Quando nem bolsa integral basta para sonho da faculdade: ‘Será que vou sobreviver?’:poker jumbo

A estudante Veridiana Santana

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Moradorapoker jumboCampo Limpo, Veridiana Santana,poker jumbo22 anos, estuda Administração Pública na FGV e recebe bolsapoker jumboestudos

Sem emprego, mesmo com a gratuidade no transporte municipal, os gastos com alimentação e aluguel do imóvel que dividia com um amigo ultrapassavam o tetopoker jumboR$ 400poker jumboseu orçamento pessoal. Mesmo um emprego temporário não foi suficiente para equilibrar as contas.

Em 2015, Bruno trancou o curso e voltou a morar com a mãepoker jumboCampo dos Alemães. Hoje, trabalha como designer, alémpoker jumbofazer frilas como analistapoker jumbodados. O serviço garantepoker jumborenda mensal,poker jumbotornopoker jumboum salário mínimo,poker jumbomédia. "A sensaçãopoker jumbofracasso me acompanha todos os dias desde que vim embora, não vêm sendo fácil", diz o jovem, que tem pouca esperançapoker jumboconcluir a universidade tão cedo.

"Você trancar a faculdade por um fator que não époker jumboculpa é pior. Trabalho, eu lembro que procureipoker jumbotodo lugar, e não estava dando certo. Parece que não é pra você estar lá", diz Nascimento.

Criadopoker jumbo2004, o ProUni concede bolsas integrais ou parciaispoker jumbouniversidades privadas para estudantes que concluíram o ensino médiopoker jumboescolas públicas ou que tiveram bolsaspoker jumboescolas particulares. Em 2018, foram 117 mil beneficiados. O benefício é vinculado à nota obtida pelos estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a uma faixapoker jumborenda familiar mensal específica.

Retratopoker jumboBruno do Nascimento

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Legenda da foto, Bruno do Nascimento é ex-alunopoker jumboPublicidade e morador do Campo dos Alemães

Dados mais recentes do Ministériopoker jumboEducação mostram que desde o início do ProUni até o primeiro semestrepoker jumbo2017, maispoker jumbo115 mil bolsistas deixaram a universidade por evasão. Entre os estudantes negros, essa taxa retrata a realidadepoker jumbo63 mil alunos (pretos e pardos), ou 54%. Já entre os estudantes brancos, essa taxa representa 48 mil alunos, ou 41%. A proporçãopoker jumboevasão é semelhante à divisão das vagas nas duas categorias –poker jumbo2018, dos 117 mil bolsistas, 71 mil eram pretos e pardos (61%) e 43 mil, brancos (37%).

"A dificuldade no acompanhamentopoker jumboestudos e a financeira são alguns [motivos] que podem resultar na evasão, como também a ideia do complexopoker jumboimpostor, que é o entendimento dessas dificuldades como algo individual e não frutopoker jumbouma realidade social", explica Dyane Brito Reis, professora e pesquisadorapoker jumboAcesso e Permanênciapoker jumboJovens das Comunidades Negras no Ensino Superior da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB).

As inscrições do ProUni deste ano estão abertas até 30poker jumbosetembro para estudantes já matriculados.

Barreiras à permanência

Um das principais medidas adotadas para auxiliar estudantespoker jumbobaixa renda no ensino superior é o programapoker jumbobolsaspoker jumboauxílio permanência. O governo federal destina R$ 400 mensais para financiar os custospoker jumboestudantes do programa com bolsa integral do ProUni.

As universidades privadas também têm seus próprios programas.

Veridiana Santana,poker jumbo22 anos, moradora do Campo Limpo, na periferiapoker jumboSão Paulo, continua a lutar pelo sonho do diploma. Ela acorda às 4h para chegar às 7h na Fundação Getúlio Vargas (FGV) no centropoker jumboSão Paulo, onde tem uma bolsapoker jumboestudos e cursa Administração Pública. Em geral, ela só volta para casa à meia-noite.

Na sala dela, dos 40 alunos, apenas outros cinco são negros como Veridiana Santana. Nacionalmente, apesar da políticapoker jumbocotas, 34% dos estudantes universitários são negros,poker jumboacordo com dados do Instituto Brasileiropoker jumboGeografia e Estatística (IBGE).

Como o curso é oferecido apenaspoker jumboperíodo integral, Santana não tem tempo para trabalhar. A mãe, Anisia Rodrigues,poker jumbo58 anos, é quem custeia as faculdades da jovem epoker jumboirmã na universidade. Aposentada, ela ganha um salário mínimo por mês e trabalha como diarista para complementar a renda dapoker jumbocasa. "Minha mãe sempre foi muito realista comigo. Sempre me diz: 'Estuda, se não você não vai conseguir melhorarpoker jumbovida'", conta.

aluna veridiana santana

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Legenda da foto, A alimentação se tornou um dos primeiros obstáculos no percurso acadêmicopoker jumboVeridiana Santana

A alimentação se tornou um dos primeiros obstáculos no seu percurso acadêmico. O custo mensal com as refeições époker jumboR$ 400. São R$ 20 diários que incluem almoço, café da manhã e café da tarde no restaurante da universidade – um valor negociado após uma longa discussão entre a FGV e o grupopoker jumbobolsistas. Mesmo assim, equivale a 20% do salário mensal da mãe.

"Foram três anos tentando pular essa porta do acesso que está fechada. Mas, agora, eu questiono: será que eu vou sobreviver tanto academicamente e atépoker jumboquestões físicas mesmo, sabe?''

Os auxílios que a FGV oferece a jovens com dificuldades financeiras funcionam como um financiamento estudantil: são bolsas semestrais para custos com alimentação, transporte, moradia e material escolar, cujos valores precisam ser restituídos à instituição após o fim da graduação.

Os gastos anuaispoker jumboSantana chegariam a R$ 10 mil, o equivalente a toda a renda familiar. Em outras palavras, inviabiliza o recurso porque ela não conseguiria pagar a dívida.

Alcance limitado do programa

O ex-bolsista do ProUni Bruno Nascimento chegou a buscar informações sobre a bolsa-permanência oferecida pelo Governo Federal, mas ela exige um mínimopoker jumboseis horas diáriaspoker jumboaula e três anospoker jumboduraçãopoker jumboum curso presencial. A carga horária média diáriapoker jumboNascimento erapoker jumboquatro horas.

Salapoker jumboaula

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Os dados mais recentes do Ministériopoker jumboEducação mostram que desde o início do ProUni até o primeiro semestrepoker jumbo2017, maispoker jumbo115 mil bolsistas deixaram a universidade

Os pré-requisitos praticamente inviabilizam o benefício. Dados do Ministério da Educação mostram que, no ano passado, apenas 523 dos 22.866 cursos inscritos no ProUni atendiam aos critérios exigidos para concessãopoker jumbobolsa permanência. Dos 702 mil estudantes bolsistas matriculadospoker jumbo2018, apenas 8 mil recebiam o auxílio permanência.

Um projetopoker jumboleipoker jumbo2016 tentou mudar os critériospoker jumboseleção à bolsa permanência. De autoria do deputado Wadson Ribeiro (PCdoB-MG), a finalidade era incluir os alunos que tivessem trabalho comprovado e até seis horas diáriaspoker jumboaula. Além disso, previa a criaçãopoker jumboum Fundo Nacionalpoker jumboPermanência Estudantil para o financiamento das bolsas. O texto chegou a ser analisado pela Comissãopoker jumboEducação da Câmara, mas foi rejeitado e arquivado.

No Mackenzie, instituição onde Nascimento estudavapoker jumboHigienópolis, região centralpoker jumboSão Paulo, as mensalidades variam entre R$ 912 e R$ 3.291. Os alunospoker jumbocondiçõespoker jumbovulnerabilidade econômica são encaminhados para as chamadas "bolsas-mérito", uma espéciepoker jumbotrabalho remunerado dentro da universidade por serviços como monitoria e pesquisas científicas.

Mas Nascimento afirma que nunca foi orientado pela universidade a esta alternativa e, pouco tempo depoispoker jumboperder o emprego, trancoupoker jumbomatrícula. Dois anos depois, tentou retornar a São Paulo, mas logo deu adeuspoker jumbonovo, pelos mesmos motivos e não conseguiu voltar mais aos estudos. A instituição não esclareceu como acontece a divulgação das bolsas-mérito até a publicação da matéria.

Salapoker jumboaula

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Dos 702 mil estudantes prounistas matriculadospoker jumbo2018, só 8 mil eram beneficiados com o auxílio permanência

Sociólogo e gerentepoker jumboTecnologias Educacionais do Centropoker jumboEstudos e Pesquisaspoker jumboEducação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), Wagner Santos reconhece avanços na inclusão e na democratização do acesso à universidade conquistados pelo ProUni e por ações afirmativas nas universidades , mas enfatiza a faltapoker jumboações complementares para assistir aos bolsistas. "As políticas, quando associadas à moradia, alimentação e transporte, são muito importantes para a permanência", diz.

Para Dyane Brito, da UFRB, há muito o que se avançar no país para transformar a universidadepoker jumboum ambiente que realmente aceite a diversidade. "A gente precisa entender que não temos mais um único público na universidade, nós temos estudantes que têm trajetóriaspoker jumbovida distintas, que a universidade precisa perceber esses indivíduos como sujeitos ativos dentro do espaço universitário", diz.

Para ela, atualmente os coletivos estudantis são importantes para o processopoker jumboformação e coletividade nas universidades.

"Nos coletivos, a gente encontra estudantes que vão se descobrir negros no espaço universitário, entender a perspectiva racial dentro desse espaço. São grupos que vão dividir alimentação, dividir xerox do texto mas que, sobretudo, são grupos que vão ter um suporte político e emocional ao estudante para apoker jumbopermanência para o ensino superior'', afirma.

Questionado sobre a possibilidadepoker jumborevisãopoker jumbocritérios da bolsa-permanência do ProUni e sobre possíveis projetospoker jumboassistência aos alunos prounistas, o Ministério da Educação afirma que concede o benefício aos estudantes que atendem aos critérios exigidos e não indicou a possibilidadepoker jumboalterar os critérios oupoker jumbocriar novos projetospoker jumboassistência.

raya

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