Quem eram os escravos 'tigres', marcantes na história do saneamento básico no Brasil:codigo bonus brazino777

Esses objetos ficavam sob as camas oucodigo bonus brazino777armários até a manhã seguinte, quando eram esvaziadoscodigo bonus brazino777grandes tonéis que comportavam todos os dejetos dos moradores da casa.

Os grandes tonéis, porcodigo bonus brazino777vez, eram carregados nas costas por escravos, que os levavam até o mar ou a algum rio e por lá os despejavam.

Os 'tigres'

Parte do conteúdo, que continha ureia e amônia, vazava dos tonéis e deixava marcas brancas sobre a pele negra, parecidas com listras. Por essa reação química, as marcas se pareciam com as do animal — daí o apelidocodigo bonus brazino777tom pejorativo dos "tigres" ou "tigrados".

O cheiro dos tonéis, obviamente, não era agradável e fazia com que as pessoas não se aproximassem dos "tigres" enquanto os carregavam.

"A pele ficava listrada, com alternânciacodigo bonus brazino777faixas pretas e outras descoloridas pela ação química dos dejetos. Por isso, esses escravos eram conhecidos como tigres", afirma o jornalista Laurentino Gomes, autor do livro Escravidão, sobre o tema.

"Eram escravos ou escravoscodigo bonus brazino777aluguel que, geralmente, eram destacados para esse tipocodigo bonus brazino777trabalho", afirma o historiador Luiz Felipecodigo bonus brazino777Alencastro.

Esses negros podiam ser escravos comprados por seus donos ou aqueles que prestavam serviços a diversas famílias como formacodigo bonus brazino777obter um rendimento extra para o dono ou para si mesmos.

A prática, muito comum na capital da época, Riocodigo bonus brazino777Janeiro, também era usualcodigo bonus brazino777diversas cidades do país. No Riocodigo bonus brazino777Janeiro, fossas eram proibidas na cidade antiga dada a proximidade do lençol freático.

Há registros da utilização dessa mãocodigo bonus brazino777obra no Rio até a décadacodigo bonus brazino7771860. Já no Recife, por exemplo, durou até 1882.

"Tempos atrás, fui visitar uma cidade paranaense chamada Guarapuava, a centenascodigo bonus brazino777quilômetros do oceano. E lá também, segundo me disse um historiador, havia escravos 'tigres' até o final do século 19", disse Laurentino Gomes.

Marcas coloniais duram até hoje

Fazendo uma avaliação histórica, houve quem associasse a exploração desses escravos "tigres" a um atraso no interesse do poder público na implementaçãocodigo bonus brazino777sistemascodigo bonus brazino777saneamento básico no país.

"O sociólogo Gilberto Freyre diz que a facilidadecodigo bonus brazino777disporcodigo bonus brazino777tigres e seu baixo custo retardaram a criação das redescodigo bonus brazino777saneamento nas cidades litorâneas brasileiras", afirma Gomes.

Para Luiz Felipecodigo bonus brazino777Alencastro, contudo, a mãocodigo bonus brazino777obra escrava não era tão barata ao pontocodigo bonus brazino777se popularizar tanto no Brasil da época. "Os 'tigres' eram gente pobre, vulnerável ou escrava, mas não era uma mãocodigo bonus brazino777obra barata", diz o historiador.

Para além da desumanização desses escravos, essa formacodigo bonus brazino777descarte já mostrava um descaso grande com a questão do escoamento dos dejetos.

"No Riocodigo bonus brazino777Janeiro, até hoje, a baía está totalmente poluída. O desprezo pela natureza vem desde esses tempos", conclui Alencastro.

À época, a consciência ambiental não era algo recorrente como hoje. No Brasil, isso se agravava por contacodigo bonus brazino777uma bagagem da colonizaçãocodigo bonus brazino777exploração durante maiscodigo bonus brazino777três séculos.

"A destruição do meio ambiente é quase tão antiga quanto a história do Brasil. O primeiro registro oficialcodigo bonus brazino777tráficocodigo bonus brazino777plantas, animais silvestres e indígenas escravizados écodigo bonus brazino7771511, apenas uma década após a chegada da esquadracodigo bonus brazino777Pedro Álvares Cabral", afirma Laurentino Gomes.

No entanto, Leo Heller, relator especial da ONU para os direitos humanos à água e ao esgotamento sanitário, nota que é difícil fazer uma relação entre a utilização dos tigres e o descasocodigo bonus brazino777relação ao saneamento básico.

"A preocupação com saneamento sempre houve, mas nunca foi prioritária. O que ainda existe são locais sem nenhum tipocodigo bonus brazino777esgoto (...) e a figuracodigo bonus brazino777quem remove o esgoto", diz o especialista.

Os vestígios do período colonial e imperial, contudo, continuam vivos até hoje no país. Segundo Heller, o fim da escravidão, e com ela o desaparecimento dos chamados "tigres", não acabou com os problemas dos mais pobres e refletem a construção da sociedade atualcodigo bonus brazino777relação ao tema.

"Os escravos se transformaramcodigo bonus brazino777negros pobres,codigo bonus brazino777periferia, que também não têm acesso a saneamento", diz.

No caso dos tigres, a iniciativacodigo bonus brazino777Dom Pedro 2ºcodigo bonus brazino777modernizar a então capital Riocodigo bonus brazino777Janeiro ao final do período imperial, na décadacodigo bonus brazino7771860, dá início ao saneamento básico no Brasil — o que começa a diminuir a utilização dessa mãocodigo bonus brazino777obracodigo bonus brazino777maneira gradual nas cidades.

Logo, com a abolição, assim como no Riocodigo bonus brazino777Janeiro, esses escravos são substituídos graças à chegada do saneamento básico e maneiras mais modernascodigo bonus brazino777descarte dos dejetos. Mas, assim como os demais, eles permaneceram executando serviçoscodigo bonus brazino777pouca qualificação.

"Apenas a liberdade não representa uma mudança completa na vida desses ex-escravos", diz o historiador Alain El Youssef, doutor pela USP.

"[Após a abolição] o Estado brasileiro não se preocupacodigo bonus brazino777ofertar condições mínimas à sobrevivência, nemcodigo bonus brazino777inseri-loscodigo bonus brazino777uma maneira respeitosa na sociedade. Isso traz reflexos até hoje", afirma o historiador.

Dados do Sistema Nacionalcodigo bonus brazino777Informações sobre Saneamento, do Ministério do Desenvolvimento Regional, mostram que apenas 52% da população brasileira conta, atualmente, com acesso à coletacodigo bonus brazino777esgoto. A faltacodigo bonus brazino777acesso ocorre principalmentecodigo bonus brazino777regiões mais pobres do país.

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