O que está por trás da alta recorde do risco-país, que mede a desconfiança do investidor estrangeiro sobre o Brasil:

Ibovespa

Crédito, EPA

Legenda da foto, Ibovespa caiu 12,17%, a maior baixa porcentual diária desde 1998

Desde que as notícias a respeito do avanço global do coronavírus passaram a assustar o mercado financeirotodo o mundo, piorou também a percepção do investidor estrangeiro a respeito do Brasil.

Nos primeiros diasmarço, os indicadores que medem a desconfiança estrangeira nas economias emergentes, como a brasileira, apontaram piora para além da alta do dólar e da queda do mercadoações, que nesta segunda-feira (9) teve a pior desvalorização do século.

A BolsaValoresSão Paulo chegou a ter as negociações suspensas temporariamente após atingir 10%queda pouco depois do início do pregão — levando ao acionamento do mecanismo chamadocircuit breaker. O Ibovespa, principal índice da Bolsa, fechou o diaqueda12,17%, caindo a 86.067 pontos, a maior baixa percentual diária desde 10setembro1998. .

Sómarço, a percepçãorisco medida pelo CDS (Credit Default Swap) aumentou 75%,110 pontos para 193 pontos, segundo dados compilados pelo economista Joelson Sampaio, professor na EscolaEconomiaSão Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP). Sósexta para segunda-feira, o indicador aumentou 33%.

A BBC News Brasil ouviu economistas para entender, na prática, o que significa esta perdaconfiança na economia brasileira.

Maneirasmedir

Além do CDS, outra maneiramedir o risco país é pelo indicador EMBI+, calculado pelo bancoinvestimentos JP Morgan desde 2004 e que é um índice baseado nos bônus (títulosdívida) emitidos pelos países emergentes. Segundo o Ipeadata, o indicador começou o ano218 pontos, chegou a bater os 252 pontos no fimfevereiro e 247 pontos no iníciomarço.

Na prática, o que o indicador sinaliza é o quanto a mais um investidor exigiria receberum título brasileiro na comparação com o título dos EUA, considerado o mais seguro do mundo.

Os pontos calculam o spread soberano, que é a diferença entre a taxaretorno dos títulospaíses emergentes e a oferecida por títulos emitidos pelo Tesouro americano. O cálculo considera uma cestatítuloscada país.

"O risco país mede o spread entre a taxa do bônus soberano público com um dado períodovencimentorelação a um título americano. O spread mostra o quanto você está disposto a bancar para ficar com o riscolevar um default (calote)cimaum papel", explica o professor do Insper, Fernando Ribeiro.

No período pré-eleitoral2002, quando as incertezasrelação ao futuro do país eram grandes no exterior, o risco-país chegou a subir para 2.436 pontos.

Sampaio diz que, embora o risco-país seja um indicador importante para se analisar a postura dos investidores para além da Bovespa e do dólar, é uma medida muito volátil, que reagemaneira rápida e intensa. Não significa, por exemplo, que o aumento do risco país representará, na mesma intensidade, um impacto na economia real. "O mercado reage rápidoforma intensiva, mas essa velocidade não reflete o lado real", diz. "Interessante é ter um poucocautela".

Paulo Guedes, ministro da Economia

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Crescimento da economia brasileira2019 decepcionou investidores

Medo global

Para o economista Rodrigo De Losso, Ph.D.economia pela UniversidadeChicago (EUA) e professor titular da FEA/USP, a piora dos indicadoresrisco refletem majoritariamente a piora do cenário global. Embora a economia do Brasil esteja crescendo lentamente e o crescimento1,1% do PIB tenha decepcionado as expectativasgrande parte dos analistas, tal decepção já estava precificada.

De Losso destaca que, antes das notícias sobre o espalhamento global do coronavírus, o risco país vinha caindo a mínimas históricas. "Até dias atrás estávamos na menor diferença possível ao longotodos esses anos.

Por causa do coronavírus e do petróleo, os agentes estão percebendo que o país está mais vulnerável, porque vai ter mais dificuldade para exportar, a China vai exportar menos e isso pode gerar uma dificuldade para o país", diz.

Ele pondera, inclusive, que ainda é preciso esperar para saber se a reação dos mercados é exagerada, ou se realmente o efeito do novo vírus levará a economia global ao riscouma nova depressão.

Para Fernando Ribeiro, do Insper, o fatoo cenário global ser o principal elemento do noticiário econômico dos últimos meses não isenta a participação doméstica na percepçãorisco dos investidores.

Para Ribeiro, o crescimento baixo da economia aliado à paralisação das reformas desde a reforma da Previdência também geram incertezarelação à trajetória das contas públicas brasileiras.

"Eu acho que estamosuma sobreposiçãodois elementosmal-estar: um lá fora e um doméstico", diz. "Se estivesse tudo bem no Brasil, o risco país subiria diante dessa turbulência global, mas não subiria tanto", analisa.

Diz que pesam contra o Brasil, além do desempenho fraco da economia, "um poder Executivo que se esmeraentrarembates com o poder legislativo e nãoencaminhar uma agenda ao Congresso. E que foi se perdendo no caminho que tinha para a política econômica".

Ribeiro diz que, depois da reforma da Previdência, pouca coisa mudou no sentidoacelerar a economia e melhorar o desempenho das contas públicas do Brasil. "Mas a sensação dos empresários é que você tinha que assumir com uma tônica para onde ir, começou a trilhar isso e depois parou. Uma economia que cresceu pouco, testa os limites da democracia".

Línea

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