Brasileiros nascem mais entre março e maio, mas razão intriga cientistas:astropay pokerstars

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Legenda da foto, Ano a ano, o padrão se repete: nascem mais brasileirosastropay pokerstarsmarço a maio e menosastropay pokerstarsnovembro a dezembro

Quando a bióloga e matemática americana Micaela Elvira Martinez, professora da Escolaastropay pokerstarsSaúde Pública da Universidadeastropay pokerstarsColumbia, olhou os dados brasileiros pela primeira vez, ficou perplexa: "Eu fiquei extremamente surpresa: 'uau, eles (brasileiros) têm uma sazonalidadeastropay pokerstarsnascimentos muito forte".

Legenda da foto, Fonte: Sinasc/Ministério da Saúde

A "sazonalidade" citada por Martinez se refere ao comportamento "sazonal" dos nascimentos por apresentam mesesastropay pokerstarspico eastropay pokerstarsbaixa que se repetem ano após ano da mesma maneira.

É um fenômeno observado na maioria dos países do mundo. O que muda são os mesesastropay pokerstarsque ocorre a alta e a baixa, bem como a diferença entre o númeroastropay pokerstarsnascimentos nesses dois pontos.

"Se não houvesse sazonalidade, todo mês nasceria uma quantidade equivalenteastropay pokerstarspessoas", explica Morvanastropay pokerstarsMello Moreira, da Fundação Joaquim Nabuco, um dos únicos pesquisadores brasileiros que se debruçou sobre esse tema.

A particularidade do Brasil - que deixou Martinez surpresa - é que o país é um dos casos com maior sazonalidadeastropay pokerstarsnascimentos conhecida.

"Na maioria dos Estados americanos, nós vemos uma diferençaastropay pokerstars6% a 8% entre o mêsastropay pokerstarspico (com maior númeroastropay pokerstarsnascimentos) e o mêsastropay pokerstarsvale (com menor número), comparado com os cercaastropay pokerstars20% que vocês têm", diz a professoraastropay pokerstarsColumbia, que já analisou dadosastropay pokerstarsmaisastropay pokerstarsuma centenaastropay pokerstarspaíses.

Mas a ciência ainda não sabe por que isso acontece - nem no Brasil, nem nos outros países. "Até hoje a gente não tem muita certeza, não podemos afirmar com segurança qual é a causa", diz Moreira.

"Essa é uma grande perguntaastropay pokerstarsaberto", acrescenta Martinez, PhDastropay pokerstarsBiologia Evolutiva e Ecologia. "(A sazonalidade dos nascimentos) é um fenômeno conhecido há muito tempo, há relatos com maisastropay pokerstarsum século. Então, é surpreendente que nós ainda não tenhamos a resposta definitiva para uma pergunta tão fundamental para nossa espécie."

Uma das hipóteses é que o cicloastropay pokerstarsnascimentos é provocado por mudanças no comportamento sexual ao longo do ano. Entram aí, por exemplo, um possível aumento da frequênciaastropay pokerstarsrelações sexuais no inverno ou a abstinência por motivos religiosos no período da quaresma.

Outra hipótese é que a fertilidade humana pode aumentar ou diminuirastropay pokerstarsacordo com as mudanças nas condições ambientais ao longo do ano - principalmente, a quantidadeastropay pokerstarsluz natural e a temperatura.

Porém, ressalta Martinez, é preciso muito mais estudos para testar essas e outras hipóteses. "Essa é realmente uma questãoastropay pokerstarsaberto".

Legenda da foto, Fonte: Sinasc/Ministério da Saúde. Todos os anos, o númeroastropay pokerstarsnascimentos aumentaastropay pokerstarsmarço a maio e caiastropay pokerstarsnovembro a dezembro; queda récordeastropay pokerstarsnovembroastropay pokerstars2017 é reflexo do adiamento da gravidez após a epidemiaastropay pokerstarszika

Região Norte é exceção

A altaastropay pokerstarsnascimentosastropay pokerstarsmarço e quedaastropay pokerstarsnovembro ocorreastropay pokerstarstodo o Brasil, exceto na região Norte.

Nos Estados da Amazônia, os nascimentos são mais distribuídos ao longo do ano, com dois picos pouco acentuados: o principalastropay pokerstarssetembro e outro mais leveastropay pokerstarsmarço. Dessa forma, nas últimas duas décadas, a diferença entre o númeroastropay pokerstarsnascidosastropay pokerstarsmarço e dezembro foiastropay pokerstarsapenas 5% na região - bem abaixo da média nacional,astropay pokerstars17%.

No outro extremo, estão Nordeste e Sudeste, com as maiores sazonalidades do país. Nessas regiões, a diferença entre o númeroastropay pokerstarsnascimentosastropay pokerstarsmarço e dezembro alcançou 20%, no mesmo período.

"Eu nunca tinha ouvido falar disso, mas faz sentido. No começo do ano, tem muita gente grávida. Só no meu trabalho e na igreja tem umas quatro meninas para ganhar neném", diz Karine Fernandaastropay pokerstarsAlmeida,astropay pokerstarsBrasilândia, zona norteastropay pokerstarsSão Paulo, grávidaastropay pokerstarssete mesesastropay pokerstarsPedro. O parto está previsto para abril - o meio do períodoastropay pokerstarspico.

"Tem lógica (que nasçam mais pessoas nessa época), porque no inverno rola mais clima (de namoro). No verão, com esse calor, ninguém quer ficar junto", brinca Karine.

O Estado onde a sazonalidade é mais forte é a Bahia, com 26% mais nascimentosastropay pokerstarsmarço queastropay pokerstarsdezembro.

Na principal maternidadeastropay pokerstarsSalvador, a Maternidadeastropay pokerstarsReferência Professor José Mariaastropay pokerstarsMagalhães Netto, a altaastropay pokerstarspartos entre março e maio chamou tanto a atenção dos profissionaisastropay pokerstarssaúde da instituição que chegou-se a considerar que esse quadro poderia ser frutoastropay pokerstarsum aumento nas concepções durante as festas juninas - associação posteriormente descartada por faltaastropay pokerstarsevidências científicas.

Em alguns pontos do Brasil, o fenômeno é ainda mais forte, como na pequena Feira da Mata, cidade baianaastropay pokerstars6 mil habitantes, a cercaastropay pokerstars800 quilômetrosastropay pokerstarsSalvador. Nos últimos anos, Feira da Mata teve mais que o dobroastropay pokerstarsnascimentosastropay pokerstarsmarçoastropay pokerstarsrelação a dezembro.

A diferença fica visível no negócioastropay pokerstarsMadson Ravany, sócio da Mundo Encantado Festas, que aluga materiais para festasastropay pokerstarsaniversário na cidade. Segundo ele, o movimento entre os mesesastropay pokerstarsmarço a maio é três vezes maior que o visto no final do ano.

Outro reflexo se dá na única escola estadual da cidade, o Colégio Filomena Pereira Rodrigues. Entre os alunos, há um número muito maiorastropay pokerstarsaniversáriosastropay pokerstarsmarço a maio do queastropay pokerstarsoutubro a dezembro.

"Talvez seja porque aqui é muito calor e o pessoal espera ficar mais fresco para namorar. E no Carnaval o pessoal usa muito preservativo", aposta,astropay pokerstarstomastropay pokerstarsbrincadeira, Davi Dias Rocha, vice-diretor do colégio. Ele levantou os dados dos aniversários na escola a pedido da BBC. "Eu nunca tinha imaginado que era assim".

Legenda da foto, Karine Fernanda, grávidaastropay pokerstarssete mesesastropay pokerstarsPedro, na maternidade do Hospital Vila Nova Cachoeirinha, Zona Norteastropay pokerstarsSão Paulo

Hipóteses ainda não confirmadas

Mudanças na atividade sexual ao longo do ano são,astropay pokerstarsfato, uma das hipóteses para explicar a sazonalidade dos nascimentos, diz Martinez, da Universidadeastropay pokerstarsColumbia. Outra hipótese importante são mudanças na fertilidade.

"Esses são os dois principais fatores. É possível que, ao longo do ano, a quantidadeastropay pokerstarsatos sexuais desprotegidos varie. E também é possível que homens e mulheres apresentem mudanças sazonais na fertilidade, que nós não percebemos", explica.

A combinação desses dois fatores explica por que a sazonalidadeastropay pokerstarsnascimentos é bastante comum entre espéciesastropay pokerstarsanimais, segundo Martinez. "Muitos animais só se reproduzem e são férteis ao longoastropay pokerstarsuma pequena janelaastropay pokerstarstempo no ano."

Dessa forma, os filhotes acabam nascendoastropay pokerstarsperíodos específicos - que podem ser estações com mais comida, clima mais favorável à sobrevivência, menor incidênciaastropay pokerstarsdoenças ouastropay pokerstarspredadores.

Assim, é possível que, há milhares ou milhõesastropay pokerstarsanos, questões como essas também tenham sido importantes para a espécie humana. O resultado pode ter sido alteração na fertilidade e nos hábitos sexuais nas diferentes estações do ano.

"Então, a ideia é que, talvez, os humanos não sejam tão diferentes dos animais. Apesar das mulheres ovularem todos os meses e serem capazesastropay pokerstarsengravidarastropay pokerstarsqualquer momento do ano, e os homens produzirem espermatozoides continuamente, pode haver diferenças na fertilidade ao longo do ano. E isso é algo que nós ainda não sabemos", completa a bióloga e matemática.

Legenda da foto, Região Norte é a única do Brasil com uma curvaastropay pokerstarsnascimentos diferente, com dois picos: umastropay pokerstarsmarço a maio, outroastropay pokerstarssetembro e outubro

Relação entre latitude e mês com mais nascimentos

Em um estudo publicadoastropay pokerstars2014 no periódico científico Proceedings of the Royal Society, Martinez e outros pesquisadores organizaram uma baseastropay pokerstarsdados com milhõesastropay pokerstarsnascimentos ocorridos no hemisfério Norte nas últimas décadas.

Ao analisar essas informações, os cientistas identificaram uma correlação entre latitude e mês do anoastropay pokerstarsque nascem mais pessoas. Quanto mais ao norte, mais os picosastropay pokerstarsnascimentos tendiam a ocorrer no começo do ano.

A maioria dos países europeus, por exemplo, têm um maior númeroastropay pokerstarsnascimentosastropay pokerstarsmaio. Já nos Estados Unidos, localizadoastropay pokerstarsuma latitude ao sul da Europa, o picoastropay pokerstarsnascimentos é um pouco mais tarde, entre julho e setembro - um estudoastropay pokerstarsum professorastropay pokerstarsHarvard identificou que 16astropay pokerstarssetembro era o diaastropay pokerstarsaniversário mais comum entre os americanos.

Mas como a mudançaastropay pokerstarslatitude poderia interferir nos nascimentos?

A duração do dia e da noite variaastropay pokerstarsacordo com a latitude. Regiõesastropay pokerstarslatitudes distantes do Equador têm noites mais longas e dias mais curtos - e vice-versa, dependendo da estação do ano. Jáastropay pokerstarslocais próximos do Equador, a duração do dia e da noite muda muito pouco ao longo do ano.

Dessa forma, a latitude interfere na quantidadeastropay pokerstarsluz natural disponível. Além disso, a latitude também influencia na temperatura. A hipótese, então, é que mudanças nessas condições poderiam alterar a fertilidade humana - mas, novamente, nada disso foi provado.

O estudo da equipeastropay pokerstarsMartinez não analisou dados do hemisfério Sul. Mas, desde o ano passado, a pesquisadora passou a trabalhar com dados brasileiros,astropay pokerstarscolaboração com a Universidadeastropay pokerstarsSão Paulo. Assim, espera entender se a correlação entre latitude e mêsastropay pokerstarspicoastropay pokerstarsnascimento também se repete por aqui.

"Esse é um dos motivos que me fizeram ficar surpresa com os dados sobre os Estados da Amazônia no Brasil. Nessa região, os dias são muito constantes, cercaastropay pokerstars12 horasastropay pokerstarsdia e 12 horasastropay pokerstarsnoite, ao longoastropay pokerstarstodo ano. E nessa região os nascimentos são menos sazonais", diz a pesquisadora.

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Legenda da foto, Mudanças no comportamento sexual e no ambiente (como quantidadeastropay pokerstarsluz e temperatura) são algumas das hipóteses para explicar a variação dos nascimentos no ano

Influência da escolaridade da mãe

Mas como explicar que a maior parte do Brasil tenha o mesmo calendárioastropay pokerstarsnascimentos, sendo que as regiões são tão diferentes entre si? Para Moreira, da Fundação Joaquim Nabuco, isso é um enigma.

"O Brasil tem dimensões continentais, variabilidadeastropay pokerstarsclima, uma população volumosa e muito diferenciada. As sociedades do Sul e do Centro-Oeste são muito diferentes. O clima das duas regiões também. Mesmo assim, elas guardam essa similaridade nos nascimentos. Não conseguimos ter uma explicação para isso", diz.

O pesquisador analisou os dados brasileirosastropay pokerstarsdetalhes. Além da região Norte, encontrou apenas uma segunda variável que modifica significativamente o padrão dos nascimentos no Brasil: a escolaridade da mãe.

Entre 1997 e 2017, filhosastropay pokerstarsmães sem nenhuma instrução nasceram 30% maisastropay pokerstarsmarço do queastropay pokerstarsdezembro. Já no casoastropay pokerstarsmães com nível superior, a diferença no númeroastropay pokerstarsnascimentos nesses dois meses foiastropay pokerstarsapenas 10%.

Para Martinez, da Universidadeastropay pokerstarsColumbia, isso pode estar relacionado ao planejamento familiar - mulheres com maior escolaridade usam mais métodos contraceptivos. Uma formaastropay pokerstarstestar essa hipótese seria verificar como eram os nascimentos no Brasil antes da existênciaastropay pokerstarsanticoncepcionais. Porém, faltam dados antigos - as primeiras informações são da décadaastropay pokerstars1990.

Em países que têm estatísticas anteriores, como os Estados Unidos, os pesquisadores verificaram que, no passado, a variação dos nascimentos ao longo do ano era ainda maior. "Nos anos mais recentes, a sazonalidade dos nascimentos está diminuindo e ficando cada vez mais fraca. E isso pode ser uma consequênciaastropay pokerstarshaver cada vez mais planejamento familiar", diz a bióloga americana.

Pela faltaastropay pokerstarsestatísticas do século passado, não sabemos se isso também está ocorrendo no Brasil. Se estiver, então é possível que, um dia no futuro, os bebês concebidos no inverno brasileiro deixemastropay pokerstarsser a maioria.

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