Danos do óleo no litoral do Nordeste vão durar décadas, dizem oceanógrafos:bet365 aposta virtual

"Essas substâncias contaminam todos os organismos do ambiente e isso facilmente cai na cadeia alimentar. Um pequeno peixe, por exemplo, pode comer algo que esteja contaminado. Isso entra na cadeia até chegar no peixe que consumimos", alerta Thevenin, criadora do perfil Oceano para Leigos, no Instagram.

Nos noves Estados do Nordeste, já são 200 localidades atingidas pelo óleo,bet365 aposta virtualacordo com a atualização feita no sábado (19/10) pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Oceanógrafos, químicos e autoridades estaduais ouvidos pela BBC News Brasil avaliaram o impacto da movimentação da mancha pela costa do Nordeste, após a chegada à Baíabet365 aposta virtualTodos os Santos,bet365 aposta virtualSalvador.

Até chegar ali, o óleo já havia deixado um rastro tóxico por milharesbet365 aposta virtualquilômetros e atingido os mangues e corais dessa regiãobet365 aposta virtualuma etapa mais avançadabet365 aposta virtualdegradação — um tipobet365 aposta virtualcontaminação que é mais difícilbet365 aposta virtualser limpa e que permanecerá durante anos no meio ambiente, segundo os especialistas.

Degradação lenta

O petróleo cru, ainda que seja altamente tóxico, é uma substância orgânica. Dessa forma, ele pode ser degradado atravésbet365 aposta virtualfatores naturais, como a rebentação das ondas (que dispersam o material), a irradiação solar (que evapora determinados componentes) e até mesmo bactérias que se alimentam do carbono contido no material. O problema, nesse caso, é o tempo.

"A degradação natural é extremamente lenta. A depender do ambiente, leva décadas. Em áreas onde já ocorreram derrames, temos análises feitas anos depois do episódio e ainda assim é detectada a toxicidade. Por isso seria importante evitar que esse óleo chegasse na costa", diz Carine Santana Silva, que é oceanógrafa, pesquisadora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especialistabet365 aposta virtualpetróleo e meio ambiente.

Além do risco na cadeia alimentar, as pessoas também estão sujeitas a entrarbet365 aposta virtualcontato direto com os contaminantes que permanecerem no ambiente.

Isso pode acontecerbet365 aposta virtualuma simples caminhada pela areia da praia ou no banhobet365 aposta virtualmar, tocando involuntariamentebet365 aposta virtualresíduosbet365 aposta virtualóleo ou inalando os gases liberados por eles.

"O monitoramento das regiões atingidas precisa ser feito por anos, com análises constantes, para garantir que as pessoas não estão frequentando zonas intoxicadas", adverte Carine Silva.

A Bahia Pesca, órgão governamental responsável pelo fomento da atividade no Estado, produziu um relatório preliminar após monitoramentobet365 aposta virtualáreas pesqueiras já atingidas pelo óleo.

"Neste ambiente vivem animais que estarãobet365 aposta virtualcontato direto com o poluente e têm grande importância econômica, como caranguejos, aratus, sururu, lambretas. A mariscagem será afetada diretamente nesses locais, visto que, com a presençabet365 aposta virtualóleo, a recomendação é a paralisação da pesca. O comérciobet365 aposta virtualorganismos aquáticos dessas áreas ficará comprometido. A pesca como um todo deverá ser impactada, tendobet365 aposta virtualvista que os consumidores foram alertados para não adquirirem produtos pesqueiros", indica o documento.

De acordo com a estatal, o monitoramento seguirá sendo feito durante e após a crise, inclusive com análise químicabet365 aposta virtualpotenciais contaminantesbet365 aposta virtualpeixes e mariscos a serem coletados.

Sem medição

No petróleo, estão contidos compostos orgânicos voláteis (COVs) e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), ambos altamente tóxicos e cancerígenos.

Os COVs evaporam com relativa rapidez, mas os hidrocarbonetos se mantêm íntegros por muito tempo. Para o mais famoso deles, o benzeno, a resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determina um limite que vaibet365 aposta virtual0,051 mg a 0,7 mg por litrobet365 aposta virtualágua salgada. Passando disso, já impacta a biota marinha e a saúde humana — ainda não existe resultadobet365 aposta virtualmedição na Bahia após a chegada do óleo.

"Os governos não querem fazer alarde porque um caso como esse afeta o turismo, mas existe a questão da saúde, tantobet365 aposta virtualquem frequenta praias comobet365 aposta virtualquem trabalha nessas zonas, mariscando, pescando, vendendo", observa a química Sarah Rocha, que atua no laboratório da pós-graduaçãobet365 aposta virtualPetróleo, Energia e Meio Ambiente da UFBA.

"Essas pessoas vão ficarbet365 aposta virtualcontato com esses resíduos por muito tempo, porque há também uma sustentação financeirabet365 aposta virtualjogo. É muito difícil, por exemplo, que esses mariscos deixembet365 aposta virtualser recolhidos para venda e é certo que muita gente vai ingerir alimentos contaminados", acrescenta ela.

Sarah Rocha integra a equipe que vem fazendo análisesbet365 aposta virtualamostras do óleo que tem chegado à Bahia, verificandobet365 aposta virtualorigem e seu estado físico-químico. Segundo ela, o material que toca as praias já chega bem degradado, tendo passado por seguidas intempéries, e resta somente a fase da degradação bacteriana — justamente a mais demorada.

"Notamos que essas amostras têm pouca solubilidadebet365 aposta virtualágua. Então, o que não for retirado, ainda vai parar no fundo do mar, sem ninguém ver, contaminando mais esse ambiente."

Manguezais e corais ameaçados

As Cartasbet365 aposta virtualSensibilidade Ambiental ao Óleo (Cartas SAO), publicação do Ministério do Meio Ambiente, indicam os níveisbet365 aposta virtualsensibilidadebet365 aposta virtualcada ecossistema costeiro e marinho no Brasil, servindo como um guia para ações que visem a mitigar os impactosbet365 aposta virtualdesastres como o do momento.

No documento está indicado, por exemplo, que os manguezais e recifesbet365 aposta virtualcoral têm sensibilidade nível 10, o mais alto na escala das Cartas SAO. Desse modo, deveriam ser as zonas prioritárias nas açõesbet365 aposta virtualcontenção do óleo.

A Bahia foi o último Estado do Nordeste a ser atingido pelo derramamento, maisbet365 aposta virtualum mês após o primeiro registro oficial, na Paraíba. Ainda assim, nenhuma barreirabet365 aposta virtualcontenção foi montada como medida preventiva.

Pelo menos duas áreasbet365 aposta virtualextensos manguezais baianos já foram atingidas, nas barras dos rios Itapicuru e Pojuca, ambas no litoral norte. Além disso, o óleo já penetrou na Baíabet365 aposta virtualTodos os Santos — maior do país e segunda maior do mundo —, margeada por dezenasbet365 aposta virtualmanguezais, bancosbet365 aposta virtualcoral e estuários.

"Em áreas lamosas como os mangues, que têm pouca movimentaçãobet365 aposta virtualágua e sedimentos mais finos, é mais difícil fazer a limpeza. Esse óleo entra nos buracos e se mistura com o sedimento. São décadas para o ambiente degradar (o óleo)", afirma Mariana Thevenin.

Carine Silva compartilha a preocupação. "Onde bate a onda, a abrasão dispersa o material. A areia também não tem tendência geoquímicabet365 aposta virtualreter os resíduos. Mas no mangue a permanência é bem maior, porque é uma área porosa, que prende o contaminante."

"Nos próximos anos, vai ser bem complicado o consumo nestas regiões, porque esses ecossistemas são zonasbet365 aposta virtualreproduçãobet365 aposta virtualmuitas espécies e abrigam outras tantas que vivem enterradas no sedimento, como ostras, sururu e chumbinho. Justamente onde a contaminação vai impregnar", emenda a oceanógrafa.

Demora no combate

Para Carine, através das Cartas SAO, poderiam ser identificadas até mesmo "áreasbet365 aposta virtualsacrifício", para onde o óleo seria direcionado se houvesse o entendimento que era impossível detê-lo. Mas, sem acionamentobet365 aposta virtualum planobet365 aposta virtualcontingência, o que se vê é um espalhamento da matéria por variadas zonas, sejam elas mais ou menos sensíveis.

Na sexta-feira (18/10), o Ministério Público Federal (MPF), com aval dos procuradores dos noves Estados nordestinos, entrou com uma ação contra a União alegando omissão no caso das manchasbet365 aposta virtualóleo.

O pedido erabet365 aposta virtualque,bet365 aposta virtual24 horas, fosse colocadobet365 aposta virtualprática o Plano Nacionalbet365 aposta virtualContingência para Incidentesbet365 aposta virtualPoluição por Óleobet365 aposta virtualÁgua (PNC), criadobet365 aposta virtual2013. A multa diária prevista ébet365 aposta virtualR$ 1 milhãobet365 aposta virtualcasobet365 aposta virtualdescumprimento.

"Afinal, tudo que se apurou é que a União não está adotando as medidas adequadasbet365 aposta virtualrelação a esse desastre ambiental que já chegou a 2.100 quilômetros dos nove Estados da região", diz a ação.

Ainda na sexta, o Ministério do Meio Ambiente divulgou nota afirmando que "as ações do Plano Nacionalbet365 aposta virtualContingência (PNC) e do Grupobet365 aposta virtualAcompanhamento e Avaliação (GAA) estãobet365 aposta virtualpleno funcionamento".

"Não há nenhuma demorabet365 aposta virtualnenhum órgão. Todos estão trabalhandobet365 aposta virtualmaneira ininterrupta, desde o aparecimento da mancha no dia 2bet365 aposta virtualsetembro. Não se poupou nenhum esforço", afirmou o ministro Ricardo Salles no comunicado da pasta.

À BBC News Brasil, o superintendente do Ibama na Bahia, Rodrigo Alves, disse que o monitoramento das praias é feito diariamente, o que indica onde devem ser concentrados os esforçosbet365 aposta virtuallimpeza.

Argumentando que o óleo cru tem se movido sob a superfície do mar, o que só permitebet365 aposta virtualvisualização quando toca a costa, Alves diz que "é difícil prever onde montar as bóiasbet365 aposta virtualcontenção".

Em seguida, enfatizou que toda a operaçãobet365 aposta virtualmonitoramento e limpeza deveria estar sendo custeado pelo agente poluidor, ainda não identificado.

Limpeza

Diantebet365 aposta virtualtoneladasbet365 aposta virtualum material tão tóxico, pode parecer contraditório, mas, se o óleo não foi barrado no mar e já chegou nas praias, rios e mangues, a indicação é que a limpeza seja feita mesmo manualmente — com todos os equipamentosbet365 aposta virtualproteção necessários (botas e luvasbet365 aposta virtualPVC, calça, camisabet365 aposta virtualmanga comprida e máscara para poeira ou gás, a depender do volumebet365 aposta virtualóleo).

Como estes são ecossistemas delicados, o usobet365 aposta virtualmaquinário pesado pode fazer com que os contaminantes fiquem compactados e ainda mais incrustados nos sedimentos.

Na artigo "How to clean a beach", publicado pela revista Nature, o biólogo John Whitfield consegue até manter algum bom humor: "pessoas com pás e peneiras são as únicas ferramentas sensíveis o suficiente para remover o óleo enquanto protegem o solo e os organismos ao redor".

Ou seja, para tentar mitigar uma contaminação invisível no futuro, é preciso meter a mão nos contaminantes no presente.

Mais ainda: toda a população terá que se manter alerta por um longo período e cobrar dos órgãos governamentais monitoramento periódico das praias, peixes e mariscos. Pois, como resume Carine Silva, "o senso comum é achar que porque não estamos vendo, não existe. Mas, neste caso, o perigo está justamente no que não vemos".

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