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Livre comércio com os EUA? Por que um acordo Bolsonaro-Trump é mais complicado do que parece:bonus de boas vindas betnacional
Antes da reunião, o secretário também havia participadobonus de boas vindas betnacionaluma audiência no Palácio do Planalto com o presidente Jair Bolsonaro. Ross,bonus de boas vindas betnacionalvisita pela América Latina que também incluiu o Chile, deixou o Brasil após os encontros com uma ponderação: para que o acordo comercial avance, é necessário que o tratado do Mercosul com a União Europeia, anunciado e comemorado pelo presidente Bolsonaro no finalbonus de boas vindas betnacionaljunho, não crie obstáculos.
"É importante que nada no acordo entre Mercosul e União Europeia seja um impedimento para um acordobonus de boas vindas betnacionallivre comércio do Brasil com os Estados Unidos. É importante evitar obstáculos que, inadvertidamente, possam aparecer na transação do Mercosul com a União Europeia", alertou.
Para especialistas e representantes da indústria brasileira ouvidos pela BBC News Brasil, apesar da nítida mudançabonus de boas vindas betnacionaltom do governo Trump e aumento do interesse americanobonus de boas vindas betnacionalse aproximar do Brasil, é altamente improvável que o consenso para um acordo seja alcançado ainda nesta gestãobonus de boas vindas betnacionalBolsonaro.
Isso porque o caminho para o livre comércio entre os dois países é, sobretudo, longo e cheiobonus de boas vindas betnacionalobstáculos que envolvem variáveis como a aprovaçãobonus de boas vindas betnacionalreformas no Brasil, a eleição presidencial nos Estados Unidos no ano que vem e o futuro político da Argentina, que terá eleiçõesbonus de boas vindas betnacionaloutubro deste ano.
Por que agora?
Os EUA são um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, embora venham perdendo espaço nos últimos anos.
Entre 2005 e 2016, a participação dos EUA no comércio exterior brasileiro caiubonus de boas vindas betnacional19% para 12,5% das exportações, e se manteve um pouco acimabonus de boas vindas betnacional17% nas importações. De janeiro a junho deste ano, o Brasil exportou um totalbonus de boas vindas betnacionalUS$ 14 bilhões para o país, com destaques como petróleo (US$ 1,29 bilhão), aviões (US$ 862 milhões), gasolina (US$ 498,6 milhões) e café (US$ 434 milhões).
Além da parceria, os dois países também são ferrenhos concorrentes no comércio exterior – são os maiores produtores e exportadoresbonus de boas vindas betnacionalcommodities do mundo, especialmentebonus de boas vindas betnacionalitens como alimentos e petróleo.
Se a parceria é tão antiga, porque outros presidentes dos Estados Unidos não propuseram um acordobonus de boas vindas betnacionallivre comércio com o Brasil antes?
"Hoje estamos sendo uma noiva cobiçada", explica José Augustobonus de boas vindas betnacionalCastro, presidente da Associaçãobonus de boas vindas betnacionalComércio Exterior do Brasil (AEB) e ex-diretor da Fundação Centrobonus de boas vindas betnacionalEstudos do Comércio Exterior (Funcex).
A razão principal, na lógica das analogias aos relacionamentos amorosos, seria uma espéciebonus de boas vindas betnacional"ciúme": o Brasil acaba de, por meio do Mercosul, fechar um longamente negociado acordo com a União Europeia, que é o principal destino das exportaçõesbonus de boas vindas betnacionalserviços dos Estados Unidos.
Em 2015, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a União Europeia comprou 31% das exportaçõesbonus de boas vindas betnacionalserviços dos EUA. Além disso, os Estados Unidos têm divergências com a comunidade europeia sobre comércio nos setores farmacêutico, químico,bonus de boas vindas betnacionalalimentos e automóveis, entre outros.
"Com o acordo do Mercosul, as commodities que o Brasil vai vender para a União Europeia serão sem tarifas. Por outro lado, o que os EUA comprarem da União Europeia vai ser tarifado. Os EUA vão ter que conceder mais subsídios para tornar o produto deles competitivo", diz Castro, que ressalta que, por outro lado, como o Brasil é um comprador modesto dos produtos dos EUA e está com grande parte da indústria ociosa por causa da economia parada, tem forte potencial para crescimento.
Para os EUA, o Brasil é um parceiro comercialbonus de boas vindas betnacionalpeso relativamente pequeno, respondendo por pouco menosbonus de boas vindas betnacional1%bonus de boas vindas betnacionalsuas exportações e importações totais.
"No ano 2000, 25%bonus de boas vindas betnacionaltudo o que o Brasil exportava tinha como destino os Estados Unidos. Hoje são 12%. E naquela época exportávamos bem mais manufaturados, as commodities ainda não tinham surgido como estão hoje. Existe um espaço muito grande para crescer."
O diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasilbonus de boas vindas betnacionalWashington e presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), concorda que foi o acordo com a União Europeia que motivou a súbita aproximação dos EUA. Barbosa participou, inclusive,bonus de boas vindas betnacionaluma das reuniõesbonus de boas vindas betnacionalRoss no Brasil, quando o secretário esteve na sede da Federação das Indústrias do Estadobonus de boas vindas betnacionalSão Paulo (Fiesp) na segunda-feira (29) para discutir o comércio bilateral entre Brasil e EUA.
"Há uma mudançabonus de boas vindas betnacionaltom, sim (dos Estados Unidosbonus de boas vindas betnacionalrelação ao Brasil), por causa do acordo com a União Europeia. Eles (EUA) estão perdendo mercado aqui", disse Barbosabonus de boas vindas betnacionalentrevista à BBC News Brasil.
"O secretário manifestou preocupação (com o acordo Mercosul-UE),bonus de boas vindas betnacionaluma das reuniões que eu estava presente", afirma o ex-embaixador.
Ele destaca, no entanto, que Ross não falou na intençãobonus de boas vindas betnacionalchegar a um acordobonus de boas vindas betnacionallivre comércio, como fez Donald Trump, mas simbonus de boas vindas betnacionaluma aproximação comercial mais intensa entre os dois países.
"Ele falou que a gente tem que avançar muito, que há muitas restrições aqui, que tem que fazer acordobonus de boas vindas betnacionalinvestimento com os americanos, que tem que ver como fica esse acordo da União Europeia com o Brasil".
Vai dar para reduzir o custo Brasil?
Outro aspecto que favorece a atual aproximação nos EUA, na visão tantobonus de boas vindas betnacionalBarbosa quantobonus de boas vindas betnacionalCastro, é a perspectivabonus de boas vindas betnacionalque, desta vez, o Brasil aprove suas reformas estruturais que permitam reduzir o custobonus de boas vindas betnacionalse produzir no país, para que os preços das exportações sejam mais competitivosbonus de boas vindas betnacionalrelação aos concorrentes.
"Caso as reformas sejam aprovadas e caia o custo Brasil, que é o objetivobonus de boas vindas betnacionaltodos, o país passa a ser um exportador mundial não apenas para a América do Sul, que é para quem vendemos manufaturados hoje. Porque o nosso custo logístico só permite esse voobonus de boas vindas betnacionalgalinha", afirma Castro, que cita na listabonus de boas vindas betnacionalreformas prioritárias a da Previdência e a tributária que, para as exportações, é ainda mais importante.
Nesse cenário – obonus de boas vindas betnacionalum futurobonus de boas vindas betnacionalque o Brasil seja um grande exportador – ganharão os países que tiverem relações mais próximas e com menos tarifas.
"Atualmente o Brasil tenta exportar imposto com um produto agregado. O principal custo (que encarece o produto que o Brasil exporta) é o imposto", diz o especialista da AEB.
Firmar acordos com parceiros que comprem nossos produtos não é o único passo necessário para que o Brasil se torne um grande exportador, alerta Castro.
Reduzir os preços do produtobonus de boas vindas betnacionalexportação brasileiro é fundamental para aumentar as vendas para os Estados Unidos, ele acrescenta. Os EUA são o maior importador mundialbonus de boas vindas betnacionalmanufaturados, é a vitrine do mundo. E a prioridade para americano é preço, ele compra preço", diz.
"Em quantidadebonus de boas vindas betnacionalprodutos manufaturados, estamos exportando menos do que exportamosbonus de boas vindas betnacional2005. Nós paramos no tempo, nós não existimos no mundo", lamenta.
A (pouca) disposiçãobonus de boas vindas betnacionalTrump para acordos
A gestão Trump abandonou uma prática antiga no comércio internacional dos EUA: a preferência pelos mega-acordos, ambiciosos e abrangentes.
Ao longo da décadabonus de boas vindas betnacional2000, diversos acordos preferenciais foram assinados pelos EUA, inclusive com países latino-americanos. Em todos eles, é adotado o modelo Nafta,bonus de boas vindas betnacionalque se cria uma zonabonus de boas vindas betnacionallivre comércio na qual tarifas e certas barreiras ao comérciobonus de boas vindas betnacionalbens e serviços serão gradualmente eliminadasbonus de boas vindas betnacionalum períodobonus de boas vindas betnacional15 anos.
Tudo mudoubonus de boas vindas betnacional2017, quando o presidente dos EUA assinou uma ordem executiva para iniciar a saída do país do Tratadobonus de boas vindas betnacionalAssociação Transpacífico (TPP, na siglabonus de boas vindas betnacionalinglês), negociado pelo governobonus de boas vindas betnacionalBarack Obama e assinado por 12 países: Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura, Estados Unidos e Vietnã, que representam 40% da economia mundial e um terço do comércio global.
Trump também exigiu na ocasião a renegociação do Nafta, acordobonus de boas vindas betnacionallivre-comércio integrado por Estados Unidos, Canadá e México, e vai abandonar o tratado a menos que o país consiga "um acordo justo".
Por isso, chama atenção o atípico climabonus de boas vindas betnacionalafagos poucas vezes tão explícito entre dois presidentes. No mesmo diabonus de boas vindas betnacionalque falou da intençãobonus de boas vindas betnacionalformar livre comércio com o Brasil, o presidente americano não poupou elogios ao colega brasileiro.
"Eu tenho um ótimo relacionamento com o Brasil. Eu tenho um relacionamento fantástico com o seu presidente. Ele é um grande cavalheiro. Dizem que ele é o Trump do Brasil. Eu gosto disso, é um elogio. Eu acho que ele está fazendo um ótimo trabalho. É um trabalho duro, mas acho que seu presidente está fazendo um trabalho fantástico. Ele é um homem maravilhoso com uma família maravilhosa", disse o presidente dos EUA aos jornalistas na Casa Branca.
Do Brasil, Bolsonaro respondeu no mesmo tom: "Depois do elogio, estou mais apaixonado por ele (Trump)", disse o presidente.
Para Rubens Barbosa, as promessas entre Trump e Bolsonaro são, até agora, movimentos muito mais políticos que comerciais. "Eu acho que isso é uma coisabonus de boas vindas betnacionalleva-e-traz. Você tem uma eleição nos EUA no ano que vem, eles não vão negociar nada antes disso. Essa súbita mudança americana é resultado do acordo com a União Europeia", reafirma Barbosa.
"A vinda dos EUA aqui agora, o Trump elogiando enfaticamente o Bolsonaro, isso não é típico dos Estados Unidos, ainda mais do Trump, que é ele, depois ele, depois ele. Então está muito mais um cenário político do que um cenário comercial", diz o ex-embaixador.
Barbosa vê, porém, que o Brasil tem no momento uma janelabonus de boas vindas betnacionaloportunidades se dedicar-se a uma agendabonus de boas vindas betnacionalreformas e desburocratização e, a partir daí, estreitar as relações com os EUA.
"O que acho que vai acontecer, que eu acho muito positivo, é uma ação conjunta dos dois países para a facilitação do comércio, para a redução da burocracia, para desburocratização das regras do comércio, que vai na direçãobonus de boas vindas betnacionalum acordo", diz.
Teremos a bênção da Argentina?
Pelas regras do Mercosul - bloco composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai - acordos comerciais com outros países precisam ser negociadosbonus de boas vindas betnacionalforma conjunta pelo bloco.
"Atualmente o Brasil não pode fazer acordo bilateral com os EUA, mas se ganha alguém (a eleição) lá na Argentina que não gosta desses acordos,bonus de boas vindas betnacionalrepente pode fazer um acordo bilateral. Depende do resultado da eleição da Argentina", diz o ex-embaixador.
Bolsonaro tem manifestado repetidamente apoio à reeleiçãobonus de boas vindas betnacionalMacri. A principal chapa oponente é a composta pela ex-presidente Cristina Kirchner.
O brasileiro já disse que, se a chapabonus de boas vindas betnacionalCristina vencer, a Argentina se tornará uma "nova Venezuela".
Há riscos para a indústria?
O professor Mauro Rochlin, doutorbonus de boas vindas betnacionaleconomia pela Universidade Federal do Riobonus de boas vindas betnacionalJaneiro (UFRJ) tem uma visão crítica a respeito da entrada do Brasilbonus de boas vindas betnacionalacordos tanto com a União Europeia quantobonus de boas vindas betnacionalum eventual tratado com os Estados Unidos.
No caso da parceria entre Mercosul e União Europeia, ele considera que produtos industriais desses países europeus ficarão muito mais baratos no mercado brasileiro, enfraquecendo ainda mais a indústria brasileira, combalida e menos competitiva após anosbonus de boas vindas betnacionalrecessão e crise econômica.
"Eu acho que o mercado brasileiro não podia ser completamente aberto ao setor automobilístico da Europa, por exemplo. Alguém acredita que daqui a 15 anos a indústria brasileira vai estar no nível da europeia? Dos carros alemães?", questiona.
Algumas entidades que representam a indústria, no entanto, têm demonstrado total apoio à buscabonus de boas vindas betnacionalum acordo com os Estados Unidos.
"A relevância dos EUA como parceiro econômico do Brasil é um fato incontornável, tornando o país um candidato potencial a negociações comerciais bilaterais capazesbonus de boas vindas betnacionalgerar impactos significativos sobre a economia brasileira", afirma a CNIbonus de boas vindas betnacionaldocumento que mapeia os principais focosbonus de boas vindas betnacionalinteresse do setorbonus de boas vindas betnacionaluma aproximação com os EUA.
A Fiesp afirmou,bonus de boas vindas betnacionalnota, que um acordo com os Estados Unidos contribuiria para a competitividade nacional, seja pela transferênciabonus de boas vindas betnacionaltecnologia, seja pelo acesso preferencialbonus de boas vindas betnacionalprodutos brasileiros no mercado consumidor americano.
"Um acordo que estimule e facilite o comércio e o investimento é atrativo, não só para a indústria, mas também para o desenvolvimento da economia brasileira", afirma a nota. "Vale lembrar que cercabonus de boas vindas betnacional80% do comércio bilateral é realizado intrafirmas, ou seja, entre matrizes e filiais distribuídas entre os dois países."
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse que há muitas oportunidadesbonus de boas vindas betnacionalinvestimento na áreabonus de boas vindas betnacionalinfraestrutura e nas indústriasbonus de boas vindas betnacionaldefesa e aeroespacial, que podem serbonus de boas vindas betnacionalgrande interesse para os norte-americanos.
Ao comentar as negociações, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que os americanos querem aumentar as vendasbonus de boas vindas betnacionaletanol para o Brasil. "Eles usam o milho como basebonus de boas vindas betnacionalproduçãobonus de boas vindas betnacionaletanol e isso torna a mercadoria mais barata".
O álcool do Brasil é feitobonus de boas vindas betnacionalcanabonus de boas vindas betnacionalaçúcar. Como contrapartida, Guedes citou que o Brasil pretende, então, aumentar as exportaçõesbonus de boas vindas betnacionalaçúcar para os Estados Unidos. Assim, os empregos e a produção dos canaviais seriam mantidos ou até elevados, segundo o ministro.
Se sair, é para quando?
Para Rubens Barbosa, é muito pouco provável que alguma definição sobre um acordo com os EUA saia ainda no governo Bolsonaro.
"Eu acho que não vai ser, mas se for negociado, vai ser no final do governo, entendeu? E o acordo com a União Europeia só vai entrarbonus de boas vindas betnacionalvigor no fim desse governo. É uma janelabonus de boas vindas betnacionaloportunidade para o Brasil para botar a casabonus de boas vindas betnacionalordem, fazer essas reformas, voltar a crescer, e atrair investimentos. Aí sim vai facilitar a negociaçãobonus de boas vindas betnacionalum acordo. Mas por enquanto é tudo manifestação e intenção", diz.
Castro, da AEB, ressalta que, antesbonus de boas vindas betnacionalampliar as vendas para o exterior, é importante que o Brasil resolva as questões que o impedembonus de boas vindas betnacionalser um exportadorbonus de boas vindas betnacionalescala global, a preços competitivos. Disso depende todo e qualquer acordobonus de boas vindas betnacionalque o Brasil tentar avançar nos próximos anos.
"Se não aprovar as reformas tudo o que estamos falando aqui pode jogar fora. Inclusive (os benefícios) do acordo com a União Europeia. Tudo, tudo."
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