Puçá ou siripoia? O manual que ensina a 'pescar óleo' no Nordeste unindo ciência e liçõesbet continentalpescadores:bet continental

Nos últimos dias, o manual vem sendo compartilhado com comunidades pesqueirasbet continentaltodos os estados do Nordeste, pois o óleo segue avançando e, mais ainda, volta e meia ressurgebet continentallocalidades já atingidas anteriormente.

No dia 28bet continentaloutubro, antes mesmobet continentalo documento ficar pronto, pescadores da Reserva Extrativista (Resex)bet continentalCanavieiras, no sul da Bahia, utilizaram tais métodos, que já estavam sendo testados por eles, e conseguiram capturar no mar uma manchabet continentalóleobet continentalaproximadamente 80 quilos, como a BBC News Brasil mostroubet continentalreportagem.

"Esse trabalho é um esforçobet continentaldar uma orientação técnica a tempobet continentalser usada, pois o óleo não parabet continentalchegar e ninguém sabe ao certo quanto ainda vem. Mas as principais indicações precisavam ser experimentadas antesbet continentalrecomendadas", explica Miguel Accioly, professor do Institutobet continentalBiologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), que organizou o manual junto com o professor George Olavo, da Universidade Estadualbet continentalFeirabet continentalSantana (Uefs).

"Não tivemos nem muito apoio nem tempo adequados. Então, a maioria das experimentações contou com recursos das comunidades ou pequenos apoios. A documentação e a sistematização não têm a qualidade ideal, mas é melhor uma ação mediana no tempo certo do que perder o tempo da ação", diz.

Métodos originais do Nordeste

Partindobet continentalorientações já disponíveis nos manuais "Posow - Preparedness for Oil-polluted Shoreline clean-up and Oiled Wildlife interventions" (Preparação para limpezabet continentallinhas costeiras poluídas por petróleo e intervenções para a vida selvagem atingidas por óleo,bet continentaltradução livre) e do "CEDRE - Centre of Documentation, Research and Experimentation on Accidental Water Pollutio" (Centrobet continentalDocumentação, Pesquisa e Experimentaçãobet continentalPoluição Acidental da Água,bet continentaltradução livre), ambos referências globais no assunto, os professores e pescadores fizeram adaptações para encontrar técnicas melhor adaptadas à zona costeira nordestina.

No monitoramento, os barcos devem ficar ancorados e alinhadosbet continentalforma transversal à correnteza, com uma distânciabet continentalaproximadamente 100 metros entre eles.

Assim, os tripulantes economizam combustível e ficam,bet continentalcada embarcação, responsáveis por um raiobet continental50 metros para monitorar. Se algo for avistado, pode-se usar puçás ou siripoias para capturar o petróleo.

Durante os testes, chegou-se à conclusão também que a condução do óleo até as praiasbet continentalsacrifício deve ser feito sempre por embarcações a remo.

"Os motoresbet continentalrabeta usados atualmente não dão manobrabilidade adequada à operação. Percebemos, com os pescadores, alto riscobet continentalacidentes. Então, eles mesmos solucionaram, mostrando ser melhor com remos", conta Accioly.

Também existem diferenças entre a atuaçãobet continentalmar aberto, barrasbet continentalrio grandes e profundas, barras menores, áreas estreitasbet continentalestuário e margensbet continentalmanguezais.

Neste último caso, por exemplo, o monitoramento deve ser feito com pequenos barcos e o mais indicado é que sejam erguidas cortinasbet continentalpalha, galhosbet continentalcasuarinas ou outras espécies abundantes na região. Também é possível capturar o óleo com telas do tipo sombrite oubet continentalconstrução civil.

Além disso, o manual indica que sejam montadas armadilhas fixas para capturar o óleo. Uma das opções é fixar uma sériebet continentalredes como espigas ao logo das barras, mas sem fazer uma barreira contínua, o que impediria a passagem dos peixes.

Nas margens, as proteções devem ser montadasbet continentalforma a criar uma espéciebet continentalfunil que conduza o óleo para locaisbet continentalsacrifício. Para manter a estabilidade das armadilhas, o manual prevê o usobet continentalâncoras Danforth ou Bruce (que fixam bem no sedimentobet continentalfundo) ou grandes poitas (pesados blocosbet continentalconcreto).

"É fundamental haver preparaçãobet continentaltodos os envolvidos, planejando a gestão da crise e ensaiando a ação. Ensaio e treinamento das equipes se mostraram essenciais para agilizar a resposta, mas também para evitar acidentes e a exposição indevida ao contaminante", indica o manual.

"Diagnósticos das condições locaisbet continentalcorrentezas e ventos são essenciais para deixar os envolvidos seguros e sem discordância com as estratégias da ação", conclui o documento.

Pescadores unidos

Apenas no perímetro da Resexbet continentalCanavieiras, desde o dia 25bet continentaloutubro, cercabet continental20 toneladasbet continentalóleo foram coletadas com o uso das táticas descritas no manual e na limpeza das praias.

Nas áreasbet continentalmanguezais, primordiais para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas costeiros e marinhos, o óleo até penetrou, mas nãobet continentalgrande volume, diferentementebet continentaloutras regiões já atingidas.

"Conseguimos manter os mangues praticamente 100% limpos com essas barreiras e com o monitoramento", afirma o pescador Carlos Alberto Pinto, membro da Associação Mãe da Resexbet continentalCanavieiras.

"Temos nove barrasbet continentalrio que entram direto para os manguezais. Nossa vida depende disso aqui. Sem o mangue não somos nada".

Num ponto um pouco mais ao sul da Bahia, na cidadebet continentalCaravelas, as dicas do manual já foram utilizadas por pescadores locais, que também tem conseguido êxito na capturabet continentalpetróleo no mar e, com uma barreira montada na barrabet continentalum dos rios da região, evitam que as pelotasbet continentalóleo cru alcancem os estuários da Reserva Extrativistabet continentalCassurubá.

"A gente já vinha se organizando, trocando mensagens com outras comunidades onde o óleo chegou antes, pra ver o que funcionava e o que não funcionava nessas ações. Na nossa divisãobet continentaltarefas, eu sou responsável pela contenção, então quando recebi esse manual foi muito bom, porque tá tudo explicado, os materiais que tem que usar e o que cada um deve fazer", diz Alan Machado, presidente da Colôniabet continentalPescadores Z-25,bet continentalCaravelas.

No domingo (3/11), a força da correnteza na boca do rio fez com que parte da contenção se rompesse. Se os pescadores fossem esperar a baixa da maré para fazer o reparo, uma grande quantidadebet continentalóleo iria direto para os manguezais, que ocupam maisbet continental10 mil hectares da região.

Sabedores do risco, eles encararam a correnteza e a maré alta e conseguiram reerguer a barreira, terminando a manutenção já pela noite. "Foi uma corrida contra o tempo. Uma corrida pelo manguezal e por nós mesmos, porque nossa região vive do extrativismo. Se isso gruda nas raízes do mangue, não sai mais."

Para Machado, iniciativas independentes, como a dos pescadores, ganham cada vez mais força porque falta uma ação efetiva do poder público.

"Parece até que nós que jogamos o óleo no mar, por isso temos que correr atrásbet continentallimpar. Parece que só a pesca está prejudicada. Mas isso atinge muitas pessoas. É pescador, donobet continentalpousada, donobet continentalbarraca, é muita gente. E não vemos nenhuma solução", afirma.

Abrolhos

Localizada no extremo sul baiano, Caravelas é o principal portobet continentalsaída para o Arquipélagobet continentalAbrolhos, onde o óleo chegou no sábado (2/11). Por isso, Alan tem recebido frequentes pedidosbet continentalapoio da Marinha para que os pescadores se desloquem mar adentro e auxiliem no combate às manchas no entorno das ilhas, distantes 70 quilômetros do continente.

"Estamos agora com quatro embarcações da colônia lá na operaçãobet continentalAbrolhos. A Marinha monitora e quando detecta a mancha, aciona os pescadores. E aí a gente tem usado os puçás pra pescar o óleo, bem como está no manual", disse Alan nesta terça-feira.

A Região dos Abrolhos, que engloba o arquipélago e o mais extenso conjuntobet continentalcorais do Brasil, resguarda a maior biodiversidade marinha no Atlântico Sul, com maisbet continental1,3 mil espécies registradas entre fauna e flora. Por isso mesmo, o Parque Nacional Marinhobet continentalAbrolhos, criadobet continental1983, foi a primeira unidadebet continentalconservação marinha do país.

Desde que as manchas começaram a se aproximar do Parque, a Marinha mantém uma esquadrabet continental10 navios na região, o que não impediu que pelotasbet continentalpetróleo chegassem à Ilhabet continentalSanta Bárbara.

Questionado sobre a atuação dos pescadores após pedidosbet continentalauxílio, o Grupobet continentalAcompanhamento e Avaliação (GAA), liderado pela Marinha, não respondeu à BBC News Brasil.

As investigações sobre o crimebet continentalderramamentobet continentalpetróleo, também lideradas pela Marinha, apontam como principal suspeito o navio grego Bouboulina. A empresa Delta Tankers, proprietária da embarcação, nega o crime a afirma que ainda não foi notificada pelas autoridades brasileiras.

De acordo com a atualização feita na segunda-feira (4/11) pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), 343 localidadesbet continental110 municípios já foram atingidas pelo óleo.

Neste registro não consta, entretanto, Mucuri, a última cidade litorânea da Bahia antes da divisa com o Espírito Santo. Ali, segundo Alan Machado, colegas pescadores já encontraram pequenas pelotas.

O próprio Alan afirma também que, pelo comportamento dos ventos, o petróleo já está na costa capixaba, mesmo que ainda não tendo aparecidobet continentalnenhuma praia.

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