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Eleições 2018: Voto útil, abstenções e outros três fatores que podem ser decisivos na reta final:
Essa porcentagem é semelhante às intençõesvoto do líder da pesquisa, Jair Bolsonaro (PSL), e supera a do segundo colocado, Fernando Haddad (PT).
Segundo a pesquisa, 10% dos eleitoresBolsonaro, 17% dosHaddad, 21% dosCiro Gomes (PDT) e 14% dosAlckmin admitiam a possibilidademudarescolha nas urnas para fazer voto útil.
"Já tivemos alguns casos memoráveisvoto útil (mudando o rumoeleições), por exemplo1988, quando Luiza Erundina ganhou a prefeituraSão Paulo com o voto útil contra Paulo Maluf,1998, quando Mario Covas ia mal nas pesquisas (para governadorSão Paulo), mas recebeu o votovários eleitores que abandonaram Marta Suplicy e foi eleitosegundo turno", explica à BBC News Brasil o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
No entanto, diz Melo, a grande dúvida é o quanto a atual volatilidade pode,fato, ter efeito concreto, já que a eventual migraçãovotos pode se pulverizar entre diversos candidatos e ser insuficiente para alterar o cenário atualmente mais provávelsegundo turno, entre Bolsonaro e Haddad.
Na pesquisa Datafolha divulgada na noiteterça-feira, as intençõesvotoBolsonaro subiram para 32%, o que corresponde a 38% dos votos válidos. A trajetória ascendente do candidato às vésperas das eleições fez analistas começarem a considerar como possível, ainda que não provável, uma vitória já no primeiro turno.
"O voto útil existe e há movimentosúltima hora do eleitorado, mas a questão nesta eleição é: quem vai capitalizar com uma (eventual) mudança? Se os antipetistas, por exemplo, forem fazer voto útil, eles vão votarum mesmo candidato? É um fenômeno mais complexo do que no passado, porque hoje temos duas grandes frentesrejeição (PT e Bolsonaro) e campos múltiplos (por exemplo, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Marina Silva) que podem receber essa rejeição", agrega o cientista político.
Jair Bolsonaro é o candidato que mais pode se beneficiar do voto útil, por estar na frente na intençãovotos. Assim, o totalvotos que precisa conquistar para vencerprimeiro turno é menor que ooutros candidatos.
Isso entusiasma seus apoiadores a brigarem pela fatiarestantevoto anti-petista - dividido, principalmente, entre as candidaturasdireita ou centro-direitaGeraldo Alckmin, João Amoêdo (Novo), Henrique Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos). Em manifestaçãoapoio a Bolsonaro na avenida Paulista,São Paulo, no último domingo, o candidato ao Senado Major Olímpio falouum caminhãosom: "Estamos um 'Alckminzinho'vencer no primeiro turno, coisa5% e 6%".
Com relação a Haddad, alémestar mais distantevencer no primeiro turno, outro fator dificulta que se beneficievoto útil: a resistência da intençãovoto no candidatocentro-esquerda, Ciro Gomes. Há pelo menos três pesquisas, Ciro Gomes não cai, indicando que seus apoiadores não estão dispostos a abrir mão dacandidaturanome do PT.
2 - Os mais rejeitados?
O alto índicerejeição dos candidatos mais bem colocados nas pesquisasintençãovotos é a principal força por trás do eventual voto útil discutido acima. Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira, 2outubro, 45% dos eleitores dizem que não votariamBolsonarojeito nenhum. Para Fernando Haddad, esse índice é41%.
Juntos, os dois candidatos têm cerca da metade das intençõesvoto dos brasileiros - só em 1989 os dois primeiros colocados tiveram tão pouco, tão perto da data das eleições.
"Só existe voto útil por causa da alta taxarejeição", afirma Melo. "De alguma forma, o votorejeição está se alinhando. A questão é se vai se alinharum terceiro nome ou se vai se pulverizar entre dois ou três candidatos", que podem acabar tendo uma votação parecida no final, mas não suficiente para levar um deles ao segundo turno.
3 - Quem levará o voto das mulheres?
As menções às mulheres feitas pelos candidatos durante os debatesTV dão pistasquão cobiçado é o voto feminino nesta reta final, por dois motivos principais: o primeiro é que elas compõem 52% do eleitorado do total; o segundo é que o candidato mais bem colocado, Jair Bolsonaro, é também o que tem o maior índicerejeição feminina - 52%, segundo o Datafolha.
Um exemplo dessa reprovação foi dado pelos protestossábado, na campanha #EleNão, organizados por mulheresdiversas cidades do país.
O impacto das manifestações lideradas por mulheres, no entanto, pode não ter tido o efeito desejado. Segundo uma pesquisa da USP, a maior parte das adesões ao protestoSão Paulo veiomulheres que já rejeitavam o político e o que se viu nas pesquisas posteriores foi justamente um avançoBolsonaro entre eleitoras mulheres.
Apesarcontinuar líder na rejeição feminina, a pesquisa do Datafolha publicada na terça-feira mostra que o candidato do PSL cresceuintençõesvoto entre as mulheres, passando21% para 27%.
Do pontovistaBolsonaro, que tem quase um terço das intenções totaisvoto disponíveis, cerca20 pontos percentuais sãohomens e 10 sãomulheres, aponta Carlos Melo.
"Ou seja, um terço dos votos dele vemmulheres que não foram sensibilizadas pelas falas (consideradascunho machista) ou pelas campanhas anti-Bolsonaro", avalia Melo.
Segundo dados levantados pela BBC News Brasil, nunca havia existido uma diferença tão grande no votohomens e mulheres no período pós-ditadura.
4 - Abstenções, brancos e nulos
O percentualeleitores que dizem pretender votar nulo, branco ou se abster caiu para 8% (tendo chegado a 22%), segundo o Datafolha, mas esse grupo ainda pode ter um papel muito relevante no pleito.
Para Lucio Rennó, professor-associado do InstitutoCiência Política da UniversidadeBrasília, as pesquisasintençãovoto muitas vezes não captam plenamente o impacto das abstenções e dos votos nulos e brancos porque nem sempre as pessoas admitem, durante a entrevista, a intençãonão comparecer às urnas.
"A abstenção pode ser influente, por se tratarum pleito competitivo e porque as pesquisas têm sinalizado tendênciasvoto, e não necessariamente a votação absoluta dos candidatos", diz ele.
Analisando os dados da eleição2014, Rennó identificou uma abstenção maior nos Estados brasileiros mais pobres.
A abstenção e anulação são importantes porque acabam reduzindo o patamar necessário para um candidato ser eleitoprimeiro turno - ele precisa ter mais da metade dos votos válidos, que excluem os nulos, brancos e abstenções.
Na eleição à prefeituraSão Paulo2016, por exemplo, João Doria (hoje candidato ao governo do Estado) venceu com 53,2% dos votos úteis, mas teve votação menos expressiva (3,085 milhõesvotos) do que o totaleleitores que anulou ou se absteve (3,096 milhões).
Eum eventual segundo turno, será que a abstenção pode alcançar níveis recordes caso se confirme um cenário com dois candidatos com alta rejeição (Bolsonaro x Haddad)?
Rennó acha difícil especular - e pensa que o efeito pode acabar sendo o oposto. "Às vezes,um pleito mais competitivo, o comparecimento pode aumentar", opina.
Fabio Wanderley Reis, cientista político da UFMG, acreditaefeito semelhante: "As pessoas estãoposição beligerante, então o mais provável é que as pessoas votem no segundo turno no candidato a que tiverem menos aversão, para neutralizar o adversário".
5 - O imponderável
Para Carlos Melo, do Insper, um último fator não pode ser descartado como potencial influenciador do voto na última hora: o imprevisível.
"Alguma denúncia nova, alguma delação premiada ou algum escândalo pode ter um efeito importante quando temos uma eleição acirrada - se você muda 10 pontos percentuaisum candidato para outro já vira um aumento20 pontos", diz.
Ele cita como exemplo novamente a disputa1988 pela prefeituraSão Paulo: seis dias antes da eleição, uma ação do Exército contra uma grevesiderúrgicaVolta Redonda (RJ) resultou na mortetrês operários, gerando uma ondaindignação pelo país.
Isso acabou influenciando o desempenhoPaulo Maluf (à época visto como próximo aos militares) nas urnas e gerando uma ondaapoio à candidatura da então petista Erundina.
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