O drama das araras-azuis e outros animais sob riscopropaganda pagbetextinção e acuados pelo fogo no Pantanal:propaganda pagbet
"Ainda não há estimativapropaganda pagbetquantas árvores e bichos foram queimados", diz Carine. "Também é difícil dizerpropaganda pagbetquanto tempo a área vai se recuperar. Dependepropaganda pagbetaté quando os incêndios vão durar, do que for destruído." O governo do Estado ainda não tem um levantamento da situação.
O engenheiro florestal e especialistapropaganda pagbetrestauração ambiental, Júlio Sampaio, gerente dos programas Cerrado e Pantanal, do WWF-Brasil, diz que, embora ainda não tenha sido feito um levantamento preciso do impacto dos incêndios na vida selvagem, ele foi intenso.
"Há vários relatospropaganda pagbetanimais incinerados ou asfixiados pela fumaça", explica. "Os que se locomovem mais lentamente, como ospropaganda pagbetpequeno porte e os répteis são os que sofrem mais com as queimadas", acrescenta.
De acordo com Sampaio, diferentementepropaganda pagbetalgumas plantas, que têm adaptações genéticas para sobreviver ao fogo, entre os animais elas não existem.
"Não há espécie da fauna brasileira que esteja adaptada para conviver com incêndios", diz ele. "Isso faz com que o impacto (dos incêndios) seja muito maior para os animais do que para os vegetais. Mas não há estudos sobre isso, então é muito difícil estimar quantos bichos foram mortos."
Ele alerta, no entanto, que o fogo aumenta ainda mais o riscopropaganda pagbetalgumas espécies ameaçadaspropaganda pagbetextinção desaparecerem, como o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) e lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e algumas aves, como a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus).
O único levantamento já feito depois dos incêndios foi elaborado pelo Instituto Arara Azul, uma organização não governamental que criou e administra o Refúgio Ecológico Caiman (REC), o maior centropropaganda pagbetreprodução da espécie no Pantanal, com 54 mil hectares, onde há atualmente 98 ninhos cadastrados, dos quais 52% naturais e 48% artificiais. "O fogo atingiu nossa fazenda no dia 10propaganda pagbetsetembro", conta a bióloga Neiva Guedes, presidente do Instituto e professora do programapropaganda pagbetpós-graduaçãopropaganda pagbetMeio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidadade Anhanguera Uniderp (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal),propaganda pagbetCampo Grande.
Atos criminosos e riscos para viajantes
De acordo com o governo do Mato Grosso do Sul os incêndios florestais ocorrempropaganda pagbetvárias direções epropaganda pagbetproporções nunca registradas, causados "pela estiagem e atos criminosos".
O fogo nas margens da rodovia BR-262, que liga Vitória (ES) a Corumbá (MS), cruzando o Pantanal, assusta e colocapropaganda pagbetriscos a vida dos viajantes. As labaredas chegam a maispropaganda pagbetdez metrospropaganda pagbetaltura e formam uma cortinapropaganda pagbetfumaça, que transforma o diapropaganda pagbetnoite, reduzindo a visibilidadepropaganda pagbetquem trafega pela estrada.
Devido à gravidade da situação,propaganda pagbetsetembro o governo estadual decretou estadopropaganda pagbetemergência. Segundo o secretáriopropaganda pagbetMeio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck, a maioria das queimadas não ocorre por causas naturais, mas intencionais, feitas por fazendeiros ou populações indígenas para renovar os pastos ou abrir novas áreaspropaganda pagbetcultivo.
Verruck diz que é uma atitude cultural. "Historicamente sempre foi assim, nesta época do no ano coloca-se fogo", explica. "Mas este é o período mais seco do ano, por isso proibimos qualquer tipopropaganda pagbetqueimada entre agosto e outubropropaganda pagbettodos os anos. Agora, como a situação está mais grave, prorrogamos a interdição até 30propaganda pagbetnovembro, assim como o estadopropaganda pagbetemergência. Neste período, todas as queimadas são ilegais."
Segundo Verruck, elas já devastaram 56 mil hectarespropaganda pagbetvegetação nativa no Pantanal sul-mato-grossense apenas do dia 20propaganda pagbetoutubro até o dia 31. "Em todo o Estado, a área chega 1,3 milhãopropaganda pagbethectares, das quais cercapropaganda pagbet500 mil foram na reserva dos índios cadiuéus", diz.
"A situação, já complicada nesta época do ano, se agravou, porque choveu apenas 30% do que é normal para este período." Também contribuiu para intensificar o fogo uma combinaçãopropaganda pagbetoutros fatores como baixa umidade do ar, alta temperatura, ondaspropaganda pagbetcalor, muita matéria orgânica seca e grande velocidade do vento.
De acordo com ele, para combater as queimadas, o governo estadual conta com o apoio do Estado vizinho do Mato Grosso, do Instituto Chico Mendespropaganda pagbetConservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Comando Militar do Oeste do Exército Brasileiro.
"Estão trabalhando dezenaspropaganda pagbetbrigadistas do Ibama, bombeiros e militares", conta. "Além disso, estão sendo usados no combate ao fogo três aviões e quatro helicópteros. Entre os problemas que enfrentamos nesse trabalho estão dificuldades nas comunicações entre os municípios atingidos, pois os incêndios queimaram as fibras ópticas."
Em seu 1º Relatório do Impacto do Fogo sobre as Araras Azuis, Neiva informa que dos 98 ninhos cadastrados, 39 erampropaganda pagbetararas 15propaganda pagbetoutras oito espéciespropaganda pagbetaves, todos com ovos ou filhos. Além disso, havia 30 ninhos sendo preparados pelas araras oupropaganda pagbetdisputa com outras aves e 14 vazios. Desse total, 33% foram atingidospropaganda pagbetdiferentes grauspropaganda pagbetseveridade, dos quais apenas dois foram perdidos totalmente. A contabilidade final revela, no entanto, que 16 filhotes e 23 ovos foram destruídos pelos incêndios.
Próximas geraçõespropaganda pagbetararas ameaçadas
Segundo Neiva, isso afetará o sucesso das araras-azuis não só nesta estação reprodutiva, mas também no futuro.
"As perdas atuais serão sentidas nestas e nas futuras gerações, quando estes filhotes perdidos não entrarão na população reprodutiva daqui a 9 ou 10 anos", lamentapropaganda pagbetseu relatório.
"Queremos saber também o que acontecerá nos próximos anos com relação à alimentação, que até agora não era um fator limitante. Mas com os incêndios, hectares e mais hectares da palmeira acuri foram totalmente destruídos. Esta planta é chave não só para as araras-azuis, embora seja fundamental para elas, mas para várias outras espécies que se alimentam dapropaganda pagbetpolpa, inclusive o gado."
Sobre o convívio da biodiversidade vegetal com o fogo anual do Pantanal há mais estudos. "De acordo com as pesquisas que temos realizado, os incêndios nas áreas mais sujeitas a inundações podem diminuir o númeropropaganda pagbetespéciespropaganda pagbetárvores e arbustos que ocupam as partes baixas", diz o botânico Geraldo Alves Damasceno Junior, dos programaspropaganda pagbetpós-graduaçãopropaganda pagbetEcologia e Conservação epropaganda pagbetBiologia Vegetal, da Universidade Federalpropaganda pagbetMato Grosso do Sul (UFMS).
"Muitas árvores que tiveram suas copas queimadas não conseguirão rebrotar e a inundação que virá depois poderá impedir que sementes dessas espécies germinem, pois muitas delas precisampropaganda pagbetum período prolongadopropaganda pagbetseca para nascer e crescer nesses ambientes", acrescenta Damasceno.
Mas para a vegetação pantaneira as queimadas também podem ter um lado bom. "Elas promovem aumento da biodiversidade das espécies herbáceas que ocorrem nesse ambiente", explica Damasceno.
"Como grande parte das plantas do Pantanal pertence a este grupo, no cômputo geral os incêndios podem promover um aumento na biodiversidade dos vegetais. Assim, o fogo é um elemento que na paisagem da região faz parte da dinâmica da vegetação, embora algumas espécies mais sensíveis possam desaparecer dos locais onde ele foi muito severo."
A flora tem outra vantagempropaganda pagbetrelação à fauna do Pantanal. "A vegetação se recupera muito rapidamente", explica Damasceno. "Em poucos meses, ela vai rebrotar novamente. Entretanto, alguns efeitos podem ser bastante duradouros. Para árvores e arbustos, por exemplo, nós conseguimos captar efeitos danosos até seis anos após eventospropaganda pagbetfogo."
Carine conta que pesquisa para seu pós-doutorado a dispersãopropaganda pagbetsementes na Mata Atlântica, mas estava no Mato Grosso do Sul para dar uma palestra na Semana da Pós-Graduaçãopropaganda pagbetEcologia e Conservação na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS),propaganda pagbetCampo Grade.
"Eu achei que era uma ótima oportunidade para dar um pulo até o Pantanal e conhecê-lo, afinal é o sonhopropaganda pagbettodo biólogo ver este sistema tão rico", conta. "Então organizamos uma pequena excursão para ir até a região do Passo do Lontra, que fica no municípiopropaganda pagbetCorumbá."
Eles chegaram ao local na sexta-feira e Carine disse que já achou a situação esquisita. "Estava tudo muito estranho, muito seco, e o rio Miranda tão baixo como nunca se viu", explica.
"Saímos para ver bicho, mas não ouvíamos nem víamos nenhum. No sábadopropaganda pagbetmadrugada, aconteceu a mesma coisa. Poucas aves, o que é estranho, porque no Pantanal você visualiza muitos animais. Saímospropaganda pagbetbarco pelo rio e só o que víamos era fogo dos dois lados. Algo surreal, pois a gente vai para o Pantanal, a maior região alagável do mundo, e só vê incêndio por todos os lados e nadapropaganda pagbetbicho."
Mas o pior ainda estava por vir. No domingo eles andaram horaspropaganda pagbetcarro pela BR-262 e praticamente não avistaram animais. "Só vimos um tamanduá-mirim na beira da rodovia e tudo seco, lagoas, riachos, vegetação", revela. "Vimos também jacarés mortospropaganda pagbetpoças secas."
No final do dia resolveram voltar para Campo Grande. "Era por voltapropaganda pagbetumas 18 horas e começamos a ver muito fogo, nos dois lados da estrada e focos mais distantes", conta.
"De repente, uma labareda gigantesca cortou a estrada e não nos pegou por questãopropaganda pagbetdois ou três segundos. Fizemos a volta e retornamos para Corumbá, muito assustadas e com uma sensaçãopropaganda pagbetestar no Inferno,propaganda pagbetDante. Quer dizer, não conheci o Pantanal, pois não vi bichos, e quase morri."
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