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Discriminação nos presídios: Com pratos marcados e rejeitados por facções, presos LGBT sofrem com rotinanovibet limitasegregação:novibet limita
"É machismo da parte deles. Um preconceito bobo. Acham que o homossexual pratica sexo oral e são pessoas que não têm um certo cuidado. Eles pensam: 'Vai que você praticou um sexo oral e eu vou dividir um cigarro com você. Eu vou estar fazer um sexo oralnovibet limitatabela'. É esse tiponovibet limitapensamento", explica Leonel da Silva Lopes, a Léia, que cumpre pena por furto e estelionato.
Crimes cometidos, segundo ela conta, para sustentar seu vícionovibet limitacocaína.
"Eles dizem que é um procedimento que vem das antigas, dos antigos criminosos. Por causanovibet limitauns, todos têm que seguir isso. Na sociedade, a gente vainovibet limitaum bar e bebemos no mesmo copo, que muitas vezes nem é bem lavado e ninguém reclama", diz Léia.
Para que não haja confusão, todos os objetos usados pela população LGBT têm marcas a fogo ou são perfurados, alémnovibet limitaserem guardadosnovibet limitaprateleiras específicas. Antesnovibet limitaentrar no banheiro, os gays também precisam dar gritos para anunciarnovibet limitachegada e não correr o risconovibet limitaver um preso hétero sem roupa. Pesquisadores disseram que quebrar alguma dessas regras pode levar até à mortenovibet limitaalguns presídios do país.
Durante maisnovibet limitatrês horas, as três contaram com a voz firme enovibet limitamaneira franca como é ser LGBTnovibet limitaum presídio masculino. E resumem: "é ser o excluído entre os excluídos". A entrada da reportagem da BBC News Brasil no presídio foi autorizada pela Justiça. A visita foi acompanhada pela diretoranovibet limitasaúde da unidade, uma assessoranovibet limitaimprensa e agentes penitenciários.
Com o cabelo raspado e um óculos com armação azul repousado sobre a testa, usado apenas como adereço, Léia é a representante LGBT na unidade visitada pela reportagem. Cabe a ela instruir os presos homossexuais que chegam sobre as regras da cadeia.
Ela conta que a intenção é criar um ambiente com boa convivência e respeito entre os internos, o oposto do que ela diz ter encontrado emnovibet limitaprimeira passagem pelo sistema penitenciário, 19 anos atrás. Sem opçãonovibet limitatrocarnovibet limitacadeia, Léia conta que foi desrespeitada e sofreu muito preconceito nas passagens que teve por presídios comandados pelo PCC.
"A gente tinha que costurar, arrumar a cela. Nunca me oprimiram ou bateram, mas eu sentia preconceito por parte deles", conta.
Na unidade onde ela está hoje, chamadanovibet limitaoposição por não ter membros do PCC, ainda são impostas as mesmas regrasnovibet limitasegregação, mas os presos têm mais respeito à população LGBT. Parte chega a dizer que só as obedece para não contrariar os companheirosnovibet limitacela.
"Certa vez, um ladrão falou para mim: 'Tem uma menina que vem me visitar que é garotanovibet limitaprograma. Eu vou saber o que ela fez na rua? Eu a beijo na boca. Eu não bebo no mesmo copo que você não porque eu quero, mas porque os demais criminosos exigem isso. Se eu passar a beber no seu, eu vou passar a beber (no mesmo copo) definitivamente'. Eu achei até bonito da parte dele", conta Léia.
Ao ladonovibet limitauma pilhanovibet limitalivros, ela conta que a biblioteca é o seu lugar preferido no presídio. Suas obras preferidas são os chamados espirituais e também osnovibet limitaautoajuda, como Paulo Coelho e Augusto Cury. Mas também lê Sidney Sheldon e Stephen King. Léia afirma que os livros a tornaram mais forte para encarar a vidanovibet limitaisolamento. Mas se emociona ao lembrarnovibet limitasua mãe,novibet limita73 anos, que sainovibet limitaSalvador e percorre 2 mil km para visitá-la uma ou duas vezes ao ano.
"Quando ela cruza o portão, a emoção é muito grande. Fico feliz por ela estar viva, mas tristenovibet limitaeu estar preso e minha mãe tendo que enfrentar filas,novibet limitapresenciar toda aquela situaçãonovibet limitavários jovens presos, para me ver. Isso me deixa deprimido. Mas isso me incentiva a sair, mudarnovibet limitavida e retribuir um pouco por tudo o que ela fez por mim", afirmou.
Léia sonhanovibet limitadeixar a cadeia e morar perto dela,novibet limitaSalvador. Mas seu maior desejo a curto prazo é que a população LGBT tenha o "direitonovibet limitacumprir dignamente o que nós cometemos para que amanhã possamos estar com nossos familiares e nos tornar cidadãos melhores."
Doutorandonovibet limitasociologia pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), Francisco Elionardonovibet limitaMelo Nascimento diz que antes do surgimentonovibet limitafacções criminosas no sistema penitenciário, os demais presos queriam estar próximos à população LGBT. Hoje, até mesmo a aproximação é vista como uma falta grave.
"A convivência com os homossexuais era disputada por questões afetivas. Como não havia visitas íntimas, era muito comum as relações com os homossexuais. A população LGBT também tinha a funçãonovibet limitaser uma donanovibet limitacasa, uma faxineira na cadeia. Os demais presos os viam como algo feminino, dedicado a cuidados do lar, enquanto eles tinham a funçãonovibet limitaprovedores", relata o pesquisador.
O pesquisador diz que um dos principais motivosnovibet limitatamanha restrição imposta à população da comunidade LGBT é colocar a masculinidade dos membrosnovibet limitafacções à prova.
"O fatonovibet limitauma pessoa trans impactar nessa masculinidade também é um reflexo do que acontece do ladonovibet limitafora das cadeias. Não é possível entender a prisão como um ambiente isolado. A ondanovibet limitaconservadorismo presenciada no país também impacta do ladonovibet limitadentro das prisões", afirma o pesquisador.
'Para não seduzir os caras'
Assim que um preso chega ao sistema penitenciário brasileiro, uma das primeiras perguntas que ele ouve é se ele faz partenovibet limitauma facção criminosa. Se não fizer, ele deve escolher uma sigla para se filiar. Mas essa não é uma opção para a população LGBT.
As facções não aceitam que nenhumnovibet limitaseus membros seja gay. Em cadeias dominadas por algumas das maiores facções do país, a segregação é ainda maior. Os presos LGBT não podem deixar o cabelo crescer ou usar short. Mesmo nos dias mais quentes, também não podem usar camisetas que deixem a barriga à mostra. Já os detentos heterossexuais podem ficar sem camisa.
Jaironovibet limitaJesus Oliveira Silva,novibet limita29 anos, a Grazy, já passou por cadeias dominadas pelo PCC, por roubo, e hoje estánovibet limitaPinheiros 2,novibet limitaoposição. Ela diz que as restrições nas cadeias comandadas pela maior facção do país são tão rígidas que a população LGBT mal pode conversar com outros presos.
"Lá tinha muitas regras, a gente era oprimida. A gente tinha que ficar no canto, sem falar com ninguém. Só (podia falar) o básico, como pedir licença. Também não tomava banho com os caras. A gente não podia usar roupa curta, não podia passar um lápis na sobrancelha, um lápis no olho. Tinha que andar como menino, com bermuda abaixo do joelho 24 horas. Nosso cabelo tinha que manter sempre curto por causa dos caras. Para a gente não seduzir nem arrastar os irmãos (membros do PCC)", conta Grazy.
Para ela, o PCC age dentro dos presídiosnovibet limitamaneira contraditória do que prevê o próprio estatuto da facção fundadanovibet limita1993. O texto divulgado entre os detentos e novos membros do PCC prevê que todos façam partenovibet limitauma "luta contra as injustiças e a opressão dentro das prisões".
"Eles falam que há igualdade pelo simples fatonovibet limitao homossexual ter visita íntima. Hoje eles deixam, mas por obrigação, por causa das leis, não porque gostam. Eu já passei por lá e sei do que eu estou falando. A gente é tratadonovibet limitauma maneira diferente que eles passam", conta Grazy.
Dilmar da Silva Soares,novibet limita63 anos, a Chica, é naturalnovibet limitaPelotas, RS, e tem diversas passagens no sistema carcerário, muitas por roubo - a maior parte das vítimas seus próprios clientes como garotanovibet limitaprograma - e até por tráfico internacionalnovibet limitadrogas quando tentou embarcar com 17 kgnovibet limitacocaína para Amsterdã, na Holanda.
Ela conta ter visto cenasnovibet limitadesrespeito, agressões e até mortes durante os anos que passou na cadeia. E ainda hoje presencia cenasnovibet limitapreconceito na unidadenovibet limitaPinheiros 2.
"Eu pegar a vassoura para varrer o raio, não posso. A boia, alimentação, é eles que servem. Já aconteceunovibet limitapassar um pão a mais. Tem que devolver porque é contado. Eles já não pegam porque eu peguei com a minha mão, então eles deixam ficar", conta Chica.
Ela conta que nas décadasnovibet limita1980 e 1990 era tratada como "uma rainha" ao chegar no sistema penitenciário e lembranovibet limitachegada à Casanovibet limitaDetenção Carandiru, onde uma chacina deixou 111 mortosnovibet limita1992.
"Éramos consideradas as rainhas no Carandiru. A gente chegava, casava, comprava uma cela e vivia com o preso. Ele me dava tudo do que eu precisava, mas eu não podia falar com mais ninguém. Quem não casava, podia se prostituir", lembra.
Para evitar o convívio com presos do PCC, hoje boa parte da população LGBT pede transferência para uma cadeianovibet limita"seguro" ou "oposição", como são chamados os presídios onde não há membros da maior facção do país.
Uma delas é a unidade Parada Neto (Guarulhos, na Grande São Paulo), dominada pelo Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC), e também Pinheiros 2 e 3, na capital paulista, Balbinos 1 e Guareí, ambas no interior.
Por outro lado, o governo diz que não há nenhuma divisão no sistema penitenciário feminino por contanovibet limitaorientação sexual.
Na intimidade da cela
Uma vez por semana, as grades dos presídios se abrem para que familiares e amigosnovibet limitapresos possam levar comida e passar algumas horas na cela com eles. Esse momento é visto como sagrado para os detentos, já que é única oportunidade que eles têm para rever pessoas que estão nas ruas, ter uma refeição especial e principalmente ter visita íntima.
A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informounovibet limitanota que uma resoluçãonovibet limita2014 garante que todos os direitos da população LGBT sejam respeitados nos presídios, inclusive visitas íntimas. Mas nos presídios paulistas, apenasnovibet limita2018 o PCC mandou um aviso aos seus membros para que isso fosse permitido no Estado.
Especialistas, agentes penitenciários e os próprios presos entrevistados pela reportagem dizem que não importa quais leis sejam aprovadas pelo governo, pois dentro da cadeia as regras são ditadas pelas facções.
Outro exemplo é que apenasnovibet limita2007 o PCC passou a proibir o estupronovibet limitagays dentro das penitenciárias comandadas pela facção, segundo a pesquisadora Camila Nunes Dias, autoranovibet limitalivros sobre o PCC e pesquisadora do Núcleonovibet limitaEstudos e Violência da USP.
"Desde então, quem tiver relações sexuais com gays também passa a ser considerado 'bicha', como são chamados pelos presos da facção. Antes disso, era admitido (o estupro). Hoje, ainda são obrigados a deixar a facção e serem transferidos para uma cela específica", afirma Dias.
A diretoranovibet limitasaúde do CDPnovibet limitaPinheiros 2, Elianenovibet limitaSouza, afirmou que o Estado não tem nada a ver com essas proibições impostas por facções.
"Essas questões, como não poder tomar água no mesmo copo, são internas deles. Para nós, são todas pessoas privadasnovibet limitaliberdade com os mesmos direitos. Mas eles (LGBT) merecem uma atenção especial. Eles vêm da sociedade e muitas vezes sofrem exclusão dentro da própria família. Chegam no limite do ser humano, no direitonovibet limitair e vir, e merecem atenção", afirma.
Ela diz que a unidade promove atividades e oficinas na unidade sobre cidadania, oferece roupas íntimas e tenta ao máximo tratarnovibet limitamaneira humanizada essa população. Na unidade, também é permitido manter cabelo comprido e todos chamam os gays e trans pelo nome social, inclusive os funcionários.
"Teve resistência dos agentes? Teve. Mas foram entendendo que tratar pelo nome social e atender as necessidades deles era melhor para toda a segurança. A gente também entende que segregar é um preconceito, então elas convivem com os heteros. À medida que o corpo funcional respeita, os presos respeitam também", diz.
A unidadenovibet limitaPinheiros 2 tem capacidade para 793 pessoas, mas hoje abriga 1601 presos. Entre eles, 254 são autodeclarados LGBT, o equivalente a 15%novibet limitasua população carcerária. Segundo o Conselho Nacionalnovibet limitaJustiça, São Paulo tem 236 mil presos. A SAP estima que entre 5 e 6 mil sejam LGBT.
O doutorando Francisco Nascimento, que também atua como agente penitenciário no Ceará, faz, ao ladonovibet limitaoutros pesquisadores, um estudo nacional sobre a população carcerária LGBT e diz que cada presídio tem uma maneira diferentenovibet limitalidar com a questão.
"As regras mudamnovibet limitaacordo com o espaço onde as prisões estão situadas. Há unidades do mesmo Estado, comandadas pela mesma facção, mas com regras diferentes. No Ceará, por exemplo, não é permitida nenhuma aproximação com gays. Quando há rebelião, por exemplo, os homossexuais são os primeiros a serem atacados, junto com criminosos que cometeram crimes tidos como 'proibidos', como estupro e pedofilia", afirma.
O pesquisador conta que certa vez, um gruponovibet limitapresos do Estado chegou a decapitar esses presos, que incluíam gays. Foram gravados vídeosnovibet limitaextrema violência exibindo pedaçosnovibet limitacorpos e compartilhadas imagens por aplicativosnovibet limitamensagemnovibet limitacelulares com a família dos mortos.
A volta às ruas
Depoisnovibet limitacumprir durante anos uma pena cheianovibet limitarestriçõesnovibet limitaum ambiente insalubre, os presos se deparam com o retorno às ruas e a busca por um emprego. Se o pesonovibet limitater no histórico uma passagem é considerado um entrave para um preso heterossexual, no caso dos LGBTs é quase um atestado permanentenovibet limitadesemprego.
"É complicado porque a gente sai sem chão. A gente sai direto para uma casanovibet limitacafetina, para a rua, se prostituir. Porque a gente não vai sair daqui e ir direto para um emprego. Até você correr atrás, tirar documentosnovibet limitanovo. E até você achar alguém que te dê um emprego é muito difícil hojenovibet limitadia", afirmou Grazy, que é naturalnovibet limitaBelém do Pará e conta que a distância da terra natal é mais uma barreira.
A diretoranovibet limitasaúdenovibet limitaPinheiros 2 diz que a unidade oferece cursonovibet limitacabeleireiro e outras oficinas para que os internos aprendam uma profissão. Entre as atividades, eles fazem até mesmo ursos, que são doados para crianças do Hospital do Câncer.
"A gente quer que quando elas saírem daqui, tenham pelo menos um curso. Que fazer programas seja apenas uma opção delas", afirma Eliane Souza.
Chica diz que fazer os trabalhos na unidade, como o crochê, é uma terapia. Ela não recebe visitas, mas tem um namorado na unidade. Seu maior sonho é fazer uma cirurgia plástica.
"Coloquei silicone na face muito cedo, quando eu tinha 18 anos. É óbvio que a pele ficou flácida e caiu, então eu pretendo levantar. Eu quero ter um trabalho, por mais simples que seja. O importante é não voltar para a cadeia. Vamos supor, se eu procurar uma ONG e falarem você vai ser faxineiranovibet limitaescola, eu vou aceitar porque eu vou ter meu salário, condiçõesnovibet limitapagar por um teto e quero terminar meus estudos, terminar o ensino médio".
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