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Dormir na rua e pedalar 12 horas por dia: a rotina dos entregadorescbet insuranceaplicativos:cbet insurance
Durante uma semana, a BBC News Brasil conversou com dezenascbet insurancetrabalhadores do setorcbet insurancetrês pontoscbet insuranceconcentração deles na cidade: avenida Paulista e os bairroscbet insurancePinheiros e Higienópolis - locais com grande ofertacbet insurancecomércio.
Os entregadores, no entanto, não moram nesses bairros. Vivem principalmente na periferia oucbet insurancecidades da Grande São Paulo. Para chegar ao trabalho, percorrem até 30 km - às vezes, pedalando.
Em um momentocbet insurancecrise econômica e alta do desemprego, os aplicativoscbet insuranceserviços como Uber, iFood, 99 e Rappi atraem desempregados e pessoas que têm dificuldades para se inserir no mercadocbet insurancetrabalho com a perspectivacbet insuranceobter alguma renda.
No mês passado, um estudo do Instituto Locomotiva, publicado pelo jornal O Estadocbet insuranceS.Paulo, apontou que quatro milhõescbet insurancepessoas trabalham para essas plataformas no Brasil hoje - 17 mihões usam os serviços regularmente.
O aplicativo colombiano Rappi, por exemplo, começou a operar no paíscbet insurancejulho do ano passado e hoje vê seu númerocbet insuranceentregas aumentar 30% ao mês.
Por outro lado, o crescimento do negócio vem acompanhadocbet insurancecríticas. Especialistas afirmam que as empresas ajudam a precarizar o trabalho, pois elas não costumam seguir as leis trabalhistas. Seus colaboradores fazem jornadas muito mais longas que as oito horas previstas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), por exemplo.
'As vantagenscbet insuranceser motoboy'
Nas ruascbet insuranceSão Paulo, existem duas categoriascbet insuranceentregadorescbet insuranceaplicativos: os motoqueiros e os ciclistas. Elas concorrem entre si.
Quem tem uma moto recebe mais pedidos, trabalhacbet insuranceuma forma menos exaustiva e, principalmente, consegue ter uma renda maior - às vezes, recebe até o dobro do ciclista. Os motoboys que fazem jornadascbet insurance12 horas diárias, por exemplo, ganham cercacbet insuranceR$ 4 mil mensais,cbet insurancemédia.
É o casocbet insuranceRodrigo Versutti, 41, que conseguiu aumentar seus vencimentos migrando do serviçocbet insurancemotoboy tradicional - que entrega documentos, principalmente - para o deliverycbet insurancecomida.
Hoje, ele ganha mais, sem dúvida, mas precisou abrir mão dos direitos trabalhistas da CLT, como seguro-desemprego, fundocbet insurancegarantia e férias remuneradas. "Trabalho há 20 anos como motoboy e nunca tive uma renda como agora", explica.
Ex-pintorcbet insuranceparedes, Antônio Francisco Alves,cbet insurance41 anos, tem trajetória parecida: ganha quase o dobro do que recebia no trabalho anterior. Na crise, a faltacbet insuranceserviços regulares o empurrou para os aplicativos. "Parado eu não iria ficar. Eu tinha uma moto, mas nunca tinha trabalhado com ela", diz.
Todos os dias ele se posiciona na calçadacbet insurancefrente a um shoppingcbet insuranceHigienópolis, bairrocbet insuranceclasse média altacbet insuranceSão Paulo. Trabalha das 11h às 23h. Por que tanto tempo?
Porque plataforma iFood incentiva a permanência dos entregadores no local por meiocbet insurancebônus financeiros. Se um motoboy ficar 12 horas por ali, ganha R$ 190 pelo período, além do dinheiro das entregas.
Pode parecer vantajoso, a princípio, mas não há garantiascbet insuranceque o esquema vá continuar por muito tempo. Aplicativoscbet insuranceserviços costumam dar prêmios para aumentar o númerocbet insurancecolaboradores ou para suprir a demandacbet insuranceuma área com pouca cobertura. Depois, aos poucos, as bonificações diminuem ou até desaparecem.
Nesse caso, o entregador pode perder o bônus diário caso fique offline, recuse alguma corrida ou se distancie do ponto sem nenhum pedido nas mãos - ou seja, ele precisa ficar imóvel e aceitar todas as corridas, independentementecbet insurancehorário ou distância.
'O paradoxo dos ciclistas'
Já o entregador que usa bicicleta, porcbet insurancevez, vive uma espéciecbet insuranceparadoxo: por mais que a tecnologia faça a roda do delivery girar, o trabalho dele depende essencialmente da força física. Quanto mais ele pedalar, quanto mais quilômetros percorrer pela cidade, maior serácbet insuranceremuneração.
Por isso, os ciclistas ouvidos pela reportagem relataram fazer jornadascbet insurancemaiscbet insurance12 horas diárias, trabalhar muitas vezes sem folgas e até dormir na rua para emendar um horáriocbet insurancepico no outro, sem voltar para casa.
Em média, eles conseguem uma renda mensalcbet insuranceR$ 2 mil, segundo relatos. As empresas não revelam dados sobre o perfilcbet insuranceseus colaboradores, mas,cbet insuranceuma semanacbet insuranceconversas, a reportagem constatou que grande parte pertence às classes mais baixas, moracbet insurancebairros periféricos e tem dificuldade para conseguir empregos no mercado formal.
Um deles é Carlos Henrique Lima,cbet insurance18 anos,cbet insuranceCotia, cidade da Grande São Paulo. Todos os dias, ele pedala os 30 km que separamcbet insurancecasa do bairrocbet insurancePinheiros. "Isso é só na ida, parça", afirma. Contando ida, volta e entregas, ele percorre por voltacbet insurance80 km diários, diz.
Saicbet insurancecasa às 9h, pedalando pela rodovia Raposo Tavares até chegar à capital, às 10h30. Como a maioria, ele não usa - e as empresas não fornecem - equipamentoscbet insurancesegurança, como capacetes.
Depois, Carlos participacbet insuranceum programa do iFood conhecido como "OL" - os entregadores chamamcbet insurance"onda". Das 11h às 13h, ele trabalha para apenas um restaurante. Ganha R$ 20 por esse período e mais R$ 1,50 por refeição entregue. Também recebe uma marmita para almoçar.
A "onda" é uma espéciecbet insurancebônus que também serve para atrair os entregadores. Quando ela começou, há alguns meses, era mais vantajosa financeiramente, pois pagava R$ 40 por períodocbet insuranceduas horas. Mas o valor foi caindo ao longo do tempo, o que fez alguns desistirem do modelo.
Depois da "onda", Carlos vai até um posto do iFood no mesmo bairro. No local, a empresa disponibiliza café, água, banheiro e pufes. Dezenascbet insuranceentregadores passam a tarde ali, momentocbet insuranceque os pedidos diminuem bastante.
Eles dormemcbet insurancepufes ou no chão, jogam pebolim e carregam os celulares para o rush da noite. "Essa é a hora do descanso", explica Carlos.
A jornada do rapaz, porém, vai até as 23h, quando ele retorna para Cotiacbet insurancebicicleta.
Ao seu lado está Thales Coelho, 20,cbet insuranceCajamar, também na Grande São Paulo. O jovem prefere chegar à capitalcbet insurancetransporte público: ônibus, trem e metrô. No entanto, para trabalhar, aluga uma bicicleta do serviçocbet insuranceempréstimo do banco Itaú - são R$ 20 por mês. Mas, a cada uma horacbet insuranceuso, Thales precisa trocar a unidade ou renová-la.
Ele começou nos aplicativos depoiscbet insuranceperder o empregocbet insuranceoperadorcbet insurancetelemarketing, há alguns meses. "A empresa faliu e eu não queria ficarcbet insurancecasa parado", diz. Ele afirma ganhar cercacbet insuranceR$ 300 por semana.
'Uberização'
Pesquisa realizada pela Fundação Instituto Administração (FIA) e divulgada pela Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O) aponta que a idade média do entregador écbet insurance29 anos - os números contemplam motoboys e ciclistas. A maioria (97,4%) é homem; 73% têm apenas o ensino médio completo, e 11,7% já concluíram ensino superior ou pós-graduação.
Durante as conversas com a reportagem, muitos deles usaram o mesmo argumento para explicar por que atuam no setor: "O trabalho é a gente que faz".
Para eles, os aplicativoscbet insuranceentrega oferecem certa liberdade que não teriamcbet insuranceuma função mais formal. Ou seja, você escolhe seu horário, trabalha o quanto quiser, pode ir embora a qualquer hora e, para ganhar mais, basta se esforçar mais, segundo eles.
"Coloquei na minha cabeça que a crise é você quem faz", diz Carlos, que também é grafiteiro e sonhacbet insurancese mudar para o Chile. "Um celular já te arruma um emprego. Se você se dedicar, consegue ganhar R$ 1 milcbet insuranceum dia. Vai do seu esforço."
Esse discursocbet insurance"autogerenciamento" do trabalho é parecido com o adotado pelas plataformas.
A Uber respondeu aos questionamentos da BBC News Brasil com a seguinte nota: "O Uber Eats é uma empresa que oferece oportunidades a profissionais autônomos que podem se beneficiar da tecnologia para gerar renda extra ao toquecbet insuranceum botão. Os entregadores parceiros são autônomos, escolhem como e quando utilizarão o aplicativo como geraçãocbet insurancerenda".
A Rappi afirmou: "Estes, profissionais autônomos, atuam por conta própria, portanto, podem se conectar e desconectar do aplicativo quando desejarem. A flexibilidade permite que esses profissionais usem a plataforma da maneira que quiserem ecbet insuranceacordo com suas necessidades. Não há relaçãocbet insurancesubordinação, exclusividade ou cumprimentocbet insurancecargas horárias".
Já o iFood afirma que "está testando estruturas com espaço para descanso, recarregacbet insurancecelular e banheiros". Também diz que "outras ações incluem campanhas que estimulam boas práticas entre os parceiroscbet insuranceentrega por meiocbet insurancevídeos educativos".
Por outro lado, apesarcbet insurancegeraçãocbet insurancerenda, esse modelocbet insurancetrabalho tem sido criticado por especialistas. Há quem chame o fenômenocbet insurance"uberização",cbet insurancereferência à visibilidade que o aplicativocbet insurancetransporte Uber ganhou nos últimos anos.
Inicialmente, a plataforma foi criticada por se recusar a seguir qualquer regulação estatal e por não estabelecer vínculos empregatícios com seus colaboradores. Porém, a empresa sempre alegou quecbet insurancetecnologia apenas facilita a interação entre quem precisa do serviço e quem o oferece.
Para a pós-doutoranda Ludmila Costhek Abilio, pesquisadora do Centrocbet insuranceEstudos Sindicais ecbet insuranceEconomia do Trabalho da Unicamp, a chamada "uberização" é uma tendência no mercadocbet insurancetrabalho. "Esse processo écbet insuranceinformalização, que vem tirando as garantias e proteções. Agora, é o trabalhador quem entra com os meioscbet insuranceprodução, alémcbet insurancearcar com os custos e com os riscos da atividade", explica.
"Supostamente, a pessoa trabalha onde e quando quer, mas a verdade é que ela está trabalhando cada vez mais. O que estamos estudando é como esses trabalhadores estão subordinados aos algoritimos, às regrascbet insurancecobrança, às comissões e às metascbet insuranceprodutividade. Não me parece que as escolhas sejam tão amplas assim", diz Costhek Abilio.
Em outras palavras, o motoboy André dos Santos, 30, concorda com essa visão: "Quem tem disposição realmente consegue ganhar dinheiro. Mas tudo o que acontece dependecbet insurancevocê: se cair e se machucar, você está sozinho; se chover e não trabalhar, não ganha nada. Se morrer, ninguém vai pagar o seguro paracbet insurancefamília, ninguém vai ligar paracbet insurancemulher", diz.
'Ida e volta para a quebrada'
Para os entregadores, os diascbet insurancechuva e os finaiscbet insurancesemana são os mais lucrativos, pois o númerocbet insurancepedidos e o valor do frete aumentam. Um domingo, por exemplo, pode render até R$ 200cbet insuranceentregas. "O povo não gostacbet insurancecozinhar nem saircbet insurancecasa nesses dias", explica Welquer Vicente,cbet insurance27 anos.
Ele mora no Jabaquara, na zona sul, e trabalha na região da Paulista. Conta já ter virado a noitecbet insurancesábado fazendo entregas, emendando a jornada noturna ao domingo seguinte, sem voltar para casa. "Tenho pensãocbet insuranceum filho para pagar", diz.
Seu colega, Gabriel Di Pieri, 18, conta não ter visto muito a família nos últimos meses. "Chegocbet insurancecasa, tomo um banho e durmo. Não vejo ninguém", diz. Ele tem juntado o dinheiro das entregas para pagar a faculdadecbet insurancegastronomia que sonha fazer.
Em Pinheiros, Gabrielcbet insuranceJesus, 22, diz já ter virado o fimcbet insurancesemana trabalhando, também. "Sábado à noite a gente dorme na praça Victor Civita. Não vale a pena voltar para casa e depois vir para cácbet insurancenovo,cbet insurancemanhã", diz. Seu amigo, Robert dos Santos, completa: "A gente reveza: um dorme no banco e outro fica acordado para proteger dos roubos".
Robert mora no Campo Limpo, também na zona sul paulistana. Todas as manhãs, ele percorre 15 km até Pinheiros,cbet insurancebicicleta. "Isso é só a ida, parça. Depois, trabalho o dia todo, até meia-noite", diz.
Ele pensacbet insuranceseguir no setor: quer comprar uma moto para ascender na escala dos aplicativos. "Agora que já tenho as manhas do trabalho, que já conheço as ruas, só me falta um motor."
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