A luta pela sobrevivência das onças da Caatinga:arena esportes da sorte

Conservação x energia eólica

Há dois anos, uma áreaarena esportes da sorte347 mil hectares do Boqueirão da Onça foi transformadaarena esportes da sorteparque nacional por um decreto do então presidente Michel Temer (MDB). Isso significa que a fauna e a flora dentro dos limites do parque devem ser conservadas sem nenhum tipoarena esportes da sorteexploração.

A criação do parque foi vista como boa notícia para as espéciesarena esportes da sorteextinção na Caatinga, como a própria onça, a arara-azul-de-lear e o tatu-bola.

Por outro lado, uma área maior,arena esportes da sorte505 mil hectares, foi transformadaarena esportes da sorteÁreaarena esportes da sorteProteção Ambiental (APA) do Boqueirão. Diferente do que acontece com o parque, essa classificação permite exploração comercial desde que os planosarena esportes da sortemanejo sustentável sejam respeitados.

Inicialmente, a esperança dos ambientalistas eraarena esportes da sorteque todo o Boqueirão da Onça virasse um parque nacional — ou seja, isso garantiria mais espaço para a preservação total do bioma e dos animais.

Mas a região é muito visada por empresasarena esportes da sortegeraçãoarena esportes da sorteenergia eólica, que têm cada vez mais instalado fazendas por ali. Portanto, a criação da APA foi benéfica para as companhias, que agora podem explorar o potencial energético da área.

"O Boqueirão é um filé mignon para essas empresas, pois ele tem um grande potencialarena esportes da sortegeraçãoarena esportes da sorteenergia. Há muitos pontosarena esportes da sortemorro, onde há uma incidência constantearena esportes da sorteventosarena esportes da sorteboa velocidade", explica Felipe Melo, pesquisadorarena esportes da sorteEcologia da Universidade Federalarena esportes da sortePernambuco, que estuda os impactos ambientais da energia eólica na Caatinga.

Para se instalararena esportes da sorteuma APA, as companhias precisamarena esportes da sortelicenças ambientais e relatóriosarena esportes da sorteimpactos, embora estudos mais aprofundados sobre como as onças são afetadas pelas torres e linhasarena esportes da sortetransmissão ainda estejamarena esportes da sorteestágio inicial.

Porém, pesquisadores já têm notado que a proliferação das fazendasarena esportes da sorteenergia e a maior presençaarena esportes da sorteseres humanos no habitat estão diminuindo o espaço disponível para as onças caçarem suas presas naturais — obviamente, os animais não respeitam os limites burocráticos que separam a APA do parque nacionalarena esportes da sorteconservação. A longo prazo, dizem biólogos, o encurtamento do território pode afetar o bem-estar e até a sobrevivência desses grandes felinos.

"As onças da Caatinga são muito sensíveis a qualquer alteraçãoarena esportes da sorteseu habitat", explica a bióloga Claudia B. Campos, ex-coordenadora e atual colaboradora do projeto Amigos da Onça. "A parda até tolera um pouco mais a presença humana. Já a pintada, não. Ela dificilmente vai até pontos onde há intervenção ou presença do homem."

A bióloga Carolina Franco Esteves, também pesquisadora do Programa Amigos da Onça, conta que o projeto conseguiu monitorar as andançasarena esportes da sorteuma onça-parda, apelidadaarena esportes da sorteVitória, por meioarena esportes da sortecoleirasarena esportes da sorterastreamento.

"Em 10 mesesarena esportes da sortemonitoramento, percebemos quearena esportes da sortenenhum momento ela se aproximou das torresarena esportes da sortegeraçãoarena esportes da sorteenergia", afirmou à BBC News Brasil. "Quando queria chegararena esportes da sortealgum ponto para caçar ou beber água, ela dava uma volta por fora das torres, mesmo que não houvesse ninguém por ali."

Para Melo, esses impactos negativos "poderiam ser minimizados" se as empresas que atuam na Caatinga "dialogassem" mais com entidades e órgãosarena esportes da sorteconservação. "A energia eólica tem menos impacto ambiental, mas não significa que não exista. É preciso saber exatamente como áreas sensíveis são afetadas e tentar diminuir esses impactos, e não escondê-los", diz.

Em nota, a Associação Brasileiraarena esportes da sorteEnergia Eólica (Abeeólica) afirmou que "tem monitorado constantemente" comunidadesarena esportes da sorteanimais silvestres nas região do Boqueirão.

"Isso ajudará,arena esportes da sorteforma bastante significativa a médio e longo prazo, a monitorar e compreender os reais fatores que podem contribuir com quaisquer alteraçõesarena esportes da sorteriqueza das espécies", diz a entidade.

A associação também afirma que as fazendasarena esportes da sortegeraçãoarena esportes da sorteenergia, alémarena esportes da sorteevitar incêndios e gerar renda para produtores rurais, também "inibem a presençaarena esportes da sortecaçadores e a supressão ilegal (de vegetação), ameaças concretas à preservação destes animais".

Onças x rebanhos

Além das torresarena esportes da sorteenergia, as onças da Caatinga enfrentam outro desafio, segundo pesquisadores: o conflito direto com o homem. A caça ilegal para a vendaarena esportes da sortepele, por exemplo, já matou muitos indivíduos, principalmente nos anos 1970, segundo a bióloga Claudia B. Campos.

Já a caçaarena esportes da sorteoutros animais, como veados e porcos do mato, continua afetando os felinos diretamente, pois eles ficam com menos recursos para se alimentar.

Outro tipoarena esportes da sorteconflito também tem atrapalhado a sobrevivência das onças na Caatinga: a competição com criadoresarena esportes da sorteovinos e caprinosarena esportes da sorteseis pequenas cidades que estão dentro do perímetro do Boqueirão.

"A Caatinga tem praticamente duas estações no ano: chuva e seca. Na época da seca, os criadores têm dificuldade para alimentar e prover água para o rebanho. Por isso, os animais ficam soltos para encontrar alimento", explica Campos. "Então, há o encontro entre a onça e o rebanho. E, obviamente, o predador vai atacar os animais."

Os pesquisadores notaram que a perda dos bichos fazia com que alguns criadores procurassem os felinos para abatê-los — muitas vezes com sucesso. A esperança deles eraarena esportes da sorteque, sem onças por perto, o rebanho ficasse livrearena esportes da sorteinfortúnios.

A caça ilegal e o abate frequente são trágicos para a preservação das duas espécies, pois a população não consegue se reproduzir no mesmo ritmo das mortes. Cada fêmea só procria a cada dois anos, e tem uma gestaçãoarena esportes da sortetrês meses — depois, ela ainda fica até um ano e meio cuidando do filhote.

Para tentar diminuir esses conflitos, o Programa Amigos da Onça procurou os moradores para explicar a importância da conservação das espécies — parte deles já se engajou na proteção aos felinos. Nos últimos anos, a ONG construiu 18 currais para agricultoresarena esportes da sorteduas comunidades da região.

"A ideia é diminuir o tempoarena esportes da sorteque os rebanhos ficam expostos na Caatinga, principalmente à noite, quando as onças normalmente saem para caçar", explica a bióloga Carolina Franco Esteves.

Um estudo da ONG apontou que as estruturas construídas conseguiram reduzirarena esportes da sorteaté 23% o númeroarena esportes da sorteperdasarena esportes da sorteanimaisarena esportes da sorterebanhos — o que acaba tirando os felinos do foco dos agricultores.

Por outro lado, a pobreza e a faltaarena esportes da sorteserviços públicos na região do Boqueirão da Onça, como ocorrearena esportes da sortepraticamente toda a Caatinga, tornou-se um empecilho para a conservação do bioma.

"Percebemos que, muitas vezes, a revolta dos moradores não era necessariamente contra o bicho, mas contra a condiçãoarena esportes da sortevida precária e com pouca assistência do Estado. A onça acaba virando uma espéciearena esportes da sortebode-expiatório para outras mazelas", explica Claudia Martins, agrônoma do Instituto Pró-Carnívoros e pesquisadora da Universidade Federal do Vale do São Francisco.

"É um grande desafio você chegararena esportes da sorteum lugar bastante carente e falar: 'pessoal, vamos pensar na onça'. As pessoas estão mais preocupadas com as necessidades básicas: se vão ter o que comer, se vão conseguir passar no médico, se terá escola para o filho. Esse diálogo é difícil, mas aos poucos temos conseguido o apoioarena esportes da sortemuitos moradores", diz Martins.

'Exercícioarena esportes da sortepaciência'

Estudar o comportamento das onças e como elas são afetadas por esses problemas também não é tarefa fácil. A capturaarena esportes da sorteum animal para monitoramento, por exemplo, exige uma equipe formada por biólogos, veterinários e mateiros. Eles chegam a ficar 30 dias acampados na Caatinga.

"O Boqueirão é uma área muito grande com poucos indivíduosarena esportes da sorteonça. Em média, uma campanhaarena esportes da sorte30 dias consegue capturar apenas um animal, usando armadilhas", diz Claudia B. Campos.

Segundo ela, um acampamento desses chega a custar R$ 60 milarena esportes da sorteestrutura e pegamentoarena esportes da sortepessoal. "É um exercícioarena esportes da sortepaciência, e nem sempre dá certo. É preciso conhecer bem a região e ter um poucoarena esportes da sortesorte, também", afirma a bióloga.

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