negra. A Luiza mandava na Carolina, que era submissa e se desdobrava para agradar a amiga. 'Carolina, eu te mandei fazer isso', a Luiza dizia. Fizemos um longo trabalho para construir uma identidade mais positiva na Carolina, ajudá-la a se impor. E, com a Luiza, também conversamos muito, a acolhemos. Dissemos 'você não pode mandar nela, ela pode escolher tanto quanto você'."

Martins diz que, apesar do desconforto da situação, "foi lindo ver como elas romperam e depois se reaproximaram com uma nova configuraçãoerro 512 galera betamizade. A Carolina, que só usava o cabelo preso e desenhava a si mesma como loira, passou a usar o cabelo solto, deixouerro 512 galera betser tão retraída."

Martins usa o exemplo para sustentar a ideiaerro 512 galera betque o racismo deve começar a ser desconstruído ainda mais cedo: no berçário.

"É algo que as crianças vivem pela experiência: elas sabem a forma como são olhadas ainda como bebês, veem quem é acalentado primeiro quando chora ou durante o banho. Isso vai formando a identidade delas."

Martins eerro 512 galera betequipe também iniciaram atividades educativas que abordavam o racismo, desde cobrir bonecas com meia-calça para dar-lhes diferentes tonserro 512 galera betpele até reimaginar os personagens da Turma da Mônica com outras raças e cores.

Pandemia

Para as duas escolas, a pandemia do coronavírus trouxe desafios novos.

Com gruposerro 512 galera betWhatsApp e Google Classroom, a Emei Jardim Ideal por enquanto só conseguiu engajar cercaerro 512 galera betum terço dos 160 alunos, explica Martins, lembrando que muitas famílias da escola moramerro 512 galera betregiõeserro 512 galera betsituaçãoerro 512 galera betvulnerabilidade e têm dificuldadeserro 512 galera betacesso à internet. Em uma pesquisa com as famílias, a escola identificou queerro 512 galera bet52% delas houve perdaerro 512 galera betemprego durante a pandemia.

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Conteúdo não disponível

Veja maiserro 512 galera betFacebookA BBC não se responsabiliza pelo conteúdoerro 512 galera betsites externos.

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Com as aulas presenciais suspensas, mas o debate sobre o racismo aquecido pelo noticiário, a escola elaborou um conjuntoerro 512 galera betdicas para os pais dos alunos, para estimular conversaserro 512 galera betcasa.

"Sabemos que isso faz parte do universo infantil", diz Martins. "Não queríamos fazer um manual, e não é um material pronto, mas serve para alimentar o debate e é algo que vamos atualizar ao longo do ano."

Feito com aconselhamentoerro 512 galera betrepresentantes do movimento negro, o material recomenda que "sempre que falarerro 512 galera betcabelos, faleerro 512 galera betbeleza, da diversidade", lembra que as crianças captam as nuanceserro 512 galera bet"piadas" racistas e as reproduzem e pede que as pessoas "repensemerro 512 galera betlinguagem", evitando termos com raiz racial, como "carta branca" ou "mercado negro".

"Não é mimimi", argumenta o texto, acrescentando que "o silêncio (sobre o tema) não oferece repertório para que a criança enfrente o racismo na sociedade."

Na Emei Nelson Mandela, diretora Jaqueline Rinaldo conta que a equipe questionou a própria Secretariaerro 512 galera betEducação pelo fatoerro 512 galera beto material impresso entregue aos alunos ter referências a brincadeiras como escravos-de-jó.

Mas uma brincadeira tem cunho racista por ter um nome com ranço racista?

"Sim. Brincadeiras são carregadaserro 512 galera betsignificado", justifica Rinaldo. "Algumas pessoas dizem, 'mas já é algo da nossa cultura'. Mas não podemos continuar reproduzindo."

O Núcleoerro 512 galera betEducação Étnico-Racial (Neer) da Secretaria Municipalerro 512 galera betEducação respondeu à BBC News Brasil que está ciente do questionamento sobre o material impresso e está tomando providencias para revisar a atividade.

Jussara Nascimento, do Neer, explicou à reportagem que o núcleo também tem ações constanteserro 512 galera betformaçãoerro 512 galera beteducadoreserro 512 galera betrelações étnico-raciais, ajuda na construçãoerro 512 galera betcurrículo e escolhaerro 512 galera betmateriais que permitam essas discussõeserro 512 galera betsala e também traduz documentos e material didático para os 7,2 mil estudantes imigrantes da rede municipal.

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