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Quem é o ex-missionário evangélico nomeado para a chefia do órgãobetis pixproteção a índios isolados da Funai:betis pix
A nomeação foi oficializada por uma portaria publicada na última segunda-feira (3/2) pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, órgão ao qual a Funai está subordinada.
Antropólogo e missionário
Em conversa por telefone antes da nomeação, Dias disse ter sido indicado ao cargo porbetis pixexperiência como antropólogo, e não pelo histórico como missionário.
"Nunca escondi e não escondo meu trabalho no passado como missionário, mas hoje sou antropólogo, com graduação, mestrado e doutoradobetis pixuniversidades públicasbetis pixtrês Estados", afirmou.
Ele disse que não tem mais vínculos com a Missão Novas Tribos do Brasil.
Segundo seu currículo na Plataforma Lattes, Dias é doutorbetis pixCiências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC (UFABC), mestrebetis pixCiências Sociais (Antropologia) pela Universidade Federalbetis pixSão Paulo (Unifesp) e bacharelbetis pixAntropologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Ele também é bacharelbetis pixTeologia pela Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA) e fez pós-graduaçãobetis pixAntropologia Intercultural pela UniEvangélica,betis pixAnápolis (GO), grande polobetis pixentidades missionárias no Brasil.
Questionado sobre o que pretendia fazer se assumisse o cargo, Dias afirmou que preferia não dar detalhes para não atrapalhar os trâmites da nomeação. Ele não disse quem o indicou para o posto.
Para Dias, "a Funai vem sendo muito atacada" e "há uma forte resistência a evangélicos" entre os servidores do órgão.
'Ele é perfeito'
Presidente da Missão Novas Tribos do Brasil, Edward Gomes Luz elogiou a indicaçãobetis pixDias ao órgão da Funai responsável por indígenas isolados.
"É uma pessoa muito capaz e tecnicamente preparada para qualquer cargo. Se for olhar a capacitação e a pessoabetis pixsi, ele é perfeito", ele diz à BBC News Brasil.
Luz diz que Dias deixou a organização missionária por "problemas familiares" e que, desde então, passou a ter "contatos esporádicos" com ele.
"Depois que saiu, ele se especializou muito", afirma, elogiando a trajetória acadêmica do ex-colega.
Missionário x antropólogo
Embetis pixdissertaçãobetis pixmestrado, apresentadabetis pix2015, Dias agradece à "Missão Novas Tribos do Brasil por ter sido tão importante na minha formação e por ter viabilizado o meu tempo no campo".
No trabalho, ele diz que o objetivo da MNTB "é a plantaçãobetis pixuma igreja nativa autóctonebetis pixcada etnia e para isso dispõebetis pixtreinamento bíblico, linguístico e transcultural próprio, alémbetis pixuma consultoria técnica para assessoria estratégica ebetis pixacompanhamento espiritual por meiobetis pixvisitas regulares da liderança aos missionários nos campos".
A dissertação tem como tema a relação entre missionárias americanas do Summer Institute of Lingustics (SIL) e o povo indígena matsés, do Vale do Javari (AM), região conhecida por ter a maior concentraçãobetis pixpovos isolados no mundo.
No texto, Dias descreve como indígenas matsés que lidavam com a missionária Harriet Fields passaram a acreditar que ela tivesse poderes sobrenaturais. Dias afirma que antropólogos e missionários têm interpretações distintas do episódio, o que, segundo ele, expõe uma "certa tensão" entre os dois grupos.
Ele lista então episódiosbetis pixque antropólogos se chocaram com missionários e diz que essa tensão também "comigo ocorre internamente todos os dias, mas pode ser mais fácilbetis pixcontornar: afinal conheço o missionáriobetis pixmimbetis pixmodo íntimo".
Em 2007, o periódico Informissões, da Igreja Batista Fundamentalista, citou o trabalho missionáriobetis pixDias — apresentado pela publicação como "pastor" — entre indígenas do povo Mayorunabetis pixPalmeiras do Javari (AM).
Segundo o texto, estudava-se a possibilidadebetis pixque Dias ebetis pixfamília fossem transferidos para o municípiobetis pixAtalaia do Norte (AM) "para alcançar os índios matís e korubos que vivem nas proximidades".
Proteção a povos isolados
A Coordenação Geralbetis pixÍndios Isolados ebetis pixRecente Contato da Funai tem como principal atribuição proteger esses povos.
Segundo a Funai, há 107 registros da presençabetis pixpovosbetis pixisolamento voluntário na Amazônia brasileira, o que torna o Brasil o país com mais povos nessa condição no mundo.
Os povosbetis pixrecente contato, porbetis pixvez, habitam 19 terras indígenas do país — é o caso dos zo'é, awá guajá, suruwahá e yanomami, entre outros.
Desde 1987, a Funai mudoubetis pixpolítica para povos isolados e determinou que iniciativasbetis pixcontato com os grupos deveriam partir deles próprios, cabendo ao Estado proteger e demarcar suas terras.
Agora, indígenas e servidores da Funai dizem que o governo sinaliza a intençãobetis pixreverter essa política e voltar a contatar deliberadamente os grupos — postura que provocou o extermíniobetis pixdezenasbetis pixetnias ao longo da história brasileira.
Consequências do trabalho missionário
Para Beto Morubo, liderança da Unijava (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), a indicaçãobetis pixDias é "nefasta".
"A mensagem é que o que menos importa é proteger o índio, mas sim beneficiar setores retrógrados do agronegócio e também da parte evangélica", ele diz à BBC News Brasil.
"Isso era o grande sonho dos evangélicos: levar a palavrabetis pixDeus para índios que preferiram se manter isolados", diz Morubo.
Ele afirma que nunca encontrou Dias pessoalmente, mas que ele é conhecido no Vale do Javari por ter feito trabalho missionáriobetis pixum pelotão do Exércitobetis pixPalmeiras do Javari. O pelotão, segundo Marubo, é frequentado por indígenas do povo mayoruna que deixaram as aldeias do grupo e hoje são evangélicos.
Segundo Marubo, missionários levaram doenças e desorganizaram vários grupos com que tiveram contato — casobetis pixsua própria etnia.
"Entre nós, marubos, eles destruíram nossa organização social, nossa convivência. Surgiram divergências, alémbetis pixdesconstruírem o mundobetis pixque fomos educados por milênios", diz.
"A atuação missionária significará a perda total dos últimos povos isolados que temos no Vale do Javari."
Política modelo
Para Antenor Vaz, ex-servidor da Funai que já chefiou a Frentebetis pixProteção Etnoambiental da Funai no Vale do Javari e é um dos maiores especialistasbetis pixpolíticas para povos isolados no mundo, a nomeaçãobetis pixDias põebetis pixxeque uma política que se tornou referência internacional.
Ele afirma que o Brasil foi o primeiro país do mundo a "respeitar a determinação desses povosbetis pixpermanecer isolados e não estimular nenhuma ação que leve ao contato" — postura que acabou adotada por outros países latino-americanos.
Vaz diz que, ainda que Dias tenha estudado Antropologia, "um missionário nunca deixabetis pixser missionário".
"Eles têm a estratégiabetis pixchegar aos indígenas oferecendo ações sociaisbetis pixeducação e saúde. Por trás disso, vem a proposta evangelizadora."
Segundo Vaz, quando se instalam entre indígenas, missionários "dividem comunidades e iniciam um processobetis pixcooptação".
"Eles passam a negar todos os valores contrários aos do cristianismo, e isso estabelece um racha cultural interno."
A atuação da Missão Novas Tribos do Brasil junto ao povo zo'é, do Pará, foi determinante para que a Funai mudassebetis pixpolíticabetis pixrelação a indígenas isolados.
No livro Memórias Sertanistas: Cem Anosbetis pixIndigenismo no Brasil, do jornalista Felipe Milanez, o ex-servidor da Funai Fiorello Parise relata que missionários do grupo contataram os zo'é à revelia da Funai, provocando surtosbetis pixgripe e malária que causaram muitas mortes entre os indígenas.
Em 1991, os missionários da MNTB foram expulsos do território. A MNTB diz que as doenças chegaram ao território por outros meios e quebetis pixatuação ajudou a salvar vidas.
A indicaçãobetis pixDias foi criticada pela principal organização indígena brasileira, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). "Ao invésbetis pixbuscar dentro da própria fundação quadros técnicos competentes, com experiênciabetis pixtrabalho com povos isolados, capacidade técnica e alinhamento com os preceitos constitucionaisbetis pixrespeito à autonomia dos povos indígenas, a Funai cede aos interesses evangélicos e proselitistas, minando uma política laicabetis pixrespeito aos povos indígenas, que afronta o que determina a Constituiçãobetis pix1988", disse o órgãobetis pixnota divulgada antes da nomeação.
Em ofício enviado à presidência da Funai na semana passada, a Defensoria Pública da União protestou contra uma mudança nas normas da fundação que abriu o caminho para a nomeaçãobetis pixalguém sem experiência para a chefia do departamentobetis pixindígenas isoladas.
"O riscobetis pixuma nomeação que não atenda a critérios técnicos é a mortebetis pixmassabetis pixindígenas, decorrentebetis pixdoenças a partir do contato irresponsável ou dos conflitos flagrantes com missões religiosas, madeireiros, garimpeiros, caçadores e pescadores ilegais."
Evangélicos na Funai
Desde o governo Michel Temer, a bancada evangélica no Congresso tem se esforçado para ampliarbetis pixinfluência na Funai.
Um pastor evangélico indicado pelo Partido Social Cristão (PSC) chegou a ocupar a presidência do órgão por quase um semestrebetis pix2017, até ser substituido pelo general da reserva do Exército Franklinberg Freitas.
No governo Jair Bolsonaro,betis pixmeio a uma disputa entre militares e ruralistas pelo comando da fundação, que acabou vencida pelos últimos, Franklinberg foi substituído pelo ex-delegado da Polícia Federal Marcelo Augusto Xavier da Silva.
Xavier é próximo do pecuarista Luiz Antônio Nabhan Garcia, atual secretáriobetis pixPolítica Fundiária do Ministério da Agricultura (Mapa).
O órgão, porém, segue na zonabetis pixinfluência evangélica — ala que, no governo Bolsonaro, tem como principal representante a ministra da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves.
Damares queria que a Funai ficasse embetis pixalçada e chegou a ser atendida por Bolsonaro, mas a medida foi revertida pelo Congresso, que devolveu o órgão ao Ministério da Justiça.
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