'O PT tem que visitar seus demônios', afirma ex-ministrobet ixLula e Dilma:bet ix
Confira abaixo trechos da entrevista concedida na última quarta-feira.
bet ix BBC News Brasil - Bolsonaro venceu com forte discurso anti-PT. Qual recado o partido tira das urnas?
bet ix Gilberto Carvalho - Tenho a impressãobet ixque uma resposta mais definitiva dessa eleição, nós vamos levar um tempinho para digerir por conta da mudança profunda da natureza que se deu o processo eleitoral e, sobretudo, o processobet ixcomunicação com o eleitor. Hoje, temos consciênciabet ixque grande parte da mobilização dos corações e mentes se deu através do manuseio das redes sociais particularmente, Facebook e WhatsApp, no submundo. É o enviobet ixmensagembet ixum jeito muito qualificado com conteúdo psicossocialbet ixcaptação do ânimo das pessoas, do interesse das pessoas, que dá um saltobet ixqualidadebet ixrelação a tudo anteriormente.
Para nosso aprendizado e da democracia, a gente precisa aprofundar um pouco mais qual é a natureza desse processo que levou as pessoas a mandar esse recado. Porque, aparentemente, é um recadobet ixaprovaçãobet ixuma candidatura que se afirma forte, que afirma que vai resolver todos os problemas, que autoriza a violência, a discriminação racial,bet ixorientação sexual etc. e tal. Quer dizer, é uma viragem muito brusca naquilo que tem sido o recado político e as mensagens que a gente recebe.
A ironia é que é uma (mensagem) antipolítica contra um tipobet ixpolítica, porque os que estão com Bolsonaro não são novos na política, nenhum deles, tirando o Paulo Guedes, que vai ser ministro da Economia. Bolsonaro tem 26 anosbet ixmandato (de deputado federal), Magno Malta não sei quanto, (Onyx) Lorenzoni não sei quanto (ambos iniciaram a carreira política nos anos 90). E da pior política.
bet ix BBC News Brasil - Por quê?
bet ix Carvalho - Porque são todos eles praticantes do velho fisiologismo, da manipulação religiosa terrível no caso do Magno Malta. A nós, cabebet ixtodo modo entender alguns recados. O primeiro deles é quebet ixfato precisamos fortemente retomar contato com a nossa base, a periferia, com aqueles que foram beneficiários da nossa política social, acho que não foram conscientizados da natureza desses benefícios sociais, do que era nosso projeto.
Há um convite,bet ixfato, para que o partido se repense do pontobet ixvista dabet ixprática profissional, abet ixrelação com a corrupção, abet ixrelação com os modos tradicionaisbet ixfazer governo, o fisiologismo do toma lá, dá cá.
Há um convite para a gente deixar a arrogânciabet ixlado e ter a humildadebet ixreconhecer que essa primaverabet ixnovas energias que surgiram, sobretudo no segundo turno, não querem se enquadrar dentrobet ixum partido e não querem ser hegemonizadas por um partido. É um convite para formaçãobet ixuma frente que não seja apenas formalbet ixpartidos. Tem que haver a costura desse energia e a buscabet ixencontrar caminhos e expressões que se adequem mais a essa (mobilização).
Há também, naturalmente, um desafio enorme de, junto com essa frente, se fazer uma resistência à toda formabet ixprivação da liberdade. Então, eu acho que as urnas dão esse recado. Agora, insisto, tudo isso carecebet ixuma análise mais profunda e tambémbet ixum acompanhamento para gente poder ver no que vai dar.
Esse processo eleitoral me lembra muito Collor (presidente eleito)bet ix1989, pelas categorias manejadas, e acho que o futuro desse governo pode ter um destino, não vou dizer igual, mas semelhante ao do Collor, no sentidobet ixuma grande promessa rapidamente frustrada.
bet ix BBC News Brasil - Mas não um impeachment?
bet ix Carvalho - Não, eu não quero falarbet iximpeachment. Não podemos funcionar como aqueles que querem um inferno para o País. Não cabe a nós desejar o pior, pois quem sofre muito é o povo pobre. Nós temos que ter responsabilidade. Cabe a nós fiscalizar, vigiar, alertar e buscar conscientizar a população daquilo que for acontecendo.
(Se houver) Uma imposiçãobet ixum modelo liberal acoplado necessariamentebet ixum modelo repressivo, nós temos que ir para rua, não podemos ter medo. Pode acontecerbet ixtudo no governo Bolsonaro, pode até acontecer, o que é mais difícil, que seja um governo bem-sucedido com paz social. Para isso, teria que mudar muito esse programa que está aí. Pode acontecerbet ixum governo fortemente liberal e fortemente repressivo, inclusive oficialmente e oficiosamente com forças paramilitares, porque as falasbet ixBolsonaro sãobet ixtamanha irresponsabilidade que elas estimulam uma ação paramilitar contra gays, contra sem terra, contra todos nós.
A manter esse programa (econômico liberal) do Guedes não há como dar certo, e o que vai dar é muito descontentamento rapidamente.
bet ix BBC News Brasil - O PT esteve desde sempre orbitandobet ixtorno da liderançabet ixLula, mas nessa eleição isso não funcionou. O PT precisa agora superar a liderançabet ixLula?
bet ix Carvalho - Desculpe, mas eu vou ter que discordar dabet ixafirmação. Se você olhar o cenário, o PT foi o único partido que sobreviveu.
bet ix BBC News Brasil - Sobreviveu no Nordeste, muito regionalizado.
bet ix Carvalho - É a maior bancada na Câmara Federal, tem o maior númerobet ixgovernadores (Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte). É verdade que está mais no Nordeste, mas os deputados são eleitos por outras regiões também. E nas condições que nós tivemos, com Lula preso. Então, eu não diriabet ixmaneira alguma que essa eleição diminui o valor que Lula tem eleitoralmente. Imagine se nós tivéssemos concorrido com Fernando Haddad ou quem quer que fosse sem a figura do Lula por trás. Nembet ixlonge nós teríamos ido ao segundo turno, e muito menos tido essa votação que a gente teve.
Então, para nós é muito importante retomar a denúnciabet ixque o Lula foi preso para não ganhar a eleição. Vamos relançar agora a campanha "Lula livre", até porque nós morremosbet ixmedo. Quando esse cara tomar posse com Lula preso, não sabemos o que vai acontecer com Lula. Tudo que ele fala é no sentidobet ixque o Lula morrabet ixpodre na cadeia, todas as palavras desrespeitosas.
Isso não quer dizer que temos que ficar Lulodependentes a vida inteira. E Lula nos deu uma grande contribuição agora nos ajudando a lançar uma nova figura, que é Fernando Haddad.
Tudo que nós esperamos é que o Fernando ocupe um papel muito importante justamente naquilo que eu chamei há pouco, com humildade,bet ixformaçãobet ixuma frente democrática popular, tem que ser popular, não sóbet ixpartido. Porque uma das grandes vantagens nossas foi o surgimento (na eleição)bet ixum engajamento dos movimentos sociais fortíssimo. Então, a gente tem um Haddad como uma nova liderança não para fazer esquecer do Lula, mas para se juntar ao Lula.
bet ix BBC News Brasil - Além dos milhõesbet ixvotos que Haddad obteve, ele é apontado como essa liderança porque tem uma carabet ixnovo PT?
bet ix Carvalho - Eu não sei se posso chamarbet ixnovo PT, eu tenho muita dificuldade com essas categorias. Mas ele tem uma carabet ixquem foi aceito mais amplamente do que o PT. Muita gente que votou nele deixou claro que não gosta da PT, então ele pode sim galvanizar o apoio dessas pessoas, não para o PT, mas para essa frente. E é claro que caras novas sempre é bom. A Gleisi (Hoffmann, presidente do PT) foi uma cara nova, o Haddad é uma cara nova. E nessa síntese, que é natural dentro do partido, vai configurando a cara do partido: ela é múltipla, não tem uma cara só.
bet ix BBC News Brasil - Voltando à pergunta anterior, a força do Lula colocou Haddad no segundo turno, mas o antipetismo e antilulismo também impediu Haddadbet ixvencer. Há um dilema entre a necessidadebet ixmanter a importância do Lula e superá-lo?
bet ix Carvalho - De certa forma, quando eu falo que é uma frente além PT, ela é além Lula também, estou totalmentebet ixacordo. Agora, um poucobet ixcuidado com esse história do antipetismo. Porque há um antipetismo absolutamente artificial que foi inflado agora na campanha, que não se baseia no antipetismo clássico, que as pesquisas sempre diziam que erabet ixcercabet ix30%, é baseado no negócio da corrupção, do mensalão,bet ixcerta arrogância do PT.
Esse antipetismo que surgiu aí, que para mim é uma pena que voa, é um antipetismo baseado na mentira. Mentirabet ixque nós iríamos venezuelizar o país, a mentirabet ixter um kit gay contra família, toda essa multidãobet ixfake news que não permanece.
Nós temos que olhar e procurar corrigir aquilo quebet ixfato são problemas nossos. E que nós sabemos que magoaram, ofenderam, decepcionaram a sociedade. A nossa convivência com a política tradicional, o financiamento empresarialbet ixcampanha, junto com isso veio corrupção, na formabet ixarrecadar dinheiro para campanha, atébet ixalguns casos o enriquecimentobet ixalgumas pessoas, embora muito poucas, mas teve. Isso sim a gente tem que encarar, que eu chamobet ixa gente visitar os nossos demônios. Nós temos que ter coragembet ixvisitar, e, menos do que ficar fazendo uma autocríticabet ixpraça pública, é fazer autocrítica na prática, mudar a nossa prática. Sair da burocracia e conviver mais com os pobres, fazer um trabalhobet ixbase novobet ixformação. Tudo isso OK, nós vamos fazer. Não querer agradar uma parte da sociedade que nós nunca vamos agradar, então isso é bobagem.
bet ix BBC News Brasil - Noam Chomsky (linguista americano) disse que o PT deveria fazer uma Comissão da Verdade para analisar seus erros. Como o senhor vê essa sugestão, que tipobet ixtrabalho poderia ser feito para visitar esses demônios?
bet ix Carvalho - Eu acho que a gente tem que ouvir com muito carinho o Chomsky. Quando eu falobet ixvisitar e espantar esses demônios, ou repactuar eticamente internamente, eu estoubet ixacordo. Nós precisamos fazer. É própriobet ixqualquer instituição humana ter erros, não tem problema nenhum.
bet ix BBC News Brasil - O PT erroubet ixnão fazer isso antes?
bet ix Carvalho - Errou, podemos dizer que poderíamos ter feitobet ixmaneira mais clara isso antes. Mas eu quero dizer uma coisa: não é isso que mais afastaria a multidão. Nós não fizemos antes e vencemos eleiçãobet ix2006, 2010 e 2014. Essa exigência externa que se coloca pra nós, e que as pessoas dizem que não gostam e não votam no PT por causa disso, isso é bobagem. Não nos iludimos por ela, porquebet ixgeral isso é estribo para uma rejeição que é classista, que ébet ixoutra natureza.
Agora, independente disso, eu acho que, para o bem do partido, é importante fazer na prática essas mudanças. O que não é simples, porque nós convivemos numa cultura política profundamente marcada por essas posturas. O cara que ganhou a eleição agora, Bolsonaro, não é um cara honesto, a vida dele está cheiabet ixcompromissos e cumplicidade.
bet ix BBC News Brasil - Os processos contra Lula do tríplex e do sítiobet ixAtibaia indicam um relacionamentobet ixcompadrio com empreiteiras,bet ixque ele pode ter obtido benefícios, ou quase obtido. Como olhar esses demônios se o discurso ébet ixque o Lula é totalmente inocente?
bet ix Carvalho - Eu não vejo contradição nenhuma nisso porque eu conheço o Lula e Lula efetivamente é inocente. O Lula foi o presidente que tomou a iniciativabet ixestimular o desenvolvimento dos órgãosbet ixcontrole, e nunca, isso eu posso testemunhar porque eu convivi com ele oito anos na Presidência, nunca ele pôs a mão na cabeçabet ixninguém. Ele sempre disse: "quem no meu governo errar será investigado, não peça para não ser investigado". Tanto que ele viu cair (o ex-ministro Antônio) Palocci, cair Zé Dirceu (ex-ministro e ex-presidente do PT). Até diziam que ele era pouco solidário.
O Lula focou o governo dele na questão da mudança do país, desenvolvimento econômico e tal, e criou os mecanismos para que tudo fosse detectado. Muita coisa não foi detectada porque não havia como chegar à Presidência informações que não chegam tão rapidamente, como o caso da Petrobras.
O erro que o Lula cometeu, que nós cometemos, foi ter convivido com pessoas que foram governo com objetivo clarobet ixse locupletar, e praticaram um montebet ixcoisa que depois vieram pra nossa conta, como é o caso da Petrobras. Lula não conhecia Paulo Roberto, não conhecia (Renato) Duque (ex-diretores da estatal presos na Lava Jato).
E eu não concordo com afirmaçãobet ixque teve compadrio. E o que ele fez, e aí sim se inclui no conjunto do PT, foi aceitar e tolerar o financiamento empresarialbet ixcampanha. Mas vamos lembrar que isso estava dentro da lei. Nunca o Lula se dirigiu a nenhum empresário, e falou "eu peço dinheiro para você".
bet ix BBC News Brasil - Mas tem as obras realizadas por empreiteiras no sítiobet ixAtibaia (que não pertence a Lula formalmente, mas ele fazia uso), a própria questão do tríplex do Guarujá (que foi oferecido a Lula pela OAS e ele chegou a visitar antesbet ixrecursar)?
bet ix Carvalho - Elas se deram depois do governo dele, nunca durante o governo dele, na ciência dele.
bet ix BBC News Brasil - Mas essas obras no sítio são um problema?
bet ix Carvalho - Não. Se fossem feitas durante o governo, seria um problema. Não foram feitas durante o governo dele, ao menos com a ciência dele não foram feitas. O caso do tríplex foi uma oferta que não foi aceita.
Não tenho dúvida nenhumabet ixque o processo contra o Lula foi um processo montado para tirá-lo do jogo. São absolutamente ridículas as acusações contra o Lula a pontobet ixum juiz do Supremo como o Gilmar Mendes dizer para mim pessoalmente: "o processo do tríplex não parabet ixpé". Não sou eu que falei isso. Qualquer juiz sabe disso. Só não agiram antes porque não queriam fazer interferência no processo eleitoral.
bet ix BBC News Brasil - Sérgio Moro pode ocupar o cargobet ixministro da Justiça no governo Bolsonaro (o que foi confirmado na quinta-feira um dia após a entrevista). Como o senhor recebe essa notícia?
bet ix Carvalho - Essa notícia é apenas a confirmaçãobet ixtudo que nós tínhamos falado. Há um processobet ixum Judiciário que se tornou acusador. Um Judiciário que perdeu a imparcialidade e se tornou partebet ixum processobet ixdestruiçãobet ixum projeto. É só isso. Ele aceitando ou não, para mim não importa muito. O fatobet ixo Bolsonaro convidá-lo é apenas a consolidaçãobet ixque ele tem parte no processo e que eles conseguiram tirar (Lula da eleição), nos derrotaram desse pontobet ixvista.
Moro e uma parte importante do Judiciário, aí incluída a segunda instância, estão afundados até as botas nessa açãobet ixdestruir o nosso projeto, e não é pelos nossos erros, é pelos nossos acertos:bet ixfunçãobet ixnossa autonomiabet ixrelação aos Estados Unidos, o ferimento dos interesses das petroleiras no pré-sal, o ferimentobet ixinteresses do sistema financeiro com as medidas que a Dilma tomou sobretudo (de tentar reduzir os spreads bancários). O resto foram argumentos que foram se acoplando para justificar perante a opinião pública uma ação criminosa, que, ao meu juízo, ao tentar destruir o PT, acabou destruindo o Brasil.
bet ix BBC News Brasil - Tenho dificuldadebet ixver esse tipobet ixconexão entre a ação do Judiciário brasileiro e a suposta ação do governo contra interessesbet ixmultinacionais americanas.
bet ix Carvalho - Você desconhece toda a participação do Moro e do pessoal do Ministério Público nos Estados Unidos, os treinamentos nos cursos que eles fizeram? O acordo que foi feitobet ixcolaboração ilegal com o Ministério Público americano? Você desconhece isso? Passou dados para destruir a Petrobras para eles (o Ministério Público brasileiro colaborou com investigações nos Estados Unidos e a Petrobras depois firmou acordobet ixR$ 3,6 bilhões com o governo americano para encerrar investigações que enfrentava no país).
Eu te convido a fazer um estudo mais profundo dessa história, desde os financiamentos aos movimentosbet ix2013 pelos colleges americanos, MBL, etc., toda essa redebet ixWhatsApp agora.
Eu concordo com você, a gente não deve ter visões mecanicistasbet ixcausa e efeito, mas não podemos também deixarbet ixanalisar esses fios, essas ações, que não se explicam por si só. Por que o Emílio Odebrecht me disse, por exemplo, quando foi depor que só interessava aos promotores a questão do Lula e do PT? Por que as empresas brasileiras que foram atingidas pela Lava Jato foram sobretudo aquelas que têm uma concorrência estratégica na questão do petróleo, na questão do submarino atômico, na questão da concorrência com empresas americanas no controle da América Latina? Não convém a gente deixarbet ixolhar.
bet ix BBC News Brasil - Mas seriam mais indícios do que provas concretas dessa conexão?
bet ix Carvalho - É um pouco como (o golpe militar de) 1964, só depois nós soubemos das conexões (com interesses americanos). Eu prevejo que vai passar alguns anos para gente poder entender coisas que aparentemente não se explicam na Lava Jato. A grande pergunta "a quem beneficia?" é muito importante. Quem se beneficiou com tudo que eu vi até agora, desde a derrubada da Dilma à prisão do Lula? Quem está comprando petróleo na bacia das almas (quando algo é vendido barato, às pressas)? Quem estão sendo os beneficiários da internacionalização da economia brasileira por esses preços vis que estão aí? Alguém se beneficiou.
bet ix BBC News Brasil - No passado, o senhor muitas vezes destacou a lealdadebet ixCiro a Lula. Ciro Gomes agora se diz traído por ele e faz duras críticas ao PT. A mágoa é justa?
bet ix Carvalho - Eu prefiro não responder ao Ciro. Essa minha atitude tem uma posturabet ixrespeitar o Ciro que eu conheço e o Ciro das atitudes, e não o Ciro das palavras. Se eu for levarbet ixconta as ofensas que ele fez ao Leonardo Boff, ao Frei Betto e ao Lula, eu vou ficar com opinião tão ruim dele que eu prefiro não (levarbet ixconta).
Eu mandei um zap ao Ciro entre o primeiro e o segundo turno pessoalmente pedindo a ele que nos apoiasse, que era importante inclusive para formação dessa frente. Então, eu quero dizer que nós vamos teimarbet ixcontar com Ciro. Nós precisamos tanto dele ebet ixqualquer cidadão brasileiro nesse momento que não convém ficar estimulando divisão.
bet ix BBC News Brasil - A imprensa brasileira diz que PDT, PSB e PC do B estariam tentando se articularbet ixuma frente sem o PT. Vão também teimarbet ixprocurá-los?
bet ix Carvalho - Não há dúvida. Primeiro porque essas fofocasbet ixcorredorbet ixCongresso,bet ixcolunabet ixjornal, elas não podem ser levadas a sério pela gente. Tudo é tão grave que eu tenho certeza nós vamos estar juntos. Eu prefiro não plantar nenhuma dificuldade agora. Evidentemente vamos procurar todos os partidos. Eles podem ficar tranquilos, nós temos autocrítica suficiente para não querer fazer a hegemonia, o hegemonismo.
bet ix BBC News Brasil - Reconhecem que houve erro do PT nesse hegemonismo?
bet ix Carvalho - Claro, só que o seguinte: nós não temos culpabet ixser o partido do tamanho que nós temos. Não temos culpabet ixter construído uma história que, mesmo nessa voragem toda, nós tivemos esses votos. Nós temos um número grandebet ixdeputados, governadores, não é pela beleza dos nossos olhos ou por querer sermos hegemonistas, é porque temo uma proposta e com isso nós comparecemos à mesa e nos colocamos à disposição. Nós não queremos mandarbet ixnada, mas também não vamos esconder essa força.
Eu diria que nessa eleição surgiram lideranças muito importantes, eu destaco o papel do (candidato do PSOL Guilherme) Boulos por exemplo,bet ixmuitas lideranças do mundo cultural, que nós queremos abraçar, sem nenhuma vontadebet ixquerer mandar nadabet ixninguém.
bet ix BBC News Brasil - Algumas alas do PT defenderam o apoio ao Ciro na eleição. Foi um erro não tê-lo apoiado?
bet ix Carvalho - O Ciro não nos apoiou nessa tarefa. Nós há muito tempo nos aproximávamos do Ciro e pedíamos dele atitudesbet ixsolidariedade quando nós estávamos na pior, que facilitariam o caminho dele. Se quando Lula foi preso,bet ixvezbet ixdeclarar que não ia a São Bernardo porque não era capachobet ixninguém, se tivesse no mínimo ficadobet ixsilêncio, ou emitido uma solidariedade ao Lula, ele teria pavimentado o caminho para a gente apoiá-lo.
As coisas não acontecem automaticamente. Se eu planto cebola, eu colho cebola. Ele fala que foi uma ofensa ser chamado para ser vice (de Lula, com a perspectivabet ixsubstituí-lo como ocorreu com Haddad), mas muito antes a gente procurou sinalizar para o Ciro: "oh, vamos ter uma políticabet ixbom (relacionamento)". Mas elebet ixvezbet ixquando dá umas pancadas que desequilibra todo mundo, entristece todo mundo.
Na carta que eu mandei para ele, eu disse: "Ciro, nós temos uma crisebet ixliderança e você é uma das lideranças que nós queremos, mas ajude". Bastava um gesto. Não é que o gesto dele ia salvar a eleição, não tinha essa ilusão, mas terminar o segundo turno com essa visãobet ixuma frentebet ixresistência junto era muito melhor para nós.
Mas, não tem problema, o Ciro está no nosso campo, e nós vamos continuar buscando o apoio dele, nós precisamos buscar todo mundo.
bet ix BBC News Brasil - Em 2022, o PT pode não ter candidato e apoiar outro nome? Seria a primeira eleição presidencial desde a redemocratização sem candidato do PT.
bet ix Carvalho - É fácil eu te responder que sim, pode, claro que pode. Só que antes nós precisamos garantir a eleiçãobet ix22. Nós não sabemos nem se vai ter eleição. A primeira tarefa é garantir a democracia e o processobet ix22. Até lá tem muita coisa que vai acontecer e é perfeitamente possível, está dentro do processobet ixmaturidade a gente construir uma nova liderançabet ixoutro partido que possa disputar, tipo o Boulos, o próprio Ciro.
Agora, não dá pra pedir pra gente fazer issobet ixjaneirobet ix2022 se antes não tiver um caminho conjunto. Por isso que eu diria para você que a prioridade zero é a gente formar essa frente popularbet ixresistência,bet ixconstruçãobet ixum projeto alternativo, que aí as coisas têm que se dar naturalmente na política, e não com uma imposição.
bet ix BBC News Brasil - Há muitos sinasbet ixque a Venezuela se tornou uma ditadura, mas lideranças do partido seguem defendendo o governo Maduro, inclusive a presidente Gleisi. Por quê? O partido não vai mudar essa posição?
bet ix Carvalho - Não, não vai mudar nessa mudança artificial e superficial desconhecendo o que a Venezuela sofre como pressão do imperialismo contra o seu povo. Enquanto nós fomos governo, nós atuamos sempre para moderar as coisas na Venezuela. O Lula foi uma espéciebet ixpai do velho Chávez e procuramos o tempo todo dizer a ele os caminhos que seriam melhores na linha da democracia.
É evidente que não apoiamos a perseguição da oposição, mas nós preferimos, antesbet ixfazer uma crítica, conhecer melhor o que é a Venezuela e quais são as razões que levaram e que levam a isso, a sabotagem. Você sabe que os americanos provocam uma sabotagem interna na economia e uma faltabet ixprodutos artificialmente. Você sabe disso?
bet ix BBC News Brasil - Como?
bet ix Carvalho - Uai, há uma aliança com os empresários. Eles são induzidos a investir no mercado financeiro e a sabotar o mercado interno. A fome na Venezuela é uma fome artificial, não é por faltabet ixrecursos. Há uma brutal sabotagem ao governo venezuelano. Eles estão isolados economicamentebet ixum montebet ixpaíses. O diabet ixque vier uma posição clara sobre isso, nós vamos nos posicionar. Mas nós queremos ter uma discussão séria por inteiro. Não é justo você condenar um governo sob cerco. Eu posso fazer críticas parciais, agora, estranhamente, tem eleição sempre na Venezuela. Ninguém provou que as eleições são sujas na Venezuela.
bet ix BBC News Brasil - Mas a OEA (Organização dos Estados Americanos) não reconheceu a legitimidade da última eleição.
bet ix Carvalho - A OEA está dominada pelos Estados Unidos. O que o PT faz é ter uma posição madura, tranquila. Internamente, fazemos críticas sim, sempre fizemos, continuamos fazendo, mas quando estávamos no governo procuramos contrapor-nos aos americanos e darmos condições econômicas para o país sobreviver. O Brasil virou as costas para a Venezuela e apoia hoje o cerco criminoso para aquele povo.
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