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A mulher que aos 7 anos quebrava castanhaapostas online santa casacaju no quintal e hoje chefia cooperativa do produto:apostas online santa casa
O Sergipe também figura na lista - e é ali onde fica Itabaiana, município a 54 km da capital com 95 mil habitantes conhecido como "capital do Agreste", bem no centro do Estado. Um dos povoadosapostas online santa casaItabaiana é Carrilho, onde Maria Cristina da Silva cresceu e onde vivem cercaapostas online santa casamil pessoas. A principal fonteapostas online santa casarenda dos habitantes do povoado é o beneficiamentoapostas online santa casacastanhaapostas online santa casacaju, como é chamado o trabalhoso processoapostas online santa casatirar a amêndoa da fruta e limpá-la para que chegue ao consumidor final.
"Acredita-se que, depois da abolição da escravidão no Brasil, muitos dos escravos que viviamapostas online santa casaItabaiana tenham se mudado para Carrilho e montado quilombos", explica Diana Mendonçaapostas online santa casaCarvalho, doutoraapostas online santa casaGeografia pela Universidade Federalapostas online santa casaSergipe e professora da rede municipalapostas online santa casaItabaiana. A comunidade resquícioapostas online santa casaquilombos, então, sobrevivia principalmente da coletaapostas online santa casafrutos,apostas online santa casapequenos animaisapostas online santa casacriação e da vendaapostas online santa casaserviços.
Na décadaapostas online santa casa1970, contudo, "segunda consta a lenda popular, pessoas ligadas a jogosapostas online santa casaazar levaram sacosapostas online santa casacastanhas para as comunidadesapostas online santa casauma viagem que fizeram ao Piauí", narra Carvalho, "e as famílias fizeram a quebra dessas castanhas". Desde aquela época, a atividade passou a dominar o povoadoapostas online santa casaCarrilho.
Em várias regiõesapostas online santa casaque há o beneficiamentoapostas online santa casacastanhaapostas online santa casacaju, no entanto, traz registrosapostas online santa casatrabalho infantil.
Para o juiz do Trabalho da Paraíba Arnaldo José Duarte do Amaral, queapostas online santa casa2013 visitou uma comunidade no Rio Grande do Norte onde também havia crianças trabalhando na quebra da castanha, tanto o Estado quanto empresas que compram o produto precisam se envolver no combate ao envolvimentoapostas online santa casacrianças. "É preciso ter uma ação do Estado e da sociedade. Empresas precisam banir o trabalho da criança, exigindo seu afastamento do processo para realizar a compra, e comprar a castanha por um preço justo", diz.
Maria Cristina da Silva vê o trabalho que realizou quando criança como um jeitoapostas online santa casasobreviver. "Era um trabalho familiar. A gente só estava ficando do lado da nossa mãe. Não era com intenção ou por maldade, era por necessidade", afirma. "Agora isso é visto como escravidão, mas para nós era luta, era sobrevivência."
Hoje, ela celebra a existênciaapostas online santa casauma creche na frente da cooperativa. Além disso, as crianças podem ir à escolaapostas online santa casadois períodos diferentes. Para Silva, "as famílias têm mais recursos e as crianças estão mais livres para poder aprender mais".
Ela conta que cresceu trabalhando com a família, mas pôde frequentar escola e faculdade. Formou-se geógrafa pela Universidade Federalapostas online santa casaSergipe depoisapostas online santa casacasar e ter dois filhos, e isso lhe deixou "mais forte para poder dar conta do projeto".
"Sonhavaapostas online santa casaum dia ter uma forma organizadaapostas online santa casaproduzir a castanha,apostas online santa casater um produto", diz ela. "A gente via na TV, no supermercado... Sabíamos que a gente estava fazendo a coisa certa, que tínhamos um produto maravilhoso, mas que era necessária toda uma formaapostas online santa casaorganização do processo."
"A gente estuda e isso abre nossa mente, faz com que a gente enxergue oportunidades e argumente melhor sobre o que a gente acredita. Transformou minhas ideias e me empurrou para frente", diz.
Em 2012, passou seis meses fazendo cursos no Sebrae (Serviço Brasileiroapostas online santa casaApoio às Micro e Pequenas Empresas), entidade privadaapostas online santa casaserviço social que estimula o empreendedorismo no país, aprendendo administração.
E, no ano seguinte, criou a Cooperativaapostas online santa casaBeneficiadoresapostas online santa casaCastanha (Coobec), que mudou completamente a forma como o beneficiamento da castanha é feito no povoado. A cooperativa foi criada com apoio do BNDES, da Votorantim, eapostas online santa casaoutros, com um aporte financeiroapostas online santa casaR$ 1,05 milhão à época.
"Foi uma trajetóriaapostas online santa casasorte,apostas online santa casaoportunidades que chegaram e que eu me agarrei com a minha força e com aapostas online santa casatodos que eu conheci. A forçaapostas online santa casatodo mundo que quebrava a castanha e quebra até hoje", diz Silva. "Eu me orgulho muitoapostas online santa casatudo que eu conquistei. Mas não cheguei até aqui falandoapostas online santa casamim. Não falei sóapostas online santa casamim, falei da história da minha comunidade, dos meus vizinhos, dos meus irmãos. Tive a oportunidadeapostas online santa casamostrar a pessoasapostas online santa casafora o que a minha comunidade fazia."
"Minha trajetória foi árdua, mas foi feliz. E foi por todos os quebradoresapostas online santa casacastanha."
Em 2017,apostas online santa casauma viagem viabilizada pelo Sebrae, Silva foi à França representar a castanhaapostas online santa casacaju brasileira no Sirha, evento internacional da indústriaapostas online santa casahotelaria e alimentação. "Fuiapostas online santa casaforma bem tímida, bem humilde", conta ela, mas o produto foi bem aceito e elogiado, conta, orgulhosa.
Processo
Antes, a castanha que seria beneficiada era comprada por meioapostas online santa casaatravessadores, intermediários que não participam da produção, mas que lucram vendendo o produto para quem vai processar a castanha. Depois, compram o produtoapostas online santa casavolta, só que agora processado, para vender para a indústria. Nesse processo, que mantém a informalidade nas relaçõesapostas online santa casatrabalho e pode criar uma relaçãoapostas online santa casadependência, o pequeno produtor que beneficia a castanha acaba lucrando muito pouco.
Silva conta queapostas online santa casamãe recebia a castanha dessa maneira, por meioapostas online santa casaatravessadores. Ela assava a castanha e fazia a quebra com os filhos durante a semana. No fimapostas online santa casasemana, saía do povoadoapostas online santa casacaminhão para vender o produto, junto com tomate e cebola,apostas online santa casafeiras livresapostas online santa casacidades próximas.
A cooperativa eliminou a figura do atravessador. Hoje, o grupo compra as castanhas diretamenteapostas online santa casafornecedoresapostas online santa casalugares que plantam o caju, como a Bahia e o Piauí.
O processo do beneficiamento também foi totalmente modificado.
Quando era criança, conta Silva, "trabalhávamosapostas online santa casaqualquer jeito, sem luva, sem bota, sem postura nenhuma". "Trabalhávamos no chão, sentados. Não havia cuidado com a fumaça na horaapostas online santa casaassar a castanha. Era um processo muito insalubre."
Um relatório feitoapostas online santa casa2012 pela professora Diana Mendonçaapostas online santa casaCarvalho, que estudou o beneficiamento da castanhaapostas online santa casacaju no Grupoapostas online santa casaPesquisa sobre Transformações no Mundo Rural da Universidade Federalapostas online santa casaSergipe, diz que,apostas online santa casaCarrilho, vários problemas no processo foram identificados: "afetam diretamente a saúde dos beneficiadores, como a fumaça (problemas respiratórios), postura inadequada na quebra e na despeliculagem da castanha (problemasapostas online santa casacoluna), faltaapostas online santa casaluvas (perda das digitais), estrutura inadequada da tenda, entre outros".
Assim, o grupo idealizou uma chaminé e um forno resistente a altas temperaturas que canalizasse a fumaça até a parte superior do telhado. Também sugeriu o trabalho da quebra da castanhaapostas online santa casauma mesaapostas online santa casamadeira e com cadeiras, lugarapostas online santa casasacos e colunas usados como apoio. Isso serviuapostas online santa casabase para que a cooperativa mais tarde desenvolvesse seu próprio localapostas online santa casatrabalho, seguindo métodos semelhantes.
"Hojeapostas online santa casadia é outra coisa. A gente trabalha sentado, com postura, e o pessoal tem proteção", conta Silva.
Para retirar a amêndoa da castanha, é preciso assá-la. Depois, é preciso quebrar a castanha e retirar essa amêndoa. O último processo é limpar a amêndoa, tirando uma espécieapostas online santa casa"segunda pele".
Quando era criança, a mãeapostas online santa casaSilva fazia a queima da castanha dentroapostas online santa casauma lata, assando até que ficasse escura, sem proteção da fumaça que saía delas. O fogo era apagado com areia. O segundo processo, da quebra, era feito debaixo da árvore, com a família sentada no chão, cada um com um pedaçoapostas online santa casamadeira na mão que batiaapostas online santa casacimaapostas online santa casauma pedra. À tarde, a família fazia o terceiro processo, despelando as castanhasapostas online santa casacimaapostas online santa casauma bacia. Depois, limpavam as amêndoas com um panoapostas online santa casauma peneira, e o produto era colocadoapostas online santa casaum saco grande e levado para a feira.
Na cooperativa, o processo era completamente diferente. A queima ali é feitaapostas online santa casaum forno por um trabalhador com EPI (equipamentoapostas online santa casaproteção individual). Estufas sugam a fumaça, que é filtrada antesapostas online santa casaser expelida no ar. Para apagar o fogo, usa-se água. As castanhas, então, são distribuídasapostas online santa casamesas e quebradas e abertas por uma máquina.
A castanha depois vai para uma estufa, "para ficar mais sequinha e crocante", explica Silva, e para o segundo processo, que é oapostas online santa casatirar a segunda pele. Essa parte é feita manualmente, por trabalhadores da cooperativa. Por fim,apostas online santa casaum terceiro galpão, a castanha é limpa, e empacotada assim ou então feita doce, salgada ou apimentada antes.
A cooperativa compra um sacoapostas online santa casa50 kgapostas online santa casacastanha, antesapostas online santa casaser beneficiada, por cercaapostas online santa casaR$ 240. Processados, esses 50 kg viram 10 kgapostas online santa casaamêndoaapostas online santa casacastanhaapostas online santa casacaju. O quilo, então, é vendido por cercaapostas online santa casaR$ 40.
Repercussão regional
A cooperativa reverberou no resto da comunidade. Para Diana Mendonçaapostas online santa casaCarvalho, "a minifábrica deu uma expressão para que o Carrilho fosse reconhecido".
"Deu visibilidade à castanha e o Carrilho se tornou um pontoapostas online santa casaturismo. Quem vem fazer rota do Sertão, saindoapostas online santa casaAracaju, acaba tendo a curiosidadeapostas online santa casaadentrar o Carrilho, conhecer a logística do beneficiamento e fazer a compra direta da castanha", diz. Ela conta que o poder público também construiu esgotamento sanitário, calçamento e inaugurou um monumentoapostas online santa casauma castanha giganteapostas online santa casauma praça para demarcar o Carrilho como a terra da castanha. Hoje, ela conta, o timeapostas online santa casafutebol do povoado chama-se Castanha Futebol Clube, e uma festa, chamada "Castanha Fest", celebra a vocação do povoado.
Embora haja famílias no povoado que ainda trabalhamapostas online santa casaforma 100% artesanal, a cooperativa lhes deu uma "base para questionar o valor do produto que vendem", diz Silva. "As pessoas podem questionar: 'Você compra por X na cooperativa, por que o senhor não quer me pagar esse valor?'. Tem toda uma moral que a cooperativa construiu. Valorizamos um produto e um trabalho que eram desvalorizados."
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