Por que o legado do sábio chinês Confúcio atravessou milênios:
Ele vagoureinoreino tentando persuadir os governantes a seguir seus ensinamentos, mas nunca conseguiu nada alémum cargo públicobaixo escalão.
No entanto, conseguiu um gruposeguidores dedicados, que transmitiu seus ensinamentos às gerações seguintes.
'Obedecer, obedecer, obedecer'
Apenas centenasanos depois, durante a dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.), o confucionismo, um sistema éticocomportamento e governo, tornou-se o norte que definiria a cultura chinesa nos dois milênios seguintes.
O confucionismo não é uma religião como tal. Ainda que Confúcio não negasse a existênciaum mundo espiritual, ele afirmou que era mais importante se concentrar neste mundo enquanto se estava nele.
Refletindo seu desgosto pela guerra, ele declarou que a ordem era um requisito fundamental na sociedade.
Sustentar essa ordem era acreditar na importância das relações hierárquicas.
Os súditos tinhamobedecer a seus governantes, filhos a seus pais e esposas, a seus maridos.
No entanto, Confúcio não queria que essa ordem fosse imposta pela força.
Ele achava que a sociedade deveria ser harmoniosa e as pessoas deveriam ser encorajadasseu "autodesenvolvimento" para que pudessem aproveitar ao máximoposição.
O passado e a velhice
Segundo o pensamentoConfúcio, o estado moralalguém não dependiasua posição social.
Era possível, efato bastante provável, que houvesse bons camponeses ao mesmo tempo que um governante poderia ser perverso ou um aristocrata, cruel.
O pensamento confucionista também se diferenciava do pensamento moderno, na medidaque glorificava o passado e defendia a veneração da velhice.
"Eu sigo o Zhou", disse Confúcio, referindo-se à antiga dinastia que foi considerada uma "idadeouro" perdida por geraçõesgovernantes chineses.
O contrato
No centro do confucionismo há um contrato social: os governados deviam lealdade aos governantes, mas os governantes que não se importavam com o bem-estar do povo perderiam o "mandato do céu" e poderiam ser justamente derrubados.
Confúcio nunca deu aos governantes uma licença para a opressão.
Ao participar do "li" (que é frequentemente traduzido como "ritual", mas na verdade significa algo como "comportamento apropriado"), os humanos provaram ser civilizados, independentementesua origem, e podiam aspirar a se tornar "junzi" ("pessoasintegridade") ou mesmo "sheng" ("sábios").
Para isso, a educação era fundamental.
Fimlucro
O pensamento confucionista mudou imensamente com o tempo.
O próprio Confúcio provavelmente não teria reconhecido a maneira como suas ideias foram adaptadas por governantes posteriores.
Apesar da ênfase na ética e na harmonia como a melhor maneiragovernar um país, os governantes chineses também garantiram o monopólio do uso da força.
Confúcio desaprovava a busca do lucro como um fimsi, mas da dinastia Song (960 d.C. a 1279 d.C.)diante, a China viveu uma revolução comercial, e no final do período imperial (1368 d.C. a d.C. 1912) até a ideologia oficial rendeu-se à lógica do lucro.
Os traçosConfúcio
O confucionismo não foi um conjunto monolíticoideias por mais2.500 anos. No entanto, seus princípios básicos sustentaram o que significava ser chinês até meados do século 19.
A chegadainfluências ocidentais, na formacomerciantesópio e missionários, deu uma sacudida indesejada ao velho mundo do pensamento confucionista.
O pensamento moderno deixou sequelas profundas.
O impacto do nacionalismo e do comunismo, e seu amor inerente pela novidade e pelo progresso,vez da reverência por uma eraouro do passado, destruíram muitas das certezas do antigo mundo confucionista.
No entanto, essas idéias não desapareceram completamente.
Na China contemporânea, o governo, que não está mais tão ligado à ideologiaMao Tse-tung, está buscando a tradição chinesa para encontrar um núcleo moral para o século 21.
O "professor número um", Confúcio, está novamente nos programas escolares.
Os valoresordem, hierarquia e obrigação mútua permanecem tão atraentes no século 21 quanto no século 5 a.C.
*Rana Mitter é especialistaHistória e Política da China Moderna e autoraUma revolução amarga: a luta da China com o mundo moderno (Oxford University Press 2004).
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