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'Grave violação': a reação da Liga Árabe à aberturaescritório do BrasilJerusalém:
O Conselho da Liga dos Estados Árabes, que agrega 22 países do Oriente Médio e norte da África, divulgou nesta quinta-feira (19/12) um comunicado no qual diz que a abertura pelo Brasilum escritório comercialJerusalém representa "uma grave regressão e violação do status legal internacional" da cidade e das resoluções do ConselhoSegurança da ONU sobre o tema.
Em nota divulgada após uma reunião do conselho, no Cairo, a Liga Árabe afirmou ainda que as posições brasileiras "representam uma transformação radicalsuas posições históricasrelação à questão palestina e ao processopaz" na região, tendo o Brasil sido "um dos primeiros países a reconhecer o Estado da Palestina,apoio aos direitos legítimos do povo palestino".
O escritório foi inaugurado no domingo (15/12),cerimônia à qual estiveram presentes o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro.
No evento, o deputado sinalizou que a abertura do escritório seria um primeiro passo para a transferência da Embaixada do BrasilIsrael para Jerusalém. Hoje, a missão ficaTel Aviv. "[Meu pai] me disse que existe um compromisso firme, que a transferência da Embaixada a Jerusalém será realizada", disse o deputado.
A transferência da Embaixada para Jerusalém é um tema controverso. Antesse eleger, Bolsonaro havia se comprometido com a medida, mas recuou após pressões do agronegócio, que temia represálias do mundo árabe, grande cliente da agropecuária brasileira.
Posições históricas
O governo israelense diz que Jerusalém écapital indivisível, mas os países árabes defendem que a cidade deverá tersoberania repartida entre israelenses e palestinos quando o Estado palestino for criado. A posição dos árabes é respaldada pela ampla maioria dos países e pela ONU, quevárias ocasiões se posicionoufavor do status internacionalJerusalém.
Hoje, só dois países mantêm suas embaixadasJerusalém: os Estados Unidos e a Guatemala.
No comunicado divulgado nesta quinta, a Liga Árabe diz que o secretário-geral da organização, Ahmed Abou El-Gheit, enviou4novembro uma carta ao ministro das Relações Exteriores do Brasil para expressar "sua forte insatisfação com o anúncio do Brasilabrir um escritório comercialJerusalém, alertando que essa etapa afetaria negativamente as relações históricas entre os países árabes e o Brasil".
A carta exortava o Brasil a "desistir dessa decisão, a fimpreservar as posições históricas e declaradas do Brasil sobre a questão palestinageral e se recusar a mudar o status quo histórico e legalJerusalém".
Bolsonaro anunciou que abriria um escritório comercialJerusalémmarço, quando visitou Israel. A decisão frustrou líderes evangélicos brasileiros, que cobravam o cumprimento da promessatransferir a Embaixada.
"Tem o compromisso (de transferir a Embaixada), mas meu mandato vai até 2022. E tem que fazer as coisas devagar, com calma, sem problema", disse ele, na ocasião.
A posição dos evangélicos se explica pela crençaque a Bíblia define Israel como terra eterna do povo judeu. Segundo essa visão, o estabelecimento dos judeus na região é necessário para o retornoJesus Cristo à Terra.
Historicamente, o Brasil defende negociações que estabeleçam dois Estados na região, um israelense e um palestino. No governoMichel Temer, o país apoiou uma resolução da ONU contra a transferência da Embaixada dos EUA para Jerusalém.
Segundo analistas, a mudança nessa postura reflete um maior alinhamento entre o Brasil e os EUA na gestão Bolsonaro e a forte influência que os evangélicos exercem sobre o governo.
Outro grupo influente na atual gestão, porém, é o agronegócio, que se opõe à transferência, por temer represálias comerciais.
O Brasil hoje é, no mundo, o maior exportadorcarne halal, que segue as regrasabate do Islã.
Em janeiro, representantes do agronegócio e analistascomércio exterior disseram à BBC News Brasil que o Brasil teria prejuízos caso países árabes decidissem retaliá-lo pela transferência da representação diplomática.
"O mercado árabe é muito mais importante economicamente para o Brasil (do que Israel). Do pontovista puramente econômico, esta(ría)mos beneficiando um país que importa poucodetrimentoum grupopaíses que importa muito", disse, na ocasião, o presidente da AssociaçãoComércio Exterior do Brasil (AEB), José AugustoCastro.
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