Tragédiaaposta em cavalosBrumadinho: medoapostaaposta em cavaloscavalosrompimentoapostaaposta em cavaloscavalosbarragem tira sonoaposta em cavalosoutra cidade mineira:aposta em cavalos

Barragem da CSNaposta em cavalosCongonhas
Legenda da foto, Congonhas com a barragem da CSN ao fundo; 'acordo assustada e tenho pesadelos' com a possibilidadeapostaaposta em cavaloscavalosrompimento, diz moradora

A Casaapostaaposta em cavaloscavalosPedra é uma das maiores barragens construídasaposta em cavalosárea urbana na América Latina, com capacidade para 50 milhões m3apostaaposta em cavaloscavalosresíduosapostaaposta em cavaloscavalosmineração - quase cinco vezes o volume que irrompeuaposta em cavalosBrumadinho.

Segundo a Secretariaapostaaposta em cavaloscavalosEstadoapostaaposta em cavaloscavalosMeio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad)apostaaposta em cavaloscavalosMinas Gerais, a estrutura é classificada como Classe 6, a mais altaaposta em cavaloscategoriaapostaaposta em cavaloscavalosrisco eapostaaposta em cavaloscavalosdano potencial associados.

Em entrevista à BBC News Brasilaposta em cavalosCongonhas, o prefeito Joséapostaaposta em cavaloscavalosFreitas Cordeiro afirmou que se reuniu nesta semana com diretores da CSN - e que a companhia se comprometeu a iniciar o processoapostaaposta em cavaloscavalosdesativação da barragem até o fim deste ano, mudando o processoapostaaposta em cavaloscavalosprodução do minérioapostaaposta em cavaloscavalosferro para focar no rejeito a seco, que não precisaapostaaposta em cavaloscavalosbarragem.

Vistaapostaaposta em cavaloscavalosCongonhas ao lado da barragem
Legenda da foto, Vistaapostaaposta em cavaloscavalosCongonhas ao lado da barragem; casas mais próximas estão a apenas 250 metros das paredes da barragem

O anúncio, segundo Cordeiro, é uma boa notícia, mas por enquanto é "acordoapostaaposta em cavaloscavalosboca". Contatada pela BBC News Brasil, a empresa não quis se pronunciar.

O prefeito está no cargo há seis anos e vinha negando um pedido da CSNapostaaposta em cavaloscavalosaltear a barragem, que tem 76 metrosapostaaposta em cavaloscavalosaltura,aposta em cavalosmais 11 metros.

"É uma represa que dá medo. É um monstro que estáaposta em cavaloscimaapostaaposta em cavaloscavalosCongonhas", diz o prefeito, conhecido como Zelinho.

Infiltração e 'riscoapostaaposta em cavaloscavalosrompimento'

A Casaapostaaposta em cavaloscavalosPedra estáaposta em cavalosoperação há 15 anos e foi construída a jusante, enquanto as barragens que estouraramaposta em cavalosBrumadinho eaposta em cavalosMariana foram construídas a montante -técnica que não está mais sendo permitidaaposta em cavalosMinas Gerais, ressalta Cordeiro.

"A empresa diz que a construção é moderna e que não existe risco. Mas a barragemapostaaposta em cavaloscavalosBrumadinho também não tinha risco,apostaaposta em cavaloscavalosacordo com o laudoapostaaposta em cavaloscavalossetembro (que atestava aapostaaposta em cavaloscavalosestabilidade da estrutura da Vale). Então acho que não existe risco zeroaposta em cavalosrepresa nenhuma", considera o prefeito da cidade.

O Ministério Públicoapostaaposta em cavaloscavalosMinas Gerais já constatou problemas na estrutura da Casaapostaaposta em cavaloscavalosPedra duas vezes,aposta em cavalos2013 e 2017. Um parecer do órgãoaposta em cavalosoutubroapostaaposta em cavaloscavalos2017 apontou riscoapostaaposta em cavaloscavalosrompimento e determinou uma sérieapostaaposta em cavaloscavalosmedidas corretivas.

Segundo o promotor Vinícius Alcântara Galvão, a CSN cumpriu as exigências na época, e perícias posteriores confirmaram a estabilidade da barragem.

Porém, ele destaca que laudosapostaaposta em cavaloscavalosestabilidade têm curta duração, já que barragens são estruturas dinâmicas, e a fiscalização deve ser constante.

"A populaçãoapostaaposta em cavaloscavalosCongonhas vive apreensiva", diz Galvão. "Tivemos oportunidadeapostaaposta em cavaloscavalosfazer duas atuações preventivas. Debelamos dois focosapostaaposta em cavaloscavalosincêndio. Se não tivessem sido debelados da forma como foram, na hora certa, poderiam ter se convertidoaposta em cavalosdano efetivo,aposta em cavalosmortes, desastre. Se essa estrutura viesse a romper, seria um seria um dos maiores acidentes da humanidade", alerta Galvão.

Adilene com as filhas
Legenda da foto, Adilene e as filhas moramaposta em cavalosum dos bairros mais próximos à barragem

Ele estima que 5 mil pessoas poderiam ser afetadas se a barragem rompesse. "A cidade não pode conviver com esses riscos e com essa apreensão."

Um dia antesapostaaposta em cavaloscavaloso acidenteaposta em cavalosBrumadinho, Galvão solicitou uma nova perícia na barragem - e aguarda o laudo com o seu resultado.

Patrimônio mundial

Congonhas é uma das cidades históricasapostaaposta em cavaloscavalosMinas Gerais, famosa pelo Santuário do Bom Jesusapostaaposta em cavaloscavalosMatosinhos, cercado por esculturas do Aleijadinho e reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

Do mirante da igreja, construída no século 18, vê-se a barragem, que pode ser avistada da maior parte da cidadeapostaaposta em cavaloscavalos54 mil habitantes.

A semana após o acidenteaposta em cavalosBrumadinho foiapostaaposta em cavaloscavalosintensa mobilização no município. Na terça-feira, cercaapostaaposta em cavaloscavalos3 mil pessoas se reuniram na associaçãoapostaaposta em cavaloscavalosmoradores do Residencial Gualter Monteiro,aposta em cavalosum encontro com discursos inflamados que acabou enchendo toda a rua.

Na quarta, um grupo e lideranças comunitárias foram à sede da CSN entregar uma carta enumerando seus pleitos - entre eles, o reassentamento imediatoapostaaposta em cavaloscavalosmoradores das áreas mais próximas à barragemaposta em cavalosface da incerteza -, mas não foram recebidos.

"A empresa não tem a menor abertura para diálogo com a comunidade e nem com a imprensa", diz Sandovalapostaaposta em cavaloscavalosSouza Pinto Filho, diretorapostaaposta em cavaloscavalosMeio Ambiente e Saúde da União das Associações Comunitáriasapostaaposta em cavaloscavalosCongonhas (Unaccom).

Vista da barragem
Legenda da foto, Promotor afirma que 5 mil pessoas podem ser afetadas caso barragem se rompa

Aposentado após 30 anosapostaaposta em cavaloscavalosatuação como técnicoaposta em cavalosusinasapostaaposta em cavaloscavalosbeneficiamentoapostaaposta em cavaloscavalosminério, Pinto Filho vem fazendo alertas contra a barragem há uma década, mas era taxadoapostaaposta em cavaloscavalosalarmista. "O pessoal está acordando. É bom que seja antesapostaaposta em cavaloscavalosa barragem romper", afirma.

Ele entrou com representação no Ministério Públicoaposta em cavalos2013 eaposta em cavalos2017, depoisapostaaposta em cavaloscavalosser procurado por moradores afirmando que a barragem estava minando água, ou seja, tinha pontosapostaaposta em cavaloscavalosinfiltração. As representações deram origem aos dois inquéritos civis do MP-MG contra a CSN - e aos reparos feitos pela empresaaposta em cavalosresposta. Motivaram também uma interdição da mina pelo Ministério do Trabalho,aposta em cavalos2017.

"A barragem demanda muito cuidado porapostaaposta em cavaloscavalosposição geográfica e proximidade do centro. Seaposta em cavalosCórrego do Feijão tivemos centenasapostaaposta em cavaloscavalosvítimas, aqui começaríamos a contar pelo milhar", afirma Pinto Filho.

Ele considera que o acordoapostaaposta em cavaloscavalosboca anunciado pelo prefeito só terá valor quando for apresentado oficialmente pela empresa, com um cronograma detalhado e uma estratégia esmiuçada.

"Precisamosapostaaposta em cavaloscavalosuma solução segura e confiável, que seja comunicada com clareza à população, para que ninguém continue morando com dúvidas. Porque, diante da dúvida, estamos vendo pessoas vendendo suas casas, mas ninguém quer comprar", diz Pinto Filho.

Promotor Vinicius Alcântara Galvão
Legenda da foto, Promotor Vinicius Alcântara Galvão destaca que laudosapostaaposta em cavaloscavalosestabilidade têm curta duração, já que barragens são estruturas dinâmicas, e a fiscalização deve ser constante

A mina e o bairro

A Casaapostaaposta em cavaloscavalosPedra começou a ser exploradaaposta em cavalos1913, muito antes da fundação da CSN,aposta em cavalos1941, pelo governo Getúlio Vargas, e incorporou a mina cinco anos depois. A mineradora, hoje a segunda maior siderúrgica do país, foi privatizadaaposta em cavalos1993.

Quando o conjunto popular foi construído, nos anos 1980, a barragemapostaaposta em cavaloscavalosmineração não existia. Os moradores lembram apenas da represaapostaaposta em cavaloscavaloságua que pertencia à mina, bem mais afastada do local.

"Tinha uma lagoa lá onde pessoas iam passar o fimapostaaposta em cavaloscavalossemana com a família, era muito verde, muito bacana. Mas com o passar do tempo, foi trocada pela barragem, que foi se expandindo. E a população ficou espremida aqui", diz Wagner Hermano Silva Firmino, que trabalha na CSN e é um dos moradores da área logo abaixo da barragem. Sua casa fica próxima à sirene instalada como parte do planoapostaaposta em cavaloscavalosevacuação.

"Os moradores chegaram primeiro. Mas o poder falou mais alto que a população", considera Firmino.

O planoapostaaposta em cavaloscavalosemergência foi elaborado depois da ruptura da barragem da Samarcoaposta em cavalosMariana,aposta em cavalosnovembroapostaaposta em cavaloscavalos2015, que matou 19 pessoas e se tornou o maior desastre ambiental do Brasil.

Hoje há placas espalhadas pelo bairro indicando a rotaapostaaposta em cavaloscavalosfuga. Firmino diz que não houve lá muita adesão da população nas duas simulações convocadas pela empresa para ensinar os moradores o que deveriam fazeraposta em cavaloscasoapostaaposta em cavaloscavalosuma ruptura.

"A população não acreditou muito, não. Não foi muita gente. Primeiro tivemos Mariana, e agora Brumadinho... O pessoal perdeu a confiança totalmente. Porque a sirene nem soou."

Uma das rotasapostaaposta em cavaloscavalosevacuação da região da barragem
Legenda da foto, Uma das rotasapostaaposta em cavaloscavalosevacuação da região da barragem; não houve muita adesão da população nas simulações convocadas pela empresa para ensinar os moradores o que deveriam fazeraposta em cavaloscasoapostaaposta em cavaloscavalosuma ruptura

Firmino se pergunta o que faria com aapostaaposta em cavaloscavalosmãe, que teve três AVCs e tem dificuldade para andar, e mora próximo à fronteira do bairro com a barragem, se a sirene soasse. "E se eu estiver no trabalho?", questiona. "E os idosos, as crianças na creche, as pessoas que têm problemasapostaaposta em cavaloscavalossaúde, como fariam?"

Rita Resende faz a mesma pergunta. Ela mora ao ladoapostaaposta em cavaloscavalosAdilene,apostaaposta em cavaloscavalosirmã, nas casas do Residencial Gualter Monteiro mais próximas à parede da barragem. Entre as duas famílias, são nove crianças.

"Como é que eu vou correr com meus sete meninos se a barragem estourar?", pergunta Rita. "Eu não quero que nenhum dos meus meninos morra. A comunidade inteira está assustada. Estamos pedindo para os órgãos competentes tomarem alguma providência", diz, nervosa, com os filhos aglomerados na barra da saia enquanto dáapostaaposta em cavaloscavalosmamar para a recém-nascida da família.

"Irresponsabilidade"

Para o prefeito Joséapostaaposta em cavaloscavalosFreitas Cordeiro, a barragem jamais poderia ter sido construída naquele local.

"Estáaposta em cavaloscimaapostaaposta em cavaloscavalosum bairro que já havia sido instalado. É uma irresponsabilidade muito grande dos órgãos ambientais terem aprovado essa represa. Só mesmoaposta em cavalospaíses subdesenvolvidos que isso pode acontecer", critica o prefeito, que tomou posseaposta em cavalos2012, quando a última expansão da barragem foi concluída.

Zelinho, prefeitoapostaaposta em cavaloscavalosCongonhas
Legenda da foto, Zelinho, prefeitoapostaaposta em cavaloscavalosCongonhas, diz que barragem não deveria ter sido construída

Desde 2014, a CSN tenta obter uma licença ambiental para aumentar o tamanho da barragem mais uma vez. O alteamento seriaapostaaposta em cavaloscavalos11 metros, passando dos atuais 76 metrosapostaaposta em cavaloscavalosaltura para 77,apostaaposta em cavaloscavalosacordo com a prefeitura.

O processo estáaposta em cavalosanálise junto à Secretariaapostaaposta em cavaloscavalosEstadoapostaaposta em cavaloscavalosMeio Ambiente mas gerou indignação entre a população local. O prefeito assumiu o compromissoapostaaposta em cavaloscavalosse manter contra a medida. Se o descomissionamento da barragem da CSN for confirmado, a brigaaposta em cavalostorno do alteamento deve ser deixada para trás.

Para a população, entretanto, diante da devastação causada pelo colapso da barragemaposta em cavalosBrumadinho, não se pode esperar que a decisão fique para depois.

"Precisamosapostaaposta em cavaloscavalosuma soluçãoapostaaposta em cavaloscavalosimediato", diz Maria Augusta Fernandes Emediato Pereira,apostaaposta em cavaloscavalos49 anos. "Depoisapostaaposta em cavaloscavalosMariana, as autoridades tomaram algumas atitudes, mas não foi o suficiente. Brumadinho reacende a preocupação. Mas o problema é que depois cai no esquecimento. Isso não pode acontecer novamente."

Maria Augusta com as filhas
Legenda da foto, Maria Augusta mora com as filhas; a caçula não quer voltar para casa, com medoapostaaposta em cavaloscavalosa estrutura se romper

Viúva, ela moraaposta em cavalosCristo Rei, o segundo bairro mais próximo à barragem, com as duas filhas, Ana Júlia,apostaaposta em cavaloscavalos18 anos, e Maria Gabriela,apostaaposta em cavaloscavalos8 anos. Elas estavamapostaaposta em cavaloscavalosfériasaposta em cavalosPorto Seguro quando a barragemapostaaposta em cavaloscavalosBrumadinho rompeu. A caçula não queria voltar para casaapostaaposta em cavaloscavalosjeito nenhum. "Tenho medo", diz sobre a estrutura.

Até as duas tragédias, a família não atinava para o que estava por trás daquelas paredesapostaaposta em cavaloscavalosterra, cobertas por uma gramínea verde, que avistam da varanda. "Só depois da tragédia a gente se deu conta do estava do lado da nossa casa", assusta-se a jovem Ana Júlia.

Maria Augusta já pensouaposta em cavalosse mudar com as filhas, mas diz que essa não seria uma solução. Afinal, o bairro continuará ali. Ela gostaria que a barragem fosse esvaziada e reintegrada à natureza. "As vidas têm que valer mais", diz.

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