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A épocaganhos em apostas online grátisque o imperador japonês era mais venerado no Brasil do que no Japão:ganhos em apostas online grátis
O discurso do imperador, porém, não teve o mesmo impacto entre compatriotas que viviam do outro lado do mundo, no Brasil — e que hoje formam a maior populaçãoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisorigem japonesa fora do Japão, com cercaganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátis1,5 milhãoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisintegrantes.
Com pouco acesso a notíciasganhos em apostas online grátisjaponês e emganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátismaioria moradoresganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisáreas rurais, muitos imigrantes se recusaram a acreditar que o Japão havia perdido a guerra e continuaram a tratar Hirohito como uma divindade vários anos após o conflito.
Mais do que isso: japoneses que contestassem essa versão podiam ser perseguidos ou mortos por grupos radicais.
Parte da comunidade se lembrará desse período nesta terça-feira (22/3), quando o imperador Naruhito — netoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisHirohito — for entronizadoganhos em apostas online grátisTóquio aos olhosganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisautoridadesganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisvários países, entre os quais o presidente Jair Bolsonaro. E se a cerimônia poderá evocar memórias dolorosas para alguns, ela poderá reavivar sentimentos nacionalistas para outros.
"Entre famíliasganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisimigrantes japoneses no Brasil se nota mais respeito pela figura do imperador do que entre as famílias no Japão hoje", diz à BBC News Brasil Ricardo Mário Gonçalves, professorganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisReligião e Pensamento Japonês da USP.
Gonçalves diz que,ganhos em apostas online grátiscasasganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisimigrantes da primeira geração (os chamados "issei"), era comum encontrar fotografiasganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátismembros da família imperial. "O tradicionalismo ficou mais vivo aqui, ao passo que o choque da derrota na guerra acabou por eliminá-lo da mentalidade do povo japonês, a não serganhos em apostas online grátissetores ligados à extrema direita nacionalista", afirma o professor.
O monarca japonês hoje não tem poder político, embora exerça uma diplomacia imperial e seja visto como um representante do povo japonês no exterior. Segundo Gonçalves, a maioria dos japoneses vê o imperador como uma figura folclórica, e não religiosa — ainda que o trono siga associado ao xintoísmo.
Todos os anos, por exemplo, o imperador cultiva arroz nos jardinsganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisseu palácio num ritual que busca garantir fertilidade aos solosganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátistodo o Japão. E sacerdotes xintoístas têm papel central nos ritosganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisentronização.
Deuses e forças sobre-humanas
Considerada a principal religião originária do Japão, o xintoísmo remonta à pré-história do país. Xintô quer dizer "caminho dos kami", termo que costuma ser traduzido como "deuses", mas também pode se referir a poderes ou forças sobre-humanas, como ventos, tempestades, montanhas ou árvores com poder sagrado.
Mortos também podem ser considerados "kami". No passado, conta Gonçalves, muitos políticos ilustres que morriam eram divinizados por seus próprios adversários, que temiam ser amaldiçoados pelos espíritos inimigos.
Hoje o xintoísmo sobrevive no Japão mesclado a outras religiões e práticas. "É difícil falarganhos em apostas online grátisseguidores do xintoísmo ou do budismo, porque os japoneses conservam as crenças muito misturadas", diz o professor.
"Tudo que diz respeito à fecundidade, ao nascimento, ao crescimento e à prosperidade é considerado da alçada dos kami, venerados nos santuários xintoístas, enquanto tudo que envolve morte, funeral e homenagens póstumas está na alçada do budismo."
Uma das cerimônias xintoístas ligadas à fertilidade que geram mais curiosidade no Ocidente é o Festival do Faloganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisAço, no qual homens vestidos como mulheres carregam esculturasganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátispênis gigantes pelas ruasganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisKawasaki, no primeiro domingoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisabril.
Xintoísmoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisestado
Embora hoje convivamganhos em apostas online grátisrelativa harmonia, o xintoísmo e o budismo já travaram embates. Nos séculos 13 e 14, autoridades japonesas começaram a sistematizar doutrinas xintoístas para tentar frear o avanço do budismo, visto como uma influência estrangeira indesejável.
Até que, na Era Meiji (1867-1912), surgiu o "xintoísmoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisestado" — uma "construção totalmente artificial promovida por líderes modernizantes que pretendiam criar uma ideologia nacionalista para unir o povoganhos em apostas online grátistornoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátissímbolos que representassem o novo Japão", segundo Gonçalves.
O xintoísmoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisestado chegou ao Brasil com os imigrantes japoneses, que começaram a aportar no paísganhos em apostas online grátis1908 para trabalharganhos em apostas online grátisfazendasganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátiscafé e núcleos rurais. Traziam incutido um forte nacionalismo, associado ao culto ao imperador e a um sensoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisorigem comum.
"O Estado japonês não foi transplantado para o Brasil, mas os trabalhadores migrantes japoneses (dekasegi) no Brasil, educadosganhos em apostas online grátisescolas do início do século 20, mantiveram a religiosidade do xintô imperial mesmo depois da Segunda Guerra Mundial", diz Rafael Shoji, PhDganhos em apostas online grátisCiência da Religião pela Universidade Leibnizganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisHannover (Alemanha),ganhos em apostas online grátisartigo no Japanese Journal of Religious Studies,ganhos em apostas online grátis2008.
Essa religiosidade se expressava principalmente por uma veneração difusaganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisHirohito, já que, até a décadaganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátis1930, os imigrantes só haviam construído dois santuários xintoístas no Brasil: umganhos em apostas online grátisPromissão (SP) e outroganhos em apostas online grátisBastos (SP).
Em compensação, templos budistas da comunidade exibiam retratos do imperador e tabuletas com os nomesganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisseus antecessores — práticas exigidas no Japão pré-guerra que cruzaram os mares. O nacionalismo também era cultivado nas escolas erguidas pelos imigrantes. Lá os jovens aprendiam o "yamato-damashii" — literalmente o "espírito japonês", ou modoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisser do povo.
Brasil declara guerra ao Eixo
Em 1942, porém, o Brasil entrou na Segunda Guerra, e as escolas japonesas foram fechadas. Os imigrantes nipônicos se tornaram alvoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisuma sérieganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisações repressivas: tiveram depósitos bancários congelados, seus jornais deixaramganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátiscircular e foram até proibidosganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisfalarganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátislínguaganhos em apostas online grátispúblico.
Foi nesse contexto que um grupoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisimigrantes fundou o Shindo Renmei (Liga do Caminho dos Súditos). Liderada por Junji Kikawa, coronel que havia lutado na guerra Russo-Japonesa (1904-1905), a organização buscava reforçar o vínculo entre os imigrantes e o império do Japão, garantindo a transmissão dos valores nipônicos aos descendentes nascidos no Brasil.
O grupo encaravaganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátispresença no Brasil como temporária. A comunidade deveria, portanto, preservarganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátiscoesão e cultura para suavizar a mudançaganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisvolta ao Japão ouganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisinstalação definitivaganhos em apostas online grátiscolônias japonesas no Pacífico.
No livro Corações Sujos, que trata da história do Shindo Renmei, o escritor Fernando Morais diz que a entidade chegou a ter 100 mil doadores e 60 mil simpatizantes no Brasil. Os números, atribuídos a documentos da polícia, equivalem a metade da comunidade japonesa no país à época.
Entre 1946 e 1947, a organização perseguiu imigrantes que tentavam esclarecer os compatriotas sobre a derrota do Japão na guerra, chamadosganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátis"makegumi" (derrotistas). O grupo matou 23 pessoas e feriu cercaganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátis150ganhos em apostas online grátisatentadosganhos em apostas online grátisSão Paulo e no Paraná.
Os integrantes do Shindo Renmei divulgavam que o Japão havia ganhado a guerra, fraudando cartas e documentos que comprovariam essa versão.
'Meio baldeganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátissangue'
Em 2018, a imigrante Aiko Higuchi descreveu à BBC News Brasil o ataque do Shindo Renmei que matou seu pai, Ikuta Mizobe, na época gerente da cooperativa agrícolaganhos em apostas online grátisBastos (SP).
"Meu pai tinha saído para dar uma olhada nas orquídeas e fechar o portão, que meu irmão mais novo sempre deixava aberto", disse Aiko. "Então ele foi ao banheiro, atrás da casa. Dois homens estavam escondidos. Quando ele estava fechando a porta, eles atiraram. Minha mãe ouviu os tiros e saiu, e viu dois homens fugindo no cavalo."
"Mamãe falou depois: nunca imaginou que tinha tanto sangue no corpo", diz Aiko, misturando japonês e português. "Ela limpou meio baldeganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátissangue."
Segundo dados citadosganhos em apostas online grátis"Corações Sujos", 31.380 imigrantes japoneses foram presos por suspeitasganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisconexão com o Shindo Renmei, e 14 cumpriram pena por homicídio.
Para identificar simpatizantes da organização, policiais costumavam exigir que eles pisassem no retrato do imperador ou na bandeira japonesa. A prática, conhecida entre os japoneses como "fumie", era considerada mais humilhante do que torturas físicas. Quem se recusava a pisar nas figuras se tornava suspeito automaticamente.
Curandeirismo e práticas mágicas
O nacionalismo entre imigrantes japoneses esfriou conforme as novas gerações se tornaram cada vez mais integradas ao Brasil.
Masato Ninomiya, professorganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisDireito Internacional da USP nascido no Japão, diz à BBC que famílias nipônicas no Brasil hoje veem o imperador como um personagem simbólico, sem qualquer poder espiritual.
Ele diz que alguns templos e organizações xintoístas sobrevivem no país, mas perderam o laço com o monarca e se voltaram principalmente a rituais ligados ao nascimento e envelhecimento.
Há, ainda, grupos formados por japonesesganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátistendência xintoísta que se dedicam ao curandeirismo e a práticas mágicas, incorporando elementos do universo religioso brasileiro, como o espiritismo e a umbanda.
Ninomiya diz que a sobrevida que o xintoísmo imperial teve no Brasil vários anos após o fim da Segunda Guerra gera curiosidade entre os japoneses.
Ele cita uma emissoraganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisTV japonesa que,ganhos em apostas online grátis1972, levou ao Japão uma famíliaganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisimigrantes nipônicos que vivia no Brasil e ainda acreditava, quase três décadas depois da guerra, que os japoneses haviam vencido o conflito.
"Os jornalistas mostraram cidades que tinham sido bombardeadas e foram reconstruídas, mostraram as ferrovias, as estradas — o Japão moderno que havia surgido no lugar do país arrasado", conta o professor.
"Depoisganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisrodar o país, eles perguntaram à família se ainda acreditavam que o Japão havia vencido a guerra. O pai respondeu que era óbvio que sim, afinal, se o Japão tivesse perdido a guerra, eles não estariam vendo toda aquela prosperidade."
"Ali os jornalistas perceberam que não adiantava insistir, que aquela visão não era racional. Era uma questãoganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátisfé,ganhosganhos em apostas online grátisapostas online grátiscrença", afirma.
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