Descobrimento do Brasil: os bastidores da viagemviih tube casa de apostas44 dias que levou Pedro Álvares Cabral ao país:viih tube casa de apostas

Legenda do áudio, Os bastidores da viagemviih tube casa de apostas44 dias que levou Pedro Álvares Cabral ao Brasil

A frotaviih tube casa de apostasCabral era formada por nove naus, três caravelas e uma navetaviih tube casa de apostasmantimentos. Além do formato das velas, o que diferenciava uma embarcação da outra era o tamanho: enquanto as caravelas mediam 22 metrosviih tube casa de apostascomprimento e transportavam até 80 homens, as naus podiam chegar a 35 metros e tinham capacidade para 150 tripulantes.

"A frota era composta por uma variedadeviih tube casa de apostasprofissionais: havia o capitão e, abaixo dele, o piloto, responsável pela navegação, o mestre e contramestre, que lideravam os marinheiros, e o condestável, que comandava a artilharia", explica Antônio Carlos Jucá, diretor do Institutoviih tube casa de apostasHistória da Universidade Federal do Rioviih tube casa de apostasJaneiro (UFRJ).

Crédito, Editora L&PM

Com o tempo bom e o vento favorável, Cabral eviih tube casa de apostastripulação zarparamviih tube casa de apostasLisboa, rumo a Calicute, na Índia, no dia 9viih tube casa de apostasmarçoviih tube casa de apostas1500. Curiosamente, o homem a quem o então reiviih tube casa de apostasPortugal, Dom Manuel 1º (1469-1521), o Venturoso, confiara a maior, a mais cara e a mais poderosa armada portuguesa nunca tinha comandado uma esquadra antes.

"Se houve imprevistos? Bem, ocorreu um enorme imprevisto, sim: a chegada ao Brasil", afirma Paulo Pinto, da Faculdadeviih tube casa de apostasCiências Sociais e Humanas, da Universidade Novaviih tube casa de apostasLisboa,viih tube casa de apostasPortugal.

"A armada tinha como destino a Índia e tocou a costa brasileira por acidente. É possível que Portugal já suspeitasse da existênciaviih tube casa de apostasterras naquela região, mas a verdade é que Cabral e seus homens foram apanhadosviih tube casa de apostassurpresa. A chegada ao Brasil foi, portanto, um acidenteviih tube casa de apostaspercursoviih tube casa de apostasuma jornada que tinha objetivos estratégicos bem definidos. A Índia era a prioridade número um da coroaviih tube casa de apostasPortugal."

'Mar Tenebroso'

Com apenas oito diasviih tube casa de apostasviagem, a frota enfrentouviih tube casa de apostasprimeira tormenta. Tão forte que, próximo ao arquipélagoviih tube casa de apostasCabo Verde, a nau comandada por Vascoviih tube casa de apostasAtaíde, que transportava 150 homens, sumiu do mapa. A cada três navios que partiamviih tube casa de apostasPortugal, um era "engolido pelo mar".

Não à toa, o Atlântico era conhecido como "Mar Tenebroso". "Alémviih tube casa de apostasperder umviih tube casa de apostasseus barcos, Cabral teveviih tube casa de apostasenfrentar, no primeiro trecho da viagem, 20 diasviih tube casa de apostascalmaria", relata José Carlos Vilardaga, professorviih tube casa de apostasHistória da América na Universidade Federalviih tube casa de apostasSão Paulo (Unifesp).

"Quando isso acontecia, o barco ficava quase totalmente parado no meio do oceano. Isso aumentava o tédio e o calor a bordo."

Crédito, Museu Histórico Nacional

Legenda da foto, Ao todo, os 13 navios transportavam 1,5 mil homens, entre médicos, boticários, religiosos, calafates e até condenados à morte que aceitavam trocarviih tube casa de apostaspena pelo exílio

Ao todo, os 13 navios transportavam 1,5 mil homens, entre médicos, boticários, religiosos, calafates (especializadosviih tube casa de apostastapar e vedar buracos e frestas) e até degredados, isto é, condenados à morte que aceitavam trocarviih tube casa de apostaspena capital pelo exílioviih tube casa de apostasterras desconhecidas. Na maioria das vezes, eram os primeiros a desembarcar. Se fossem atacados por selvagens, não fariam muita falta.

Do totalviih tube casa de apostas1,5 mil homens, apenas 500 conseguiram voltar, sãos e salvos, para casa. O restante morreu no mar, vítimaviih tube casa de apostasnaufrágios ouviih tube casa de apostasdoenças, como o escorbuto, que provocava sangramento nas gengivas. Em algumas expedições, a proporçãoviih tube casa de apostasmédicos para marinheiros eraviih tube casa de apostasum para três mil. Viajar era tão arriscado que, antesviih tube casa de apostaszarpar, muitos marujos já deixavam seus testamentos assinados.

A presençaviih tube casa de apostasmulheres a bordo não era permitida. Já crianças e adolescentes podiam embarcar. A maioria,viih tube casa de apostasnove a 15 anos, era alistada pelos pais que,viih tube casa de apostastroca, embolsavam o soldo dos filhos. Durante a viagem, desempenhavam as funçõesviih tube casa de apostasgrumetes eviih tube casa de apostaspajens.

"A vida dos 'miúdos' a bordo era um inferno. Muitas vezes, eles sofriam abusos sexuais", relata Buenoviih tube casa de apostasBrasil: Terra à Vista!.

O Cabo do Tormentas

A tripulação,viih tube casa de apostaslinhas gerais, podia ser divididaviih tube casa de apostasmarinheiros, soldados e religiosos. Os marinheiros executavam as tarefas náuticas, como içar velas, baixar âncoras ou manejar instrumentos, como o astrolábio, usado para medir a altura do Sol ao meio-dia e das demais estrelas à noite.

Alguns dos mais tarimbados navegadores da época, como Bartolomeu Dias (1450-1500), participaram da aventura. Doze anos antes, ele ficou famoso por ter sido o primeiro a contornar o cabo da Boa Esperança, ao sul da África.

Por uma trágica ironia, na madrugada do dia 23viih tube casa de apostasmaio, uma tormenta desabou sobre a frotaviih tube casa de apostasCabral e afundou outros quatro navios. Quatrocentos homens, incluindo Dias, foram "engolidos pelo mar". Onde estavam? Próximos ao cabo da Boa Esperança, chamadoviih tube casa de apostasCabo das Tormentas antes da viagem bem-sucedida do próprio Dias.

Crédito, Biblioteca da Academiaviih tube casa de apostasCiênciasviih tube casa de apostasLisboa

Legenda da foto, Estima-se que, na época do descobrimento, havia entre 500 mil e um milhãoviih tube casa de apostasindígenas habitando o litoral brasileiro

Já os soldados, a maioria sem formação militar, eram os responsáveis pela artilharia e munição. As embarcações portuguesas, aliás, foram as primeiras a singrar os mares com artilharia pesada a bordo. As nove naus que compunham a frotaviih tube casa de apostasCabral eram equipadas com pesados canhões.

Os religiosos — emviih tube casa de apostasmaioria, frades franciscanos — eram incumbidosviih tube casa de apostasrezar missas e ouvir confissões. Seu superior era Dom Henrique Soaresviih tube casa de apostasCoimbra (1465-1532). Foi ele que, no dia 26viih tube casa de apostasabril, na praiaviih tube casa de apostasCoroa Vermelha, no litoral da Bahia, celebrou a primeira missa no Brasil, assistidaviih tube casa de apostasperto pela tripulação e, ao longe, por cercaviih tube casa de apostas200 indígenas.

"Devido à escassezviih tube casa de apostaságua e comida, as condiçõesviih tube casa de apostasvida a bordo eram muito ruins. A mortalidade,viih tube casa de apostasgeral, giravaviih tube casa de apostastornoviih tube casa de apostas2% a 3% da tripulação, mas podia ultrapassar os 10% do total. Assim, os doentes eram logo aconselhados a se confessar e a receber a extrema-unção", relata Antônio Carlos Jucáviih tube casa de apostasSampaio, diretor do Institutoviih tube casa de apostasHistória da Universidade Federal do Rioviih tube casa de apostasJaneiro (UFRJ).

Banqueteviih tube casa de apostasratos

Os tripulantes não desfrutavamviih tube casa de apostasqualquer conforto. Pelo contrário. Como os porões dos navios eram usados para estocar os tonéis com água, mantimentos e munição, os marinheiros dormiam no convés, ao relento,viih tube casa de apostascolchõesviih tube casa de apostaspalha.

"Naquela época, tomar banho era raro atéviih tube casa de apostasterra firme, quanto maisviih tube casa de apostasviagens oceânicas. A marujada urinava no mar e defecavaviih tube casa de apostasbaldes. As condições eram insalubres", esclarece Ronaldo Vainfas, professorviih tube casa de apostasHistória Moderna na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Crédito, Fundação Biblioteca Nacional

Legenda da foto, Durante toda a viagem, os marinheiros dormiam no convés, ao relento,viih tube casa de apostascolchõesviih tube casa de apostaspalha

"Talvez o melhor depoimento sobre a insalubridade das viagens atlânticas para o Brasil esteja na obra do francês Jeanviih tube casa de apostasLéry (1534-1611): quando os biscoitos acabavam ou estragavam, os marujos comiam ratos. Havia até uma cotação para o preço do rato nos navios."

Os momentosviih tube casa de apostaslazer eram poucos. "Enquanto uns improvisavam rodasviih tube casa de apostascantoria, outros preferiam jogar cartas", exemplifica Vilardaga. O cardápio dos marujos consistiaviih tube casa de apostaságua (1,5 litros por dia) e biscoito (600 gramas diários). Já os capitães da frota, todosviih tube casa de apostasorigem nobre, tinham direito a vinho (1,5 litro por dia) e a carne e peixe (15 kg por mês).

"Apesarviih tube casa de apostasestarem no mesmo barco, o acesso à comida, basicamente biscoitos, carneviih tube casa de apostasbanha e peixes salgados, e água potável, armazenadaviih tube casa de apostastonéisviih tube casa de apostasmadeira e racionada para durar toda a viagem, acontecia conforme o status social. Ou seja, seus lugares nas hierarquias da sociedade da época tendiam a ser replicados a bordo", explica Aldair Rodrigues, professor do Departamentoviih tube casa de apostasHistória da Universidade Estadualviih tube casa de apostasCampinas (Unicamp).

Além das mordomias, os capitães ganhavam um ótimo salário. Só Cabral, o capitão-mor, embolsou 10 mil cruzados — algoviih tube casa de apostastornoviih tube casa de apostas35 quilosviih tube casa de apostasouro. Quem não obedecia às ordensviih tube casa de apostasseus superiores ou descumpria as regras da embarcação não era jogado aos tubarões, mas mandado,viih tube casa de apostascastigo, para o porão. Infestadoviih tube casa de apostasratos e baratas, o lugar era, para dizer o mínimo, uma imundície.

'Terra à vista!'

Ao todo, a jornada durou 44 dias. No dia 21viih tube casa de apostasabril, os marinheiros começaram a avistar os primeiros "sargaços" (um tapete flutuanteviih tube casa de apostasalgas marinhas) nas águas e "fura-bruxos" (um bandoviih tube casa de apostaspássaros semelhantes a gaivotas) nos céus. No dia seguinte, a uns 60 quilômetros da costa, alguém gritou: "Terra à vista!". Era o entardecer do dia 22viih tube casa de apostasabrilviih tube casa de apostas1500.

Crédito, Fundação Biblioteca Nacional

Legenda da foto, A jornadaviih tube casa de apostasCabral ao Brasil durou 44 dias

A frota ancorou a 35 quilômetros da costa,viih tube casa de apostasfrente a um monte batizadoviih tube casa de apostasPascoal. Na manhã seguinte, ela avançou até uma distânciaviih tube casa de apostas3 km da praia, e o capitão Nicolau Coelho (1460-1504) foi o escolhido para fazer o reconhecimento do território.

Chegando à praia, a bordoviih tube casa de apostasum escaler, embarcação pequena,viih tube casa de apostasproa fina e popa larga, movida a remo, ele presenteou os nativos com um gorro vermelho, uma carapuçaviih tube casa de apostaslinho e um chapéu preto. Em troca, ganhou um cocarviih tube casa de apostasplumas e um colarviih tube casa de apostascontas.

Estima-se que, na época da chegada dos portugueses, havia entre 500 mil e um milhãoviih tube casa de apostasindígenas habitando o litoral brasileiro. "Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse as vergonhas", descreveu Pero Vazviih tube casa de apostasCaminha (1450-1500), um dos sete escrivães da frota, na famosa carta do "achamento do Brasil". "Traziam nas mãos arcos e setas."

Antesviih tube casa de apostasseguir para as Índias, Cabral e seus homens passaram dez dias no paraíso. No dia 2viih tube casa de apostasmaio, partiram rumo a Calicute, deixando para trás dois degredados. Quando os navios desapareceram no horizonte, estes caíram no choro e foram consolados pelos indígenas.

O exílio dos chorões, porém, durou pouco:viih tube casa de apostasdezembroviih tube casa de apostas1501, foram recolhidos pela primeira expedição enviada por Dom Manuel 1º para explorar a mais nova colônia portuguesa.

Os degredados não foram os únicos a permanecer no Brasil. Na calada da noite, dois grumetes, cansados dos maus-tratos a bordo, roubaram um escaler e fugiram para a praia. Nunca mais se ouviu falar deles.

A navetaviih tube casa de apostasmantimentos, comandada por Gasparviih tube casa de apostasLemos, foi mandadaviih tube casa de apostasvolta a Portugal. Sua missão era comunicar ao rei o "achamento" da nova terra. Até ganhar o nomeviih tube casa de apostasBrasil, o território foi chamadoviih tube casa de apostasIlhaviih tube casa de apostasVera Cruz por Pedro Álvares Cabral eviih tube casa de apostasTerraviih tube casa de apostasSanta Cruz pelo rei Dom Manuel 1º.

O 'achamento' do Brasil

A segunda parte da viagem durou pouco maisviih tube casa de apostascinco meses. No dia 13viih tube casa de apostassetembroviih tube casa de apostas1500, a frotaviih tube casa de apostasCabral, reduzida a seis navios, chegou ao seu destino: Calicute. Na Índia, a esquadra sofreu novas baixas. Pero Vazviih tube casa de apostasCaminha, o autor da famosa "certidãoviih tube casa de apostasnascimento" do Brasil, foi morto, no dia 16viih tube casa de apostasdezembro,viih tube casa de apostasum ataqueviih tube casa de apostasmercadores árabes.

De volta a Portugal, o que restou da esquadra atracou no Porto do Restelo, no dia 21viih tube casa de apostasjulhoviih tube casa de apostas1501.

"Apesarviih tube casa de apostaster sofrido perdas, a missão foi um sucesso. Depoisviih tube casa de apostasseu regresso, Cabral recebeu várias honrarias, mas não voltou a ser nomeado para o comandoviih tube casa de apostasqualquer expedição relevante. Isto tem dado origem a algumas interrogações. Historiadores falam que o rei teria ficado insatisfeito com os seus serviços, mas são apenas especulações", pondera Pinto, da Universidade Novaviih tube casa de apostasLisboa.

Por pouco, o Brasil não fora encontrado por outros navegadores: um português, Duarte Pacheco Pereira (1460-1533), e dois espanhóis, Vicente Pinzón (1462-1514) e Diegoviih tube casa de apostasLepe (1460-1515).

Comandando uma frotaviih tube casa de apostasoito navios, Duarte Pacheco Pereira teria explorado o litoral brasileiro, na altura do Maranhão,viih tube casa de apostasdezembroviih tube casa de apostas1498. "Embora ele dê a entender issoviih tube casa de apostasseu livro Esmeraldoviih tube casa de apostasSitu Orbis, não há nenhum documento que comprove essa tese", garante Bueno.

Por essa razão, a suposta presençaviih tube casa de apostasPereira rondando o litoral brasileiroviih tube casa de apostas1498, que muitos historiadores descartam a hipóteseviih tube casa de apostasque Cabral tenha descoberto o Brasil por acaso.

"O consenso éviih tube casa de apostasque Portugal sabia da existênciaviih tube casa de apostasterras no Atlântico. Caso contrário, não teria pressionado o papa Alexandre 6º para modificar a bula Inter Coetera,viih tube casa de apostas1493, que deixava os portuguesesviih tube casa de apostasfora do Novo Mundo descoberto por Colomboviih tube casa de apostas1492", observa Vainfas.

"Mas o fato é que a viagemviih tube casa de apostasCabral ia mesmo para a Índia. Uma tempestade desviou a rota e eles deramviih tube casa de apostasPorto Seguro. Uma coisa é saber que havia terras ali. Outra é montar uma expedição com o propósitoviih tube casa de apostasaportar no sul da Bahia. Por isso, o historiador português Joaquim Romeroviih tube casa de apostasMagalhães (1942-2018) prefere chamar a viagemviih tube casa de apostas'achamento' e nãoviih tube casa de apostas'descobrimento'."

Quanto a Vicente Pinzón, o explorador espanhol teria atingido o Caboviih tube casa de apostasSanto Agostinho, no litoralviih tube casa de apostasPernambuco, no dia 26viih tube casa de apostasjaneiroviih tube casa de apostas1500 — três meses antes da chegadaviih tube casa de apostasCabral a Porto Seguro, na Bahia.

Experiente, integrou a frota que, sob o comandoviih tube casa de apostasCristóvão Colombo (1451-1506), descobriu a América,viih tube casa de apostas1492. Poucas semanas depois,viih tube casa de apostasfevereiroviih tube casa de apostas1500, o primoviih tube casa de apostasPinzón, Diegoviih tube casa de apostasLepe, também navegou por águas brasileiras.

A Espanha só não reivindicou a descoberta do Brasil por causa do Tratadoviih tube casa de apostasTordesilhas. Mesmo assim, o rei Fernando 2ºviih tube casa de apostasAragão condecorou Vicente Pinzón e Diegoviih tube casa de apostasLepe pela façanhaviih tube casa de apostaseles terem "descoberto" o Brasil.

Este texto foi publicado originalmenteviih tube casa de apostasabrilviih tube casa de apostas2020 e atualizadoviih tube casa de apostas22viih tube casa de apostasabrilviih tube casa de apostas2021.

Crédito, Getty Images

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