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'A floresta leva décadas ou centenaspagbet baixaranos pra se recuperar': O que difere os incêndios na Amazônia e no cerrado:pagbet baixar
Neste ano, houve aumentopagbet baixar85% nos registrospagbet baixarfocospagbet baixarincêndiopagbet baixartodo o Brasil, quando comparado a dadospagbet baixar2018.
De janeiro a agosto deste ano, foram registrados, até sexta-feira (23), 76,7 mil focospagbet baixarincêndio no Brasil. Os estados com mais queimadas são Mato Grosso (14,6 mil), Pará (10,2 mil), Amazonas (7.2 mil), Tocantins (5,9 mil) e Rondônia (5,8 mil). Os cinco compõem a Amazônia Legal, com áreaspagbet baixarFloresta Amazônica.
Com a atual situação ambiental no Brasil, o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia e até a exportaçãopagbet baixarcarne brasileira podem estarpagbet baixarrisco.
Diante da pressão internacional, Bolsonaro autorizou, na tardepagbet baixarsexta-feira (24), o usopagbet baixarmilitarespagbet baixaruma operaçãopagbet baixarGarantia da Lei e da Ordem (GLO) - quando há situações graves que demandam que o presidente da República convoque forçaspagbet baixarsegurança - para combater as queimadas na região da Floresta Amazônica.
Mas, afinal, por que os incêndios na região amazônica costumam ter consequências muito maiores que os registrados no Cerrado?
As diferenças
Pesquisadora da Universidadepagbet baixarOxford, a brasileira Erika Berenguer estuda os efeitos do fogo na região amazônica. Ela ressalta que os incêndios na Floresta Amazônica não acontecempagbet baixarmaneira natural. "É preciso que alguém coloque o fogo. Ao contráriopagbet baixarecossistemas como o Cerrado, a Amazônia não evoluiu com o fogo, e ele não faz parte da dinâmica dela", diz.
"No Cerrado, o fogo é natural. Assim como ele ocorre naturalmente, por exemplo,pagbet baixarsavanas ou nas florestas da costa da Califórnia. Mas na Amazônia, o fogo não faz parte dessa dinâmica", relata à BBC News Brasil.
A especialista ressalta que a vegetação da Amazônia não tem mecanismospagbet baixarproteção ao fogo, enquanto o Cerrado tem seus meiospagbet baixardefesa. "No Cerrado, há árvores com uma casca supergrossa, quase uma cortiça. Essa casca serve para proteger o cerne da árvore do fogo. Se o fogo queimar a casca, ela é tão grossa que não deixa a chama, nem a alta temperatura, chegar no cerne da árvore", detalha.
Enquanto no Cerrado existem árvores com dezenaspagbet baixarcentímetrospagbet baixarcasca, diz, na região amazônica as cascas têm poucos milímetros. "Isso significa que o fogo tem muito mais facilidade para levar essa árvore da Amazônia à morte, porque vai destruir o cerne dela."
"Essa faltapagbet baixarproteção ao fogo na Amazônia significa que a mortalidadepagbet baixarárvores é muito alta. Se uma áreapagbet baixarfloresta queima, até 50% das árvores dela morrem", acrescenta.
O britânico Jos Barlow, doutorpagbet baixarEcologia e professor da Universidadepagbet baixarLancaster, no Reino Unido, ressalta que as plantas da Amazônia nunca estiveram preparadas para enfrentar incêndios.
"Elas não têm históricopagbet baixarfogo ao longopagbet baixarmilhõespagbet baixaranospagbet baixarevolução. Por isso, quando as chamas passam por lá, desmatam muitas árvores, mesmo sendo um incêndiopagbet baixarbaixa intensidade", explica.
As chamas
Em razão das diferenças entre os biomas, as formas como o fogo atinge o Cerrado ou a Amazônia possui distinções. "No Cerrado, as chamas são altas, mais quentes, e o fogo avança com velocidade", conta Barlow.
"Já na Amazônia, a estrutura do combustível é diferente. As chamas são menores, e o fogo não avança muito rápido. Então, quando ele chegapagbet baixaruma árvore, fica por lá um tempinho, fato que ajuda a fazer um grande efeito negativo", relata o estudioso.
Sobre as consequências dos incêndios nos dois biomas, Barlow afima que mesmo com fogopagbet baixaralta intensidade e chamas altas no Cerrado, o impacto é pouco. "As árvores conseguem sobreviver. Depoispagbet baixarseis meses ou um ano, não é possível perceber que passou fogo ali", comenta o britânico. Na Amazônia, além da mortepagbet baixarquase metade das árvores da floresta incendiada, as consequências do fogo são notadas até mesmo depoispagbet baixardécadas.
Consequências
As mortespagbet baixarárvores da Amazônia representam graves consequências ao meio ambiente e colaboram para alterações climáticas. "Essas árvores são grandes armazénspagbet baixarcarbono. Uma grande árvore na região amazônica pode terpagbet baixartrês a quatro toneladaspagbet baixarcarbono armazenado. Se ela for queimada, todo esse carbono vai para a atmosfera, contribuindo para acelerar as mudanças climáticas", diz Erika.
"A Amazônia inteira estoca o equivalente a 100 anospagbet baixaremissõespagbet baixarCO2 dos Estados Unidos. Então, queimar a floresta significa colocar muito CO2pagbet baixarvolta na atmosfera", acrescenta a pesquisadora.
Há maispagbet baixaruma década, Erika estuda a Floresta Amazônica. Ela comenta que as queimadas que ocorrem na região são, empagbet baixarmaioria, feitas por produtores rurais para o desmatamento. "Primeiro, eles derrubam as árvores com um "correntão", no qual interligam dois tratorespagbet baixaruma imensa corrente. Com os veículos andando, a corrente entre eles vai levando a floresta ao chão."
"A floresta derrubada fica um tempo secando no chão, geralmente por meses adentro da estação seca, para perder umidade suficiente para que possam colocar fogo nela. Fazem toda aquela vegetação desaparecer, para que possam plantar capim. Cercapagbet baixar70% da área já desmatada da Amazônia brasileira é usada para pastagem ", declara.
Erika detalha que o fogo do desmatamento pode escapar e atingir árvores que não tinham sido alvos dos "correntões" e haviam permanecidopagbet baixarpé.
A pesquisadora ressalta que o períodopagbet baixarseca na Amazônia, que começapagbet baixarjulho e pode seguir até outubro, costuma culminar no aumento dos incêndios florestais. "O que tempagbet baixardiferentepagbet baixar2019 é a dimensão do problema. É o aumento do desmatamento, aliado aos inúmeros focospagbet baixarqueimadas e ao aumento das emissõespagbet baixarmonóxidopagbet baixarcarbono, o que mostra que a floresta está ardendo", afirma. Ela acredita que a tendência é que a situação na piore nos próximos dois meses.
Problemas semelhantes ao da Amazônia, porémpagbet baixarmenor escala, são vivenciados pela região da Mata Atlântica, o terceiro biomapagbet baixarque há mais focospagbet baixarqueimadas - 10,8% dos registros. Erika explica que se tratapagbet baixaruma área parecida com a região amazônica,pagbet baixarrazão do modo como é afetada pelo fogo.
"Ela (a Mata Atlântica) não queima naturalmente, e o fogo que a atinge também é causado por ação humana. Mas como ela tem 7%pagbet baixarcoberturapagbet baixarsua área original (a Floresta Amazônica tem cercapagbet baixar40%), suas florestas são muito menores. Os incêndios dela causam muitos impactos na biodiversidade e mudanças climáticas, mas por ser muito menor, escutamos muito menos sobre incêndios nela", diz a pesquisadora.
Preservação
Para especialistas, medidaspagbet baixarpreservação ambiental devem ser tomadas com urgência pelo Governo Federal. "Desde janeiro, com o atual governo, tem existido um grande desmonte nas agências ambientais brasileiras. Tanto no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) quanto no ICMBio (Instituto Chico Mendespagbet baixarConservação da Biodiversidade)", lamenta Erika.
Ela também cita o bloqueio do Fundo Amazônia - uma reservapagbet baixardinheiro doado internacionalmente para projetospagbet baixarpreservação da floresta -, suspensopagbet baixarrazão da política ambientalpagbet baixarBolsonaro. "Esse fundo épagbet baixarextrema importância, pois é responsável por financiar operaçõespagbet baixarcombate ao desmatamento. Com recursos dele, foram comprados caminhões e aviões que são usados no combate às queimadas nos estados amazônicos", declara Erika.
A ausênciapagbet baixarpolíticaspagbet baixarpreservação ambiental poderá trazer um cenário ainda pior nos próximos anos, conforme os estudiosos.
Após a repercussão extremamente negativa da situação das queimadas no Brasil, o presidente afirmou,pagbet baixarpronunciamento na noitepagbet baixarsexta-feira (23), que terá "tolerância zero" com crimes ambientais. Ele declarou que o governo atuará fortemente no combate aos incêndios da Amazônia.
Recuperação da floresta
Ainda que haja redução no crescente númeropagbet baixarqueimadas na região amazônica, as consequências das áreas já afetadas irão perdurar por tempo indeterminado. A dificuldadepagbet baixarse recuperar é um dos maiores problemas enfrentados pelas regiões da floresta que foram atingidas pelo fogo.
"A gente tem árvores enormes caindo. Elas vão morrer. Depois, podem nascer árvores finas. Essas árvores novas crescem rápido, mas tem baixa densidadepagbet baixarmadeira. Elas retêm pouco carbono. Não é porque temos uma árvore nascendo que ela vai corresponder à que morreu", esclarece Erika.
Conforme estudos feitos por especialistas que analisam as queimadas na Amazônia, mesmo três décadas após ser atingida pelo fogo, as florestas queimadas têm 25% menos carbono que as que não foram alvospagbet baixarchamas. "Isso mostra que a gente precisapagbet baixardécadas ou até mesmo centenaspagbet baixaranos para que as florestas se recuperempagbet baixarum incêndio", lamenta a pesquisadora.
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