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Bolsonaroio apostasIsrael: Brasil abre mãoio apostas25 anosio apostasdiplomacia no Oriente Médio ao se alinhar aos EUA, diz historiadora:io apostas
io apostas BBC News Brasil - Historicamente, qual o posicionamento do Brasilio apostasrelação ao Oriente Médio?
io apostas Arlene Clemesha - O Brasil sempre teve uma posiçãoio apostasamizade com as duas partes, com Israel enquanto país, Estado, e com os palestinos, fosse qual fosse a representatividade do momento, desde a existência da Autoridade Palestina (estabelecidaio apostas1994).
O país sempre procurou ter uma posição, digamos,io apostasequidistância. Isso porque é muito difícil falario apostasequilíbrio - uma posiçãoio apostasequidistância não significaio apostasequilíbrio, porque a situação é essencialmenteio apostasdesequilíbrio, há um lado forte e um lado fraco.
Mas a posição histórica do Brasil foi procurar uma equidistância e, ao mesmo tempo, uma posiçãoio apostasrespeito a direitos humanos, lei internacional, resoluções da ONU. Isso significou sempre uma posturaio apostascondenação da ocupação israelenseio apostasterritórios palestinos (delimitados na partilha que deu origem ao Estadoio apostasIsrael,io apostas1948), que é considerada ilegal pela ONU.
Isso não significa uma inimizade com Israel, nunca significou - mas, sim, um respeito à lei internacional.
io apostas BBC News Brasil - A política externa do governo Bolsonaro, mais alinhada à dos EUA quando se fala na região, parece ser um pontoio apostasinflexão nesse sentido. Qual é o efeito prático disso?
io apostas Clemesha - Vai significar um isolamento do Brasilio apostasrelação a todo o resto do mundo, praticamente, que condena a ocupação israelense dos territóriosio apostasGaza, Cisjordânia (que pertencem aos palestinos) e Colinas do Golã (que pertence à Síria).
Dentro da Assembleia Geral da ONU, os EUA costumam ficar bastante isoladosio apostassuas posiçõesio apostasrelação à ocupação israelense, junto com alguns 'paisezinhos', países-satélite.
O Brasil vai passar a ficario apostasum conjunto isolado dentro da comunidade internacional, mesmo que seja um lado forte - pelo poder político que ainda têm os EUA, como potência mundial, com força para vetar resoluções no Conselhoio apostasSegurança e aplicario apostasvontade internacionalmente.
Em termosio apostascomunidade internacional, isso é muito ruim, porque coloca o Brasil dentroio apostasum campo isolado.
Além disso, o que eu acho que é muito nocivo é o fatoio apostaso Brasil, com isso, lançar por terra um esforço que vem desde o período FHC (Fernando Henrique Cardoso), e que continuou no período PT - e que não éio apostaspartido, masio apostasgoverno,io apostasEstado -,io apostasbuscar uma postura autônoma do Brasil no mundo.
De ter uma voz autônoma, uma avaliação autônoma dos diferentes conflitos internacionais pra saber o que interessa ou não ao Brasil.
E sempre interessou ao Brasil se posicionar como um paísio apostasprol do diálogo, da paz,io apostasuma construção pacífica das relações internacionais.
Ao fazer isso, ao se alinhar quase que automaticamente aos EUA, a gente está abrindo mão da construção dessa posição autônoma do Brasil.
Isso é muito nocivoio apostastermosio apostaslegitimidade do país no mundo. E o Brasil não é qualquer país, é um país continental, não poderia ter esse alinhamento tão automático - com qualquer que fosse o país. Poderia ser a Rússia, a China, qualquer potência.
Esse alinhamento automático não condiz com o papel que o Brasil vinha construindo na comunidade internacional.
io apostas BBC News Brasil - O Brasil chegou a anunciar que, também como os EUA, transferiria a embaixada do Brasilio apostasIsraelio apostasTel Aviv para Jerusalém, voltou atrásio apostasseguida, mas não descartou a possibilidadeio apostasabrir alguma representação na cidade. Quais seriam as consequênciasio apostasuma mudança como essa?
io apostas Clemesha - A consequência é a possibilidadeio apostasretaliação comercial, mais do que qualquer outra coisa,io apostaspaíses árabes e muçulmanos - são 22 países árabes e cercaio apostas40 muçulmanos.
A comunidade muçulmana no mundo soma 1,5 bilhãoio apostaspessoas, e a questãoio apostasJerusalém pega muito fundo para muçulmanos - é a terceira cidade mais sagrada para o Islã, com a maior mesquita.
A primeira grande mesquita construída no Islã foi aio apostasJerusalém, a mesquitaio apostasAl-Aqsa, com o Domo da Rocha. No início do Islã, as rezas se dirigiam a Jerusalém, e não a Meca - depois é que passou a Meca, ainda durante a vidaio apostasMohammed (Maomé).
Jerusalém é uma cidade muito importante, não só para o judaísmo, o cristianismo, mas também para o Islã. Isso vai repercutir muito além do que a gente pode imaginar.
A gente está olhando para uma possível retaliação comercial árabe, mas a gente não sabe o que pode virio apostasrelação ao descontentamento que isso vai causar com a comunidade islâmica no mundo.
io apostas BBC News Brasil - Há também o caso das Colinasio apostasGolã, que os EUA reconheceram como territórioio apostasIsrael. Recentemente o Brasil votou contra uma resolução da ONU que pede o fim da ocupação israelense na região. Declarou considerar o território como ocupado, mas afirmou que o texto era parcial, porque criticava apenas as violações cometidas por Israel, mas não pelo governo sírio. Faz sentido esse argumento?
io apostas Clemesha - A resolução aprovada na ONU é um chamado para que Israel encerre a ocupação militar das Colinas do Golã, tomadas da Síriaio apostas1967.
Ao votar contra, o Brasil demonstra que é conivente com a ocupação israelense e ficaio apostasminoria na Assembleia Geral da ONU.
Os argumentos que a representante do Brasil (Maria Nazareth Farani Azevedo) empregou na ONU para justificar seu voto - como a ausênciaio apostasuma menção a violaçõesio apostasdireitos humanos por parte da Síria - demonstram que ela ignora propositalmente a natureza do caso.
Não cabe a essa resolução, cujo intuito é eliminar a fonteio apostasinjustiça eio apostasconflito na região - isto é, a ocupação -, falario apostas"violações dos dois lados". Isso seria igualar a ocupação (uma violação da lei internacional) com a população ou o país ocupado, que teve suas terras usurpadas.
Vale lembrar, inclusive, que a lei internacional reconhece a legitimidade do direitoio apostasdefesaio apostassituaçõesio apostasocupação militar.
O Brasil felizmente não chegou ao pontoio apostasdeclarar as Colinas do Golã como pertencentes a Israel, como fez Trump, mas o voto contrário à resolução da ONUio apostascondenação a esta ocupação militar nos coloca muito próximos disso.
io apostas BBC News Brasil - Em novembro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, defendeu a transferência da embaixada brasileiraio apostasTel Aviv para Jerusalém afirmando que o Brasil apoiaria políticas para frear o Irã,io apostasmaioria xiita, para conseguir apoio dos palestinos,io apostasmaioria sunita. A senhora comentou na ocasião que o filho do presidente tinha uma "visão superficial" do Oriente Médio. Como funciona o xadrez político hoje na região e o que os Bolsonaro não estão levandoio apostasconsideração?
io apostas Clemesha - Em relação a Jerusalém, acho que a primeira coisa a se entender é que foge ao xadrez geopolítico. É uma cidade que capta a imaginação, os anseios religiosos, a fé, tantoio apostasxiitas quantoio apostassunitas - quantoio apostasoutras derivações islâmicas, já que existem várias correntes.
A outra coisa é que a cisão xiismo/sunismo não é a única cisão e nem é automaticamente aplicável para qualquer situação ou qualquer país. A economia e a política acabam falando mais altoio apostasmuitos casos - e não respondem a divisões fáceis como sunismo e xiismo.
O bloco ao qual Bolsonaro se aproxima no Oriente Médio, que é EUA, Arábia Saudita, alguns outros pequenos países na região, é um bloco próximoio apostasIsrael.
Então o maior receio que o Brasil - enquanto interesses brasileiros no mundo - pode ter é justamenteio apostasque Bolsonaro vai viajar para a região já alinhado a um grupo muito específico e muito claramente delimitado.
Ele não está preocupado com a postura histórica do Brasil, essa posturaio apostasconstruçãoio apostaspaz,io apostasequidistânciaio apostasdiferentes atoresio apostasconflitos como o do Oriente Médio.
Ele está interessadoio apostasconceder declarada e explicitamente um apoio a EUA, Arábia Saudita e Israel na região.
Com isso, a gente pode, sim, esperar declarações que vão desagradar a várias partes, a vários regimes árabes que não estão alinhados nesse eixo. E não é só o eixo Irã-Síria, a gente tem a Turquia, o Catar, a Jordânia, que tem muita relevânciaio apostasJerusalém, porque é ela que tem a administração do Haram al-Sharif (Monte do Templo, também sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos).
io apostas BBC News Brasil - Em 2010, quando Lula visitou a região, o fatoio apostasele ter declinado uma visita ao túmuloio apostasTheodor Herzl, fundador do movimento sionista, gerou mal estario apostasrelação à comitiva brasileira. Quais os riscosio apostasBolsonaro cometer uma gafe parecida, mas no sentido oposto, que estremeça ainda mais as relações com os países árabes?
io apostas Clemesha - Foram poucos mesesio apostasgoverno e o presidente Bolsonaro já mostrou uma faltaio apostastato muito grande nas declarações que tem feito.
Ele não tem agido como estadista, mas como candidato do Twitter. O estadista teria obrigaçãoio apostaspesquisar minimamente a história, o contexto político, saber das sensibilidadesio apostasuma região antesio apostasfazer qualquer declaração.
Então, qualquer fala vindaio apostasBolsonaro pode criar um mal estar dentroio apostasuma situaçãoio apostasconflito histórico como o do Oriente Médio - um conflito que se alastra na verdade há cem anos, entre o sionismo e a comunidade palestina local.
io apostas BBC News Brasil - O presidente visita Israel às vésperas das eleições, marcadas para 9io apostasabril. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está no poder há uma década e busca reeleiçãoio apostasmeio a uma sérieio apostasdenúnciasio apostascorrupção. Mesmo com a rejeição, ele ainda é um premiê relativamente popular. Por quê? A questão da segurança pesa muito?
io apostas Clemesha - Justamente. Ele constrói muito a ideiaio apostasvulnerabilidade israelense no Oriente Médio, o medo na população - que é um elemento muito importante nos conflitos, o fator medo, que consegue criar na população uma ideiaio apostasperseguição.
Então ele tem todo um contexto ideológico que constrói eficazmente - e há bastante tempo - que o ajuda a se colocario apostasum papelio apostasliderança forte, militarizada, necessária para defender a segurançaio apostasIsrael no Oriente Médio.
É uma construção. Tem ainda a questão das alianças (como aquela com os EUA), que lhe têm garantido essa permanência, e um perfil cada vez maisio apostasdireita, indo cada vez mais para a extrema-direita.
io apostas BBC News Brasil - Nesse sentido, até que ponto a própria atuação do movimento palestino acaba fortalecendo o discurso do premiê? Depoisio apostasum primeiro mandato entre 96 e 99,io apostasque não conseguiu reeleição, Netanyahu voltou ao poderio apostas2009, vindoio apostasum períodoio apostasque o território israelense foi alvoio apostasuma sérieio apostasataques.
io apostas Clemesha - A origem do que temos hoje não é a resistência palestina. Não é ela que fortalece a extrema-direita.
Eu vou dividirio apostasduas partes a resposta. Primeiro, o que fortalece e que, portanto, pode ser visto como a origem da atual extrema-direita no poderio apostasIsrael foi o crescimento dos grupos religiosos desde 67.
A conquistaio apostasJerusalém, isso foi um pontoio apostasguinada histórica,io apostasque começaram a crescer os grupos religiosos dentro do sionismo.
Na época da criaçãoio apostasIsrael, por exemplo, o movimento sionista era bastante laico, os grupos religiosos eram minoritários. A conquistaio apostasJerusalémio apostas67 mudou isso.
Houve uma outra guinada, com o assassinatoio apostasYitzhak Rabin (primeiro-ministro mortoio apostas1995) por um desses extremistas religiosos, um fundamentalista judeu.
Esse foi o segundo assalto, digamos assim, à ala mais liberal sionista.
O assassinoio apostasYitzhak Rabin declarou ter cometido o ato porque Rabin tinha aceito um acordo com os árabes (os Acordosio apostasPazio apostasOslo, mediados pelo presidente americano Bill Clinton e firmado com o líder palestino Yasser Arafatio apostas1993). Sendo que o acordo estabelecido foi muito favorável a Israel, se a gente for analisar. Os árabes aceitaram o acordoio apostasposições bem flexíveis.
A gente não tem como analisar todos os Acordosio apostasPazio apostasOslo neste momento, mas Oslo não negociou a paz. O que se negociou foi o caminho para se chegar a uma condiçãoio apostasque se pudesse negociar a paz (os palestinos passariam a governario apostasfato os territóriosio apostasGaza e da Cisjordânia, por exemplo, até então controlado militar e administrativamente por Israel).
E essa condição criava realmente uma camisaio apostasforça para a resistência palestina. Oslo representou uma armadilha para a resistência palestina. Os palestinos deixaramio apostaster um movimento forteio apostasresistência depoisio apostasOslo. Foi um acordo inteligente por parte da liderança sionista.
Yitzhak Rabin foi, mesmo assim, acusado pela ala extremista sionista fundamentalista judaicaio apostaster aceito um acordo com os árabes - o que seria impensável (na visão desse grupo), inconcebível, porque, afinalio apostascontas, aquela terra havia sido entregue por Deus e, portanto, nenhum pedaço dela poderia ser cedido.
Realmente, o fundamento do acordo era que, lá na frente, se discutiria trocaio apostasterra por paz. Como isso era o que norteava o lugar aonde o acordo iria algum dia chegar - porque ele ainda não negociava isso -, Yitzhak Rabin ficou visto dessa forma.
Isso tudo abriu as portas para o crescimento da ala fundamentalista judaica dentroio apostasIsrael.
Então não foi a resistência palestina, por lançar foguetes contra Israel, num atoio apostasresistência, que justificou aos olhos da opinião pública os ataques israelenses.
Realmente é visto dessa forma, muitos retratam e entendem que isso tenha acontecido. Mas essa é uma visão que esvazia o direitoio apostasresistência dos palestinos e que ignora os fatores internos israelenses que levaram ao crescimento da ala fundamentalista eio apostasextrema-direitaio apostasIsrael - e que não diz respeito aos palestinos, mas aos próprios israelenses.
io apostas BBC News Brasil - A senhora mencionou os acordosio apostasOslo, e essa parece ter sido a última vez que houve alguma esperançaio apostasresolução do conflito entre israelenses e palestinos. Qual a possibilidade concretaio apostasque haja uma soluçãoio apostasdois Estados - ou seja, a criaçãoio apostasum Estado Palestino?
io apostas Clemesha - Possível é. Tecnicamente é possível, mas, politicamente, está muito distante. Não há qualquer negociaçãoio apostascurso, a autoridade palestina está muito desacreditada entre os palestinos e a liderança israelense - ou seja, o governoio apostasNetanyahu - é o governo mais à direita que já vimos na recente História israelense.
É um governo que não quer chegar a um acordo, não tem interesseio apostasum acordo, enquanto a liderança palestina não tem legitimidade sequer entre os palestinos para liderar um acordo.
Por outro lado, todos os esforçosio apostasacordos baseados na ideiaio apostasdois Estados que até hoje aconteceram incluíram um elemento muito difícilio apostasos palestinos aceitarem, que sempre foi a ideiaio apostastroca territorial eio apostasabrir mãoio apostasJerusalém.
Isso é muito difícil, para qualquer liderança, seja com legitimidade ou não. Na épocaio apostas(Yasser) Arafat (líder da Autoridade Palestina que participou dos Acordosio apostasPazio apostasOslo), ele não pôde estabelecer um acordo porque toda proposta envolvia abrir mãoio apostasJerusalém e, com isso, não se avançou no processo.
Abrir mãoio apostasJerusalém era muito difícil, e não se chegou a uma resolução do conflito mesmo com uma liderança forte como aio apostasArafat, que era capazio apostaschegar para a população e pedir concessões maiores do que já tinham sido feitas.
io apostas BBC News Brasil - O lado palestino é inflexívelio apostasrelação ao direitoio apostasretorno dos 5 milhões expulsos do território desde 1948 - o quanto isso é realista e o quanto atrapalha as negociaçõesio apostaspaz?
io apostas Clemesha - O direitoio apostasretorno, na prática, já foi muito flexibilizado.
Mesmo na proposta árabeio apostaspazio apostas2002, que foi uma proposta séria, muito importante, a ideiaio apostasretorno é, antesio apostasmais nada, a ideia do reconhecimento do direito por parteio apostasIsrael.
E, a partir daí, da negociaçãoio apostasum número - que, provavelmente, como tem se falado desde a décadaio apostas90, dos anos 2000,io apostas300 mil, 350 mil (pessoas).
Não seria algo nem próximo dos 5 milhõesio apostaspalestinos refugiados registrados na Agência da ONU para os Refugiados Palestinos.
Então já se abriu mão, historicamente falando,io apostasum direito absolutoio apostasretorno,io apostasuma aplicação desse direito.
Do que não se abre mão, para os palestinos - porque aí é uma questão histórica,io apostasorgulho,io apostasreconhecimento do sofrimentoio apostasgerações,io apostasreconhecimentoio apostasuma injustiça histórica - não se abre mão do reconhecimento desse direito.
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