Os indígenas premiados na ONU por produtos que geram renda e mantêm florestafiery slotpé:fiery slot

Crédito, Rogério Assis/ISA

Legenda da foto, Miniusina dentrofiery slotaldeia da Terra Indígena Wawi transforma a polpa do pequifiery slotóleo; 2018 teve produção recorde e exportações para os Estados Unidos

No caso do óleofiery slotpequi, a coisa vai além, pois os frutos são colhidosfiery slotterras que estavam degradadas após terem sido ocupadas por pecuaristas no passado. Depoisfiery slotretomarem o território, nos anos 1990, os kisêdjê espalharam pequizeiros pelas pastagens - que, aos poucos, vão recuperandofiery slotfeição originalfiery slotflorestafiery slottransição entre o Cerrado e a Amazônia.

Crédito, Lucas Landau/Rede Xingu +

Legenda da foto, Winti Kisêdjê (à dir.) e Tawaiku Yudjáfiery slotencontrofiery slotpovos da floresta xinguanos na Terra Indígena Menkragnoti, no sul do Pará

A listafiery slotcasosfiery slotsucesso inclui a produçãofiery slotmel efiery slotóleofiery slotbabaçu por indígenas da bacia do Xingu e a instalaçãofiery slotminiusinas para beneficiar produtosfiery slotribeirinhos na região da Terra do Meio, no Pará. Entre os clientes dos grupos estão marcas como Pãofiery slotAçúcar, Mercur e Wickbold, alémfiery slotchefs como Alex Atala e Bela Gil.

As iniciativas se destacam num momentofiery slotque o governo Jair Bolsonaro defende abrir terras indígenas para a mineração e a agropecuária, argumentando que as atividades ajudariam melhorar as condiçõesfiery slotvida dos grupos. O presidente costuma dizer que o "índio não pode continuar sendo pobrefiery slotcimafiery slotterra rica" - afirmação duramente criticada por indígenas presentes no 4º encontro da Rede Xingu+, conferênciafiery slotpovos da floresta acompanhada pela BBC entre 21 e 23fiery slotagosto (leia mais abaixo).

14 etnias unidas no Xingu

Grupos indígenas brasileiros mantêm graus variadosfiery slottrocas econômicas com a sociedade envolvente. Há situaçõesfiery slotque as trocas são mínimas - casofiery slotalguns povos isolados na Amazônia - até grupos com relações comerciais antigas e consolidadas. Em vários pontos do Brasil, comunidades indígenas ajudam a abastecer mercados locais com frutas, peixes e legumes. Na região do Alto Rio Negro (AM), por exemplo, boa parte da farinhafiery slotmandioca à vendafiery slotcidades é fabricada por comunidades indígenas.

A novidade é o surgimentofiery slotiniciativas que buscam agregar mais valor aos produtos, focando,fiery slotmuitos casos, públicosfiery slotgrandes cidades do Brasil e do exterior - como o óleofiery slotpequi dos kisêdjê.

A experiência do grupo com o item foi apresentada no encontro, ocorrido na Terra Indígena Menkragnoti, no Pará. A reunião agregou líderesfiery slot14 etnias indígenas efiery slotquatro reservas extrativistas da bacia do Xingu para debater o cenário político brasileiro e alternativas econômicas a atividades que destroem a floresta.

Ao anunciar os vencedores do Prêmio Equatorial, o Pnud disse que os kisêdjê transformaram "o status quo, recuperando suas terras tradicionais e desenvolvendo um modelo empresarial inovador que usa árvoresfiery slotpequi nativo para restaurar paisagens, fomentar a segurança alimentar e desenvolver produtos para mercados locais e nacionais".

A outra entidade brasileira premiada foi o Conselho Indígenafiery slotRoraima (CIR). Segundo o Pnud, o grupo "garantiu os direitosfiery slot55 mil indígenas sobre 1,7 milhãofiery slothectaresfiery slotterras ao promover a resiliência ecológica e social por meio da conservaçãofiery slotvariedadesfiery slotespécies tradicionais".

Crédito, Fábio Nascimento/ISA

Legenda da foto, Pequizeiros cultivados na Terra Indígena Wawi (MT)fiery slotárea que havia sido degradada por pecuária no passado

Produção recorde

O pequi dos kisêdjê é colhido e processadofiery slotuma miniusina, instaladafiery slot2011 na aldeia Ngôjhwêrê. O projeto foi desenvolvido com o apoio do Instituto Socioambiental (ISA), do Instituto Bacuri e do Grupo Rezek.

Em 2018, a produçãofiery slotóleo chegou a 315 litros - um recorde. Parte foi exportada para os EUA, e o resto foi comercializadofiery slotsupermercados da rede Pãofiery slotAçúcar e no Mercadofiery slotPinheiros,fiery slotSão Paulo.

Ao apresentar o caso no encontro da Rede Xingu +, Winti Kisêdjê comparou a produçãofiery slotóleofiery slotpequi a práticas do agronegócio.

Em algumas terras indígenas brasileiras, comunidades têm arrendado áreas para o plantiofiery slotgrãosfiery slottrocafiery slotum percentual da produção. A atividade é hoje proibida, embora o governo Jair Bolsonaro e congressistas da bancada ruralista tentem mudar a legislação para permiti-la.

Para Winti, porém, o agronegócio é incompatível com os modosfiery slotvida das comunidades. "Não podemos pensar sófiery sloteconomia, temos que pensar na sobrevivênciafiery slotnossa cultura", ele afirmou.

Winti lembrou que o plantiofiery slotgrãos no Brasil envolve o uso intensivofiery slotagrotóxicos, que podem contaminar rios e animais. Por isso, diz ele, indígenas que optem por aderir à atividade talvez tenhamfiery slotabrir mãofiery slotpráticas milenares como a caça e a pesca para não correr o riscofiery slotse contaminar.

Legenda da foto, Conferência que reuniu 14 etnias indígenas e quatro comunidades ribeirinhas na Terra Indígena Menkragnoti (PA)

Melfiery slotíndios do Xingu

Não foi a primeira vez que indígenas brasileiros receberam reconhecimento internacional por algumasfiery slotsuas atividades econômicas.

Em 2017, grupos do Território Indígena do Xingu (MT) ganharam o Prêmio Equatorial do Pnud por seu trabalho na autocertificaçãofiery slotmel orgânico. O projeto envolve cem apicultoresfiery slot39 aldeias dos povos kawaiwete, yudja, kisêdjê e ikpeng.

Em 2018, a FAO (agência da ONU para agricultura e segurança alimentar) deu uma menção honrosa no prêmio "Saberes e Sabores" às mulheres do povo Xikrin da aldeia Pot-Krô, da Terra Indígena Trincheira Bacajá (PA), pela produçãofiery slotóleofiery slotbabaçu.

O óleo, tradicionalmente usado como cosmético nas aldeias, é hoje processadofiery slotuma miniusina e comercializado também fora do território.

Outros itens produzidos por indígenas que têm atraído a atençãofiery slotgrandes marcas no Brasil e no exterior são a pimenta produzida pelo povo baniwa, no Amazonas, e os cogumelos do povo yanomami da regiãofiery slotAwaris,fiery slotRoraima. Os chefs Alex Atala e Bela Gil já usaram os produtosfiery slotreceitas.

Redefiery slotcantinas

Na Terra do Meio, região formada por reservas extrativistas e terras indígenas no médio Xingu, no Pará, comunidades locais encontraram uma solução para a faltafiery slotcapitalfiery slotgiro, problema que inviabilizava atividades econômicas mais vultosas.

Os grupos formaram coletivos batizadosfiery slotcantinas para processar e vender produtos da floresta extraídos sem desmatamento.

Hoje há 27 cantinas na região, que contam com oito miniusinas e produzem itens como farinhafiery slotbabaçu, óleofiery slotcopaíba e castanha-do-pará. A clientela da rede conta com multinacionais como Mercur, Firmenich e Wickbold, alémfiery slotprefeituras da região.

Entre 2009 e 2018, as cantinas comercializaram produtos no valorfiery slotR$ 3,75 milhões, dos quais R$ 2,08 milhõesfiery slot2018. O capitalfiery slotgiro dos coletivos éfiery slotcercafiery slotR$ 500 mil.

Integrante da rede e moradora da Reserva Extrativista do Rio Iriri, a ribeirinha Liliane Ferreira,fiery slot26 anos, criticou Bolsonaro por ele afirmar que povos amazônicos seriam pobres.

"Ele (Bolsonaro) diz que somos pobres porque não conhece a nossa realidade. A gente luta, temos dificuldades e pedras no caminho que temosfiery slotempurrar, mas temos nossos produtos da floresta. Não precisamos derrubar árvores para ter nosso sustento", afirmou Ferreira.

Legenda da foto, Casa dos homens da aldeia Kubenkokre, na Terra Indígena Menkragnoti, onde povos indígenas e ribeirinhos se reuniram para discutir política e alternativas a atividades destrutivas

Encurtamentofiery slotdistâncias

Para Pablo Molloy, engenheiro agrônomo formado pela USP que assessora associações indígenasfiery slotseus negócios, os principais desafios enfrentados pelas comunidades para que iniciativas econômicas sustentáveis deslanchem são distânciasfiery slottrês ordens.

A primeira é a distância geográfica entre vários dos territórios desses grupos e os locais onde os bens são comercializados, o que dificultafiery slotchegada aos mercados e encarece os produtos.

A segunda é a distância técnica - os cuidados necessários para que os produtos mantenhamfiery slotqualidade até os pontosfiery slotvenda, fatores que exigem capacitação profissional e o usofiery slotboas práticas do mercado.

A terceira é a distânciafiery slotcomunicação - a importânciafiery slotsaber contar a história desses produtos por meiofiery slotseus rótulos, tornando-os atraentes para consumidores que podem estar a milharesfiery slotquilômetrosfiery slotseu localfiery slotorigem.

Ele diz que os produtos premiados conseguiram encurtar essas três distâncias. Nesse processo, segundo ele, foi fundamental o fortalecimento das associações indígenas que encabeçam as iniciativas. "Elas têm CNPJ e são capazesfiery slotconversar com compradores nas grandes cidades ou no exterior", afirma.

Crédito, Planet Labs

Legenda da foto, Imagemfiery slotsatélite mostra avançofiery slotfazendasfiery slotgado e soja nos limitesfiery slotáreas protegidas da bacia do Xingu,fiery slotMato Grosso

Soja x produtos da floresta

Molloy afirma que dificilmente uma atividade econômicafiery slotbaixo impacto ambiental conduzida por indígenas ou ribeirinhos poderá competir,fiery slottermosfiery slotlucro, com atividades mais destrutivas que têm seduzido várias comunidades, como o garimpo, a extraçãofiery slotmadeira ou o cultivofiery slotgrãosfiery slotlarga escala.

"Pode ser que o óleofiery slotpequi saia perdendofiery slotrelação a uma malafiery slotdinheiro dada por um garimpeiro ou a um contratofiery slotarrendamentofiery slotterras", afirma Molloy. "Por outro lado, quando se colocam os dois negóciosfiery slotperspectiva temporal, passamos a conversar sobre autonomia e liberdade."

Segundo Molloy, uma comunidade indígena que passe a produzir soja "será um elo frágilfiery slotuma cadeia muito maior, ondefiery slotpalavra,fiery slotautonomia efiery slotliberdade estão encurtadas".

Já iniciativas sustentáveis que valorizem produtos locais permitiriam ao grupo "ser ator da construção daquele produto, definir seu preços, associar-se a ele para transformá-lofiery slotdinheiro".

Além disso, ele diz que atividades destrutivas podem se mostrar menos vantajosas ainda que resultemfiery slotlucros maiores, caso se considerem todos os seus impactos para a comunidade. Por exemplo, um grupo indígena que deixefiery slotpescar e se banhar num rio contaminado por garimpo teráfiery slotgastar mais com comida adquirida na cidade e com outras formasfiery slotlazer. "Eles terãofiery slotgastar muito mais dinheiro do que gastariam caso suas tradições tivessem sido levadasfiery slotconsideração", afirma.

Mercados locais

Apesar dos avançosfiery slotvárias comunidadesfiery slotseus empreendimentos sustentáveis, Molloy diz que ainda há espaço para melhorias nesses casos - especialmente na comunicação com moradoresfiery slotregiões vizinhas.

Um relato presenciado pela BBC no encontro da Rede Xingu+ ilustra esse ponto. Representantes do Território Indígena do Xingu disseram ter dificuldade para vender seu melfiery slotmercadosfiery slotmunicípios vizinhos, onde moradores teriam receio quanto à qualidadefiery slotprodutos fabricados por indígenas - embora o item esteja nas prateleirasfiery slotuma das principais redesfiery slotsupermercados do país, o Pãofiery slotAçúcar.

"Seria interessante que os mercados locais também pudessem ter contato com os produtos da floresta, o que passa pela desconstruçãofiery slotpreconceitos", afirma.

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